5
Não subestime a força de quem deseja sobreviver
Sn era uma mulher que viu o mal dos homens e lutou muito para sobreviver, então... Não seriam os deuses que a assustariam.
Nos bastidores do panteão japonês, intrigas divinas se desenrolavam, ameaçando desencadear uma guerra entre os deuses. E no centro de tudo, uma jovem mortal lutava para sobreviver em um mundo que não era o seu, sua vida agora enredada nos caprichos e disputas dos seres divinos que governavam o destino do Japão.
Susanoo sabia que o tempo estava se esgotando e que cada momento perdido aumentava o perigo que ela enfrentava. Mas ele também sabia que não podia desistir. Ele tinha uma promessa a cumprir, e faria qualquer coisa para mantê-la segura, nem que para isso alguns reinos devessem desaparecer.
[...]
O reino vermelho de Kushiinada-hime é um lugar de beleza incomparável, onde a natureza exuberante e a essência da deusa se entrelaçam em uma sinfonia de cores e vida. Localizado em um plano divino além do mundo terreno, este reino é um verdadeiro paraíso em meio ao cosmos.
Ao adentrar o reino, os visitantes são recebidos por uma paisagem de tirar o fôlego, onde montanhas majestosas se erguem em esplendor e vales verdejantes se estendem até onde a vista alcança. O céu acima é pintado em tons de vermelho, laranja e dourado, como se cada amanhecer e entardecer fosse uma obra de arte em constante evolução.
As florestas deste reino são densas e exuberantes, com árvores altas que se erguem em direção ao céu, seus galhos entrelaçados formando um dossel verdejante que oferece sombra e abrigo. As folhas das árvores brilham com tons de vermelho, refletindo a luz do sol de maneira deslumbrante.
Os rios que serpenteiam pelo reino são límpidos e cristalinos, suas águas correndo em cascatas e corredeiras que ecoam pela paisagem. Aqui, a vida aquática prospera, com peixes coloridos nadando entre as pedras e nenúfares que pontilham as margens dos cursos d'água.
A fauna deste reino é igualmente diversificada e impressionante. Pássaros de plumagem vibrante voam pelos céus, enchendo o ar com seus trinados melodiosos. Borboletas de todas as cores dançam entre as flores, enquanto pequenos animais percorrem os bosques em busca de alimento.
No centro do reino, encontra-se o palácio de Kushiinada-hime, uma estrutura magnífica que irradia uma aura de paz e serenidade. As paredes do palácio são feitas de pedra vermelha, decoradas com motivos florais e entalhes intricados que refletem a beleza da natureza ao seu redor. Nos jardins que cercam o palácio, flores exóticas desabrocham em uma profusão de cores, suas fragrâncias doces perfumando o ar.
Em cada canto deste reino, a presença de Kushiinada-hime pode ser sentida, sua essência permeando cada aspecto da paisagem. É um lugar de harmonia e beleza, onde os visitantes podem encontrar paz e renovação em meio à magnificência da criação divina.
Mas apesar de tudo isso, os trovões que cercavam o céu e ameaçavam destruir a paz daquele local empunham medo, principalmente quando ele desceu, tocando o chão com tanta raiva que a terra se levantou como se, se quebrasse em diversos pedaços para só então notar os fios rubros da mulher com quem desmanchou o noivado se revogar conforme ela erguia a barra e corria em sua direção, alegre e despretensiosa. Como se nada tivesse acontecido.
-- Onde está ela? -- A espada foi apontada para o pescoço da ruiva que respirou fundo.
-- Susu...
-- Não perguntarei novamente. -- O risco fino foi feito marcando a pele amarelada da deusa por onde as gotas carmesim desceram. A deusa automaticamente deu um passo para trás, nunca viu Susanoo tão irritado.
-- Isso tudo por causa de uma humana imunda? -- Ele puxou-a pelo pulso.
-- Você sabe qual é a punição por ir contra as minhas ordens, não sabe? -- Susanoo havia se abaixado e encarava a deusa nos olhos e ela temeu, como se visse toda a sua trajetória no olhar mortal do Mikoto, que apesar de tudo, sentia a empáfia gritar por cada poro da ex-noiva e com isso resolveu retroceder e falar apenas a linguagem que ela entenderia: -- Sabe por que eu me recusei a casar com você?
O olhar dele estava sereno e até mesmo demonstrava todo o desinteresse que possuia
-- Porque aquela vagabunda humana apareceu! -- Susanoo segurou o pescoço dela com vontade.
-- Não fale besteiras! Eu desfiz o nosso compromisso por que você é patética. É ciumenta, obcecada e vingativa. Tudo que eu não preciso, afinal de contas já tenho Amaterasu. Agora Kushiinada-hime ponha-se em seu lugar. -- Ele a soltou com raiva, fazendo com que a deusa caísse de joelhos e as lágrimas caíssem ao chão.
-- Eu te dei todo o meu amor e para quê? Como ousa me tratar assim?!
O olhar frio de Susano fez com que ela se levantasse e enxugasse os olhos, não poderia dizer o que aconteceu com Sn, do contrário seria morta, ainda assim precisava garantir mais tempo. O suficiente para que o coração da humana parasse de bater, mas afinal de contas o que foi que aconteceu com a bela dama escolhida por Susanoo?
Momentos antes quando a humana se chocou contra a árvore:
O corpo dolorido e a face manchada não a impediram de se erguer com dificuldade e continuar caminhando para longe. Sn não queria saber de mais nada que não fosse sobreviver, nem que se arrastasse por aquela floresta, que tivesse de se atirar no mar e nadar utilizando apenas os braços, daria um jeito de continuar viva e sair dessa confusão ao qual foi erroneamente enfiada.
-- Sua escória como ousa roubá-lo de mim? Ele é meu entendeu? -- Os fios foram puxados com força e tudo o que a humana fez foi virar o braço em um soco acertando o rosto da deusa sem ao menos perceber.
-- Pois que fique com ele todo para você. -- Sabia que se referia ao deus da calamidade simplesmente pelo timbre de voz e a certeza do MEU e só queria sair dessa situação, no entanto, a deusa se encheu de raiva, primeiro por ser deixada de lado e depois pela humana simplesmente afirmar que não sentia nada por ele.
A cólera infligida em seu coração faria com que agisse puramente pela raiva.
-- Farei com que se arrependa de ter adentrado nossas vidas, você é apenas um inseto, um lixo que não deveria respirar o mesmo ar que nós e ainda por cima ousa estragar minha vida! -- A mulher passou a arrastá-la, o corpo fraco foi ao chão e com muita dor sentiu as pedras finas ferindo-lhe a pele e mesmo assim procurou pelo chão algo para se agarrar, até que encontrou um objeto pontudo e firme o suficiente para agir, ainda naquela posição virou a mão para trás forçando o corpo notando o sangue escorrer enquanto alguns fios eram puxados, a força fez com que os cabelos arrebentassem em um punhado e no mesmo instante a pedra fina e pontuda foi cravada no estômago da deusa de fios vermelhos, ela ajoelhou no chão, pela dor e com isso a humana voltou a caminhar para longe, avistando um belo lago, mas antes que pudesse chegar até ele e estar o mais distante possível o peito foi atravessado por um báculo, a ponteira de ouro era o que ela conseguia ver conforme cuspia sangue e em um gemido de dor fez com que a deusa sorrisse satisfeita:.
-- Queria te matar lentamente, mas você apressou sua própria extinção. -- Kushiinada-hime não foi gentil, ao apoiar a mão nas costas dela e puxar o objeto de ouro contundente e empurrar o corpo ladeira a frente. Sn despencou protegendo o ferimento sentindo a respiração falhar cada vez mais, quando parou estava próxima ao lago, a mente nublada ordenava que se arrastasse até ele e foi o que fez, utilizando suas últimas forças.
Naquele momento dois deuses a assistiam, aquela que a desgraçou e um Deus que teve suas águas tocadas pelo sangue gotejante de um ser vivo que mudamente clamava por ajuda e nos céus Ayame se apressava, chegou no exato instante em que o corpo fraco da humana perecia, mas ao tocar as águas era tarde demais, ainda assim o olhar assassino da raposa branca voltou-se para a crueldade da deusa que sem esperar, fugiu.
[...]
Fazia tantos anos que não se servia de um bom pedido ou se sentia tão interessado. As gotas vermelhas mancharam superficialmente a água límpida e outrora abençoada, aquele era o seu único meio de acesso ao panteão sem sair de suas terras e quando emergiu ao toque até mesmo o espírito guardião se afastou.
O lago lunar das terras de Tsukuyomi é uma maravilha celestial, um lugar de beleza incomparável que reflete a majestade da lua sempre cheia. Localizado em um vale sagrado, cercado por montanhas imponentes e densas florestas, um refúgio para aqueles que buscam a bênção e a proteção da divindade lunar, sendo eles merecedores do contrário pereceriam antes de encostar nas águas sagradas.
Ao se aproximar do lago, aqueles que o procuram são recebidos por uma cena de tirar o fôlego. As águas tranquilas do lago brilham sob a luz prateada da lua cheia, criando um reflexo perfeito do firmamento noturno. A superfície é como um espelho líquido, refletindo com perfeição a imagem da lua que paira no céu.
As margens são adornadas por flores noturnas que desabrocham sob a luz da lua, enchendo o ar com sua fragrância doce e sedutora. Árvores antigas se erguem ao redor do lago, seus galhos estendidos como se estivessem alcançando o céu, enquanto o som suave das folhas ao vento cria uma melodia tranquila e serena.
No centro do lago, uma pequena ilha se eleva das águas, coberta por gramados verdejantes e árvores frondosas. É neste local que os devotos de Tsukuyomi se reúnem para fazer suas orações e pedidos à divindade lunar. Um santuário simples, construído de pedra lunar e prata, fica no topo da ilha, sua arquitetura harmonizando-se perfeitamente com o ambiente ao seu redor e costuma desaparecer quando o sol abrilhanta os céus.
À noite, quando a lua cheia está no auge de sua beleza, o lago lunar se transforma em um lugar de magia e mistério. A luz prateada da lua banha o lago em um brilho etéreo, criando uma atmosfera de encantamento e reverência. É um momento de paz e contemplação, quando os devotos se prostram diante da divindade lunar, implorando por sua graça e proteção, mas o deus só as concede quando aprecia o olhar alheio, afinal de contas O deus da lua não é o pai da justiça, mas odeia a impunidade.
E foi por esse mero pensamento que ao observar a humana fechar de vez os olhos e o ferimento grave que resolveu agir, Tsukiyomi no Mikoto poderia dizer facilmente que estava fascinado pela quantidade de problemas que a mera humana conseguiu atrair simplesmente pela própria presença e digamos que não é fácil chamar atenção do belo deus exilado.
Ato 5. O deus da lua
O deus mais improvável daquele panteão a carregava nos braços, o manto escuro encobrindo sua verdadeira face, o belo deus exilado na lua, aquele do qual Amaterasu sentia uma extrema falta, o corpo desfalecido de Sn estava cada vez mais frio indicando que em breve faria uma transição sem volta para o mundo das almas.
"O que será que vai acontecer se eu der um pouco do meu sangue para essa bela humana?" A voz tão bela e suave e a ideia que a cada minuto parecia mais interessante, com a ponta do dedo mordida ele tingiu os lábios, algumas gotas escorreram para dentro sendo engolidas por ela.
O corpo frio logo ganhou calor, o ferimento no peito aos poucos começou a fechar e a respiração ficou intensa, os olhos foram abertos com vontade e ela só não caiu por que o deus a colocou para dormir.
A lua aos poucos conquistou o céu tomando conta imensamente, o coração de Amaterasu batia intensamente ao sentir o cheiro da noite e o perfume intenso dele, as lágrimas brotaram contra vontade nos olhos quando levantou a barra do vestido e saiu do trono correndo pelos corredores, abrindo as portas com pressa apenas para chegar no salão principal de seu palácio e ver o manto negro que adornava todo o corpo dele e encobria a cabeça, o deus se ajoelhou ainda de costas para ela colocando o corpo da humana no chão e depois a encarou finalmente revelando a face um pouco envelhecida.
-- Tsukuyomi -- A deusa do sol sussurrou antes de dar alguns passos na direção dele apenas para observá-lo puxar o manto e revelar o corpo de Sn logo atrás de si e a fúria de Amaterasu logo se fez presente.
-- Não é certo. -- Ele deu alguns passos na direção dela que voltou ao normal, os fios de Tsukuyomi estavam brancos devido a todo esse tempo em que viveu na Lua, seus belos olhos negros mantinham-se distante.
-- Essa humana imunda é a causadora de todos os problemas das últimas semanas! -- Bradou.
-- Ela não fez nada, mas a inveja e o ódio dos outros sim. -- Ele então voltou a se aproximar da mulher que ainda dormia no chão e passou a mão no ar como se passasse por cima do corpo dela. -- Eu, Tsukiyomi no Mikoto, te concedo a minha proteção. Nenhum deus, semi-deus ou servo que aqui habitar te fará mal. -- Ele encarou a irmã de maneira severa após conceder a benção para Sn.
-- Você é louco! Suzano jamais aceitará isso!
Tsukiyomi ficou de pé sorrindo de canto ainda alisando os fios da humana.
-- Então ele que venha até mim. -- Tsukyomi sumiu deixando Amaterasu ainda mais irritada, será que os irmãos a odiavam? O coração da deusa já não aguentava mais tanta indiferença, entretanto esse pensamento foi banido quando sentiu novamente a presença do prateado e os lábios suaves grudados em sua testa.
Tal ato valia bem mais do que qualquer palavra, Tsukyomi sorriu para ela alisando a face antes de partir de vez, de certa forma sabia que a irmã faria tudo corretamente.
Se não me engano Susanoo teve quatro esposas.
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