Capítulo 32
Na viagem para casa me vi perdida em pensamentos, inerte a tudo que está acontecendo a minha volta.
A vida é algo impressionante, nunca me imaginei vivendo assim, tem vezes que parece loucura da minha parte, mas é errado querer ficar? É realmente um erro querer me apaixonar? Ter uma família? Será que mereço tudo isso, ou sou apenas uma pessoa que roubou algo que era para ser de Hana? Era ela para estar aqui, viva, sorridente, feliz... É por minha culpa que os seus sonhos foram destruídos, ela não pôde ver a sua filha crescer, não pôde dar uma família a menina. Ainda posso ouvir os seus gritos me pedindo para parar, mas não ouvi, não quis escutar. Estava cega pela vingança e ódio, não me importei com a pessoa que sempre esteve comigo, a minha melhor amiga, ou melhor, minha irmã. Eu só queria tirar aquele ser de mim, mas se tivesse escolhido outro caminho Hana ainda estaria aqui, eu seria...
Quando chegamos a casa, avisei a Ryan da visita com a psicóloga e fonoaudióloga, tomara que ele vá nessa consulta. Não sou mãe da menina para tomar essa responsabilidade para mim.
Mas um dia raiou e aqui estou eu na eminente consulta. Então, chegou a vossa hora de me perguntar, onde está Ryan? Bom, para ser sincera, aquele imprestável arrumou algum serviço, dizendo que está ocupado com os preparativos da viagem. Entretanto, ele vem falar logo isso para mim, a mulher que respirava trabalho. Sei como são as viagens de negócio, e tenho a certeza de que o dono da empresa não resolve questão de viagem, isso é tarefa do secretário. Só não chuto as suas bolas, porque sei da sua precisão, mas se um dia ele falhar comigo, pode ter a certeza de que elas vão sofrer.
Entrei na clínica de Zandara, sendo impedida de observar mais do belo espaço por uma menina chorona. Era só o que me faltava, logo hoje ela resolveu fazer birra. A firmei em meus braços, enquanto esta esperneia, comigo quase cambaleando pelo corredor branco.
Pedi informação a recepcionista, perguntando se Zandara está disponível, ela me indicou a porta seis no primeiro andar. Caminho tranquilamente pelo espaço claro, com vários sofás e poltronas espalhados pelo local, como a principal decoração no chão de madeira, os vasos de plantas espalhados por toda a extensão do ambiente. Subi a pequena escada, abri a porta de madeira e entrei no local, avistando uma Zandara esparramada no sofá passando a mão na barriga.
Sua sala de trabalho aparentemente é parecida com o ambiente decorado da recepção, exceto pelas cores vibrantes dos assentos no local.
— Pensei que você não vinha mais. — Acomodou-se um pouco desajeitada.
— E você não trabalha? — Tentei alfinetar.
— Separei esse horário para termos uma conversa tranquila. Cadê o Ryan? — apoiou sua mão na barriga.
— Esse é o motivo do meu atraso — comentei quando fiquei devidamente acomodada na poltrona rosa de veludo sintético.
— Deixa-me adivinhar, viagem?
— Não sabia que tinha uma vidente na família. — Dei um sorriso zombeteiro.
— Obrigada, mas tenho um marido também. — Deu risada, respondendo que foi Mark que contou sobre Ryan.
— Outro fofoqueiro. — Entortei a boca.
— Toda família tem um. — Emitiu uma risada ruidosa.
Exasperei um suspiro entediado.
— Não consigo imaginar, como é ser uma empresária burra o suficiente para assinar uma papelada sem ler? — Pronunciou essa frase do nada.
— Como? — Perguntei pasma.
Espere mundo, o que ela está querendo com essa frase? O que essa mulher sabe sobre mim?
— Você não é tão misteriosa assim. É fácil dar uma pesquisada quando precisamos de algo. — Emitiu um sorriso que me deu vontade de quebrar os seus dentes perfeitamente desenhados.
Nessa frase, ela respondeu as minhas dúvidas, Zandara sabe do meu passado, mas como? Se nem Ryan sabe, ou sabe? Sinceramente, não sei de mais nada.
— Tenho certeza, isso é alguma brincadeira... — Sou interrompida por uma Tiana nervosa, por estar sendo ignorada.
A balancei para acalmá-la, enquanto Zandara pegou uma espécie de mordedor de pato e colocou em sua boca, e como resultado finalmente a criança calou.
Contudo, não retomei a conversar com minha psicóloga favorita, pois, está fez questão de mudar o assunto. Conquanto, tenho certeza de que nesse mato tem coelho.
— São os dentinhos que estão nascendo, você tem sorte que não são os primeiros, senão estaria maluca. — Se jogou novamente no sofá.
— Era só o que me faltava, não tive filho para não passar por isso. — Empurrei mais ainda o brinquedo na goela da criança.
— É o destino. — Riu da minha cara, quando reparou a minha ação.
Olhei de cara feia para ela, que está mais preocupada em fazer chacota da desgraça alheia.
— Então, faça logo o que quer, porque não sou desocupada.
Zandara deu uma pequena risada e pegou Tiana a colocando em uma poltrona, depois de alguns minutos sem resultado, embora, existindo esforço de sua pessoa, a criança não falou. Apenas ficou a encarando achando graça das caretas de Zandara. Enquanto encontro-me no tédio total com essa maluquice, sendo assim andei em direção a saída para ter um pouco de ar fresco.
— Mamã! — chamou-me ao perceber que eu estava de saída.
Poxa! Tenho certeza, nas minhas costas tem uma bodega de olho me encarando.
— Não sou a única com segredos, Bela? — Zandara entoou calmamente.
Sentei-me novamente no sofá e expliquei como essa confusão aconteceu.
— Em conclusão é isso, espero que você mantenha segredo. — Modéstia à parte me bateu um medo de ser denunciada.
— Claro, amigas são para essas coisas. — Deu um pequeno sorriso.
Não penso que você seja minha amiga, mas vou acreditar. Depois do ocorrido tivemos uma breve conversa, de modo a estabelecer algum tipo de comunicação com Tiana.
— Não esqueça, tente conversar com ela com mais frequência, assim com o decorrer do tempo a menina começará a falar algumas palavras, ou até mesmo responder alguma queixa. Contudo, ela ainda tem 2 anos, por isso não falará as palavras claramente, mas já é um começo.
Assenti e logo depois sai do local, para ter finalmente um pouco de sossego na minha adorável cama.
Em controvérsia, como nada é perfeito na minha vida, de noitinha recebo uma ligação exasperada das meninas.
— Chega! Falem pausadamente. — Indaguei já nervosa com a confusão na minha mente.
— Você contou para o chefinho sobre o término? — Lúcia perguntou, parecendo severamente preocupada com a minha vida amorosa.
— Término? Que término? Seja mais clara. — Me joguei na cama com as pernas cruzadas.
— Do seu falso namoro, anta!!! — Ângela gritou do outro lado da linha.
— Poxa! Vocês não vão acreditar... — Diminui o tom de voz em cada letra pronunciada.
— Deixa-me adivinhar, a senhorita esqueceu que tinha um falso namorado? — perguntou já sabendo a resposta.
— Não me julguem. — Me virei de bruços mordendo o lábio inferior.
— Como te julgar demência? Nunca vi mulher mais burra. — Ângela pareceu estar em uma batalha entre frustração e raiva.
— Ângela não dá para conversar com você, passe para Lúcia — falei já de saco cheio, quem ela pensa que é para me dar ordem?
— Está no viva voz, ela poderia falar se não quisesse te dar uns belos tapas. Agora tenho a certeza, o senhor Martilhe sabe de tudo. — Suspirou.
— Duvido, não tem como ele saber que inventei um namorado para fugir dele. — Ri com a minha própria sabedoria.
— Será? — Ouvi uma voz falar em um tom suave.
Olhei em direção a porta, encontrando um Ryan todo engravatado querendo segurar o riso, da sua mais nova descoberta.
— Tenho que desligar — indaguei num sussurro.
— Burra... — Foi cortada pela chamada que caiu.
— A quanto tempo você está aí? — Sentei-me na cama com as pernas cruzadas.
— Não muito. — Entrou no closet.
Toda intenção de questionamento da minha parte se esvaiu em poucos segundos, apenas fiquei em silêncio me perguntado o quão idiota ele me considera?
Olá amigo azar, você retornou.
— Não acho você maluca, só lhe falta um parafuso. — Deu risada vestindo sua camisa branca.
Joguei um travesseiro nele, sem sucesso no impacto, após descobrir que falei os meus pensamentos altos demais. Coloquei a mão na cabeça me encolhendo na cama, tentando esquecer todo esse vacilo. Sinceramente, estou me sentindo uma idiota. Depois de um minuto senti a cama afundar e braços me envolvendo.
— Sabe o que acho mais incrível em você? — perguntou cheirando meu pescoço.
— O meu jeito único de ser? — Tentei soar confiante.
— Pode ser, mas não, é algo que você não gosta em si própria. — Me trouxe para o seu colo.
— Sou perfeita. — Dei um sorriso de lado.
— Deixe-me refrescar a sua memória. — Trouxe o meu rosto para encarar o seu. — Me lembro como se fosse hoje... Uma garota brincando com seu cachorro na beira da praia, dizendo para si própria que um dia seria uma bela mulher, poderosa e intimidadora. — Fez uma pausa cravando os seus olhos em mim. — Quando perguntei aquela doce menina com quem ela ansiava parecer, simplesmente respondeu... Quero ser eu mesma, é chato fingir ser uma coisa que não sou, só para agradar os outros... Na época fiquei extasiado, pois, era algo que eu fazia com frequência, mas... As situações nos fazem aprender, devemos ser originais, sem imitações, plágios e qualquer tipo de mentira. — Deu um sorriso aproximando nossos rostos. — É isso que gosto em você, a senhorita Solano não mentiu, cumpriu o que prometeu desde criança. — Terminou a frase com um beijo harmonioso.
— Não me lembro de nos encontramos quando eu era criança — comentei ainda surpresa.
— Não nos encontramos, isso foi quando você tinha 18 anos, creio. Fiz apenas uma suposição, inferiorizando sua idade. — Riu me mantendo próxima a si. — Gosto de você — falou de repente.
Essa época, ah sim! Deve ter sido quando Miguel levou um rapaz para casa, se não me engano essa foi a primeira e última vez, às nossas famílias tinham rixa por um motivo que nem me recordo.
— Não sei se posso dizer o mesmo. — Tentei não rir com o meu comentário, e envolvi os meus braços em volta dele, enquanto estamos deitados na cama, com a minha cabeça apoiada em seu peito.
— Por que não, apenas quero que você seja sincera comigo? — Encarou-me com seus olhos verdes, trazendo arrepios em meu ser.
— E você Ryan Martilhe, está realmente sendo sincero comigo? — Mirrei-o dubitativa, temendo que essa estranha aproximação causasse feridas no meu ser.
A quem quero enganar? Ainda tenho marcas do passado, até acho bem difícil não ter quando você se ver trocada pela mocinha perfeita, simplesmente porque o seu noivo não teve o prazer de continuar te amando. É como a primeira vez que os vi, sorrindo sobre algo que estavam conversando, de primeiro momento senti que algo não estava certo, mas deixei de lado, afinal não queria pagar de mulher louca e ciumenta. Ah! Se eu agisse diferente será que conseguira separá-los sem destruir o meu noivado? Ou o nosso relacionamento já estava fadado ao fracasso, afinal o amor não pode subir existir se apenas uma das partes faz esforço para que isso aconteça. Sebastian não quis de nenhuma forma reacender a chama que ele achava que estava apagada em nosso relacionamento, ao invés disso resolveu se entregar a paixão desenfreada que apareceu em sua vida.
E desde esse momento... Será que estou realmente preparada para algo novo, ou estou me enganando novamente?
Abracei Ryan de forma feroz me acalentando na imensidão do seu calor, para enfim passarmos a noite na calmaria do deserto.
Até a próxima pessoal, não esqueçam de votar e comentar.
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