Capítulo 41

Bela Solano

Agora estou na minha casa, aproveitei a oportunidade de estar sozinha. Helena deve se encontrar com algum amigo na festa da cidade, é como se fosse um espaço onde toda a população interage. Minha mãe se encontra na casa de alguma amiga com Pedro, então, tenho um tempinho, e isso é tudo que preciso.

Continuei a encará-lo, não pronunciei nenhuma palavra, muito menos ele.

O meu plano inicial não foi trazê-lo para o meu apartamento, na verdade, pensei em dizer uns bons desaforos, mas algo que aprendi nesse tempo em que estivemos separados, foi ouvir. — Sim, imagina uma pessoa que não para de falar um momento, que faz julgamentos precipitados a todo tempo, parar um minuto para escutar alguém mesmo sabendo o seu erro? Sei, agora eu sou uma santa. — Continuando, saí de meus pensamentos e aguardei os seus comentários.

Respirei fundo, se for para pedir perdão, aceito? Poxa! Ponderei em aceitar durante esses três anos, e agora me encontro em dúvida, praga!

Como posso ser tão idiota, nem sei se ele está aqui para me pedir perdão, e já estou cogitando aceitar.

Bela, tome jeito, você está se transformando em uma completa retardada.

Não é justo você querer alguém, que não pode ter. Olhe para mim... entenda se mereço mais outro baque, ou ser feliz? Chega! Já estou cansada. A vida soube me ensinar muito bem, aprendi a chorar, sorrir, brincar, amar, sofrer, cantar, dançar... Sei tudo isso, agora só me resta seguir o meu próprio caminho, sem ninguém ditando as regras por mim.

Suspirei fundo e pronunciei as seguintes palavras:

— Vá em frente, berre, grite! Diga alguma coisa. — Indaguei exasperada, com lágrimas nos olhos.

Já estou cansada de todo esse drama, com toda certeza, preciso dar um basta.

— Você está tão linda como no dia em que te perdi. — Deu pequenos passos em minha direção, tocando suavemente a maçã do meu rosto.

Dessa vez suas palavras me desarmaram, esperei algo completamente diferente, mas recebo isso.

— Se for para me fazer recordar os momentos que tivemos e depois se afastar do nada, então, é melhor nem chegar perto. — Dei uma advertência assim que senti a sua mão quente tocar no meu rosto.

Não Ryan, não vale a pena, pensei ressentida. Ele não vale apena, burra era isso que você deveria pensar o tempo todo, não se apaixonar na primeira cantada como uma mula de carga. Ainda mais, ele não te ama, pois quem demora três anos para rever uma pessoa que você tem apreço? Definitivamente, nunca vou entender esse homem.

— Mesmo dizendo, te quero, mas sei que serei rechaçado. — Colocou a outra mão no meu rosto, encarando os meus olhos com determinação.

— Por qual motivo faria isso? Apenas por esperá-lo e você somente aparecer depois de três anos? O que andou fazendo todo esse tempo? Cruzando? Só pode. Sabe como me senti? Não, claro... você não tem a decência de entender os meus sentimentos, apenas sabe ser um cachorrinho dos caprichos do meu irmão, por quê? Até hoje não entendo o motivo, o que fiz para você? — Tirei as suas mãos de mim. — Me responde miséria!!! Pare de ficar me olhando com essa cara de tacho. Você não é assim, mostre o Ryan afrontoso que é. — Escancarei nas palavras.

Em vez do retardado falar algo, apenas me encarou branco feito papel. Tenho certeza, nesse mato tem coelho. Ele não ficaria assim apenas por umas palavras minhas, praga!

— Sinceramente, desisto Ryan, não dá. Você é cheio de segredos, e tenho certeza de que se eu descobrir sairei ferida e com toda a certeza presa por assassinato. — Passei as mãos grosseiramente no rosto.

Eu te amo, e te desejo tudo de melhor, mesmo que não seja comigo. — Soltou essa frase, parecendo ainda estar em transe.

— O quê? — perguntei confusa.

— A sua mãe deixou uma carta, dizendo que você precisava mudar, para isso ela deixou algumas instruções na mão de Miguel, dizendo a ele que deveria bolar um plano com Clara. E essa artimanha foi tirar tudo o que você tinha, a deixando na rua... Miguel e Clara planejaram isso com o intuito de te ajudar. Desculpe, não quero mais manter segredos, quero uma vida nova com você e meus filhos, por favor me perdoe. — Contou tudo rapidamente e se sentou no sofá, colocando a mão na cabeça como se fosse chorar. — De verdade, se soubesse que o plano se tratava disso não teria entrando nessa jogada com Miguel, você sabe que jamais brincaria com os sentimentos de alguém nessas circunstâncias. Perdão Bela, se eu pudesse voltar no passado faria tudo novamente. — Me encarou contemplando a minha expressão em completa confusão. — Porque graças a esse plano maluco e sem cabimento pude conhecer você, por isso não me arrependo. Você pode me xingar de diversos nomes, mas os momentos que você passou com os meus filhos foram tudo para mim. E mesmo que eu tenho que contemplar o seu olhar de desprezo pelo resto da minha vida, serei grato. Porque ao invés de você ser invisível para mim, você passou na minha vida e deixou marcas profundas no meu coração, na minha família, na minha casa, e te agradeço por isso. — Após a sua fala o seu olhar encontrou o chão em angústia.

O olhei confusa, aos poucos fui juntando as peças de suas palavras e com muito esforço tudo caiu com cascatas sobre os meus olhos.

Mãe, você? Eu não me arrependo, faria tudo novamente, uma jogada com Miguel, família, perdão. Sem querer, palavras da sua fala se misturaram em mente, como se a minha consciência entrasse em conflito e a sensação de profunda tristeza me abatesse. Poxa, tudo era para ser diferente, eu era para ser diferente. Mãe, não posso acreditar, ainda não consigo acreditar. As palavras se misturaram e por pouco não perco o raciocínio em meio a tortuosas tempestades.

É como se estivesse em uma noite de inverno sozinha, no meio do nada, apenas encontrando as seguintes palavras: você precisa mudar, você nuca foi boa o suficiente. Por que mãe? O que fiz para a senhora? Passei anos lamentando a sua morte para receber isso como recompensa? Qual é o significado do seu amor? Eu só queria ser o suficiente para a senhora, queria ser a filha que a senhora nunca teve, só queria o ter amor. Nunca te exigir nada, mas sempre me esforcei para ser o que a Dona Solano precisava. A filha perfeita, até me apaixonei pelo homem que a senhora admirava. Nunca fui perfeita, mas sempre tentei o meu melhor por você.

— Não... — Foi a única palavra que consegui sussurrar.

— Por favor, me perdoe. Juro que não sabia, Miguel disse que seria somente uma aposta, uma brincadeira. Ele queria te ajudar, foi nisso que acreditei. Desculpe-me, de verdade, não fiz parte disso, juro, se soubesse jamais teria compactuando com isso. — Não o encarei, apenas escutei a sua voz desesperada dizer.

Continuei perdida em pensamentos, não entendendo a desgraça na minha vida. O que fiz? Sinceramente não sei. Mãe, até você? A idolatrava tanto, tudo que fiz foi para que sentisse orgulho de mim, isso não foi o suficiente? O que poderia fazer para ser melhor? O que poderia sentir para te agradar? Tentei me casar com o homem que a senhora admirava, ouviu? Eu tentei casar com o homem que a senhora queria! Eu não fiz a escolha, mas a deixei fazer por mim, e meu único sacrifício foi fazer esforço para me apaixonar por ele.

Sempre tentei o meu melhor, com todas as letras. Sinceramente, tentei viver uma vida que não era minha para te fazer feliz. Para tirá-la da depressão por não ter conseguido ter um filho. Tentei ser esse filho, nem isso a senhora reparou? Por que me achou horrível demais para me mudar? Será que a senhora não olhou para dentro de mim?

Em meio a tantas perguntas, nem percebi que estou chorando, apenas senti o calor de Ryan me envolvendo, como mamãe costumava fazer quando me sentia triste.

— PARA!!! — Gritei em soluços.

— Espero que você perceba, que tentar se afastar de mim não diminui o que sinto por você. Todos seus esforços para me manter longe serão inúteis. Mesmo que não me queira, não vou deixá-la. Mesmo que me chute, vou insistir, não vou desistir de você, não vou me afastar de você. A quero!!! A quero!!! A quero mais que tudo!!! — Cravou os seus olhos nos meus, gritando nas últimas palavras. — Quero entender os seus sentimentos e o que te abate tanto. Não ligue para a atitude da sua mãe e nem para as minhas ações, pois sem sombras de dúvidas você é melhor do que nós. — Seu cheiro amadeirado tomou conta da minha narina, ao sentir novamente o seu abraço, mesmo que por um instante até ele voltar a me encarar aguardando a minha reação.

O olhei pasma, ainda sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

O que faço com você Ryan? O que faço com o que eu sinto por você? Não posso passar uma borracha, não mais, depois de ter entregado o meu coração a você, meu amor. Porém, espero que seja realmente inocente nessa história, ou serei uma trouxa novamente.

Mesmo que a atitude da Dona Solano paira insistentemente pela minha mente, não posso fazer mais nada, ela não se encontra entre nós, por isso não vejo sentindo em odiá-la. Mas ela nunca mais terá o meu apreço como antes, parabéns mãe! A senhora conseguiu apagar a última lembrança boa que eu tinha do meu passado.

— Como a vida é engraçada, né? Bem na hora que você pensa que está tudo resolvido, quando você finalmente começa a planejar algo de verdade, se empolga e sente como se soubesse a direção em que está seguindo, o caminho muda, a sinalização muda, o vento sopra na direção contrária. O Norte de repente vira Sul, o Leste vira Oeste e você fica perdido, como eu estou agora. Sinceramente Ryan, não sei se fomos feitos um para o outro. — A sinceridade transparece na minha voz.

Em toda a minha vida nunca tive tanta certeza em não ter certeza de nada como tenho agora. É mãe, irmão, Ryan, tudo é uma intensa confusão em mim.

— Mas eu sei. — Me apertou junto a si, como se quisesse nos juntar em um só coração.

— Não Ryan, chega. Você e o meu irmão... — Me cortou juntando nossas testas.

— Não diga isso, te juro, sou inocente nessa história. Nesse pouco tempo que estivemos juntos, você sabe que jamais faria isso com alguém, tudo o que tivemos foi honesto. A quero só para mim, me perdoe, por causa desses três anos. Só queria ser diferente para a mulher que amo, quero te agradar, me perdoa? — Suspirou.

Nem me deixou concluir o raciocínio, senti os seus lábios me sufocarem, me apertando junto a si, como o beija-flor beija sua rosa.

Enquanto tenho os seus lábios deleitados sobre os meus, não penso em mais nada, apenas quero guardar esse momento como uma recordação, pelo menos, terei uma última lembrança dele.

Ele encerrou o beijo, mesmo assim continuou com os nossos rostos grudados, um sentido a respiração do outro.

— Quero você... Só para mim — falou com a respiração cortante

— Isso não é você quem decide. — Tentei me afastar do seu aperto.

— Eu estou apaixonado por você, não... eu te amo, e se você prometer ficar, eu prometo... — Respirou profundamente. — Não tem lugar mais seguro no mundo do que comigo. Mesmo que não acredite, continuarei a pronunciar isso... até o fim. — Me beijou novamente.

Dessa vez foi um sentimento tão ardente, que me senti completamente amada nos seus lábios, e sem perceber estávamos deitados no sofá, em plena lua crescente.

Quando senti o seu toque, os seus abraços, beijos, carícias, momentos. Foram como a primeira vez de uma menina, que se sentia flutuar no momento tão especial.

Mesmo minha consciência querendo se afastar, não consegui, ela foi arrastada junto com o meu coração para perto dele, me tirando completamente do juízo perfeito.

O olhei nos olhos, no momento ápice declarando que quero ficar, embora, necessite de uma ajudinha.

— Sempre quis tê-la tão perto de mim. Agora você sabe que não vou deixá-la escapar? — Disse com a minha cabeça em seu peito.

— E quem disse que quero? — O encarei.

— Sério? — perguntou com incerteza.

— Não estaria assim com você se não quisesse. — Me levantei um pouco.

— Te amo. — Me trouxe para perto de si, me beijando.

— Também. — Sorri timidamente.

— Nunca imaginei você sorrindo assim. — Deu uma risada zombeteira.

— Calado, ainda quero quebrar sua cara. — Dei um tapa em seu peito.

— Um?! — Me senti mergulhada em algo macio.

— Silêncio, estou aqui — Ryan falou preguiçosamente.

— Onde estamos? — Tentei olhar em volta, mesmo com a vista embaçada.

— Seu quarto, espero, pois, sua família já chegou. — Bagunçou ainda mais os meus cabelos.

— Acertou em cheio, mas como vim parar aqui? — Perguntei desnorteada.

— Eu a trouxe, antes que sua família chegasse e nos encontrasse naquele estado. — Sorriu me dando um selinho.

— Saia. — O empurrei.

— Braba. — Riu se levantando.

— Como você pôde ficar aqui e a minha família? — Apoiei a minha cabeça na cabeceira da cama.

— Não precisa se preocupar, sua mãe chegou aqui mais cedo e nos mandou sair para o café. — Vestiu sua camisa e saiu.

Filho de uma égua.

— Ryan!!! — Gritei indignada.

Que vergonha, praga! Bati a palma da mão no colchão, por causa da minha indignação.

Depois de alguns minutos me arrumei e saí. Encontrei o meu irmão comendo no sofá como sempre, minha irmã com a cara enfiada nos livros e a senhora da casa tomando o seu café amargo, como de costume.

— Bom dia. — Sussurrei.

— Olá querida — disse mamãe, tirando a atenção de sua revista.

Comecei a comer, enquanto todos estão agindo normalmente. Como nada é perfeito para ser verdade, senti alguém perto de mim, tendo como consequência um susto tão grande, me fazendo tomar um banho de suco, pelo menos, foi isso que minha roupa sentiu.

— Idiota. — Bati em sua cabeça.

— Calada Bela, tem uma pessoa com dor de cabeça. — Helena gritou do outro lado da cozinha.

Direcionei um olhar mata leão para ela, e puxei Ryan para o corredor do apartamento.

— Por que não foi embora? — Cruzei os braços.

— Não vou deixar minha mulher. — Chegou perto de mim.

— Quem disse que sou sua mulher? — Levantei uma sobrancelha.

— Você? — Gargalhou, supostamente relembrando as minhas palavras na noite anterior.

— Canalha, saia. — O empurrei para o elevador.

— Te amo — expressou antes do elevador fechar.

— Não quero você — falei sinceramente, vendo seu lindo sorriso.

O que faço? Agora estou honestamente em dúvida, não acredito, me tornei uma idiota.

— Você deveria ir atrás dele. — Encostou-se no mármore da porta.

— Aí! Que susto Helena, quer me matar do coração? — Coloquei a mão no peito.

— Se você o rejeitar, a grande missão da vida dele vai ser encontrar a garota mais linda do mundo, só para tentar esquecer você. Vai acabar casando-se com essa mulher e passando o resto da vida com ela. Ele vai dizer a si mesmo que ela é perfeita e ele é o homem mais feliz do mundo. Mas o problema, é que ela não vai ser você. — Pronunciou como se fosse uma frase feita.

— De onde você tirou isso? — A analisei com imprecisão.

— Não interessa, agora corra atrás do seu homem — falou quando a porta do elevador abriu novamente.

— Daqui a pouco volto — falei antes que a porta fechasse.

— Sei. — Ouvi sua voz depois de não poder mais vê-la.

— Ryan!!! — Gritei quando ele estava prestes a sair do estacionamento.

Abri a porta do motorista e pulei no seu colo. Ele me olhou surpreso e deu um sorriso gentil.

— Eu percebi, que não importa quantos anos passem, com toda a intensidade, para todo o sempre vou amar você, mesmo com meu jeito brusco de ser. — Dei um selinho nele.

Pela primeira vez em anos tentei ser romântica.

— Acho que já ouvi essa frase em algum lugar. — Pareceu tentar recordar algo.

— Cala a boca e me beija. — O puxei pela gola da camisa, mas somos interrompidos pelo celular de Ryan.

— Desliga essa porcaria. — Peguei seu celular, visualizando o visor resplandecendo o nome Miguel.

— Ei, não temos mais contato, deixe-me... — O cortei.

— Calado palhaço, sei disso. Quem cuida disso agora sou eu. — Abanei a mão esquerda em sua face mando-o se calar.

Atendi a ligação, pois, de agora em diante, sou eu quem tomo as rédeas da minha vida.

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