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Não esqueçam de votar. Capítulo pré-revisado, boa leitura. 

Turbulências Divinas


O panteão japonês aguardava pela chegada da humana, alguns por curiosidade e outros pelo tédio. Amaterasu estava à ponto de ter um colapso nervoso devido ao estresse e às possibilidades de ter que suportar uma humana, chegava a se empertigar com a possibilidade de tê-la como cunhada, principalmente por Susano'o aparentar não se importar, e isso fez com que a deusa do sol procurasse uma justificativa para as ações do mais velho.

"Será que essa humana foi tão desavergonhada ao ponto de se envolver com ele em troca de alguma coisa?" O pesado vestido arrastava no chão conforme a deusa se movia em direção aos próprios aposentos. Ao adentrar e sentar-se na banqueta, a escova já estava em mãos, e conforme escovava os fios sedosos, foi inundada de pensamentos sobre o porquê seu irmão jazia tão irredutível.

"Se ele estiver apaixonado, eu vou matar alguém!" A deusa inquiria massageando as têmporas e frustrando-se com os pensamentos sobre as escolhas do mais velho.

"Como se não bastasse Susano'o ter se envolvido nessa rixa ridícula entre deuses, ainda perdeu para aquele pirralho espadachim assassino!" Ela fincava um dos prendedores de cabelo na almofada.

"Tem horas que famílias são um inferno." Ponderou, levantando-se e tomando uma decisão a respeito da mulher humana que em breve estaria ali. Susano'o foi meticuloso ao mandá-la ao panteão numa liteira forjada pelos mesmos deuses e humanos que se uniram para a construção de sua espada. Era imperceptível aos olhos dos próprios deuses, dos humanos e de qualquer outro mal. Além disso, ele fornecera dom suficiente para que, enquanto estivesse naquela carruagem, a humana não sentisse fome, sede ou tivesse qualquer outra necessidade, e esse era mais um dos motivos que levavam Amaterasu a ter certeza de que o Deus já havia se envolvido com você.

"Ele nunca aprende." Ainda chateada, apoiou a mão no rosto e encarou o próprio reflexo belo no espelho. No fundo, Amaterasu só queria o melhor para o irmão, mesmo que Susano'o fosse o mais velho, ela sentia que não poderia deixá-lo sozinho. Ele sempre pensou demais e agiu também.

"Certo, Susano'o. Eu não vou aceitar essa sua cortesã, mas terei o mínimo de decência de não deixá-la nas mãos dos outros." Determinada, a deusa se levantou e seguiu até a porta do quarto. Ao abri-la, uma das semideuses que a servia, a favorita por assim dizer, curvou-se em respeito:

-- Quando a maldita liteira estiver nos planos superiores, me avise. -- E assim, a deusa fechou a porta.

[...]


A liteira parou de se mover em um silêncio estarrecedor, e a dama dentro da carruagem sentiu o coração disparar, com os dedos trêmulos ela puxou o tecido que cobre a janela e aos poucos abriu a porta, encarando a majestosidade do local. Ainda desacreditada, fechou novamente a porta.

-- Meu Deus, eu realmente estou fora da terra? -- Um pouco aturdida, levou as mãos nos cabelos, jogando-os para trás. Depois de colocar os pensamentos no lugar, com o coração acelerado e a mente confusa, puxou novamente o tecido que cobre a janela da liteira celestial. Aos poucos, a vista se revelou diante de seus olhos, mostrando um cenário deslumbrante e místico. Montanhas majestosas se estendiam ao longe, envoltas por nuvens que pareciam acariciar seus picos nevados. Abaixo, uma paisagem exuberante se alongava até onde a vista alcançava, com rios serpenteantes e florestas verdejantes.

No entanto, sua admiração foi interrompida pela constatação de que a liteira não estava mais em movimento e de que não havia mais chão sob seus pés. Um calafrio percorreu sua espinha enquanto compreendia a verdadeira natureza da carruagem celestial que a transportou até ali. Era como se estivesse suspensa no ar, sustentada apenas pela vontade divina.

Com um suspiro nervoso, ela se preparou para sair da liteira, empurrando a porta lentamente. O ar fresco da montanha invadiu o pequeno compartimento, trazendo consigo uma sensação de liberdade e incerteza. Com cuidado, colocou um pé para fora, testando a estabilidade do solo invisível sob seus sapatos. Cada movimento foi cauteloso, cada respiração tensa. A humana se sentia como uma intrusa em um mundo que não compreendia completamente, uma mortal perdida entre deuses poderosos e tradições milenares. No entanto, uma determinação feroz queimava em seu peito, impulsionando-a a enfrentar o desconhecido com coragem e determinação, incluindo escapar de um casamento divino.


Ato.2 A raiva de Amaterasu:

O Deus estava demasiado entretido com a bebida divina e os planos terrenos, gostava tanto da terra e de tudo o que viveu enquanto andou por ela fingindo ser um mero mortal. Suzano sempre foi mais humano que divino, entretanto, nunca deixou de cumprir com suas obrigações como uma deidade suprema. Ainda assim, não entendia a repulsa de Amaterasu pela espécie que os venerava.

-- Está tão distraído, Susano'o. -- A voz veio de Ares, depois do ragnarok e do randevu que a imperatriz do inferno ao lado da deusa do destino causaram, não havia motivo algum para que as mitologias não se misturassem amigavelmente para conversar, ou melhor dizendo, para encher a cara.

Então, Ares, Susano'o, Thor, Shiva, Zeus, Hércules, Anúbis, entre outros deuses, se reuniram na taberna de Heimdall para espairecer. O ragnarok havia acabado há pouco mais de seis meses e muitos estavam entediados.

-- Em pensar que teremos que esperar por mais mil anos para ter essa diversão. -- Zeus virou a caneca de uma vez.

-- Correção, poderoso Zeus. Faltam novecentos e noventa e nove anos. Talvez até lá possamos aproveitar as culturas uns dos outros. -- Hermes comentou, e Zeus bateu a caneca na mesa animado.

-- Eu gosto dessa ideia.

-- Querido, cultura não são mulheres, elas não são turismo para saciar a sua sede. -- Aphrodite, uma das poucas deusas à mesa, deixou seu ponto de vista bem claro, e, diga-se de passagem, era algo mínimo.

-- Amigos, por que não descem à terra e se divertem um pouco? Passem um ano em pele de cordeiro. -- Susano'o riu das próprias palavras, terminando a caneca. -- Escolham a capa certa, e todos os prazeres e intrigas mundanas estarão aos seus pés. Aposto que não ficarão entediados. -- O Deus se levantou, deixando algumas peças de ouro na mesa.

-- Hum? Você já vai? Ainda temos um torneio de espadas pendente. -- Hefesto comentou, e Susano'o coçou os cabelos, demonstrando a mesma face branda de sempre, como se não estivesse aprontando nada, e esse era o seu pior lado.

-- Fica para depois, tenho um compromisso inadiável. Até breve. -- Sorriu antes de sumir, e a deusa da forja, Kanayago, comentou:

-- Ele aprontou alguma coisa.

[...]

Amaterasu não dava trégua; a mulher estava seca e desesperada por um copo d'água só pela presença omnifulgente da deusa.

-- Então você é o parasita que meu irmão contratou? -- As palavras rudes fizeram a humana sentir raiva. Ela não gostava de ser ofendida por nada, ninguém gosta.

-- Eu...

-- SILÊNCIO MORTAL, VOCÊ NÃO TEM PERMISSÃO PARA FALAR ATÉ EU MANDAR! -- Amaterasu direcionou uma lança de luz para o peito da mulher. -- O que você ofereceu para o meu irmão? -- Ela exigiu uma resposta.

Mas que tipo de pergunta era aquela? Como um ser qualquer insinuava algo sem a conhecer? Sn estava extremamente ofendida. Ao se apoiar na liteira e encarar a deusa do sol, o fulgor em seu olhar fez com que o ser divino sentisse vontade de arrancar os olhos tão belos daquela que julgava ser a desgraça para o panteão. Movida por esse conflito, não se importou em deixar que os pensamentos vazassem:

-- Primeiro aprenda a se portar; nunca vi uma deusa tão mal educada. Eu não estou aqui porque quero e não ficarei para lhe entreter. -- A voz ácida fez com que Amaterasu se consumisse rapidamente em raiva. O vestido tão branco passou a ter um degradê extremamente forte em tons de laranja, amarelo e vermelho, imbuído em uma radiância quase desesperadora que, por alguns minutos, forçou Sn a fechar os olhos.

A lança que antes brandia ameaça estava a ponto de perfurar a carne macia de seu peito, tudo por causa de um acesso de fúria incontida. Se antes Amaterasu tinha certeza de que humanos não serviam para nada, imagine agora que um ser que ela julgou como desprezível a respondeu na frente de todos? Isso era imperdoável!

-- Morrerá antes que Susano'o tenha tempo de avaliar as consequências de seus atos impuros! -- A deusa se preparou para atacar, a lança tão bela indo em direção ao corpo mortal da mulher, que estava confusa por não entender toda essa raiva, mas então...

O chão tremeu, as tempestades que se formaram rapidamente deixaram o ambiente frio, assim como os raios dissipados no céu, que pareciam querer castigar a terra, ou melhor, aquele plano. Os olhos da mulher estavam fechados em medo. Bem que dizem que no fio da morte absorvemos essa característica e, quando os abriu, achando que já estaria no além, notou o corpo robusto e enorme à sua frente, muito maior do que imaginou. Algumas gotas de sangue pingaram no chão, e seu olhar acompanhou, apalpando o próprio corpo em busca de ferimento, apenas para soltar um ofego de alívio ao perceber que não havia nada.

Sn direcionou seu olhar para as costas largas, tendo que olhar para cima. Só então notou a aura pesada ao redor, assim como os outros deuses se afastando cada vez mais. Estava perdida em tantas ações simultâneas, o que é perfeitamente compreensível já que se trata de uma mortal, mas a voz densa e pesada capturou a atenção, assim como a leve e poderia jurar ser até mesmo maligna risada que a acompanhou.

-- Ah... minha querida Imōto, você nunca aprende.

Até breve ;*

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