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Pré-revisado, boa leitura.
Repercussões
Sn se viu presa ao momento, encarando as costas do Deus. Enquanto o olhar de Susanoo beirava ao mortal, observando Amaterasu de cima, encarando-a com arrogância e certa raiva. Isso fez com que a deusa do Sol recuasse, deixando a arma de lado e olhando para o irmão mais velho com petulância.
Amaterasu não é uma deusa ruim; ela só não admite falhas. Já teve problemas o suficiente com outro Deus que foi banido para a lua, teve de lidar com o exílio de Susanoo após um excesso de raiva, e tudo o que lhe restou foi a reclusão forçada. Então, não se engane: apesar de estar ali afirmando que tudo era em prol dos deuses, Amaterasu era completamente comprometida com e pela família.
Os orbes bonitos em tom âmbar piscaram, revelando o brilho negro posterior de quem abriu mão do poder.
-- E o que eu deveria aprender, nii-chan? Você traz uma humana para a nossa casa e quer que eu aceite? Esqueceu que foi um dessa raça que quase acabou com você? -- As bochechas da deusa estavam vermelhas.
-- Ama, apenas relaxe e deixe minha noiva em paz. -- Susanoo se pronunciou, passando a mão nos fios dela em um gesto de carinho. O sorriso simples contrastava com o olhar ameaçador. -- Mas que fique claro que se tentar machucá-la novamente, terá que lidar comigo, entendeu?
A saliva desceu amarga na garganta de Amaterasu, que simplesmente manteve a expressão serena. Na cabeça da deusa, um grande problema se formava, uma vez que Susanoo parecia preferir você do quê o próprio sangue.
-- Hunf! Que essa mortal não cruze o meu caminho! -- Resmungou ainda chateada, e o Deus gargalhou.
-- Agora vá fazer suas coisas de deusa. -- Sorriu. -- E você, vamos andando. -- Ele olhou para a humana por cima dos ombros e, por mais que Sn não quisesse estar ali, compreendia que aquele Deus era o único que intercederia por ela. Restava saber o motivo, afinal o noivado, para ela, não era uma opção.
A bela humana sentiu um misto de desespero e confusão enquanto era conduzida por Susanoo pelos corredores do panteão, não conseguia compreender completamente a situação em que se encontrava. Por um lado, estava aterrorizada por estar no meio de deuses poderosos e intrincados em suas relações; por outro, sentia-se estranhamente protegida ao lado de Susanoo, mesmo que ele fosse a fonte de grande parte de sua apreensão. E ainda tentava processar a tentativa de assassinato.
Enquanto caminhavam, Sn notou os olhares curiosos e desconfiados dos outros deuses que cruzavam seu caminho. O sentimento de exclusão logo bateu contra a bela face fazndo com que se sentisse completamente fora de lugar naquele ambiente divino, vestindo um simples vestido preto, seu traje de trabalho usual, diferente dos deuses ao seu redor que exibiam roupas elaboradas e imponentes e em muitos casos repletos de joias e fios de ouro.
Finalmente, chegaram a uma área mais afastada do panteão, longe dos olhares indiscretos dos outros deuses. Susanoo a conduziu a uma sala tranquila e elegantemente decorada, onde ambos se sentaram em almofadas no chão.
-- Por que está fazendo isso? -- Sn finalmente se pronunciou, a voz tremendo um pouco com a ansiedade.
Susanoo a olhou por um momento, transmitindo uma mistura de emoções difíceis de decifrar.
-- Porque você me intriga -- ele finalmente respondeu, sua voz suave contrastando com a imagem tempestuosa que ele geralmente projetava. -- Você é diferente de tudo que já conheci.
Ela ficou em silêncio, processando as palavras do deus, não conseguia digerir o por que da escolha, jugando precipitadamente como um mero capricho e mesmo assim, algo na sinceridade do deus a fez baixar um pouco a guarda e encarar os motivos.
-- Eu não quero estar aqui -- confessou, olhando para baixo, incapaz de encarar os olhos de Susanoo que pareciam tentar ler através de sua pele.
Ele suspirou, parecendo genuinamente compreensivo.
-- Eu sei. Mas, por enquanto, você está segura comigo. Eu prometo que farei o possível para mantê-la assim.
Sn não sabia se poderia confiar nas palavras de Susanoo, mas no momento não tinha outra escolha a não ser concordar.
-- AGORA VAMOS COMER! -- Bateu nas próprias coxas e ela se assustou.
-- Sn Santos, o que você gosta de comer? Ou prefere que eu te chame de Suzuki? -- Ela piscou diversas vezes, como aquele Deus sabia seu sobrenome? Divagou mais uma vez.
"Óbvio que ele sabe, ele é um deus Sn!" -- A voz mental da mulher martelando enquanto o deus a encarava.
"Que alto." -- O pensamento ocorreu conforme massageou as têmporas tentando descobrir como sairia dessa situação.
-- Não está com fome pequena? -- Ele sorriu sendo encarado mais uma vez e de maneira descrente.
-- Eu não sou baixa, você que é muito alto, deve ser para diferenciar do seu povo! -- Rebateu irritada e ele ergueu as mãos na altura do peito.
-- Parece que vive na defensiva. Venha, eu mandei preparar uma mesa pra você, os efeitos da liteira em breve acabarão e ficará faminta.
Sn observou a mesa repleta de pratos japoneses com uma mistura de curiosidade e desânimo. Ela sentia falta dos sabores familiares de sua terra natal e se perguntava se algum dia voltaria a saborear um prato brasileiro novamente. Susanoo parecia notar sua hesitação e ofereceu um sorriso reconfortante.
-- Eu sei que não é o que você está acostumada, mas espero que possa desfrutar um pouco da nossa culinária -- disse ele gentilmente, puxando uma cadeira para que ela se sentasse.
Sn olhou para os pratos diante de si, se sentindo grata pela preocupação de Susanoo, mesmo que fosse estranho ser servida por um deus. Ela pegou os hashis e começou a experimentar os diferentes pratos. Não que estivesse desacostumada com os pratos japoneses, mas aquela variedade era algo realmente novo e para sua surpresa, a comida era deliciosa. Saboreou cada prato, apreciando os sabores únicos e exóticos que a culinária japonesa tinha a oferecer. Susanoo observava-a com um sorriso satisfeito enquanto ela comia, e Sn percebeu que, apesar de todas as diferenças, havia algo reconfortante na presença do deus ao seu lado.
Após a refeição agradeceu e Susanoo aproveitou para verificar como estavam as coisas no salão, nesse curto intervalo, a humana se levantou e caminhou pelo local, se deparando com uma maquete do fim do período Edo, uma Kyoto muito bem feita e até com pequenas pessoas em madeira.
-- Que bonito. -- Sussurrou e por curiosidade levou o dedo até a maquete correspondente a um pequeno fazendeiro, mas antes de chegar a tocá-la uma voz curta e uma risada ecoaram, pelo susto Sn olhou para os lados tentando encontrar o dono daquela risada infantil.
-- Então é você a mulher do Mikoto? É bem bonita, mas é tão... baixinha. -- Sn continuou procurando a figura até que ele mesmo flutuou em sua direção a assustando por surgir em sua frente.
Um deus baixo comparado a Susanoo e Amaterasu, que foram os que Sn prestou atenção, o corpo gordinho em trajes de monge com um sorriso que transpassava benevolência, mas o que chamou mesmo atenção da humana foi o tilintar dos anéis em um belo cajado de madeira produzindo um som bonito e até mesmo calmante.
-- Sou Jizo o...
-- Protetor das crianças e viajantes. -- Ela completou.
-- Então você me conhece? -- Ele planou um pouco se sentando ao lado dela e a observou assentir.
-- Você é bem cultuado junto a todos os outros deuses.
-- Mas você não é japonesa ou sequer asiática...
-- Não. -- Sn observou melhor o semblante do deus que parecia pensar. -- Mas a cultura é algo que atravessa o mundo, assim como eu atravessei.
Jizo sorriu com a resposta e assim se levantou.
-- Não mecha nos brinquedos de Susanoo ele é bem ciumento com esse tipo de coisa, ás vezes parece um moleque! -- O deus se afastou na intenção ir embora, porém passou pela mesa de comidas e pegou algo. -- Bom agora eu vou embora, espero conhecê-la melhor você parece divertida.
Com o sumiço de Jizo, Sn voltou a encarar a maquete, os dedos delicados deslizaram pela borda antes de finalmente adentrar a pequena construção tocando uma das figuras.
Depois de ficar entediada com o tanto de tempo que passou ali, Sn voltou para a mesa e notou um doce que não viu antes e os olhos brilharam, aquilo não era japonês. Era... brigadeiro, os olhos chegaram a brilhar quando a mão foi até o doce e o levou a boca feliz da vida, entretanto, bastou que mastigasse para sentir o amargor e o quanto aquilo parecia ruim, a sensação de letargia logo a dominou, aos poucos coçou os olhos sem entender o que estava acontecendo e sem que desse por si, caiu sobre a mesa desmaiando severamente quando bateu a cabeça na ponta de madeira, o barulho do corpo feminino indo ao chão desagradou a quem observava, assim como o sangue se fazendo presente ao redor dos cabelos esparramados.
-- Acho que exagerei um pouquinho... -- A voz parecia habitar o inconsciente, enquanto o corpo de Sn foi calmamente levantado.
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