Capítulo 12

Quando o fogo aquece a alma, os sentimentos transbordam, como labaredas em plena escuridão, porém, o que estou sentindo agora não pode ser chamado de aquecedor, mas de combustão próximo à erosão.

Após essa longa jornada, respirei fundo, com a intenção de me acalmar.

— Senhora, senhora! — Ouvi alguém me gritar.

Era só o que me faltava, essas pessoas não sabem identificar o semblante de alguém querendo ficar sozinha.

— Sim. — Virei-me transtornada, fazendo a moça tremer em temor.

Pena que existe ser humano burro o suficiente para em não saber identificar uma pessoa prestes a pegar fogo.

— Ham. — Não acredito que perdeu a fala, a incentivei com a mão para que ela continuasse e terminasse logo com essa tortura — Tiana está estressada e chora muito, ao que parece ela pede a presença da senhora. — Completou rapidamente.

— Em primeiro lugar, não sou mãe de ninguém para essa criança está tão apegada a mim, há um dia que nos conhecemos, se posso dizer assim. Em segundo lugar, não sou velha para você me chamar de senhora, se conscientize garota! — articulei sem pestanejar, fazendo com que todo o sangue corresse do rosto da garota, a empalidecendo.

Agressão gratuita Bela? Isso é broxante, até para você. — Novamente, esses comentários fora de hora da minha mente participativa.

Quem essa criança pensa que é para falar assim comigo? Só permitia que os meus funcionários me chamassem de senhora por questão de hierarquia, não porque gosto.

— Estou a caminho, espero que esse assunto não saia daqui, ou posso fazer da sua vida um inferno. — A menina colocou duas bodegas de olhos e, saiu assustada sem se despedir.

Acho que exagerei com a garota, ao que parece, saiu do primário de tão raquítica. A fisionomia dela é sofrida, mas algo que me chamou atenção foi a sua aparência, não sei por qual motivo ou será porque a sua característica asiática se assemelha a minha, já que possuo os mesmos olhos orientais sendo diferenciado pela boca carnuda. Não me considero de descendência asiática, pois, a única característica que me assemelha um pouco a eles, são os olhos puxados, fora isso sou uma típica Brasileira, de onde vim quando minha mãe me adotou.

Por certo, minha família é do Brasil, mesmo quando fui adotada aos 8 anos, minha mãe sempre fez questão de manter as minhas raízes. Mesmo ela sendo norte-americana, permaneceu no país até os meus 17 anos quando terminei os estudos, foi nesse ponto que mamãe decidiu voltar para a sua terra, então, ela aproveitou essa oportunidade e fomos embora.

Recordo-me uma frase que papai sempre dizia — não há lugar melhor que o lar —, ele tinha esse pensamento quando mamãe estava viva, pois na morte..., prefiro não comentar.

Mas isso não vem ao caso, não faz meu estilo reparar na aparência de uma pessoa tão insignificante como ela.

Como não tenho tempo a perder, entrei no banheiro, para tentar ajeitar o meu rosto. Quando olhei para reflexo no espelho, imaginei —, saia de mim, esse corpo não te pertence — brincadeira não pensei isso. Na verdade, a primeira coisa que venho a minha mente, foi: como o senhor Martilhe não caiu na gargalhada quando me viu? Agora entendo os olhares de Tomas. Burrice monstruosa, como sou trouxa, não acredito que pensei nisso.

Graças a Deus, a bruxa não ousou olhar para o meu rosto, se tivesse, já imagino qual seria a sua indagação irônica —, não sabia que sua noite foi nas esquinas, querida — Ah, mais que asco dessa mulher, não quero me desvalorizar, mas hoje sem sombra de dúvidas parece que passei o dia inteiro em uma balada. Deixando bem claro, não foram muitas, pois, todas às vezes que visitei, foi para acompanhar Clara, entretanto, a minha verdadeira vontade era ficar em casa assistindo a mais uma das minhas séries. Como me arrependo disso, queria não ter comparecido naquele antro, pois, não seria amargurada e solitária como sou hoje. O que foi? Tenho consciência de como estou, não sou nenhuma lerda.

Peguei um pouco de água e passei no cabelo, fazendo um coque folgado neste. Lavei o rosto e acertei as sobrancelhas. Não está aquele espetáculo todo, mas... pelo menos, dá para o gasto.

Saí às pressas do banheiro, visto que já tinha demorado demasiadamente.

Nem bem entrei no quarto, pude ouvir o choro estridente de Tiana. Nunca vi uma menina mais mimada que essa. Vamos lá, Bela, coloque a sua melhor cara de boa moça e siga em frente.

— Ô, por qual motivo ela está chorando? — indaguei me aproximando das empregadas que estão tentando acalmar Tiana.

Entre elas, está aquela menina que assustei mais cedo, no total são duas mulheres.

— Olá a senhora deve ser a babá das crianças, aqui está ela — falou uma senhora vindo na minha direção com a bênção.

Peguei a menina que parou de chorar na hora.

— Ela tem afeição pela senhora, isso é ótimo, normalmente isso não acontece — comentou a mulher parecendo admirada.

Claro, porque sou azarada o suficiente para isso ser designado a minha pessoa.

Novamente aquele negócio de senhora. Acalme-se Bela, você não quer fazer inimigos, então, mantenha o controle.

Encarei a senhora que falou comigo. Ela tem pele morena, olhos castanho-escuros, é baixa com mais ou menos 1,50 de altura, gordinha e parece ter quase sessenta anos.

— Não precisa me chamar de senhora, não sei o motivo dela ter se apegado a mim — falei olhando para a menina que está dormindo em meus braços.

— Vamos Helena, temos muito o que fazer, e prazer em conhecê-la, sou Margarida a cozinheira da casa — comentou parecendo compassiva.

Gostaria de saber onde ela estava ontem, quando precisei dela.

— Prazer, sou a Bela. — Esbanjei o mínimo interesse, mas a senhora pareceu não perceber.

— Esqueci, essa é Helena. — Apontou para a menina que conheci mais cedo.

Helena é a menina que levou desaforo para a casa mais cedo. Por incrível que pareça ela tem uma certa semelhança comigo, olhos puxados castanhos, cabelo em uma tonalidade ébano, pele branca, baixa e esguia. — Suponho que você já falou isso, mente de vento. — Com uma aparência sofrida. Ao contrário da minha pessoa, excepcionalmente linda, esbanjando uma beleza encantadora que não tem igual. Tendo em vista que, estudei nas melhores escolas e faculdades. — Sei disso mente intrometida, mas não posso perder a oportunidade em ser superior.

Resumindo, você é uma tremenda chata. — Minha consciência resolveu protestar.

Continuando, mesmo os meus cabelos escuros e pele branca, ainda tenho uma beleza única, já que nunca envelheço.

A baixa autoestima em você passou longe. — Resolveu interferir novamente. Que lástima!

Dona Margarida sorriu com o comprimento, mas Helena nem me encarou, rancorosa.

Elas saíram e apressei-me em colocar a menina no berço, dando graças a Deus por ela estar dormindo, porque vou fazer o mesmo, afinal, ninguém é de ferro.

Senti como se algo peludo fizesse carinho no meu rosto, estranho, não me lembro estar coberta com um lençol de veludo. Não sei porque fui inventar de abrir os olhos, pois, preferiria que continuassem fechados.

— Aaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhh!!! Tirem esse bicho daqui meninos!!! Ele está vindo para o meu pé, meninos!!!

Saí pulando da cama quando vi aquele rato no meu rosto, pestes, filhos de uma mãe.

Não sei quanto tempo passou, mas eles vieram rapidamente para o quarto, enquanto Tiana chorava de espernear.

— Tirem esse bicho daqui suas pestes, poxa, vocês acordaram a criança — falei e segui para pegar Tiana que está assustada, chega o coraçãozinho dela está batendo rapidamente.

— Olhem o que vocês fizerem com sua irmã, não pensam? — Nessa hora já estou morrendo de raiva, que nem me importei se os empregados estão ouvindo ou não.

— Não tivemos culpa, estávamos procurando o Floriano, mas ele escapuliu, não sabíamos que ele estava com uma cobra, e poderia ser comido — disse Tomas, brincando com a minha paciência.

— Você disse o quê? Repita garoto. — Controlei a raiva, para não encher esse pirralho malcriado com umas boas palmadas.

— Foi o que você ouviu, sua golpista — declarou em alto e bom-tom.

Ah, agora ele foi longe demais, enquanto seus irmãos assistiam a tudo calados, esse fedelho quer me enfrentar.

— Quem te deu o direito de me chamar assim?

— As suas ações, sei que você está aqui para pegar o meu pai.

Olhei abismada para ele, sério que esse garoto pensa isso? Quando dei motivo para ele pensar assim de mim?

— Quem te disse isso? — Segurei Tiana de um lado e coloquei a mão na cintura, em total manifesto.

— Não interessa, só quero você fora dessa casa.

— Olha, garoto, isso não é assunto de criança, mas já que você quer saber, pode ficar tranquilo, o seu pai não me interessa nem um pouco, e como você disse, não vou pegar ele.

— Isso não garante que esteja falando a verdade, já que todas as mulheres mentem e não valem nada. — Cruzou os braços.

Olhei para ele perplexa, como um garoto de nove anos pode se comportar assim? Respirei fundo, afinal, não quero ser presa por espancar uma criança.

— Posso te falar uma coisa? Te garanto com toda certeza, se eu tivesse outra opção de emprego não estaria aqui e não se preocupe, não ficarei nesse cargo por muito tempo, já estou procurando outro. E tem mais, não quero nada com o seu pai. Mas preciso desse emprego. — Terminei, por fim.

Tentei passar toda emoção que sinto nas palavras, afinal, preciso comover a peste.

— Esse seu joguinho não me engana, porém, com certeza meu pai quer pegar você. Mas se acontecer algo entre vocês dois pode ter certeza de que a sua vida virará um inferno. — Tentou me amedrontar com suas palavras.

— Não se preocupe, ele é o último homem que passa pela minha mente, e além de tudo, tenho namorado, não preciso dele.

Só contei uma pequena mentira que não vai afetar em nada na minha vida, afinal de contas, preciso desse emprego.

Necessito fazer um acordo com essa peste, senão ele nunca vai me deixar em paz.

— Vou te propor um acordo, enquanto estou aqui você não vai tramar nada contra mim, como recompensa, não tocarei em um milímetro do seu pai. E tentarei arrumar um emprego o mais rápido possível. — Estendi a mão para oficializar o acordo.

— Se você não cumprir esse acordo o que eu ganho em troca? — Seu olhar se tornou calculista?

— Aí você terá o direito de fazer o que quiser comigo — falei dando um meio sorriso, afinal, jamais acontecerá.

— Tudo bem, espero que você cumpra a sua parte no acordo, senão, já sabe o que te espera. — Deu um sorriso zombeteiro, e saiu acariciando o rato com os seus irmãos em sua cola.

Que menino é esse? Com certeza ele não é normal. — E nem você! Quem em sã consciência faz um acordo com uma criança de 9 anos?

Olá pessoas, espero que estejam gostando dos capítulos, beijos até a próxima. 

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