Capítulo 15

Bela Solano

Tenho certeza de que será a careca mais bela que existirá.

Ele só pode estar de brincadeira com a minha cara. Nunca recebi uma cantada tão malfeita em toda a minha vida e fofa... Quer dizer, esquisita.

Isso só pode ser carma. Por qual motivo fiquei tão mexida com o seu comentário? Parece até que ele gosta de mim, bem, acho isso impossível. Ele não me parece o tipo de cara que se apega a uma mulher e não quero cometer mais os mesmos erros do passado, pois tenho certeza de que as consequências das minhas atitudes, estou colhendo hoje.

Posso ser o que for, mas a vilã não serei novamente, assim espero.

Oh céus, o que está acontecendo comigo? Amor à primeira vista não existe, tenho a completa consciência disso, mas... as minhas ações, estou parecendo uma menina de 15 anos que nunca conheceu o amor, e não uma mulher de 26 anos que já teve a cota suficiente de amarguras na vida. Acorda Bela, você não é uma mulher para ser iludida tão facilmente, visto que, com toda a certeza é o que ele está tentando fazer.

Para fugir dele entrei na cozinha, porém, nem percebi que a Dona Margarida está me observando enquanto estou perdida em meus pensamentos olhando para a janela.

— O que atormenta os seus pensamentos, menina? — comentou fazendo-me recordar da Dona Linda.

Pensando assim, às duas se parecem muito, o tom de voz, a vida na cozinha, a barriga quente por causa do fogão sempre em trabalho, a aparência, altura, resumindo, tudo. Deixando-me ainda mais embriagada com tanta semelhança, até poderiam ser irmãs que ninguém iria questionar — pensei um pouco aérea a situação, tentando colocar algum juízo em minha cabeça, me aconselhando que isso é praticamente impossível.

Enquanto isso volto ao presente, ao escutar voz doce de Margarida, me trazendo de volta a realidade, para o assunto anterior.

Por que todo mundo insiste em me chamar de menina? Será que pareço tão nova assim?

Após um tempo a respondi, tentando não ser grossa pela sua intromissão.

— Não interessa, é particular — falei e saí do local.

É uma reviravolta, mas fazer o quê, sou assim. Pensando bem, acho que fui uma tremenda idiota. Poxa! Não deveria ser tão grossa com a senhora, mas não tenho culpa, quem mandou ela pergunta sobre o que não deveria?

Entrei no quarto de Tiana e a peguei no colo, já que está na hora da sua mamadeira. Desci as escadas calmamente e entrei novamente na cozinha.

Dei graças a Deus por Margarida não estar mais no local. Enquanto alimento a criança, Tomas entra.

— O que você quer menino? — Me irritei com a sua aparição, pois sei que ele está aqui para me força a viajar com eles.

— Pare de birra, não posso ir à cozinha da minha casa? — Levantou uma sobrancelha ao me encarar.

— Não quando você sabe que estou aqui e sua única intenção é me perturbar.

— Não sabia que você tinha esse julgamento todo contra mim, até parece que sou um monstro. — Sentou-se na cadeira a minha frente.

Não entendo esse indivíduo e, ainda por cima, isso é uma criança ou um homem? Tenho minhas dúvidas, porque as suas atitudes não se assemelham com a de uma criança, mas com a de um homem adulto e experiente. Ele sabe jogar, disso não tenho dúvida, mas o que ele viveu para se tornar assim? O que estou pensando? Isso não me interessa, nada que venha dessa família me interessa. Quero mais que todos eles se explodam.

— O que foi? O gato comeu a sua língua? Ou será que o veneno da cobra não é mais tão eficaz? — comentou parecendo estar se divertindo com o comentário.

Olhei para ele indignada. De que esse filho da mãe me chamou?

— O que você disse, feto de aborto? — perguntei com uma aparência nada amigável, enquanto a madame tenta sugar a mamadeira já vazia.

Não sei o que aconteceu, porém, quando falei essa frase ao invés dele rebater, Tomas apenas parou no tempo olhando para o meu rosto como se eu não estivesse aqui, e ele estivesse em outro planeta.

— Peste... Peste... Peste!!! — O chamei duas vezes, mas o retardado não respondeu, então gritei na terceira vez estalando o dedo no seu rosto.

— O que foi!!! — emergiu com a voz alterada.

— Ei não me grite, égua, não sou a sua parente.

Não sei o que aconteceu, entretanto, ele apenas olhou para mim sem nenhuma emoção e saiu.

Encarei o lugar vazio, pasma. Agora sim quero sair daqui, que família maluca.

Finalmente já é noite, parece até que esse dia nunca iria terminar. Deixei Tiana no seu berço, chorando, com a intenção de não se desgrudar de mim.

— Tenho que ir, até amanhã — falei tirando com força a sua mão do meu cabelo que está sendo puxado.

Depois de muitos fios perdidos, finalmente consegui tirar a sua mão do meu cabelo e, saí do quarto com a menina esperneando no berço.

Desço a escada feita em aço no corrimão e madeira polida em cada degrau, trazendo uma presença marcante a sala de recepção da casa, totalmente ornamentada com móveis modernos, gerando uma contemporaneidade ao clássico estilo despojado dos objetos do recinto, tornando o lugar muito elegante, contrastando com a escada rústica, que se desvincula das paredes em diferentes tons de bege e o chão em porcelanato.

Dai-me graças Deus, não mereço isso. — Falei comigo mesma enquanto desço a escada calmamente, ainda ouvindo o choro estridente de Tiana.

— O que aconteceu? Por que a menina está chorando tanto? — falou o senhor Paul se aproximando de mim enquanto fecha a porta da entrada.

— Ela não quer me deixar sair. O senhor nem queira saber quantos fios de cabelo perdi nessa tentativa.

— Sinto muito pelos seus fios. — Riu. — E tenha uma boa noite. Vou chamar Margarida para acalmar a fera. — Ele subiu os degraus rapidamente.

O coroa está enxuto, corre até melhor que eu. — Ri com o meu pensamento e caminhei para fora da casa, quando ouço aquela maldita voz me chamar.

— Bela.

Ótimo, será que o destino não sabe o significado da palavra paz?

— Sim, senhor. — Me virei para ele com uma cara nada amigável.

— Pode ficar um tempo com a Tiana? Não se preocupe terá hora extra e a levarei em sua casa. Só até ela dormir, estou escutando o choro dela do meu escritório.

— Não posso, tenho compromisso — pronunciei e me virei para sair novamente, mas senti alguém me puxar.

— Preciso de você, agora — confabulou encarando os meus olhos.

Não acredito que ele disso isso. Só com a menção dessa frase meu coração já dispara, quieto! Poxa. Não é para você se iludir, ele só está fazendo isso para a filha dele o deixar voltar ao trabalho.

— Realmente preciso ir — falei me soltando do seu aperto —, com licença. — Me virei.

— É sério que você vai deixar uma criança com crise de choro por minha causa?

Ah, não, não acredito que ele vai usar chantagem emocional comigo, ô jegue. Logo eu que não suporto criança, que só estou nesse maldito emprego para não passar fome, isso é inaceitável.

Hora de pensar em uma ótima mentira para fugir dessa enrascada. Enquanto isso, ainda ouço o choro de Tiana.

— Desculpe senhor, mas o meu namorado está me esperando, estou atrasada — falei saindo.

— Você não me disse que tem um namorado.

— Não sabia que devia informação da minha vida particular ao senhor — articulei ainda de costas, para não sofrer a tentação de ficar.

— Ligue para ele e avise que não poderá encontrá-lo, tenho certeza de que a gratificação será maior. — Senti a sua respiração no meu pescoço.

Como esse homem chegou aqui tão rápido? Safado, ele está querendo me seduzir.

— Não posso. — Tentei correr colocando a mão na porta de madeira para abri-la. Quando estou perto de sair, ouço o senhor Paul falar.

— Senhor a criança não se acalma, tenho medo de que ela tenha um ataque — falou o senhor ofegante.

Não acredito que vou fazer isso. Tenho certeza de que nesse corpo não existe mais, Bela.

— Vou ligar para ele, me dê um momento. — Quando estou saindo esqueço que não tenho crédito. — Esqueci que meu celular descarregou, posso usar o telefone? — Inventei outra mentira, para não admitir a minha miséria. Que vida, antigamente isso não me faltava.

— Fica na sala de visitas, por aqui — disse o senhor Martilhe dando um sorrisinho, tenho a certeza de que ele sabe da minha mentira.

Peguei o maldito telefone e liguei para Lúcia. Ainda bem que decorei os números das meninas.

Após um tempinho, Lúcia finalmente atendeu.

— Olá.

— Oi, amor. — Tentei dar um ar de apaixonada, pois, tenho certeza de que o senhor Martilhe está me ouvindo.

— Quem é? — Oh céus, Lúcia não existe, será que não reconhece a minha voz?

— Sou eu, Bela, amor. — Misericórdia, nunca suportei chamar alguém de amor.

— Por que está me chamando de amor?

— Não poderei ir ao nosso jantar hoje, podemos deixar para amanhã? — Mudei de assunto para ver se ela entende o recado.

— Você inventou alguma mentira e está sendo observada né? — Até que fim.

— Sim, querido. Não se preocupe, quando sair daqui vou direto para a sua casa. — Quando disse isso ouvir um murmúrio atrás de mim.

— Ok. Vou te esperar acordada para conversarmos.

— Beijos, amor. — Me despedi e desliguei o telefone.

Me virei, e encontrei o senhor Martilhe com uma cara nada boa me encarando.

— Pronto, podemos ir — proferir passando por ele sem ligar para o seu semblante de bicho.

Entrei no quarto e encontrei Tiana chorando enquanto a Dona Margarida tenta a todo custo acalmá-la. Me assustei, pois não sabia que uma pessoa poderia ficar da cor de uma maçã de tão vermelha.

Quando ela me viu esticou os braços para mim, ainda chorando.

A peguei no colo, tentando fazer ela se acalmar.

— Calma querida, estou aqui. — Balancei-a calmamente.

Após um tempo ela finalmente se acalmou e aninhou-se no meu peito. Pouco tempo depois, olhei para o povo no quarto, encontrando quatro olhos mirando-me na cara dura.

— Vou fazer a mamadeira dela — disse Dona Margarida saindo do quarto e me deixando sozinha com o chefe.

— Assim que ela dormir vou embora.

— Tudo bem. — Acomodou-se na cama me observando.

Sentei-me na cama e ficamos um olhando para o outro. Após um tempo, Margarida finalmente chegou.

Dei de mamar a Tiana, após ela arrotar me deitei com ela na cama para fazê-la dormir.

— Pegue o ursinho dela — falei para o senhor Martilhe que ainda continua no quarto.

Ele me deu a pelúcia e deitou-se também na cama, com os braços atrás da cabeça.

Suspirei em exasperação, não compreendendo como toda essa loucura começou, mesmo assim, já sei a resposta, foi quando Clara colocou na cabeça que tinha que me dar um golpe, esse foi o começo do meu inferno. Isso tudo por causa de uma desalmada, tomara que ela passe o dobro do que estou passando.

Não sei como isso aconteceu, mas quando acordei no outro dia, enquanto Tiana puxava meu cabelo, me dei conta que o Sr. Martilhe se encontrava com o braço envolta de nós, dado que, Tiana estava localizada no meio, complicando ainda mais a minha fuga.

Espero que tenham gostado desse capítulo, até a próxima.

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