6º Capítulo: Meu Avô!


O corpo de Chloe estava agora adormecido nos braços de Elizabeth. Ela não fazia ideia de qual passo tomar dali para frente; a única coisa que não saía de sua cabeça era o arrependimento por ter colocado a vida de terceiros em risco apenas por assistir aquelas fitas malditas. Ela precisava agir, e rápido, mas seu coração estava acelerado, e sua mente, um caos.

Respirou profundamente, tentando acalmar os pensamentos, e observou Chloe pela última vez antes de colocá-la cuidadosamente no chão do quarto. Chloe parecia tão frágil e indefesa, sua pele pálida contrastando com o ambiente escuro. Elizabeth repetia para si mesma:

— Pensa, pensa, o que fazer nessa situação?

Ela levou as mãos à cabeça, sentindo a pressão esmagadora da responsabilidade e do medo. Afastou-se lentamente do corpo desfalecido no chão, indo na direção oposta ao que realmente deveria fazer. Mas não era sua culpa; com apenas 17 anos, estava envolvida em uma situação já fora do controle.

Depois de sair pela porta do quarto e se dirigir ao corredor central do orfanato, Elizabeth percorreu rapidamente o caminho até a capela da igreja, situada nos fundos do local. O trajeto passava pelo cemitério e em frente ao poço. A porta da capela, com pé direito alto, parecia sempre estar aberta para acolher os visitantes que vinham confessar, rezar ou pegar um pouco da água benta deixada pelo padre perto do púlpito.

Ela não sabia o que fazer, mas perante aquela situação, a única coisa que passava em sua cabeça era conversar com o padre e relatar tudo que vinha acontecendo. Decidida, colocou sua capa de chuva para se proteger do orvalho que caía naquela tarde fria. O vento cortante batia em seu rosto, tornando o caminho até a capela interminável. Cada passo parecia um esforço monumental, mas ela sabia que precisava continuar.

Ao se aproximar da entrada, Elizabeth entrou e avistou o padre no fundo, ajeitando alguns papéis em uma mesa ao lado do confessionário. O ambiente era silencioso, com algumas poucas pessoas rezando em bancos espalhados pela igreja. Precisava ser discreta; não queria chamar atenção para seu nervosismo e a urgência de sua situação.

Aproximando-se lentamente, ela falou em um tom baixo, quase um sussurro:

— Padre, eu... eu preciso da sua ajuda — disse ela, com a voz tremendo levemente.

O padre levantou o olhar, notando a preocupação no rosto da garota, apesar de todos os seus esforços para disfarçar. Com sua experiência em exorcismos e encontros praticamente face a face com demônios, ele reconhecia facilmente a expressão de alguém atormentado por forças além da compreensão. Deixando os papéis de lado, ele deu um passo à frente, seu semblante agora sério e atento, estava pronto para ouvir o que ela tinha a dizer.

— O que aconteceu, minha filha? Como posso ser de ajuda? — perguntou Padre Josué, com um tom de preocupação.

— Padre, eu... eu preciso da sua ajuda — ela respondeu com dificuldades de pronunciar as palavras devido ao nervosismo.

— Entendo. O que ocorreu? — Ele fez um gesto para que ela se aproximasse, sua expressão transparecia sua tensão.

— A Chloe... uma garota do orfanato desmaiou agora cedo em meus braços — ela explicou, hesitante e com a voz cheia de apreensão com a reação do padre.

— Compreendo. Ela já recobrou a consciência? — O padre também era responsável pelos primeiros socorros quando algum caso com urgência acontecia, entretanto, sua ajuda raramente era solicitada, quase nunca acontecia algo fora do "normal".

— Não, mas antes de desmaiar, ela estava muito agitada, gritando e com um tom de voz alterado — ela continuou, lutando para manter a clareza.

— Alterado de que maneira? — Ele insistiu, buscando mais detalhes.

— Serei franca, senhor. Acredito que seria prudente benzer e rezar por ela... ou melhor, por nós duas — ela sugeriu, olhando-o com uma seriedade que expressava um desespero silencioso, como se estivesse implorando por ajuda sem usar palavras.

— Entendo, senhorita. Vou acompanhá-la até lá — respondeu o padre, pegando uma bolsa e sinalizando para que a seguisse.

Os dois caminharam em silêncio até o orfanato, entraram discretamente sem que a Sra. Smith nota-se, por mais difícil que isso fosse, eles conseguiram. O padre, agora mais pálido do que o habitual, exibia um semblante que já não era tão sereno. Ao adentrarem o cômodo, viram a menina sentada, olhando fixamente para o fundo da sala, imóvel. Ele se aproximou devagar e a questionou enquanto Elizabeth a observava com crescente inquietação.

— Minha filha, está tudo bem? — disse o padre, sua voz suave mas firme, tentando ser amigável com a garota.

A menina não respondeu. O padre repetiu a pergunta, mas novamente não obteve resposta.

Após um momento, Chloe se virou lentamente, com uma expressão de dúvida.

— Olá, padre — disse ela ao vê-lo. — Oi, Elizabeth! — ela acrescentou, com um sorriso largo.

Elizabeth e o padre ficaram espantados. O padre disfarçou sua surpresa e perguntou:

— Chloe, como você está? — Ele reforçou a pergunta, buscando entender a situação.

— Estou bem, como sempre. Por que vocês estão aqui? O que está acontecendo? — ela questionou, parecendo genuinamente confusa.

— Fique calma, querida. Não houve nenhum problema — disse Elizabeth, tentando transmitir tranquilidade para a menina.

— Chloe, você não se recorda de nada? — continuou o padre.

— Bem... — Ela sorriu, ainda parecendo confusa. — Havia um homem aqui, cadê ele? Vestindo uma roupa antiga e uma máscara. No início, eu senti medo, mas depois ele me fez entender tudo.

— Como assim? Quem era esse homem, Chloe? — Ela exclamou, alarmada.

— Não sei o nome dele. Ele pediu para que eu não falasse nada. Agora preciso ir, é hora de brincar perto da lareira com as crianças — ela disse, levantando-se.

Elizabeth tentou detê-la, mas o padre segurou seu pulso e permitiu que a menina saísse, ainda sorridente.

— Por que a deixou ir? — Elizabeth perguntou, perplexa.

— Sinto muito. Não sei como você se envolveu nisso, mas temo pela vida dela e pela sua também. Diga-me, como você acabou nessa situação? — Seus olhos estavam carregados de uma preocupação quase palpável, como se houvesse uma compreensão sombria do que realmente estava acontecendo.

— Envolver-me em quê? O senhor pode explicar, pois eu NÃO ESTOU CONSEGUINDO ENTENDER! — ela respondeu, visivelmente preocupada.

— Por favor, fale baixo! — Ele a corrigiu suavemente. — Você notou o pescoço dela? Viu aquele terrível hematoma? — disse em voz baixa.

— Não, não reparei. Estava muito aflita com toda confusão que não cuidei esse detalhe. Havia alguma marca?

— A marca da... forca. O anel circular ao redor do pescoço dela. Eu pensava que fosse apenas um boato, ou uma gíria para afastar curiosos.....mas, mas.... — ele falou com a voz tremula e falha.

— Que história? Por favor, explique o que está acontecendo aqui! Pelo amor de Deus! —Esbraveja.

— Não desejo me envolver mais do que o necessário, peço desculpas. Vou realizar uma oração e benzer este local, como fazíamos há anos. No entanto, serei honesto com a senhorita: tenho muitas demandas e não gostava de ter que vir mensalmente "purificar" um local que, para mim, parecia isento de qualquer problema. Há cerca de seis meses, interrompi o processo, acreditando que não havia nada de real, apenas boatos do antigo padre. Agora vejo que estava enganado, e os boatos talvez fossem verdadeiros.

— Peço desculpas pela franqueza, mas como pôde ignorar o aviso de um padre sobre a presença de algo maligno neste local? O que poderia ser tão urgente que o levou a desconsiderar essa advertência? — Ela questionou, sua voz carregada de frustração e indignação.

— Peço desculpas. Voltarei a benzer o local, mas como poderia saber que era algo real? — Ele rebateu, defensivo.

— O que exatamente o outro padre lhe disse? Quem era ele?

— O ex-padre não me forneceu muitos detalhes, mas mencionou, enquanto carregava suas coisas para o carro, a existência de um "espírito" que atormentava alguns ex-membros da capela. Segundo ele, esse espírito era o de um carrasco de crueldade inominável, cuja presença deixava uma marca incompreensível de terror e medo.

— O relato desse ex-padre era repleto de histórias horripilantes sobre a alma desencarnada desse carrasco. Ele não era um espírito comum; alimentava-se do medo de suas vítimas, e quanto mais as pessoas tentavam escapar, mais se enrolavam nas profundezas de uma realidade distorcida que ele criava ao seu redor. Essa realidade paralela era um labirinto de terror onde as vítimas se perdiam, incapazes de distinguir o que era real do que era produto de sua própria imaginação atormentada.

— Boatos circulavam de que o carrasco forçava suas vítimas a uma tortura psicológica insuportável, levando-as a uma espiral de desespero que muitas vezes culminava em suicídio. Suas manifestações não eram apenas visões ou ilusões, mas experiências físicas e psicológicas que corroíam a sanidade. As pessoas que cruzavam seu caminho sentiam-se presas em uma existência mágica e perversa, onde as regras do mundo conhecido não se aplicavam mais. — Ele continuou.

— Na época, eu considerei essas histórias como meros contos assustadores — invenções destinadas a manter as pessoas temendo o desconhecido. Acreditei que eram lendas criadas para controlar e assustar. No entanto, agora, confrontado com os eventos reais e aterrorizantes que ocorrem aqui, vejo que talvez essas histórias não fossem apenas ficção. Elas podem ser um aviso sério sobre o que está realmente em jogo — disse ele, com um tom grave e perturbado. — O nome desse ex-padre era Augusto Hellings.

Elizabeth ficou paralisada por um momento.

— MEU AVÔ! — Como eu não lembrei disso antes?

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