53| Feliz ano novo, filho da puta.
|ÚLTIMO CAPÍTULO
{ Oi, bbs! Como estão? Sentiram minha falta? }
Voltei e trouxe esse último capítulo cheio de emoção e ação! Meu deus, eu tô muito feliz que finalmente vou concluir esse livro!
Antes de iniciar a leitura, deixo uma frase que representa muito bem esse capítulo!
Por onde estiver, volte para casa.
SYLM, WHRE'S MY LOVE
🌠🌠🌠
Meu coração acelerou e toda a tristeza e culpa que eu sentia em relação ao Erick se dissipou de mim. Eu estava incrédulo, não era possível ser ele, ser sua voz. Ele tinha se entregado. Nos despedimos naquele dia.
— Sou eu... Jason. Sou eu. - a voz dele rouca entrou pelos meus ouvidos e a ficha finalmente caiu, era o Erick. Ele estava... Vivo. — Eu não me entreguei... Eu não podia deixar que nossa história acabasse daquela maneira. Quero encontrar com você.
— Claro, eu quero muito. Muito mesmo. Mas... e eles? E o Carlos? — estava cheio de dúvidas, porque de toda forma eu, minha família e meus amigos estávamos correndo risco. E eu, com certeza, não queria ser culpado pela morte deles.
— Eu te explico tudo quando a gente se encontrar, por telefone não dá. —ele parecia apressado e nervoso. — E mais uma coisa... Eu te amo. Nunca esqueça disso.
Sorri. Eu fiquei feliz em ouvir ele falando que me amava mais uma vez, com sua voz rouca e meio embargada pelo nervosismo.
— Eu também te amo. E eu nunca vou esquecer. — desliguei. Coloquei o celular no peito e soltei o ar que segurava em meus pulmões, parando para pensar que fiquei sem respirar esse tempo todo. Olhei novamente para o Sr. Moreira e ele sorria. — Eu posso ir? — perguntei, porque eu ainda trabalhava lá e ele ainda era meu patrão.
— Você deve ir. Vai lá encontrar o amor da sua vida. — ele disse, e então eu sorri. Mas antes de sair, ele disse: — Lembre-se: o amor é uma pequena gota nesse oceano imenso de dor e tristeza. Não deixe que essa oceano te afogue mais uma vez. Aproveite até o último momento. Não deixe esse amor escapar de suas mãos, Jason. — concluiu. Assenti e agradeci por tudo, ele apenas sorriu e disse para eu ir logo.
— Você é incrível. — falei, parado na porta. O barulho do sino indicou que eu finalmente iria ver o Erick outra vez.
Corri por aquela rua um pouco deserta como se tudo fosse acabar. Senti meus pulmões doerem pela falta de ar e meu coração acelerar devido a emoção que eu estava sentindo. Parei de correr e fiquei parado por alguns minutos. Droga. Maldita asma. Recuperando meu ar novamente, voltei a correr, olhei para ao redor várias vezes até quando finalmente avistei ele.
Era realmente ele.
Erick olhou para mim e sorriu, aquele sorriso que tanto senti falta. Ele correu rumo a mim e então nos abraçamos. Ele me apertou contra seus músculos e pela primeira vez eu me senti seguro desde que ele se foi dias atrás. Eu estava novamente nos braços de Erick e eu queria ficar ali para o resto da minha vida.
Ele pegou nas minhas bochechas levemente e me beijou. Tão intensamente que consegui sentir toda a saudade que ele também sentia de mim. Ele me encostou na parede e me beijou com mais intensidade. Ao nos afastarmos, ele sorriu.
_ Eu tava com tanta saudade. Desse rosto, dessa boca... Eu nunca mais vou te abandonar. Nunca mais. — ele disse, me beijando mais uma vez. — Desculpa ter sumido por tanto tempo, por não ter respondido suas mensagens. Eu não queria que eles soubessem que eu tinha algum contato com você. Eu realmente precisava pensar, eu não podia aparecer pela sua proteção.
— Eu entendo... Mas você tá lembrado da ameaça daquele cara? Ele disse que ia matar não só eu, mas minha família — eu falei. — Eu tô com medo dele machucar minha família e meus amigos.
— Ele não vai fazer nada, calma. — ele pegou na minha mão e colocou sua testa na minha. — Não vai acontecer nada com vocês, eu juro. Ele não vai fazer nada a não ser que eu esteja vendo com meus próprios olhos, esse era o plano dele o tempo todo. Ele sabia que eu nunca iria me entregar sem lutar. Ele é previsível. — ele falava com tanta calma que por um momento eu acreditei, mas nada tirava da minha cabeça que todo mundo que eu amava estava em perigo. Eu não podia ser responsável pelo mal que poderia acontecer com eles.
Meu celular apitou, quando olhei era uma mensagem de um número desconhecido. Tentei ignorar, mas outra mensagem chegou. Decidi olhar e meu coração acelerou ao ver a foto da minha mãe no hospital, e logo abaixo uma mensagem do Carlos.
Decidi vim visitar sua mãe, coitada.
Senti a raiva e o medo invadir meu corpo como nunca. Ele não podia fazer nada contra ela.
— É o Carlos... Ele tá com minha mãe no hospital. — falei, quase ao ponto de desabar ali mesmo. — Ele vai fazer alguma coisa com ela, Erick... Eu não posso perder minha mãe, eu não posso.
Ele me olhava com um pesar nos olhos e tomou o celular de minhas mãos, não imaginei o que ele faria até ele ligar para o Carlos.
— Golpe baixo. Você é um covarde. — ele falou, estranhamente calmo. Por que ele estava tão calmo?
— Você não teve coragem de se entregar pra salvar seu namorado e eu é que sou o covarde? Seu senso do que é ou não covardia tá um pouco falho, Kiron. — não aguentei e enfim tomei o celular da mão do Erick, começando a gritar.
— NÃO SE ATREVA A MACHUCAR MINHA MÃE, SEU FILHO DA PUTA DESGRAÇADO! EU VOU TE MATAR SE VOCÊ TOCAR UM DEDO NELA!
— Eu não vou tocar um dedo na sua mãe, seu mimadinho de merda. Eu não sou tão covarde a esse ponto. Mas não posso te garantir nada a respeito dos seus outros amigos... — ele apenas disse isso e desligou. Merda. Merda.
— Ele desligou. DESGRAÇADO DE MERDA! — gritei, colocando minhas mãos na cabeça. — Droga, o Hugo.
— O que tem ele?
— Ele vai fazer alguma com ele, Erick. Preciso ligar pra ele. — procurei o número dele nos registros enquanto minha mão tremia e quando finalmente achei liguei imediatamente para ele.
Hugo
4 horas depois...
— Você podia passar aqui esse fim de semana, meus pais vão sair por dois dias... O Jason não vai se importar com o barulho. — eu disse ao Rômulo, pelo telefone, enquanto eu tentava fazer alguma coisa pra comer.
— Barulho? Não sei do que tá falando — ele disse, rindo. Sorri, revirando os olhos.
— Vou te meter um socão, seu idiota.
— Eu gosto de apanhar de homem bonito. — ele disse, me fazendo dá uma gargalhada. Que bobo.
— Você... — parei de falar porque a cara de cu do Jason apareceu na tela. Ele me ligando aquela hora? — O Jason tá me ligando, vou atender...
Atendi e afastei o celular da orelha ao ouvir gritos estéticos do Jason
— HUGO, VOCÊ TÁ BEM? NÃO SAI DE CASA POR FAVOR! CADÊ SEUS PAIS? VOCÊ TEM QUE FALAR PRA ELES NÃO SAÍREM DE CASA! — geralmente eu entendia os surtos do Jason, mas naquele momento eu não estava entendendo o porquê de tanta euforia.
— Meus pais estão no quarto deles, mas o que houve? Tá contecendo um apocalipse zumbi ou quê?
— Eu tô falando sério, porra.
Minha atenção foi chamada pelo som da campainha.
— Olha, tem alguém batendo na porta, eu preciso ir atender. — falei, pronto pra desligar.
— HUGO PELO AMOR DE DEUS NÃO ATENDE ESSA PORTA POR FAVOR!
— Você tá me deixando preocupado, mas eu preciso realmente atender. Pode ser importante.
Caminhei rumo à porta e quando abri, vi dois homens estranhos parados. Um deles segurava uma arma e o outro tinha uma cicatriz bizarra no rosto.
— Quem são vocês?
Eles não responderam, o da cicatriz apenas pegou no meu braço violentamente e colocou um pano no meu nariz, eu tentei me soltar mas eu estava ficando fraco e logo minha visão ficou escura...
Jason
— Hugo? O que tá acontecendo? Para de graça e fala comigo? Quem era na porta? HUGO?! — tudo que eu ouvia era passos apressados, Hugo não falou mais nada e eu já estava assustado.
— vai procurar nos quartos, porra. O chefe disse pra não deixar ninguém. — ouvi alguém dizer do outro lado da linha.
— Que cara é essa? Tá acontecendo alguma coisa?
— Eles pegaram o Hugo, Erick. Vão pegar os pais dele também. Eles vão matar eles. — falei, desesperado.
— Vamos fazer alguma coisa... Vamos tentar livrar eles dessa. Calma, por favor.
— Como eu vou ficar calmo, Erick? Meu melhor e os pais deles estão prestes a morrer e você quer que eu fique calmo?! Eu não posso perder eles, eu não posso...
— Me escuta... — ele disse, pegando na minha mão, numa falha tentativa de me confortar. Nada iria me fazer ficar calmo, não enquanto meu melhor estivesse correndo risco de vida. — Vamos fazer alguma coisa... Eu tenho um plano. Liga pro seu padrasto, pro Luis e pra todo mundo. Diz pra eles ficarem nas suas casas. Faz isso. — ele disse. — Vou ligar pro Rômulo avisando sobre o Hugo.
Depois de ligar para todos as pessoas próximas a mim, vi o Erick conversando nervoso com o Rômulo. Fui até ele e toquei no seu ombro.
— Eu tenho que ir aí, porra! — ele falava. — Como assim me pegarem, caralho? Eu não tenho medo deles, cacete! Não posso deixar nada acontecer com você e nem com o Hugo! — ele andava de um lado para o outro, e isso estava me irritando. — Tá ok. Vamos te esperar.
Ele desligou e guardou o celular no bolso.
— Vamos pôr o plano em ação. — ele disse, começando a caminhar.
— Que plano? Erick, o que vamos fazer?
— Você não vai com a gente. Você vai ficar com sua mãe e o seu padrasto, longe do Carlos. Não posso perder você de novo, Jason. — ele disse, ainda caminhando. Por que ele simplesmente não olhava para mim?
— Para de caminhar e olha pra mim! — ele parou e se virou. — Eu não vou ficar parado enquanto meu melhor amigo tá nas mãos daquele sociopata de merda. E você não pode me proibir de ir com vocês.
— Jason... — ele me olhou por alguns segundos e suspirou. — tá certo. Você pode ir com a gente, mas você tem que prometer que não vai fazer nada sem eu mandar, tá me entendendo?
— Tá bom, eu concordo. — falei.
Ele me beijou, pegou na minha mão e então começamos a caminhar. Depois de esperar por vinte minutos, finalmente avistamos o Rômulo no carro do Erick. Ele olhava para todos os lados. Quando nos viu, acenou e se aproximou de nós.
— E aí. Tem alguma notícia? — ele perguntou, nervoso. Eu entendia ele, ter alguém que você ama em perigo mortal era torturador.
— Nada. Nenhuma ligação, mensagem... Acho que ele pode estar no lugar que ele acha que vai ser impossível de matar ele. — eu não entendia uma palavra do que o Erick dizia e o desespero tomava cada vez mais conta de mim.
— Como assim, Erick? — perguntei.
— Vamos na toca do Leão, chefinho. — Rômulo disse.
— Não é arriscado demais? — falei.
— É o único jeito. O Carlos não é nem um pouco inteligente, mas ele não vai facilitar tanto assim.
Nos entreolhamos e percebi que íamos por o plano em ação. Assenti e entrei no carro, Erick veio logo atrás de mim. Não sabia o que ia acontecer a partir dali, mas eu iria fazer tudo que tivesse ao meu alcance para libertar meu melhor amigo, nem que minha vida dependesse disso.
Depois de rodar toda a cidade, chegamos a um local abandonado. As paredes estavam pichadas e mostravam quanto tempo fazia que aquele lugar estava desocupado. Devia ser algum esconderijo secreto deles ou algo assim.
— Onde estamos? — falei.
— Esse é um esconderijo reserva, descobri que no morro tá cheio de cara do outro comando. Eles tomaram tudo. Teve tiroteio e eles ficaram sem saber o que fazer sem você. Eu não podia ficar lá, não depois que o amor da minha vida foi sequestrado. — disse ele, atravessando uma cerca, fizemos o mesmo e fomos em direção a um portão com um símbolo estranho pichado nele.
— É aqui. — disse Erick, abrindo o portão e revelando um arsenal de armas nas paredes, rádios transmissores e coletes salva-vidas. — Aqui guardamos nossas armas e tudo isso ae que você tá vendo. Para pôr o plano em ação temos que esperar anoitecer, não podemos simplesmente entrar lá a essa hora.
— Achei que já era para estarmos a procura do Hugo. — falei.
— Tenta entrar lá sem arma e sem plano, a única coisa que você vai ter é um tiro no meio da cara. Jason, com todo respeito, você só vai servir pra atrasar a missão. Devia ter ficado em casa. — Rômulo disse, me surpreendendo. Minutos atrás estava me chamando de chefinho, e agora estava me chamando de inútil?
— Não é você que manda na operação. E eu também tenho direito de salvar meu amigo.
— Se você não morrer antes disso.
— Qual é o seu problema, afinal? Você deveria agradecer por ter mais alguém pra ajudar e não ficar aí com esse papo escroto!
Paramos de brigar após Erick dar um tiro pra cima, fazendo cair cimento no chão e poeira. Olhei assustado para o mesmo e ele simplesmente jogou a mesma arma que atirou para mim. Fiquei mais assustado ainda. Nunca usei uma arma antes.
— Param de brigar feito duas crianças e vamos logo com essa porra. É a vida de alguém que tá em risco. Jason, tem certeza que quer fazer isso? Você ao menos já usou uma arma? — ele disse, me olhando. Olhei para Rômulo e em seguida para a arma na minha mão.
— Eu só sei que preciso salvar meu melhor amigo. E você pode simplesmente me ensinar a usar isso, não deve ser tão difícil. — falei, em um tom desafiador.
Passamos a viagem inteira falando sobre o plano. Erick queria que usássemos um atalho que ninguém mais conhece que dá direto no morro deles, e assim que chegarmos a um ponto seguro, íamos instalar bombas caseiras em cada canto do lugar...
— Depois disso, vamos seguir juntos até os corredores que dão acesso ao trono daquele filho da puta. Vamos salvar o Hugo e os pais dele, matar todo mundo e fugir dali. — Erick concluiu, nos olhando fixamente. — Vocês tem que entender passo-a-passo desse plano pra que nada saia errado, ou nós três vamos dançar no colo do capeta.
— Eu tô com medo. — falei, sendo sincero pela primeira vez desde que saímos do esconderijo. Rômulo olhou para mim, eu achei que ele fosse falar algo pra me fazer desistir, mas apenas concordou comigo.
— Eu também tô. Medo de chegarmos lá e ser tarde demais.
— Sem pensamento negativo. Estamos chegando. — respirei fundo e fechei meus olhos, tentando não surtar. Eu não podia estar naquela maldita situação.
Quando finalmente chegamos ao local marcado, saímos do carro e nos dirigimos para dentro de uma densa mata. Era possível ver roupas velhas por todo lado, cartuxos de armas e sim, até tinha um crânio no meio de todo aquele lixo.
— Que lugar estranho — falei, tirando um galho da minha frente.
— Tu não viu nada. — Rômulo disse, jogando uma camisa velha que grudou no seu pé.
— Não se percam, por favor. Temos que seguir o plano certinho. Não podemos errar. — Erick nos interrompeu.
— Ele é sempre assim? — sussurrei, para que Erick não ouvisse.
— Bem pior, acredite.
Depois de caminharmos por mais uma hora, chegamos a um cemitério de carros, armas e corpos. Eu me senti enjoado ao ver todos aquelas pessoas mortas, como eles conseguiam matar toda aquela gente? É desumano.
— Chegamos. Agora vamos instalar as bombas por todo esse local, e quando chegarmos a um local seguro, vamos explodir todas, vamos chamar a atenção dos capangas e assim teremos o caminho livre. — ele abriu sua mochila e pegou algumas bombas caseiras. Ele me entregou duas bombas bem pesadas e disse para eu colocar perto de carros ou de coisas que façam muito barulho.
Fui até um dos carros e coloquei a bomba bem em cima do capô, a outra eu coloquei perto de portas velhas, evitando ao máximo olhar para os cadáveres espalhados pelo chão.
Depois de colocar todas as bombas, nos juntamos novamente e finalmente iríamos iniciar o plano para valer. O medo tomava conta de mim, mas eu não podia fugir ou desistir, o Hugo precisava de mim. Eu não podia morrer sem ao menos ter tentado salvá-lo.
— Quando a gente chegar no local seguro, eu aperta nesse botão e isso tudo vai pelos ares. Vão vir muitos capangas por isso eu peço que se escondam muito bem. Principalmente você, Jason. Toma cuidado e lembra como usar a arma. — ele falou, por fim. — Confio em vocês. Tá na hora.
Entramos em um túnel úmido, com um cheiro horrível de podre, e depois de caminhar por ele por uns 2
30 minutos, avistamos a entrada que dava ao esconderijo do Carlos cheia de capangas, olhei para o Erick e ele olhava atento para eles. Ele nos chamou com o olhar e o seguimos por um caminho estreito, e como o chão estava úmido, não foi possível ouvir o barulho dos nossos passos. Meu coração acelerava a cada momento em que nos aproximava deles.
— Agora vamos nos separar. Rômulo, você vai por ali, logo a frente tem um buraco na parede, se esconde lá e não sai até ouvir um assobio. Jason, por favor, toma cuidado. Não posso te perder também. — ele me beijou e tocou sua testa na minha.
— Eu te amo. — falei, dando outro beijo nele.
— Eu nunca vou me esquecer disso.
— Vamos parar com esse drama todo ou isso tava no plano? — Rômulo disse.
— Tá, foi mal. — ele se afastou de mim e então carregou sua arma. — Vamos. tomem cuidado.
Enfim nos separamos. Eu estava totalmente perdido, eu não sabia onde me esconder e não fazia ideia de quando o Erick ia disparar as bombas. Corri por um caminho entre as pedras, sempre olhando para trás. Lembrei do que o Erick me disse sobre a arma “Carregue primeira”, e foi o que eu fiz. Ela fez um barulho estranho e deduzi que eu tinha acertado. Olhei para os lados e jurei ouvir passos, mas era o vento arrastando um jornal velho. Andei mais rápido, segurando a arma como o Erick me ensinou e tentando avistar algum buraco na parede. Droga. Não tinha nada. O tempo estava se esgotando e eu não tinha nem me escondido. A partir do momento em que o Erick apertasse aquele botão, o som da explosão iria chamar a atenção dos capangas e eles viriam direto para mim. O Rômulo tinha razão, eu só iria atrasar o grupo e eu iria acabar matando todos nós.
— Ele tá de olho no Kiron, mané — ouvi vozes ao longe. Droga. Droga. — tu sabe que o chefe não gosta de pergunta, caralho.
Avistei finalmente um buraco em uma parede próxima, mas eles estavam muito próximos. Corri como se minha vida dependesse disso — e de certa forma era verdade —, corri tão rápido, mais tão rápido que até estranhei eu não ter um ataque de asma. Entrei no buraco e me encolhi, prendendo a respiração. Com a arma no peito, fechei os olhos e pedi mentalmente para eles não olharem para o buraco. Foi quando sem querer pisei em um galho velho, e o barulho chamou a atenção deles.
— Quem tá aí? — um deles falou, e eu estava com falta de ar. Não ia aguentar por muito tempo.
BOOM!
Um barulho estrondoso me assustou, e para meu alívio, chamou a atenção dos dois capangas. Eles gritaram alguma coisa e saíram correndo. Logo não eram só eles, mas quatro, seis, sete deles. Continuei parado até todos passarem e quando vi o caminho livre, sai do buraco e corri para encontrar Erick e Rômulo. Ouvi um assobio ao longe, tentei achar o caminho de onde o som saiu e vi um beco. Entrei por ele e corri para luz ao fim do mesmo.
Parei abruptamente ao ouvir um tiro na minha direção, o qual quase acertou minha perna. Meu coração acelerou mais do que o normal e eu achei que iria infartar ali mesmo. Me desculpa Erick, eu fracassei, pensei.
— Se vira devagar e larga a arma, caralho. — fiz o que ele pediu e me virei, jogando a arma no chão. Ele me reconheceu, pois deu um sorriso de satisfação. — olha só, a caça veio direto pro caçador. O chefe vai gostar de te ver, na moral. Caminha devagar e nem pensa em bancar o espertinho. Chefe, tenho uma surpresinha pra você.
Caminhei lentamente para onde eu não estava indo e pude sentir o cano frio da arma na minha cabeça. Meu coração ainda batia descompassado e tudo que eu queria era que o Erick aparecesse. Mas, pelo visto, eu iria morrer.
Chegamos a luz e ele me arrastou por um caminho estreito, segurando minha camisa e ainda apontando a arma na minha cabeça. Eu sabia que se eu tentasse fugir eu iria levar um tiro, por isso não tentei nada. Chegando a um lugar sujo e úmido, vi que na verdade era um ferro velho. Vi de longe a pessoa mais repugnante da minha vida, e assim que viu, esboçou um sorriso de vitória no rosto.
— Olha só! Até que não precisei trabalhar muito pra te achar. O burro do Jason veio até mim. — ele disse, abrindo os braços, rindo junto dos seus capangas. Estavam armados até os dentes. — Veio se entregar em troca da vida do seu amigo? Que nobre.
— O Erick vai chegar e vai te matar, seu filho da puta. — falei, mas me arrependi ao sentir não um soco, mas a arma bater fortemente no meu rosto. Senti uma dor insuportável no nariz e o sangue escorrer pela minha boca. Cuspi no chão e olhei com ódio para o Carlos.
— Seu namorado também tá aqui? Nossa... — ele deu mais uma gargalhada. — Vocês são tão previsíveis. A ideia da bomba foi boa, confesso... Mas vocês se esqueceram que é impossível entrar aqui sem ser visto.
— Onde tá o Hugo? ONDE TÁ MEU AMIGO? — tentei me soltar do capanga, mas ele bateu novamente com arma na minha cara.
— Calma, Jasonzinho... Vou pedir pra buscar eles. — ele olhou para um dos seus homens e ele se dirigiu a um quarto velho e escuro. Não aguentei e gritei ao ver o Hugo desacordado, com o rosto inchado, junto dos seus pais. Eles sangravam.
Não. Eles não podiam estar mortos.
— Infelizmente ainda estão vivos, mas não por muito tempo. Logo vou cortar a cabeça deles e pregar na minha parede. — ele falou, caminhando na minha direção. Quando chegou perto o suficiente, ele pegou no meu queixo e me fez olhar para sua cara nojenta. Cuspi com todo gosto no rosto dele — Isso não foi legal. — ele disse, limpando o sangue do rosto. Após limpar, ele levantou as mangas da sua camisa e me deu um soco na barriga, e depois no rosto. E mais um, e mais um.
Tossi pela falta de ar nos meus pulmões e pelo meu rosto latejando. Ele ia me bater novamente, mas parou ao ouvir tiros do lado de fora. Era o Erick. Uma pontada de esperança surgiu no meu coração, nem tudo estava perdido.
Depois de alguns minutos, Erick e o Rômulo apareceram, ao me ver nas mãos daquele capanga, ele tentou vir na minha direção, mas Rômulo o impediu. Os homens do Carlos apontaram suas armas, prontos para atirar a qualquer momento.
— Finalmente os refrescos! Olha quem finalmente apareceu. Kiron e seu parceiro. — ele disse, limpando suas mãos na camisa. — Olha, eu por um momento achei que não viria salvar seu namorado. Já que nem se entregar pra salvar ele você conseguiu. COVARDE DE MERDA!
— Solta ele, Carlos. E eu deixo você viver. — Erick disse.
— Como sempre você querendo ser mais do que pode. Eu sempre odiei isso em você. — ele falou, pegando a arma de um dos seus homens e apontando para minha cabeça. Olhei para Erick, pedindo desesperadamente por ajuda. — eu poderia facilmente matar esse merdinha agora mesmo, mas não posso, não antes de matar os amigos dele. — olhei para o Hugo e seus pais desacordados no chão.
Fiz algo arriscado, me soltei do capanga e agarrei no braço do Carlos, o derrubando no chão e fazendo sua arma cair bem longe. Erick atirou no homem atrás de mim e logo começou um tiroteio. Eu ainda enforcava Carlos, ele era maior que eu, então não foi fácil. Ele me deu um soco e eu caí no chão. Ele correu pra pegar a arma, mas eu peguei no seu pé, o fazendo cair novamente no chão. Rolamos no chão, dando socos e chutes, mas ele foi mais rápido e pegou arma. Ele apontou a mesma para mim, mas não atirou.
— Fica parado, seu desgraçado. — ele falou. — se levanta devagar e anda na minha frente. AGORA, PORRA! — fiz o que ele disse. Olhei para o Erick e ele lutava com um dos capangas. Ao sair do ferro velho, ele me arrastou até seu carro, onde tinha dois capangas mortos no chão. Logo apareceu mais um, o qual Carlos mandou me segurar. — Coloca ele no carro, vamo levar ele para o local combinado.
Ele abriu a porta do carro e me empurrou para dentro do mesmo, apontando a arma para mim. Carlos entrou logo depois, tomando conta do volante.
— Vamos dá uma voltinha, Jason. — ele falou, sorrindo. Ele deu partida e antes de sairmos, o Erick apareceu.
— ERICK ME AJUDA POR FAVOR! — gritei, quase chorando.
Ele me olhou desesperado, mas não pude ver mais nada, pois ele o carro já estava se afastando. A arma ainda enforcava estava apontada para minha cabeça e eu pedia mentalmente para que o Erick conseguisse me alcançar.
Foi quando sentimos algo bater no carro, o homem que apontava a arma para mim quase caiu, mas se segurou no banco.
— MALDITO! — olhei pelo espelho e vi um carro atrás de nós.
— Você não pode fugir. Quando o Erick te pegar quero ver ele fazer picadinho de você. — falei, em um tom desafiador.
— Cala boca, caralho. — ele disse, e eu podia sentir o medo exalar dele.
— Seu medroso de merda. Não é nada sem os seus capangas. — eu falava, na intensão de tirar sua atenção do Erick. — Você nunca vai ser feliz, seu filho da puta. Vai morrer sem amigos, amor, família. Vai morrer sozinho, seu verme.
— Cala a boca desse merdinha, porra! — ele virou o carro rapidamente e pude ouvir o som dos freios.
Depois de alguns minutos eu pude ouvir um som de ondas. Era a praia. Mais o que estávamos fazendo aqui? O que ele planejava fazer? Ele parou carro abruptamente e olhou para trás, Erick ainda nos seguia. Ele saiu do carro e em seguida abriu a porta para que seu capanga saísse junto comigo.
— Me dá a arma, caralho. — o homem fez o que ele pediu e então ele me puxou pela camisa.
Olhei para trás e pude ver um grande precipício, onde era possível sentir o vento forte e ouvir o som das ondas em rebentação. Erick apareceu logo atrás, ele parou o carro próximo ao capanga desarmado. Quando ele saiu do carro, Carlos apertou mais ainda a arma contra a minha cabeça, enquanto nos aproximava do precipício.
— Para enquanto tem tempo, Carlos. Você tá encurralado e sabe disso. Faz algo de bom pelo menos alguma vez na vida. — o Erick falava, como se isso fosse de alguma forma mudar o pensamento do Carlos. Ele era um sociopata, porra.
— Você acha que eu cheguei até aqui pra desistir de matar vocês? — ele riu de forma bizarra. — Eu vou matar esse merdinha e em seguida vou estourar sua cabeça. Depois vou queimar vocês enquanto eu tomo um vinho bem caro.
— Você pode desistir agora... Solta ele. Solta o Jason e vamos resolver isso nós dois. Ele não tem nada a ver com isso. — não adiantava, quanto mais ele seguia em frente. Estávamos cada vez mais próximos do precipício.
Eu sentia meu corpo amolecer e minhas pernas tremerem, eu não podia deixar tudo acabar desse jeito. Eu tinha que reagir ou todo o esforço que fizemos seria em vão. Eu fui mais corajoso do que imaginei ser, fiz coisas que nunca pensei em fazer. Eu tinha que reagir, que me salvar antes que ele me jogasse daquele precipício.
Respirei fundo, criando coragem para o que eu ia fazer. Olhei para o Erick, de alguma forma pedindo aprovação. Ele assentiu e eu senti que era hora de agir. Olhei para o Carlos e ele estava mais assustado do que nunca, respirei fundo mais uma vez e pisei no pé dele, depois o empurrei, ele caiu no chão pontiagudo e a arma caiu no chão. Erick correu em nossa direção, mas o capanga antes desarmado correu e pegou a arma do chão e o derrubou com um golpe, ele caiu no chão desacordado. Ele apontou a arma para mim e antes dele atirar, Rômulo segurou na mão dele e ambos começaram a brigar.
Olhei para Carlos e ele estava fugindo, corri ao seu rumo e pulei em cima dele. Rolamos e paramos bem próximo do precipício, onde eu pude ver as pedras sendo atingidas pelas ondas. Ouvi um tiro e parecia ter vindo da briga do Rômulo com o capanga, mas antes que eu pudesse ir até lá, olhei para cima e vi Carlos subir em cima de mim, me enforcando. Vi minha vida passar por entre meus olhos. Eu estava prestes a cair daquele precipício e tudo que o Erick fez por mim e pelo Hugo seria em vão.
Não. Eu não podia desistir, não agora. Senti o ar voltar aos meus pulmões, mesmo sendo enforcado pelo Carlos, juntei todas as minhas forças e então tirei suas mãos do meu pescoço, gritei e então chutei ele na barriga, o mesmo caiu no chão. Ao tentar se levantar e novamente fugir, ele se desequilibrou e caiu.
Ele gritou, agarrado nas pedras. Ele estava a um fio de cair. Olhei para Rômulo e ele já tinha ganhado a luta. Voltei minha atenção ao Carlos em situação vulnerável e constatei que só tinha uma coisa a fazer.
— Me ajuda, Jason... Eu juro que deixo vocês em paz... Eu vou embora e não volto nunca mais. Eu prometo.
Não prestei atenção no que ele disse, pois fogos de artifício eram vistos no céu.
Já era ano novo.
Senti meu pé ser puxado e então eu ser arrastado para trás, olhei e vi o Carlos tentar subir. Não vai, não.
— Feliz ano novo, filho da puta! — dei um chute com todas as minhas forças no rosto dele e o mesmo gritou, caindo diretamente nas pedras.
Olhei para baixo e vi o mesmo morto no meio das pedras, sendo arrastado pela água.
— Agora ele é problema do oceano. — Erick se aproximou de mim e eu o abracei fortemente, chorando. E pensar que quase me afastei pra sempre dele.
— Eu pensei que fosse te perder. — falei, encostando minha cabeça em seu ombro.
Nos afastamos ao ouvir um carro se aproximando. Senti um alívio ao ver Hugo sair de dentro do carro, junto dos seus pais. Corri para abraçá-lo.
— Ai graças a Deus — falei, o apertando contra meu corpo. — eu não podia te perder. Como nos encontrou?
— Ele nos ajudou a chegar aqui — ele apontou para um homem que julguei ser um dos capangas do Carlos. Provavelmente querendo se redimir.
— Desculpa ter te colocado em perigo... Me perdoa.
— Ei, o importante é que estamos bem. Você se machucou?
— Só um pouco... Mas vai passar.
— Obrigado por tentar me salvar, Erick. — Erick assentiu. — Cadê o Rômulo? Onde ele está?
Olhamos e vimos o mesmo sentado encostado no carro, ferido. O tiro que eu ouvi não tinha sido no capanga.
— RÔMULO! — Hugo correu até ele e fomos logo atrás. Rômulo estava sangrando muito. — meu amor, não dorme. Por favor, não dorme. MEU DEUS, RÔMULO! ERICK FAZ ALGUMA COISA! RÔMULO, OLHA PRA MIM!
Hugo tocou no seu rosto e olhou para seu ferimento.
— Você vai ficar bem, ok? Vamos sair dessa... Vamos pra nossa casa no campo, vamos ter dois gatinhos, um cachorro e uma filha chamada Melissa. Vamos viver juntos do jeito que imaginamos. Por favor, olha para mim. — ele tossia e perdia muito sangue.
Eu sabia no que isso ia dá. Não tinha mais volta.
— Hugo... E-eu... — ele tossiu novamente — e-eu te a-amo... C-como... Como nunca a-amei ninguém. V-você me f-fez o h-homem mais feliz desse mundo. O-obrigado.
— RÔMULO, NÃO! POR FAVOR, NÃO FALA ASSIM! EU NÃO POSSO TE PERDER, PORRA! RÔMULO, POR FAVOR NÃO FAZ ISSO COMIGO! NÃO, NÃO! — Hugo gritou e então abraçou Rômulo, que já não estava mais entre nós. Coloquei meu rosto no peito de Erick, eu não podia olhar para aquela cena. Todo ar do corpo parecia ter sido arrancado de mim.
Rômulo estava morto.
***
Hugo ficou calado a viagem toda de carro, ninguém sabia o que dizer. Todos estávamos abalados demais para consolar uns aos outros. Olhei para Erick e o vi chorando, com a mão encostada nos seus lábios, ele amava muito o Rômulo. Eles eram irmãos.
Fechei meus olhos para que toda aquela dor sumisse do meu coração, mas nada adiantou. O que tinha acontecido não poderia ser mudado. Aquele momento iria ficar pra sempre nas nossas mentes. Cada segundo daquele doloroso inferno.
O pai do Hugo parou o carro em frente a sua casa, ele estava muito fraco e por isso o Erick o ajudou a sair do carro.
— Eu vou fazer uma ligação, já volto. — disse Erick, pegando o celular do bolso e se afastando.
Olhei para o Rômulo e o mesmo ainda permanecia calado, se abraçando. Cheguei mais perto dele e toquei seu ombro. Sorri, para que ele entendesse que eu estava ao lado dele. Ele olhou para mim e então desabou, ele chorou como uma criança e me abraçou. Eu queria tanto que nada disso tivesse acontecido. Queria que meu amigo não desistisse dos sonhos, queria que ele não tivesse machucado.
Queria que o Rômulo estivesse vivo.
— Jason... — Erick já tinha voltado. — Precisamos conversar.
— Está bem. — falei. Olhei mais uma vez para Hugo e sorri, ele tentou sorrir, mas não funcionou muito bem.
Fui até Erick e ele estava inquieto.
— O que aconteceu? — falei.
— Espero que entenda que o que eu acabei de fazer foi por nós. — disse ele, me deixando confuso. — Eu quero que me perdoe. Mais uma vez.
— Eu não estou entendendo... O que você quer dizer com isso? — falei, olhando para todos em busca de resposta. Todos estavam tão confuso quanto eu. — Erick... O que você fez?
Não precisei que ele me dissesse nada, pois ouvi sons de sirene ao longe. Não, ele não podia ter feito isso. Como ele pôde fazer isso comigo?
— Me perdoa... — ele disse.
— Erick, você não pode fazer isso. — falei, segurando sua mão. Com sua outra, ele tocou na minha bochecha e me beijou. Mas nada ia mudar com um beijo.
Ele ia ser preso. Ele iria embora e me deixaria sozinho. De novo.
Os carros de polícia já estavam se aproximando. Tentei segurar sua mão com força, impedí-lo de fugir. Mas ele apenas se soltou, sem um pingo de piedade. Mesmo eu suplicando.
— Não, Erick, por favor....
— Kiron, você está preso. Não faça nenhum movimento brusco. — o policial disse, e vários outros com suas armas apontadas para ele.
— Me perdoa...
Tentei agarrá-lo, mas Hugo me segurou. Foi como se tudo tivesse em câmera lenta. Eu gritando desesperado, o Erick indo em direção aos policiais com as mãos pra cima. Tudo estava passando diante dos meus olhos e eu não podia fazer absolutamente nada. Erick iria novamente fugir de mim, e dessa vez seria para sempre.
— VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO... — falei, mas ele apenas olhou. Suas mãos já estavam algemadas. Os policiais estavam falando com os pais do Hugo. E sequer se importavam comigo. Como podiam ser tão sem coração? Não viam que estavam levando o homem da minha vida?
— Se acalma, Jason... Por favor. — Hugo pediu, me abraçando. Chorei em seu ombro, querendo morrer.
Olhei para Erick, e ele já estava dentro do carro. Ele colocou a mão no vidro e e disse, mesmo sem sair nenhum som.
Me perdoa.
Desculpa qualquer erro♥️
( Ainda tem epílogo )
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top