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Pré revisado, boa leitura.
Preparando o terreno
Quando Susanoo acatou o pedido de um "pai" desesperado, nunca imaginou que teria tanto trabalho. Sn é uma mulher interessante, que veio de um tempo distante, 1960 para ser mais exata. Ela foi levada para o Japão contra sua vontade e obrigada a seguir os costumes e religião local. Desde o dia em que pisou no país, nada foi por vontade própria e, para completar, o país passava por uma série de eventos que modificariam e muito seu meio de convívio. Ali estava ela, uma jovem de quinze anos trabalhando como babá na casa dos Ikeda, um homem extremamente importante. Como esperado, tudo viria a dar errado na vida da garota, que anos à frente passaria a viver como uma foragida.
Enquanto refletia, o deus averiguou se o próprio reino estava pronto o suficiente para recebê-la. Cada Deus do panteão japonês tem seu próprio reino, e diferente do nórdico, um não deve interferir no outro. Não há um Deus maior que rege as outras deidades, mesmo que Izanagi e Izanami sejam os pais da mitologia japonesa e, por consequência, pais de sangue de Susanoo, Amaterasu e Tsukuyomi. Ainda assim, não há divergência ou sequer briga por domínios.
Cada Deus rege o seu reino e avalia suas próprias prioridades. Susanoo acompanhou com um olhar suas terras indissolúveis e ainda agitadas pela última cólera que teve, banhando o local em uma tempestade tão terrível que até mesmo sua amada Kyoto sofreu.
-- Pelo visto ficaremos mais um pouco -- afirmou Mikoto alto, movendo as mãos naquele espelho de nuvem que outrora demonstrava o próprio reino. Susanoo passou a se questionar se deveria ter escolhido Sn como noiva. Quer dizer, estava em tempo de se casar depois de tantos séculos sozinho, e para completar, Amaterasu não parava de pegar no pé dele, querendo sobrinhos. O deus coçou os enormes fios azulados antes de encarar o leve deslizar à sua frente.
-- A sua noiva parece ser inteligente, eu gostei dela -- disse o deus protetor, dando loops no ar. Quando a esquerda de Susanoo agarrou a perna dele, a seriedade no olhar fez com que Jizo respirasse fundo. -- Eu não fiz nada, quer dizer, Amaterasu me pediu para causar uma enorme dor de barriga e vômito nela, mas eu não fiz isso!
Mikoto conhecia Jizo o suficiente para saber que ele estava sendo sincero, o que só piorava a situação para o azulado, uma vez que a personalidade de Amaterasu condizia com o sol, forte e imponente, mas tinha horas que tudo o que desejava era que ela ficasse calma.
-- Parece que não terei paz, não é mesmo? -- A voz cada vez mais ácida que o normal fazia com que Jizo tremesse.
-- Solta ele Susanoo, sabe que Jizo não tem culpa de Amaterasu andar tão descontrolada. -- O olhar foi em direção a voz da deusa que lhe chamava atenção enquanto liberava Jizo.
-- O que faz aqui, Inari?
-- Não é óbvio? Seu estresse chamou atenção, olhe ao redor e verá.
Susanoo observou os deuses escondidos que olhavam tudo.
"Um bando de fofoqueiros," pensou.
Inari riu da expressão facial do deus espadachim, que revirou os olhos.
-- Está muito estressado, nunca vi. Passe nas fontes termais e vá relaxar um pouco, mandarei algumas cortesãs até você.
-- Não tenho tempo para isso -- Sem se despedir Susanoo partiu.
O Deus Resolveu verificar seu próprio reino de perto e o acalmar de vez. No fundo, havia planejado passar mais tempo com Sn no panteão, mas ninguém ali aparentava ser de confiança e quanto antes a tirasse dali, melhor, mesmo que a humana ficasse completamente exilada.
[...]
A deusa encarava o sangue no chão, seguindo os traços do que seria visto como a mais pura traição. Inari sabia que quando Susanoo retornasse, alguém sofreria, mas não queria que isso acontecesse. A deusa havia ido até a sala para conhecer a mulher cujos cabelos cacheados já estavam chamando a atenção pelo local, devido à aparência nada asiática, e Jizo afirmando que deveriam dar uma chance a ela, uma vez que aparentava ser bem culta e respeitosa. Inari havia escutado Jizo falar por horas a fio, a fim de convencer os deuses, e ela sabia que ele só queria deixar todos contentes. Talvez seja por isso que ela cedeu de primeira quando o deus menor calou a boca, aceitando conhecer a humana, mas agora sentia o cheiro dos problemas tão ferroso que chegou a revirar os olhos. Como uma boa analista, seguiu o rastro do cheiro e as gotas de sangue.
As pistas acabaram na janela, indicando que Sn havia desaparecido completamente, mas um fio rubro na centelha da janela deixava claro a responsável e de certa forma levou Inari a suspirar.
-- Kushina... O que foi que você fez? -- O som doce da voz de Inari parecia um cântico, uma melodia suave perdida no silêncio.
Assim como a respiração fraca da humana a quilômetros de distância, Inari sentiu um aperto no coração ao perceber que a humana, Sn, estava em perigo. Ela sabia que precisava agir rapidamente para evitar uma tragédia, não queria que mais uma discordância entre Susanoo e suas pretendidas recaísse sobre todo o panteão como ocorreu nos últimos séculos. Com um gesto rápido, a deusa invocou uma raposa celestial, seu fiel companheiro e protetor dos humanos.
-- Ayame, precisamos encontrar uma humana imediatamente -- disse Inari com urgência, seu olhar preocupado refletindo a seriedade da situação.
A raposa celestial assentiu, seus olhos brilhando com determinação. Com um salto ágil, Ayame desapareceu em uma rajada de vento, seguindo o rastro deixado pela humana desaparecida, como se o cheiro de sangue tivesse sido tatuado no ar, fraco demais para um deus já que foi ocasionado por outro, mas forte o suficiente para que um espírito místico divino o encontre.
Enquanto aguardava notícias de Ayame, Inari rezava para que Sn estivesse a salvo. Ela sabia que Susanoo, ao descobrir o desaparecimento da humana, não hesitaria em buscar vingança. Inari temia o que poderia acontecer se não conseguissem encontrá-la a tempo.
A ajuda não era de forma alguma por prezar a vida da mulher, e sim pelas consequências que resvalariam em cada deidade inocente. Apesar de sempre se manter distante dos problemas alheios, Inari não queria lidar com tempos secos e faltas de alimentos ocasionados pela instabilidade de Susanoo.
Ato 3. A Tolerância divina:
Susano não fazia a menor ideia do que estava acontecendo com Sn. O deus seguiu para o seu reino tentando acalmar a calamidade que ele mesmo criou.
-- Isso aqui não é morada para uma humana; corporalmente, são mais frágeis que os deuses -- indagou, observando as montanhas turvas que, a cada raio, se desfaziam em uma avalanche de terra. O fato é que o deus não vinha para casa há muito tempo, sempre pulando do panteão direto para Kyoto e se aventurando pelo Japão adentro e agora que estava noivo, precisava organizar o próprio reino para receber sua futura princesa.
Com um gesto firme, Susanoo começou a convocar seus seguidores divinos para ajudá-lo a preparar o reino para a chegada de Sn. Ele ordenou que os ventos soprassem mais suavemente, as nuvens se dissipassem e as tempestades diminuíssem, também instruiu os espíritos da terra a fortalecerem as montanhas e as florestas, garantindo que seu reino estivesse estável e seguro. A última construção a ser levantada foi o castelo imperial, com traços visíveis do fim do período Edo; tanto a arquitetura como o jardim carregavam traços genuínos de Kyoto, e o deus espadachim sorriu antes de analisar o lago com duas carpas douradas como se fossem um só.
-- Espero que aquela humana fique em paz nesse ambiente -- divagou, enquanto trabalhava para organizar seu reino. Susanoo não conseguia deixar de pensar no destino de Sn, ele sabia que ela estava em perigo e que precisava terminar cada ato o mais rápido possível. No entanto, também tinha ciência de que não poderia abandonar suas responsabilidades como deus, com um suspiro pesado, limpou a mente e redobrou seus esforços.
No momento, apenas o reino deveria importar, para que pudesse manter Sn confortavelmente exilada.
Inari é a deusa do arroz, agricultura e fertilidade uma das mais bonitas na minha humilde opinião, em breve descreverei a aparência dela para vocês;
Kushina também pertence a mitologia japonesa sendo esse o apelido/forma reduzida de Kushiinada-hime;
Imagem do castelo feita por IA segundo a descrição do meu texto.
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