Cimo do Mundo




Ali estávamos, no cimo do mundo!

Que extraordinária sensação que eu senti. A beleza rodeava-me. A paisagem e, a beleza da minha neta.

- Oh vó Lala estou a respirar muito bem – Susanita a minha maravilhosa neta.

A minha filha tinha decidido ir um fim de semana para fora com o marido e eu ficava com Susana. Esse ser sublime, que rompeu na minha vida do dia para a noite e a transformou. Um amor que se sente com os filhos, mas sem a pressão, sem as amarras da disciplina e claro, com muito mais liberdade e disposição.

Decidi, que nós também íamos para fora. Eu já fazia algumas viagens com as minhas amigas. Procurávamos conhecer melhor o nosso país que é sem dúvida muito bonito. Fiz um pequeno programa para o norte de Portugal.

Susanita estava deliciada com a viagem. Nunca tinha andado de comboio. Estava completamente admirada. As paragens do comboio em que achava sempre que tínhamos que sair, a paisagem sempre muito verde, e as casitas ao longe, que pareciam de boneca.

Chegamos ao local da nossa "dormida" e não só: Casa do Forno em Dornelas.

Susana olhou espantada e pela primeira vez não desatou a falar. Os lindos olhos dela perscrutavam tudo.

- Vó Lala isto é maravilhoso!! Tem balancé e tudo. Não quero sair daqui.

Entretanto, D. Alice veio-nos receber e mostrar a casa. Era mesmo uma casa, com poucos quartos, um terreno guarnecido com uma piscina que Susana amou, com baloiço, grelhador e verde muito verde. Fomos ver o quarto. Susanita atirou-se logo para a cama com o seu peluche mais querido o rockie, que era um ursinho castanho muito roçado, que lhe fazia companhia a dormir.

- Vó Lala, que cama tão fofinha. Vamos dormir muito bem as duas - e riu-se.

Susana chamava-me sempre Vó Lala porque tinha a outra avó e, era para não haver confusões.

Acordamos muito bem dispostas, as duas. Já tinha planeado o nosso dia. Havia muitos baloiços turísticos naquela zona e gostaria que Susana os visse, mas eram bastante dispersos em termos geolocalização e,como também queria ver outras relíquias, decidi que neste, dia íamos ver a Réplica do Pelourinho de Amares e o Baloiço do Monte de São Pedro Fins. Iríamos passear na Vila e conhecer os autóctones.

Antes fomos tomar o pequeno almoço. Só havia mais um jovem casal e um senhor, já de cabelo grisalho, como clientes. Susana fez o seu charme para todos e claro desfez barreiras de comunicação.

Conversamos um pouco sobre o que nos trazia ali e fiquei a saber que o jovem casal Catarina e João comemoravam um ano de casamento. Duarte, o senhor grisalho, era fotógrafo amador e tinha tirado umas férias para descansar e poder fazer o que mais gostava.

Eram todos muito simpáticos e criou-se logo uma boa energia entre todos nós. Claro que Susanita era a princesa da festa.

Estava muito contente por ter outras pessoas a darem-lhe atenção.

Duarte propôs-me partilhar o carro que tinha alugado, comigo e Susana uma vez que iriamos fazer a mesma coisa, apenas com a particularidade de ele tirar fotos de tudo e de todos.

Achei que era uma boa sugestão e aceitei, e não me pareceu nada mal ter uma companhia adulta para partilhar esta aventura. Susana também gostou.

E lá fomos. Duarte era um conversador interessante e que me surpreendeu: culto e com um grande sentido de humor.

Paramos na Réplica. Pensei que seria um sítio com mais gente e com outro tipo de atração, mas não. Era um local frio e de alguma forma esvaziado de vida. Não achei piada. Duarte, tirou montes de fotografias mas não nos demoramos muito. Metemo-nos no carro e fomos a caminho do Baloiço do Monte de São Pedro Fins.

Chegamos. Era lindo! Uma paisagem maravilhosa, e o baloiço era fantástico. Susana divertiu-se imenso no baloiço no chão brincando com pedras, os paus e Rockie.

Duarte aproveitou bem a paisagem e Susana, para tirar fotos espetaculares, lindas!! Tinha a certeza que ele acabaria por ganhar algum concurso com aquelas fotos. Estava mesmo entusiasmada e Duarte percebeu.

- Tenho que agradecer o teu entusiasmo, és oficialmente a minha primeira fã. E sorriu.

Fiquei um pouco constrangida e acabei por dizer:

- As tuas fotos são maravilhosas, mesmo!

Às vezes gostava de saber calar o que penso, mas tenho este defeito comigo, "pró bom e pró mau".

Fomos jantar. Susanita estava com fome, tinha pulado e brincado o tempo todo, mas a fome chegou.

Decidimos ir conhecer mais uma casa local e escolhemos ao Ristorante François.

Era um lugar interessante e atual. Móveis retos e simples. Gostei.

A ementa era vasta com muitas opções e mandamos vir algumas variedades de sabores. Delicioso!Ficamos algum tempo a conversar, enquanto Susana se foi sentar numa poltrona perto e, adormeceu.

Não me sentia tão bem há já algum tempo.

Duarte levou Susanita até ao meu quarto e deitou-a na cama.

- Foi um dia pleno! Amanhã se me deres esse prazer far- vos-ei companhia de novo.

- Claro que sim! Adorei este dia também. Obrigada.

Despedimo-nos com um sorriso e depois de ter arranjado Susana, caí na cama e adormeci.

Acordei com um som estranho... afinal, era apenas alguém a bater à porta do quarto. Fui abrir e Duarte com o seu sorriso, exclama:

- Dorminhocas! Já são 10 horas. Assim não aproveitamos o dia.

Fiquei surpreendida por ser tão tarde. Não me lembro de dormir tanto há muito tempo.

Pedi ao Duarte que nos esperasse na sala do pequeno almoço. Susana precisava de comer.

Tomei um banho rápido junto com Susanita, arranjámo-nos e descemos para o pequeno almoço.

Não gostava de fazer as coisas à pressa, ficava sempre algo a faltar, mas também não gostava de fazer esperar ninguém. Assim desci com Susanita o mais rápido que me foi possível.

Lá estava Duarte sentado na mesa a rever algumas fotos.

Já tinha um plano traçado para o nosso dia. Enquanto tomávamos o pequeno almoço, foi-me explicando o percurso para ver se concordava.

O Parque Nacional Peneda-Gerês seria o nosso objetivo. Almoçaríamos no Saber ao Borralho. Que confesso foi dos melhores restaurantes que estive: comida caseira e portuguesa.

Passaríamos à vinda na Cascata Ermida, Baloiço de Paradela e Casa do Forno.

Disse que me parecia um bom percurso e até um pouco cansativo mas estávamos no último dia e tínhamos que aproveitar.

Estava a ser um dia maravilhoso e Portugal era lindo!! Paisagens fantásticas! já com infraestruturas para acolher quem gostasse de apreciar e sentir esta natureza. Duarte estava também a usufruir de tudo isto fazendo a sua reportagem fotográfica. Susana estava deliciada. Cruzamo-nos com outras pessoas e Susanita fez logo amigos.

De tarde na Cascata Ermida Susana foi para a água e divertiu-se com outros miúdos. Eu estava um pouco cansada, sentei-me a observar. Duarte também foi à água. Pelo que parecia ser, ao contrário do normal, uma água a uma temperatura amena e agradável. O ar estava mais limpo que nunca. Eu, que normalmente não tenho olfato, tinha o meu nariz completamente limpo e com olfato. Tudo me cheirava bem. Sentia-me novamente uma miúda. Aqueles cheiros que perdi com o tempo. Aquela vivência pura e simples, sem jogos, sem esquemas e apenas pessoas a usufruir do que há de mais belo, e um não sei quê de crença na condição humana, eu que já a tinha perdido.

Foi inspirador e renovador.

Chegamos à Casa do Forno. O sol já se tinha posto. Susana dormia, e eu e Duarte estavamos realmente satisfeitos, mas muito cansados. Mais uma vez Duarte levou Susana para o nosso quarto e deitou-a na cama. Antes de sair olhou para mim, pôs-me a mão no rosto e beijou-me nos lábios carinhosamente.

- Descansa. Vemo-nos amanhã.

Não esperava este gesto e fiquei sem reação. Ele fechou a porta ao sair.

Durou, alguns minutos talvez, ou segundos, não sei bem, até conseguir mexer-me e preparar-me e à Susanita para dormirmos descansadas.

O dia acordou com um sol e temperatura maravilhosos. Eu também. Estava feliz e repousada.

Desde que fui avó Susanita foi sempre a minha luz e alegria, mas agora sentia uma outra forma de felicidade que até então desconhecia. Serena, doce... uma sensação de conforto e equilíbrio. Nesta altura da vida em que achamos que a nossa única consolação é ter a família à nossa volta e podermos ainda, ser úteis e, não um peso.

Sim, foi o melhor fim de semana prolongado que tive em muitos anos.

Vi o norte de Portugal que faz jus ao "jardim à beira mar plantado", lindo!!!

E claro, foi um fim de semana maravilhoso, rodeado de pessoas generosas e com boa onda.

Vale a pena sairmos do nosso casulo e conhecermos gente e sítios. Depois destes dois anos de pandemia e isolamento, a alegria da liberdade e da beleza!

A fuga ao dramatismo, à angústia e à ansiedade.

Voltamos para casa.

Duarte deixou o carro que tinha alugado em Braga e depois veio connosco.

Ía levar-nos a casa e depois entregava o carro.

Era um excelente conversador, com ótimas histórias e grande sentido de humor. Parecia-me ao mesmo tempo, bom de mais para ser verdade.

Não interessa, se calhar também não o volto a ver, mais vale aproveitar este momento.

Trocamos números de telemóvel para mais tarde nos podermos contactar e encontrarmo-nos. Pensei que se calhar era apenas uma técnica para me deixar expectante.

Havia tanto que eu gostava de saber dele, mas talvez não houvesse razão para isso e ele fosse mais um homem igual a tantos outros. Não vou pensar mais apenas vou deixar-me levar, enquanto me der prazer.

Nunca me tinha sentido assim... estimulada.

Era uma boa sensação. Aliás o meu fim de semana foi repleto de novas sensações positivas e, uma de... receio

Será que ele estava na mesma onda que eu? Os homens foram sempre uma grande incógnita para mim.


Fim

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