Capítulo VI

"Feche seus olhos e ouça os ruídos vindo de baixo de sua cama."
                              — Anna Souza.

   Lentamente abriu seus olhos, uma escuridão tomou conta de sua visão, piscou inúmeras vezes, mas não conseguiu ver nada além de uma luz sob seu corpo que estava despido. Pequenos ruídos assustadores tomaram conta de seus ouvidos. Tentou se soltar, mas tudo inutilmente, visto que estava presa com muita força, a deixando com os pulsos e tornozelos ardentes.

   De repente uma mão gélida tocou seu corpo, fazendo ela enrijecer-se. O que viu, fez seu coração saltar e foi inevitável passar mal de nervosismo. Vozes, repetidas vozes, estavam ao seu redor, se intercalavam como algo satânico, um verdadeiro filme de terror.

   Estava começando a suar de nervoso, podia ouvir sua respiração pesada. A imobilidade de seu corpo, só fez com que ficasse ainda mais amedrontada.

— Socorro — seu pedido saiu como um suspiro. De repente, ouviu uma risada diabólica e inumano. Seu corpo automaticamente ficou extremamente arrepiado.

   Um barulho de chicote e o ardor extremo foram sentidos. Bálder estava em sua frente, com um objeto para machuca-la. Ele caminhou até a mesma, aproximou seu rosto ao dela e lhe desferiu um beijo na ponta do nariz. O homem estava assustadoramente diferente. No escuro, parecia estar com o rosto um pouco deformado, sua cicatriz parecia estar maior e seus dentes mais pontiagudos. Por alguns instantes, ela, que era ateia, acreditou estar diante do próprio diabo. Engoliu seco.

   Só podia ouvir o som de suas respirações. Ela já não estava mais onde costumava estar, não fazia idéia de onde o maldito teria a levado. Por longos segundos sentiu arrependimento por ter ido embora do México. Se lembrou de Lisa, seu coração apertou. Até sentir outra chicoteada na barriga. Seu grito foi alto o suficiente para quase deixá-la sem voz de novo. De repente outra, e mais outra, várias seguidas, cerca de vinte, sabia porque ele fazia questão de contar a cada golpe desferido contra ela. "Jennifer teve sorte de estar morta". Desejou estar morrendo, mas sabia que não estava, que ela era forte o suficiente para aguentar mais vinte.

  Seu corpo ardia, continuava gritando e chorando de dor, tentando se libertar daquelas fortes amarras. Seu esforço foi se esvaindo.

— Ah, que droga! Eu perdi a conta. Vamos começar novamente — levantou sua mão e de novo lhe desferiu uma chicotada.

— Não!!! — sua tentativa era fazer com que ele parace.

   Abriu ferimentos horríveis em seu corpo, o sangue escorria dentre sua barriga e pingava em cima da mesa que ela se encontrava presa. Bálder parou e por alguns segundos saiu de perto do corpo da jovem. Imaginou que naquele momento ela iria morrer. Logo, derrubou lágrimas grossas, seu coração estava apertado o suficiente para não conseguir gritar.

    Novas lamúrias ao seu redor, gostaria de por decifrar o que todas elas diziam. Queria poder fugir dali e nunca mais ver Bálder. Nenhum barulho além dos estranhos gemidos. Dalila estava desesperada, dolorida e imóvel. Até o monstro retornar, ele estava sorridente, com o cabelo grudado em seu pescoço.

— Está quente, não é? — ela apenas assentiu, estava fraca. — eu irei te levar para seu quarto, você precisa descansar.

   Desamarrou ela e a pegou no colo. Sentiu um estranho sentimento ao ter seu corpo em contato ao dele, sentiu tristeza, remorso e uma intensa dor no peito. Era como se Bálder despertasse nela seus piores demônios. Ela não podia ver nada, por estar escuro, apenas alguns vultos, que imaginou serem coisa de sua cabeça, por estar tão mal.

  Assim que chegaram em um corredor, algo lhe chamou a atenção, viu de relance em uma janela, uma jovem, que se parecia com alguém que ela conhecia, Lisa? Não, era Jennifer.

— Jennifer... — sua voz saiu como ar do pulmão.

— Durma, minha amedrontada coelhinha — passou suas mãos pelo cabelo de Dalila.

   Ela sentiu seus olhos pesaram e seus batimentos diminuírem, aos poucos foi deixando de lutar contra o sono. Em poucos minutos, ela já estava dormindo e não pode ver nada do que estava acontecendo.

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   Os dedos grossos de Bálder enroscaram nos cabelos de Dalila, escorreram dentre sua testa molhada de suor, fazendo com que ela despertasse do sono. Aos poucos foi abrindo seus olhos, seu corpo estava dolorido demais para um movimento brusco. Respirou fundo e pode sentir seu pulmão arder. Engoliu seco.

— Você fica tão bela dormindo — ele sorriu — ainda mais quando está tendo pesadelos.
   
   Seus olhos percorreram toda aquela estrutura, em busca de uma memória recente que lhe mostrasse onde estava. Era a jaula anterior, estava reclusa no local o qual tentou escapar, mas foi inútil. O chão já não estava mais sujo de sopa, havia uma coberta e travesseiros no chão, os mesmo os quais ela estava deitada. Sua barriga e corpo ainda estava doloridos, mas havia curativos por eles e o monstro que os fez estava a observando e a acariciando.

   Lhe desferiu um tapa na mão dele. Retrocedeu para trás e se encolheu. Ele se afastou dela. Segurando sua mão.

— Como se sente?

— Monstro! — gritou com todas suas forças.

— Monstro? — a encarou com desaprovação.

— Desgraçado! — foi ainda mais rude nessa fala.

— Sua tolinha — sorriu falsamente. — vocês passam a vida inteira implorando pelo castigo dos verdadeiros monstros — antes que pudesse concluir sua fala, Dalila o interrompeu.

— Monstros iguais a você deveriam estar mortos! Seu assassino!

  Ele inclinou sua cabeça para o lado direito de seu corpo e a fitou com curiosidade. Sentou-se e ficou a encarando por alguns segundos. A jovem, que havia olhado no fundo de sua íris verde, sentiu um extremo remorso.

— Engraçado você falar sobre assassinato.

  Seus olhos não paravam de derramar lágrimas grossas. Sentiu um enjoo brusco em seu estômago e uma forte sensação de tristeza percorrer por todo seu corpo. Continuo ao canto da jaula, toda encolhida, chorando e balbuciando.

— Monstros devoram almas de inocentes — falou, causando calafrios na pobre mulher. — Dalila, eu não faço mais que punir essas mazelas.

— Você não tem direito sobre a vida e a morte — insistia em desafiar o maldito.

— Quem lhe disse que não? — sorriu lambendo os lábios.

   Decidiu que após aquelas falas, ela não iria novamente irritar Bálder. Para ela, ele era apenas mais um assassino em série, um psicopata, que precisava ser internado ou preso, alguém precisava parar aquele homem, tinha extremo medo apenas de pensar o que ele poderia fazer com ela. Jennifer, sua melhor amiga, estava morta, seus pais nem sequer sabiam se ela estava viva ou morta, o magnata do cassino era o único o qual ela mantinha suas esperanças de ir em busca dela, de acionar a polícia. Mas nem sabia ao certo quantos dias havia passado presa lá dentro, sob tortura psicológica e agora, sob tortura física.

— O gato comeu sua língua? Ou melhor, o coelhinho malvado?

— Estou com sede — sua voz saiu falha.

  Ele novamente se levantou rapidamente. A fitou com ódio visível. Dalila queria decifrar o que se passava na cabeça daquele homem, era tão atraente, diabólico e medonho, tinha em seu corpo extensas marcas, em seu olhar um rancor imenso. Naquele momento, ela desejava com toda sua alma que ele morresse.

— Irei buscar algo para beber. Dizem ser pecado negar água, não quero ser um pecador.

— Pecados não existem, o céu não existe e nem o inferno — falou no impulso de sempre negar a crença religiosa.

— Você não acredita no inferno? — a olhou profundamente, tão penetrante que parecia ver sua alma.

— Para pessoas que viram o que eu vi, passaram pelo que passei e sentiram o que eu senti, o inferno não passa de um playground — o olhar de Dalila passou de assustado para algo mais frio.

    Bálder fingiu não ter ouvido aquela resposta da mulher. Virou e seguiu em frente, a deixando sozinha com seus pensamentos. A cada minuto que se passava, Dalila se sentia mais fraca e arrependida, desejou nunca ter entrada no carro de Mr. Bunny, nunca ter sido prostituta, nunca ter conhecido o magnata, nunca ter sido presa, nunca ter roubado ou usado algum tipo de droga, que nem se lembrava mais qual era, a loira desejou nunca ter saído do México... ela não poderia nem ao menos voltar para lá.

   O velhote apareceu novamente com uma jarra de água. Ele estava com uma marca avermelhada e com algumas bolhas d'água, uma queimadura de segundo grau em seu rosto, usava um tapa olho branco, que estava ornando perfeitamente com seu cabelo.

— Je t'ai apporté ton eau, mademoiselle.

— Ah, que droga... você de novo... — sentiu remorso por ver a situação a qual o homem desconhecido estava, ainda pior por ter sido ela mesma que causou tal feito. — Eu peço perdão por ter feito isso com você, eu realmente não quis te machucar, apenas queria fugir.

— Bien — sorriu com seus dentes tortos.

— Você me entende? — olhou intensamente para o homem. Ele apenas assentiu com a cabeça. — por que faz isso?

  O senhor apenas virou de relance sua cabeça e a correspondeu com um olhar tristonho. Não falou nenhuma só palavra, chegou perto da mesma e lhe deu água na boca. Engoliu o líquido gelado, sentindo suas forças se renovarem. Seu corpo esfriou, ainda estava confusa e dolorida. Gemeu.

   Suas mãos estavam atadas, se sentiu péssima ao recordar de todos os minutos o qual foi torturada, sentia-se inútil. Queria entender o que se passava pela cabeça do velhote, ele não parava de olhar para ela, parecia estar com pena. Sua barriga era o local onde mais sentia dor. A água a qual bebeu, tinha um gosto de genérico, levou poucos minutos para sentir seu corpo ficando leve e seus músculos não resistiam mais, seus olhos pesados e sua boca abria em sinal de rendição ao sono, provavelmente um sonífero. Levou menos de dez minutos para que seus olhos escurecessem e Dalila dormisse.

— Bonne nuit, ange perdu...

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