Fim
O vapor tocou seu corpo lhe fazendo emanar um pequeno gemido. Suas pernas adentraram a banheira do inferno de maneira sutil e estranhamente se sentiu confortável, seus músculos que estavam rígidos logo relaxaram e ela fechou seus olhos. Dalila havia sido obrigada a tomar um banho, não que ela não o quisesse, fazia dias que não sentia a textura da água em seu corpo, estava suja, suada e com odor forte.
Bálder e mr. Bunny estavam parados a porta daquele lugar peculiar, eles estavam de braços dados, apenas observando a jovem desfrutar daquele momento. Ainda assustada por não saber o que passaria a acontecer com ela apenas respirou fundo e fechou seus olhos.
Alguns ruídos puderam ser ouvidos por ela, não pode distinguir de que eram. Até perceber que a água estava ficando em um tom rosado, imaginou que fosse sua sujeira inundando a banheira. Virou seus olhos na direção da dupla e de repente Bálder não estava mais lá.
— Está a procura de Bálder? — mr. Bunny ia em sua direção calmamente enquanto sorria. — olhe para a água.
Tão vermelho quando o sangue que jorrava da garganta de Jennifer estava ao redor de sua banheira.
— Se lembra de algo? Lisa?
— Como sabe dela?! — gritou ferozmente.
— Ela está em sua memória, e hoje você a demonstrará para nós — depois de alguns segundos a neblina estranha, que acobertava o lugar, subiu e os dois desapareceram.
Ao olhar para a água, Dalila percebeu que estava vermelha, ela gritou e saiu da mesma. Seus olhos estavam fixos na banheira, forçou a visão na tentativa falha de entender o que era aquilo. Depois de descobrir que Bálder, provavelmente era um demônio, ela poderia crer em qualquer outra coisa sobrenatural.
Olhou ao redor e não conseguiu ver nada demais, além do rubro na água, apenas ouvia, como sempre, gritos desesperados vindo do lado de fora. Andou em passos lentos e assustados até uma porta, branca e bela, pode ver que haviam algum verde ao lado, em um vaso de flor.
Suas mãos foram em busca da maçaneta, não encontrou. Se sentou no chão e passou a chorar, tudo que mais queria era fugir. Ela mordeu forte seus lábios. Sentiu uma mão tocar seu ombro, rapidamente virou seu rosto e percebeu que se tratava do velho mordomo francês. Arregalou seus olhos — o que ele está fazendo aqui? — o mesmo sorriu fechando seus olhos, ele possuía em suas mãos uma toalha e um roupão.
— Être vu — imaginou que ele queria dizer que ela devia se vestir. Assim o fez, pegou a toalha e pôs no cabelo e o roupão foi em seu corpo.
O mordomo de cabelo branco, já não possuía marcas de um ataque, que ela o desferiu. Isso era estranho, mas resolveu não perguntar. Ele puxou o braço dela, como quem quisesse levar para um lugar diferente dali. Ainda estava assustada, mas não hesitou. Pensou que talvez, se ele estivesse a levando para um local onde ela fosse morrer, ao menos descansaria em paz, após dias de tortura.
Ela passou por uma pequena porta que não havia reparado existir ali, depois estava em passos marcantes em um corredor, diferente do que já esteve antes.
— Para onde vamos? — engoliu seco.
— Pour le jury.
— Júri? — foi tudo que conseguiu distinguir em meio aquelas palavras francesas.
Percebeu que sua pele estava mais clara e parecia querer brilhar, estava assustada com tal fato. Olhou mais a frente e havia uma enorme porta, era branca, com pilastras e maçaneta dourada. O mordomo abriu a porta e se curvou diante de Dalila, que estava assustada. Uma clareza imensa, apenas concordou e continuou andando.
Seus olhos foram fechados pela mesma, após alguns segundos parada, uma voz forte e conhecida a mandou abri-los. Vagarosamente percebeu que já não estava tão claro lá. Assustou-se assim que viu diversas pessoas sentadas, com expressões de medo, assim como ela, ao centro havia um feche de luz imensurável, ao seu lado haviam dois homens de branco, com uma beleza primordial, um era tão branco quanto o cal de uma parede, seus cabelos eram claríssimos e seus olhos não possuíam íris e pupila. O outro, de antemão, possuía a pele tão negra quanto uma noite sem lua, seus cabelos eram mais escuros ainda e seus olhos eram em destaque, branquíssimos sem pupila ou íris. Ambos os homens estavam envoltos em ternos azul marinho.
— Sente-se, Dalila, estávamos a sua espera — Bálder pediu. Ele estava ao lado da mulher, que se assustou, pois não havia o visto ali antes.
Logo a mesma viu uma cadeira por ali e se sentou. Assustou-se ainda mais ao ver que sua melhor amiga Jennifer estava sentada ao lado de outro desconhecido. Ainda com cara de espanto, Jennifer sorriu alegremente para ela, que correspondeu com um suspiro de alívio. — Jennifer está viva? — Sua cabeça estava ainda mais confusa.
Bálder foi ao centro, perto do feche de luz e curvou-se diante do mesmo. Após realizar esse ato, virou-se e dirigiu seus olhos para todos ali presentes.
— Primeiramente sejam bem-vindos. Como sabem, eu vos disse que hoje seria uma dia memorável para todos. Creio que, com medo que estavam, imaginaram que estariam mortos neste momento, de fato, vocês não estão errados — Todos ali presente se entreolharam ainda com mais temor. — certo, devem pensar que estão loucos, mas não, vocês sabiam que eu era um demônio.
Neste momento o homem trêmulou sua cabeça e um par de chifres saíram pela mesma, ele sorriu e dentes afiados surgiram, além de que ele ficou incrivelmente mais forte e assustador. Pode notar que alguns se espantaram mais do que outros, Dalila apenas engoliu seco.
— Vocês devem se recordar dele — apontou para mr. Bunny, que estava sentado perto da porta, ele trajava um terno branco. — agora, todos o vêem como o homem ou mulher que os matou.
— O que?! — Dalila se atreveu a interromper ele.
— Lila, minha coelha favorita. Deixe que eu termine, sim? — ela se calou. — todos vocês estão mortos, morreram no dia em que supostamente foram sequestrados por mr. Bunny e agora estão no purgatório. A verdadeira face de Bunny é desconhecida por todos, ele não tem rosto, vocês vêem nele o seu assassino.
— O que é purgatório? — dessa vez quem se atreveu a perguntar foi outra pessoa.
— Eu iria chegar lá, jovem Pietro. Purgatório é um local de purificação das almas. Se lembram que eu mandei que não se arrependeram de algo? Pois foi isso que me atraiu? Pois bem, se Não tivessem se arrependido, não estariam aqui para serem purificados e irem para o paraíso. Todos vocês viveram de forma errada, mas ao menos fizeram coisas boas e se arrependeram de seu pior pecado. Quem se arrepende, tem salvação. O ser de luz que vocês podem ver, é nosso pai celestial e os que estão ao seu lado são Uriel e Miguel, eles estão aqui para conduzi-los ao paraíso.
Bálder continuou a explicar.
— Tudo que vivenciaram aqui foi um teste. Desde a perca da pessoa que estava ao seu lado, a fulga do local onde estavam presos, até vivenciar seu pior medo. Vocês estão pensando "como assim vivenciar meu pior medo?" Eu lhes respondo. Ao fugir por aquela floresta, cada um encontrou alguma coisa do outro lado da rua. Um cemitério numa estrada vazia, um motorista de caminhão com uma espingarda, uma casa de um casal assassino e estuprador. Após serem resgatados ou antes de fugir, vocês ouviam choros e gritos, eles eram de vocês, eram suas almas e seus desesperos que ficaram para trás. Agora vocês estão limpos e prontos para seguir em frente, vivos.
Neste momento os olhos do demônio correram pela sala, fixou em Dalila. Ele seguiu em sua direção.
— Está jovem, a qual foi a última a chegar, mas sofreu imensuráveis tristezas em sua vida. Dalila nasceu em uma família pobre, mas que sempre a amou. Dalila um dia estava sozinha em casa, então ouviu alguém batendo em sua porta — a jovem sentiu seu coração acelerar e um soco no estômago, ao relembrar aquelas cenas. — inocentemente, com seus doze anos de idade, a menina seguiu ingênua. Viu pela janela que se tratava de Orlando, amigo de seu pai e sua mãe, ele tinha vinte e cinco anos, tinha casado recentemente, não viu problema em abrir aquela porta — todos olharam para Dalila, que olhava fixamente para o chão. — pois então o homem vendo que ela estava sozinha, a atacou e assim tirando toda sua inocência e havia consumado relação carnal. Dalila ficou paralisada ao chão, sem reação, lágrimas escorriam por seu rosto, sangue em poça ao seu redor, roxo por sua pele. A menina foi ameaçada pelo homem, apenas concordou em não contar, com medo e vergonha. Mas o que ela não sabia era que o pior ainda estava por vir, ela ficou grávida e deu a luz a uma criança, seus pais ficaram desapontados com ela, mas não a expulsaram — ela estava chorando desesperada. — com o passar dos dias, passou a sofrer de insônia e crises de ansiedade eram comuns, tudo isso antes de ser considerada de maior.
— Lila... — Jennifer a olhou com pena.
— Um dia, sua filha, que já possuía seis anos, estava chorando desesperada em sua cama, sem saber como agir naquela situação, ela amassou alguns de seus compridos e deu para a criança comer junto a um mingau. Se passou algumas horas até ela perceber que a menina não respirava mais, ela estava morta, desesperada, foi ao hospital e contou o que houve. Depois da enfermeira chamar a polícia por este fato, a mulher conseguiu fugir e adentrar os Estados Unidos da América. Pelo trauma, essa mulher nunca mais foi a mesma, tendo sofrido todos os dias por seus pecados.
Bálder tocou sua cabeça e a fez se levantar. A abraçou e em sua orelha disse.
— Fiz o que fiz pois queria colecionar seus gritos de dor e de tristeza, fiz o que fiz pois queria te ver sendo guiada para um lugar onde irá descansar. Nem todos seus demônios querem te ver no inferno. Descanse em paz.
Sentiu seu corpo leve e a sensação de calor consumir seu interior, não entendeu exatamente o que estava acontecendo com seu corpo. Ao abrir novamente seus olhos, tudo o que conseguiu ver, foram maravilhas e coisas que há mais conseguiria descrever a alguém, Dalila estava no paraíso.
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