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Pré revisado, boa leitura.
Aproximação repentina
Susanooo sorriu cruzando os braços, fazia tempos que não tinha um dia tão calmo e até mesmo trajava um kimono leve e os cabelos estavam completamente soltos, afinal tinha apenas uma hora que havia acordado e somente tinha providenciado as próprias higienes. Ele encarava o lago tranquilo e genuíno pensando nos feitos de ontem e de como a presença solene de Sn acalmou os seus pensamentos sem saber e ainda conseguia sentir o cheiro dela, era bom, muito confortável e acima de tudo despertou algo até então improvável no Deus.
Ele sentiu uma estranha vontade de tê-la para si depois do contato e claro que se repreendeu por isso.
As portas do quarto foram abertas e a humana entrou com cuidado.
— Desculpe, eu não queria incomodá-lo, só gostaria de saber se está tudo bem. — Susanoo se virou lentamente antes de ficar de pé. Sn vislumbrou a magnitude do Deus à sua frente antes de desviar o olhar envergonhado. Ele estava bonito, era um homem aparentemente rústico, pelos longos cabelos e excesso de peças, mas olhando agora estava sem reação e óbvio que o Deus percebeu.
Estava longe de ser burro, podia aparentar ser desleixado com esse tipo de coisa, mas não era.
— Não fique envergonhada, Itoshii hanayome, e sobre a sua pergunta, está tudo bem, espero que com você também. — Ela assentiu rapidamente, levando-o a sorrir, o olhar afiado a analisando profundamente. — Excelente, pois quero levá-la em um passeio. — Dedilhou cuidadosamente os fios do cabelo dela, enquanto a outra se manteve na roupa. A respiração pesou, nunca se sentiu tão à vontade com Deus, principalmente tão próxima de um homem que não pudesse lhe fazer mal, e aquelas palavras...
— Onde você quer me levar? — Se recuperou sem sair do lugar, se acostumando com a presença dele. Susanoo apesar de ser descrito como rude e violento, com ela era calmo e até mesmo atencioso e talvez fosse essa faceta que desencadeava ainda mais a raiva e o ódio das outras deusas sobre ela.
Afinal, uma mera humana tinha toda a disposição de afeto que outras deusas tanto se esforçaram e fracassaram.
Os dedos de Susanoo continuaram percorrendo os fios calmamente e ele ainda se lembra com clareza quando a teve nos braços.
— Será uma surpresa, visto que não tivemos muito tempo e o casamento se aproxima, não é mesmo?
Ela assentiu.
— Vou me vestir para acompanhá-la e fique à vontade. — Susanoo sumiu rapidamente pelos corredores do quarto, deixando-a pasma pela rapidez, e ela pode contemplar melhor o ambiente que, diferente do dela, com o futtton elevado, havia outro, um dobrado em camadas finas, onde percebeu ser a cama do Deus, e isso a fez questionar o motivo de ter duas camas no quarto, já que da outra vez que dormiu ali foi extremamente confortável.
"Talvez seja para a noite nupcial." O pensamento corroeu a mente e esbranquiçou tudo pelo simples fato de que não queria algo assim. Lidar com essas questões era algo que ela evitaria ao máximo.
Quando Susanoo retornou, foi inesperado e o toque no ombro direito a fez pular.
— Desculpe-me.
— Não. Eu estava apenas pensando... — Afirmou, deixando o Deus um pouco confuso. Para o Mikoto, ela provavelmente estava revendo todos os momentos de dor e angústia que sofreu.
— Nada lhe acontecerá, Sn, não mais. — Sentiu a necessidade de explicitar os pensamentos conforme guiava-a para fora.
Ela respirou fundo, tentando afastar os pensamentos que começaram a tomar conta de sua mente. A gentileza de Susanoo era algo tão novo, tão diferente de tudo o que já experimentou em sua vida. Por mais que estivesse acostumada à frieza e ao desconforto, a presença dele tinha o poder de acalmar e havia percebido isso no pouco tempo que passaram juntos. Seus gestos delicados, como tocar suavemente seus cabelos, misturavam-se com a força de sua presença divina. Ela nunca imaginara que um deus tão imponente pudesse ser tão... gentil.
Enquanto caminhavam pelos corredores do palácio, a humana observava tudo ao seu redor. O ambiente, com seus longos tapetes de seda e as paredes adornadas com painéis esculpidos, emanava uma aura de luxo e poder à qual não se cansaria de assistir, pois, mesmo estando decorado ao extremo, ainda havia uma aura bondosa e pura, como se a humildade estivesse presente e constantemente parecia massacrar a arrogância. Mas o que realmente a fascinava era a sensação de que, apesar de tudo aquilo, Susanoo a tratava com uma atenção quase cuidadosa, como se ela fosse algo mais do que uma simples humana, algo ou alguém especial. E esse pensamento a incomodava.
Quando chegaram ao pátio, o cenário parecia ter sido desenhado por um pintor celestial. O sol da manhã banhava o jardim e o lago tranquilo, refletindo a beleza do céu claro, por onde as carpas nadavam. A brisa suave balançava as folhas das árvores antigas e flores raras, criando uma melodia natural que parecia em harmonia com o próprio espírito de Susanoo.
"Isso... me traz tanto conforto", pensou Sn, olhando o vasto cenário à sua frente. Uma sensação de paz que nunca experimentara antes a invadiu, como se o mundo ali fosse um lugar seguro, longe das dores e das incertezas que a perseguiam. Mesmo vivendo no Palácio e maravilhada com cada canto, nunca se permitiu sentir sem se preocupar justamente por tudo o que passou desde que saiu da liteira. Não até agora.
Susanoo, com seu passo firme e leve, guiava-a por entre os caminhos floridos do jardim, compartilhando cada pedacinho de seu reino com ela, mostrando-lhe uma faceta de si mesmo que poucos poderiam compreender. O deus das tempestades, que muitos viam como impetuoso e irascível, agora parecia uma figura serena, em total controle de suas ações, mas, ao mesmo tempo, em total harmonia com a natureza ao seu redor.
— Você... tem sido muito gentil comigo — A humana disse, a voz baixa, quase hesitante. Não sabia como expressar o que sentia, mas as palavras saíram quase como um sussurro. Ela não podia negar que algo dentro de si começava a mudar e não queria admitir. Algo que temia, mas, ao mesmo tempo, desejava.
Susanoo parou e olhou para ela com uma expressão tranquila, mas seus olhos carregavam uma intensidade silenciosa. Ele observou o lago à frente, a reflexão de sua própria imagem misturada com o céu azul-claro e as árvores que se erguiam com majestade ao redor.
— Eu não sou um Deus de gentileza, Sn — afirmou calmamente, a voz profunda e suave. — Mas, com você. Talvez eu tenha mais em mim do que pensava.
O vento que soprava no jardim pareceu acentuar suas palavras, como se o próprio universo estivesse em sintonia com a confissão silenciosa. Sn, surpresa pela vulnerabilidade que ele acabara de mostrar, sentiu o coração bater mais forte. Nunca imaginara que estaria ali, naquele momento, com um Deus, compartilhando algo tão íntimo e que parecia ser tão... real.
— Isso... não é o que eu esperava de você — Sn admitiu, desviando o olhar para não mostrar a inquietação crescente dentro de si ou que notasse o efeito entre eles, uma tensão estranha, mas ao mesmo tempo reconfortante. Não conseguia definir, mas que a atraía de forma quase incontrolável e curiosa em tão pouco tempo.
Susanoo sorriu, sutil, quase imperceptível. Ele não disse mais nada, apenas estendeu a mão e, por um breve momento, ele hesitou.
— Venha, o passeio ainda não acabou.
Sn olhou para sua mão e depois para o rosto de Susanoo, onde o olhar intenso e enigmático a convidava a dar um passo à frente. Respirou fundo e, finalmente, colocou sua mão sobre a dele, evitando pensar na sensação de calor que emitiu de seus dedos, tão reconfortante e inesperada.
Juntos, caminharam mais profundamente pelo jardim, em silêncio. A presença de Susanoo era agora mais do que uma mera divindade que ela deveria temer depois de todas as outras que a subjugaram, mas dessa vez Susanoo era algo que ela estava começando a compreender.
Os sons suaves do jardim se misturavam com o bater de seus corações, e Sn sabia, lá no fundo, que este passeio seria apenas o começo de algo que mudaria para sempre a maneira como via o mundo de Susanoo e o próprio Deus.
Caminharam para dentro de uma espécie de floresta encoberta pelas nuvens, até deságuarem numa bela clareira.
— Eu não sabia que sua casa possuía tudo isso, quer dizer, você me mostrou os caminhos, mas não... aqui. — Afirmou.
— Nossa, Itoshii hanayome. E você é livre para explorar o quanto quiser, só não tente fugir. — Ele ironizou e viu como uma espécie de desafio.
— E se eu tentar? O que vai acontecer? — Ambos se encaravam.
— Bem, aí eu vou ter que correr atrás de você. — Susanoo deu de ombros, guiando-a mais um pouco, e então parou bem atrás dela e adornou seus ombros com as mãos, se abaixou sutilmente, fazendo-a tremer pelo contato. — Olha para cima, querida.
Aos poucos, a visão da bela mulher foi direcionada para o céu, cada olhar sobre as nuvens a deixava ainda mais ansiosa. Susanoo ia as manipulando lentamente como se uma cortina saísse de seus caminhos. As nuvens iam para a esquerda e para a direita, dando espaço a uma visão ampla e colorida que fazia jus ao celestial.
As peças pareciam se mover no céu e a voz de Sn sumiu diante de tanta beleza. As imagens se aproximaram mais e só então ela entendeu do que se tratava.
Aqueles seres que andavam pelo céu como se fosse a própria terra, desbravando o ar ao redor e dançando majestosamente, eram as raposas.
Os espíritos protetores entre o mundo humano e mítico, os guias das almas. Havia tantas e de tantas cores que a humana não sabia o que dizer e, claro, Ayame estava lá observando-a com um sorriso. Susanoo percebeu, porém, não disse uma palavra, apenas gargalhou pela impaciência de Inari em querer conhecê-la.
Glossário:
愛しい花嫁 (いとしいはなよめ, Itoshii hanayome): "Amada noiva" ou "Noiva querida".
Imagina quando eles se beijarem... Só faltará os fogos rsrs.
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