Capítulo 3

Saímos da delegacia e voltamos para a quitinete. Tomei um gostoso banho morno, e foi tão bom... Parecia que estive longe por muito tempo. Saí do banheiro enrolada numa toalha e com uma camiseta de algodão nas mãos, secando e amassando meus longos cachos. Andréia se dirigiu para o banheiro assim que saí, quando perguntei:

— É sério? Nós iremos embora depois de tudo? — Ela parou de andar e me encarou — Por favor, eu quero muito voltar lá! Eu preciso! Esse trabalho é um sonho pra mim! Desculpa ter estragado tudo... — Olhou-me com um sorrisinho maroto, no que respondeu:

— Relaxa! Falei aquilo somente pra o delegado não nos importunar. Daremos alguns dias, não sei ainda... Deixar a poeira abaixar. Apesar de que eu não sei... Acho que você deveria voltar pra casa.

Suspirei enquanto sentava na cama, mega desanimada. Quais argumentos eu teria para fazê-la mudar de ideia? Eu precisava de respostas. Queria entender a razão de não conseguir tirá-lo da minha cabeça. Aquele homem... Desde que o vira no jornal, era impossível não pensar nele. O seu olhar me prendia de uma forma que não tinha explicação!

— Não vou voltar para casa. Estou bem! Acredite em mim, não criarei problemas de novo! Eu entendo que quase dei fim ao seu projeto, mas me dê outra chance! — Ela desistiu de entrar no banheiro e veio até mim, pousando a mão sobre o topo de minha cabeça.

— Você não teve culpa de nada! Simplesmente reagiu ao momento. Todos nós corremos, Elisa. Você não é a única medrosa aqui! — Nós duas rimos — Confesso que estava muito empolgada e acabei me distraindo, não me atentando aos riscos. Mas não sei como, não aconteceu nada com você! É impressionante! Nenhum arranhão! — Ela me olhou de uma forma que me fez ficar um pouco envergonhada — Jura que não se lembra do que aconteceu? Não lembra de nada desses dois dias em que esteve com ele?

Somente em mencioná-lo, fazia meu coração acelerar. Senti minhas mãos suarem , e as enxuguei discretamente na toalha que me envolvia.

— Juro. Não lembro de nada! Acredite, é estranho pra mim também...

— Talvez você tenha estado desacordada esse tempo inteiro...

Ela deu-me as costas, dirigindo-se ao banheiro enquanto falava:

— Além do mais, a senhorita me será bastante útil... — Esperei que completasse a frase, enquanto fazia um coque em seus cabelos — Tenho a impressão de que aquele moço ficou encantado com essa sua cor do pecado! — Franzi o cenho. Detesto esse tipo de comentário.

— Se não fosse o resultado normal dos seus exames, pensaria até que ele tivesse feito algo contigo! — exclamou, trancando-se dentro do banheiro. Suspirei aliviada, pois assim ela não teria visto como fiquei abalada diante do que dissera. Realmente, corri um baita risco, mas também não podemos julgar assim...


*


Dias se passaram, e eu não conseguia tirar esse homem da cabeça. Bastava um simples cochilo, para que acordasse sobressaltada, com a imagem de seus olhos enigmáticos na mente. Demorou um pouco para que a impressa nos esquecesse. A curiosidade sobre a situação ainda era muito grande. Eu não ousava conversar muito sobre o assunto com a professora, por temer que ela desistisse de vez do projeto. Mas passado um mês e mais alguns dias, Andréia voltou a investir com tudo na expedição, para o meu alívio.

Desta vez, nada poderia dar errado. Concordamos em admitir mais um integrante na equipe, para nos dar mais segurança. Refizemos o planejamento e numa quinta-feira bem cedinho, saímos rumo à floresta.

A viagem foi mais tranquila. Caminhamos bastante, fazendo pequenas paradas para descansar, fotografando e anotando registros. Um dia inteiro sem algum sinal da tribo. Quase a todo momento eu sentia que ele poderia aparecer do nada, e não sabia qual seria a minha reação. Estava muito ansiosa, porém é claro, não conseguiríamos nos comunicar.

Ao entardecer, montamos o acampamento. Devido à minha intensa ansiedade, pedi licença para me recolher na cabana, e que me chamassem caso algo acontecesse.

Depois de muito tempo, consegui pegar no sono. Sonhei que estava andando na floresta às escuras. Com o tempo, meus passos foram acelerando e quando vi, estava correndo a mil. Nem olhava para trás, era como se tivesse um objetivo. Simplesmente do nada, dei um grande pulo e voei sobre a floresta, dando de cara com a lua. Ao cair, acordei de imediato. Mas não acordei por conta do sonho, mas sim por ter ouvido um som de algo muito pesado, como se tivesse caído ao chão...como da primeira vez. Muito nervosa, notei que Andréia dormia quieta ao meu lado. Saí da cabana engatinhando e estranhei o que vira. Dois rapazes também tinham se recolhido à sua cabana, enquanto o professor e mais outro dormiam pesadamente próximos à fogueira. Constatei que estavam dormindo, por conta dos roncos baixos. Confusa, olhei ao redor e não notei nada de anormal. Até que ouvi passos se aproximarem e meu corpo congelou. Antes que eu pensasse em pegar algo para me proteger, uma silhueta alta surgiu da mata. Era ele?

Andando devagar, o jovem indígena se pôs sob a luz do luar. Não havia dúvidas. Este me olhava nos olhos, e incrivelmente me senti segura. Era uma visão deslumbrante. Seus negros e lisos cabelos brilhavam de tão sedosos, e com a ajuda da fogueira, pude perceber o quão lindo era. Estava completamente despido, somente com alguns desenhos e adereços sobre a pele. Ele estendeu seu braço direito e me ofereceu a sua mão. Fiz menção de inclinar o meu corpo em direção aos meus companheiros e quando vi, já tinha se aproximado e pego a minha mão sem permissão. Puxou-me devagar, e fomos adentrando pela floresta. Eu só podia estar louca mesmo...

Depois de caminharmos um pouco, chegamos na beira de um rio. Ele soltou a minha mão e agachou-se. Com as mãos em concha, recolheu um pouco de água e me ofereceu. Encantada com o seu gesto, aceitei a oferta. Bebi um pouco d'água, encostando de leve os meus lábios em sua pele. Ao terminar, ele sorriu para mim. Aproximou-se e ficamos frente à frente, encarando-me demais. Completamente sem ar, não consegui resistir. Seus lábios encostaram nos meus, de forma bem delicada. Pude sentir que ele também não se conteve, e quando dei por mim, nos beijamos pra valer. Agarrei-o sem dó, meu corpo estava ardendo em chamas. Percorri minhas mãos em suas costas e pude sentir como sua pele era macia e quente. Ah, como eu queria que aquele momento se eternizasse... Senti que era isso que a minha alma pedia, implorava a todo instante. Depois de um bom tempo nos beijando, afastou-se e sussurrou algo que me deixou boquiaberta:

— Elisa...

Confusa e assustada, soltei-me imediatamente de seus braços. Ele sabia o meu nome?...

O homem tentou pegar novamente em minha mão, e não o deixei. Tinha algo de errado. Eu tinha que fugir. Sem dá-lo tempo de pensar, fiz menção de correr, quando implorou:

— Não vá! Fique...! — Olhou-me como se tivesse sido ferido, o que me compadeceu um pouco. Mas não poderia deixar que me enganasse. Ele falava a minha língua! Estava revoltada... Quando resolvi interpelar, uma luz muito forte surgiu no horizonte, atrás dele. Tão intensa, que tive que usar as mãos para proteger meus olhos. Era como se fosse a luz de mil sóis, de um azul impressionante. Chocada, vi a luz se aproximar e revelar um imenso objeto a levitar sobre o rio, com várias luzes brancas na parte inferior, que piscavam de forma ritmada.

— Seu lugar não é aqui. Eu sei que você consegue sentir — chamou-me novamente a atenção. Seu semblante parecia sereno, em paz — Venha comigo! E eu te darei o mundo.

Nunca pensei que passaria por algo assim na minha vida. Encarei seus olhos, e percebi pontos brilhantes como estrelas a se movimentarem. Fitei novamente a grande nave, e ao voltar a olhá-lo, já não era mais um homem indígena. Era um ser platinado, muito alto, que só poderia ser de outra dimensão. Meu coração disparou. Estava apaixonada por alguém que não era daqui.

A velha senhora, pois então, tinha razão.

Insisti, e nunca mais voltei.







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Oie! Bom, não resisti! Mais um conto publicado xD

Espero que tenham gostado! Ficaram surpresos com o final? Ou imaginavam outra coisa?

Talvez quem já me acompanha aqui no Wattpad não tenha se surpreendido, vai desculpando aí rsrs

Para ler outros contos, convido a olhar o meu perfil: babiempaginas

Amplexos,

Babi Gonçalves

Imagens: Pixabey

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