Capítulo V

              "Based on  true events"*

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    Um pingo gelado de água caiu sobre o corpo de Dalila. Abriu seus olhos, respirou fundo e com as mãos algemadas se sentou ao chão gélido. Seu corpo estava molhado de suor e seu cabelo grudado no rosto, suas bochechas rosadas e sua boca machucada, sua mente estava perturbada, não acreditava no que seus olhos haviam visto desde a noite em que foi raptada.

    De repente ouviu passos pesados do lado de fora. Sentiu sua pele esquentar, sua respiração ficou ofegante e sua boca seca. Em seus olhos percorriam medo, não sabia o que iria acontecer com ela dali para frente, não sabia nem quem eram aqueles homens ou o que eles queriam. A porta lentamente se abriu, o som do ranger da mesma, lhe deu calafrios.

   Cantarolando, seu maior pesadelo, Bálder, veio em sua direção com um copo de vinho. Seu sorriso maquiavel, percorria todo seu rosto. Ele estava com uma camisa branca de tecido fino, sua calça era de moletom, seu cabelo estava solto caindo pelos ombros, e sua barba ainda estava alta e irregular. Havia um sofá de veludo marsala ao lado da jaula onde a jovem estava presa, ele sentou ali. E com seus olhos verdes a fitou.

   O silêncio foi cravado naquele momento. Ela pode reparar que as unhas de Bálder estavam esmaltadas de preto, "por que um homem esmaltaria suas unhas?" Pensou. O silêncio foi interrompido pelo som irritante de seus lábios sugando o vinho, em seguida suspirou pelo sabor adocicado que adentrou sua boca. O silêncio enfim reinou após aqueles dois momentos. Dalila não conseguia tirar seus olhos de cima dele.

   Desdobrou-se para pôr a taça em cima de uma mesinha de madeira que ficava ao lado do sofá. Cruzou as penas e continuou a observando, deixando a jovem desconfortável e amedrontada, era visível aqueles sentimentos, pois estava encolhida, em uma posição fetal, trêmula e com a pele molhada de suor.

— Está com medo? — sua voz adentrou as orelhas da mulher de forma grave, fazendo-a sentir calafrios. 

     Ela se negou a responder sua indagação, franziu o cenho fortemente e contraiu seus lábios. Bálder virou seu rosto de lado, se levantou e seguiu até mais perto da loira. Agaichou e paralisou sua imensa íris verde, segurou precisamente na grade. Dalila se encolheu ainda mais, pode perceber que ela estava trêmula, com seu coração saltitante.

— Você está me desafiando? — arqueou a sobrancelha. — já lhe falei tantas vezes que não quero te machucar e você só foge de mim.

— Você disse o mesmo para Jennifer — deixou escapar o que estava preso em sua garganta.

   Seus lábios formaram um belo sorriso ao passar de relapso por sua memória a imagem da asiática parando de resistir as suas mãos fortes e esmagadoras. De antemão ficou nervoso ao ver que a mocinha o desafiava, mesmo vendo que a mesma permanecia imóvel e trêmula, Bálder era dominante, egoísta, narcisista e muito sagaz, sabia que ela seria um problema.

   Abriu irritado a porta da jaula, suas mãos foram ao encontro do pulso fino de sua vítima, que gritou assustada, ele pode ouvir o grunhido do estômago dela, novamente deixou escapar sua excitação ao ver quanto a pobre garota estava sofrendo.

— Está com fome? — a lançou no chão, a mesma sentiu uma forte dor tocar a parte posterior de seu corpo fino.

— Não — novamente seu estômago fez um barulho alto e desmentiu a loira, que sentiu-se levemente envergonhada.

   O homem saiu de dentro da jaula, com sua mão direita pegou o cadeado e assim a trancou novamente. Caminhou em direção a porta, deixando a mulher solitária. Se sentou ao chão, sentiu uma corrente de ar estranha percorrer por seu corpo. Ao silêncio extremo, pode ver como era o local aterrorizante, parcialmente escuro, recoberto por madeira velha, com poucos vãos de luz, um sofá de veludo ao seu lado, o chão era de cimento e o teto estava com infiltração, aparentemente ela estava em algum andar alto, provável que não era o último, se fosse não haveria água pingando em alguns cantos, a menos que tivesse chovido recentemente.

   Do lado de fora não conseguia ouvir nenhum mísero som de pássaro ou carro, por vezes ela se pegava pensando onde estava, alguns pensamentos melancólicos atravessavam sua insana memória, sua triste infância era o seu principal medo. Não tinha noção se era dia ou noite, tudo que desejava era sair dali, ela por momento algum pode entender qual era o sentido de sua captura, Jennifer estava morta, ela que era como uma irmã, a pessoa a qual confiou durante poucos meses que ficaram juntas após a cadeia, a única pessoa que ela tinha no mundo estava morta, as únicas pessoas que ela tinha no mundo estavam mortas, sua pele arrepiou.

   Juntou suas pernas para si, pensou por instantes, tudo o que ela precisava era de uma brecha, apenas um segundo de descuido de Bálder e finalmente ela conseguiria fugir, correr e nunca mais voltar, ir em busca de sua casa, reencontrar o seu magnata e o pedir para que ajudasse a prender tanto aquele insano colecionador de cadáveres com o maldito Mr. Bunny.

    Ouviu a porta ranger de novo, passou por ela um homem velho, de cabelos tão brancos quanto a neve, de pele tão enrugada quando a de um sapo, de olhos fundos, boca fina, corpo magro, portava luvas brancas nas mãos e trajava um smoking. Trazia consigo uma bandeja, neste recipiente de alumínio havia peças de porcelana, recheadas com alimento. Andou até a jaula, seu nariz era empinado. Com cuidado colocou sobre a mesa de madeira a bandeja e dirigiu-se para Dalila. Suas mãos delicadamente contornaram o cadeado com o auxilio necessário de uma chave, ele finalmente conseguiu abrir o local.

— Mange mademoiselle — sorriu mostrando seus dentes perolados. Seus olhos estavam fixados no homem, não entendeu o que ele quis dizer com aquela frase. Viu naquela hora, a oportunidade perfeita que havia esperado por tanto tempo. Pelas suas veias, adrenalina percorriam livremente e insanamente.

— Pode me trazer mais perto? — seu objetivo era ter o homem desconhecido dentro da casa de ferro.

— Désolé, mademoiselle, je vais le faire — ele era francês, não sabia falar em inglês, mas entendia o inglês, quem era ele?

  Quando o mesmo adentrou ainda mais o local, lhe entregando a bandeja de comida, ela pegou o prato de porcelana, branco e com detalhes floridos em rosa, dentro do prato havia sopa grossa, o cheiro delicioso adentrou as narinas de Dalila, fazendo com que ela salivasse, não! Ela não podia comer aquilo, não deveria, não sabia o que era e nem poderia atrapalhar seu plano de fuga, tinha que usar daquele prato sua forma de se libertar.

    Suas mãos juntas, seguraram o prato, num rápido impulso lançou a sopa quente sobre o rosto do francês, a sopa fervente adentrou narinas, olhos e boca do senhor, o fazendo gritar de dor pela queimadura, pôs suas mãos no rosto e ajoelhou no chão, bastou alguns segundos para que ela se contorcesse e o atingisse em cheio com a porcelana, o prato estilhaçou
na cabeça do homem, fazendo assim, com ele caísse ao chão como um boneco, o sangue vermelho começou a dar cor aos fios brancos do mordomo. Não houve tempo para remorso. Rapidamente suas pernas se colocaram a fugir do quarto que estava, pela única porta que podia ver.

   Estava cansada e com fome, mas nada disso tiraria sua vontade imensa de sair dali com vida. Passou pela porta, viu o que não queria, um enorme corredor com dois lados, agora não saberia o que fazer ou para onde ir. Suas pernas fracas a levaram para o lado direito, ainda com as mãos algemadas, a pobre corria por aquele lugar podre. De repente ela ouviu um grito, seu coração pareceu querer sair pela boca, quis ignorar aquele pedido insano por socorro. O lugar parecia não ter fim, só conseguia ver portas e mais portas, não parou de correr.

   Suas pernas estavam começando a fraquejar e sua respiração a ofegar. Olhou para trás, não viu nada e nem ninguém, resolveu parar e ir caminhando, passou cerca de dez minutos andando e não chegou ao fim do corredor, de longe ainda sim conseguia ouvir gritos e mais gritos, estava começando a se assustar, aquilo era um pesadelo?

— Por favor, me ajude — ouviu gritar ainda mais alto. Sentiu como se as vozes estivessem em sua cabeça, a mesma estava latejante e extremamente dolorida. Seu corpo estava formigando, até que ouviu passos pesados, resolveu correr de novo, tão acelerada quanto pode e quanto mais corria, mais longe da saída ela sentia estar.

   Seu pé foi falsamente pressionado contra o chão, fazendo assim sua queda ser algo previsto. Seu corpo cansado foi de encontro ao piso velho e sujo, estava dolorida demais para se levantar de imediato. Seus olhos estavam pesados e sua mente cansada. Os gritos por socorro estavam vindo a todo instante, seu maior terror era ver que todas as portas se pareciam com a porta que a mantinha presa, causando a impressão de que ela não estava saindo do lugar.

   Tentou se recompor, mas inutilmente, jamais conseguiria tal feito, estando completamente sem energias. Engoliu seco ao sentir algo envolver suas pernas.

— Por que fugiu, coelhinha? — seu corpo ficou eletrizante.

— Não — foi tudo que conseguiu dizer naquele momento, antes de sentir seu corpo sendo arrastado de volta para o inferno.

Based on  true events* = baseado em fatos reais.

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