Capítulo 2
Ao entrar no apartamento, observei o ambiente completamente decorado com móveis velhos, trazendo uma descontraída ao local rústico, em relação ao mal gosto é claro. Com vários tipos de eletrodomésticos, desde tv a geladeira, totalmente defasados. Sua beleza inexistente dando ao muquifo um ar de: se tivesse 50 mil dólares não estaria nessa miséria. Para se ter uma ideia, sentei em um sofá que possui apenas a madeira como adereço de acomodação. Seu estofado foi substituído pelo incomodo com o tempo, tornando as minhas preciosas nádegas uma junção ao amadeirado do objeto, ou seja, neste momento encontro-me com a bunda instalada entre as madeiras do sofá, mas por pouco consegui me safar viva dessa situação.
— Percebi que você parecia não ter móveis, então a trouxe para um apartamento mobiliado — disse o homem.
Filho, isso aqui não é mobiliado, é um conjunto de cupim e ferrugem — pensei irritada.
— Ok, aqui está o valor que me pediu — tentei soar o mais agradável possível.
— Foi um prazer fazer negócio com você — falou contando o dinheiro e saindo.
Enquanto ando pelo local, observo a pobreza desse, ainda mais quando tenho uma TV que se assemelha ao museu para divertimento. Ô pobreza! Sinceramente, como alguém consegue viver nessa miséria? — Olhei para as paredes descascando, com apenas um fogão, geladeira e armário, todos em péssimo estado. Vida desgraçada!
Bom, agora vou tirar algumas cópias do currículo e mandar para as empresas. A essa altura meu irmão já deve ter cuidado em apagar minha imagem em todos os canais de comunicação, desde os sites "meia boca" a revistas com prestígio, isso é bem a cara dele. Miguel sabe como ninguém sair de enrascadas. Já que nenhuma pessoa me conhece publicamente como a dona da Malibu Boutique, creio que isso não será um problema para ele, pois nunca me interessei em cuidar da aparência publicitária da empresa, essa parte era de inteira responsabilidade da vadia da Clara. Além disso, nunca gostei de festas ou de me relacionar com pessoas, seja no âmbito profissional ou pessoal, meus irmãos são a prova viva disso. É inútil construir relacionamentos com pessoas, o que importa é se conhecer bem, e trabalhar o interpessoal. Para mim trabalho e vida pessoal não se misturam, sempre deixei isso bem claro para os meus funcionários e acionistas.
Saí e apressei-me a procura de um novo emprego. Já que sou formada em administração com mestrado em finanças, tenho um ótimo currículo, estudei na melhor faculdade e fui a primeira da classe, tendo o acréscimo de falar três idiomas: Português, Inglês e Mandarim. Com um currículo igual ao meu será fácil conseguir um emprego.
Enquanto procuro feito uma condenada ao menos uma oportunidade de emprego, a semana passa e com ela a minha boa vontade. Como nada é fácil na minha desgraçada vida, só consegui uma oportunidade, uma semana depois, para a minha surpresa. Praga!
Finalmente hoje tenho uma entrevista em uma empresa para o setor financeiro, essa vaga já é minha.
Adentrei vários brechós em Corno, uma pequena cidade dos Estados Unidos, o país que vivo atualmente, já que minha próxima empreitada será voltar para o Brasil. Encontrei várias roupas de marca com ótima qualidade e o melhor de tudo, barato, palavra que nunca imaginei em ter grande apreço.
Coloquei um terninho e calcei o scarpin, ambos pretos, usei uma maquiagem básica, peguei minha bolsa e saí. Nada muito chique, pois preciso mostrar que estou necessitada.
Informei o endereço ao taxista e segui para o local. Ao sair do carro, pisei no chão de mau jeito quebrando o salto e dando um jeito no meu pé. Para completar por causa da dor me desequilibrei e cai em uma poça de água suja. — Sei, realmente minha vida virou um clichê sem graça.
— A senhora está bem? — perguntou o taxista olhando preocupado para minha cara.
— Não, estou ótima, não poderia estar melhor! Sabe acho que vou até dormir aqui — falei sarcasticamente para o homem.
— Desculpe moça não quis ser indelicado, deixa eu te levantar. — Estendeu a mão prontamente.
— Ai, ai! Você não vê que está me machucando? Vai mais devagar. — O homem me ajudou a sentar em um banco da lanchonete, com vários curiosos nos olhando. Eu, heim!... Gente enxerida!
— Vou ali na farmácia comprar um remédio para a senhora. — Fez pretensão em sair do local, com seu palavreado chulo da classe inferior.
— Não, não é necessário, já consigo andar. Além do mais, estou atrasada para uma entrevista... obrigada — falei saindo do local mancando e completamente suja da água do esgoto.
É sério, o azar não poderia ser mais presente na minha vida, até parece carma.
Ao chegar no lugar da entrevista, me tornei o centro das atenções, quando falei que estou presente para participar da seleção, a mulher da recepção não quis nem olhar para minha cara. Apenas falou que a empresa não aceita pessoas na minha situação para ocupar um cargo de alto escalão, que nem tentasse, já que não iria passar e me mandou sair.
Essa foi a segunda pior humilhação que passei em toda minha vida, a primeira não quero nem lembrar.
Peguei um táxi e segui para o hospital para cuidar do meu pé, na volta passei no supermercado e comprei sorvete, para passar a minha depressão me afundando em séries e filmes.
Um mês e nada... Sério, isso está me dando raiva. Não entendo como é possível uma pessoa do meu nível não conseguir emprego. — Ei! Isso não foi uma pergunta é uma afirmação, para os retardados de plantão.
Após aquele mico, não consegui mais entrevistas. Não, estou mentindo, tive uma seleção para uma pequena empresa na área administrativa, e bem no meio da entrevista bateu uma enorme dor de barriga, tive que usar o banheiro da sala do meu futuro chefe. Já pode adivinhar o resultado? Sim, a resposta foi: aguarde nossa ligação, entraremos em contato. Pois bem, vocês ligariam? Nem eles.
Desde esse dia, saio todos os dias para procurar emprego, mas não encontro nada e agora só tenho dois mil dólares no bolso e só poderei ficar mais alguns meses na casa.
Já se passaram dois meses e ainda estou desempregada. — Preciso relatar esse fato: tenha clemência de mim vida, sou uma mulher estudada e empoderada, não mereço passar por essa humilhação.
Como isso pode ser possível? Uma pessoa que está há três meses em Corno e não conseguiu nenhum emprego. É sério, esse lugar é uma mísera cidade no meio do nada onde as pessoas têm uma vida pacata e tranquila. — Bom, não é totalmente verdade, já que aqui o trajeto é feito de metrô e não em ônibus, na maioria das vezes, diferente de muitas cidades do Brasil.
Há uma semana estou me escondendo do Seu Miguel, para não pagar o aluguel. É... é isso mesmo o que vocês notaram... O traste tem o mesmo nome do abençoado do meu irmão. Diferente dele, ô coroa sem compaixão, ele me deu uma semana para pagar o aluguel se não estou na rua.
Agora estou voltando de mais um dia de jornada, com as mãos vazias.
— Senhorita Solano, o dinheiro do aluguel. — falou o senhor, estendendo a mão.
— Não tenho como pagar, senhor Leoni, não estou achando emprego. — Implorei ao Miguel por clemência.
— Sinto muito, mas a senhorita tem até amanhã para sair da casa. — Filho de uma... Essas palavras são como pedras aos meus ouvidos.
— Por favor, não pode me dar mais um prazo? — comuniquei-me em humilhação, algo que nunca sonhei em fazer na vida.
— Não tem como, irei alugar a casa para outra pessoa — soou firme.
Entrei no apartamento e arrumei minhas coisas, como não vou ficar me humilhando, sairei hoje mesmo do prédio. Sim, tenho orgulho e um bem grande por sinal.
Na rua, caminho para o ponto quase arrastando a mala a tiracolo.
Fui até o metrô, já que esse fica perto daquele muquifo. Entrei na estação e perguntei a segurança se ela conhece alguma pensão barata. A mulher me informou sobre uma que fica na periferia da cidade.
Entrei no metrô lotado e segui todo o trajeto com um alvoroço em minha mente nostálgica, enquanto uma fina garoa ascendia no céu ao anoitecer. Quando finalmente cheguei à estação, desci e ainda tenho um longo trajeto para chegar no local.
Não acredito que saí de um condomínio chique de classe alta, para uma pensão em uma periferia, é inacreditável. Me perguntei, por que estou perdida em um local escuro e deserto? Quando de repente caiu uma chuva de açoite.
Ótimo! Estou no meio de um toró, procurando uma pensão em uma rua deserta.
Foi quando para a minha salvação, vi uma mulher passando pela rua, sei que é imprudente, mas mesmo assim fui falar com ela.
— Com licença moça, pode me dizer onde fica a pensão da Dona Linda? — Tentei soar simpática.
— Sim. Inclusive, estou indo para lá agora, pode me acompanhar. — Mexeu em suas madeixas ruivas um pouco encharcadas pela chuva, algo que não atrapalha nem um pouco a aparência angelical do seu pequeno rosto, combinando perfeitamente com sua pele clara e com poucas sardas.
— Obrigada — falei tentando ser gentil, afinal, não quero perder a ajuda da moça sendo grossa com ela.
Ao chegar no local, em meio a chuva, olhei a pensão simples de cima a baixo, suspirando, por não acreditar onde me encontro.
Espero que gostem, e qualquer bugue do wattpad me avisem.
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