40| Caído na grama
Alerta de gatilho: nesse capítulo terá menção a Suicídio e automutilação, caso não se sinta bem, pule essa parte. Respeite seus limites.
O dia finalmente chegou e eu simplismente não consegui dormir. Minha cabeça doeu a noite toda pensando em tudo o que aconteceu. No Erick, nos meus pais e em como minha vida estava uma verdadeira bagunça. Pensei também no Karma, e a probabilidade de eu está pagando tudo o que fiz com Hugo, com meu pai.
Eu olhava para o teto, uma vez ou outra eu ia até Luíz, no outro quarto x e via ele dormindo com uma respiração pesada. Senti inveja por não ter dormido nada, só pensando na merda que estava acontecendo comigo. Eu estava estranhamente desconfortável na casa dele, seus pais eram legais, mas eu não estava acostumado e a sensação de "está incomodando" tomava conta de mim.
Me assustei quando vi Luíz na porta, me olhando.
- Acordou cedo? - perguntou ele.
- Na verdade eu nem dormi. - falei.
- Ficou pensando em tudo o que aconteceu, não foi? - ele entrou no quarto e ficou em pé próximo a mim, me olhando.
- Sim.
- Eu sei que tá difícil cara, mas você não tem porquê ficar se torturando com isso. É bem pesado, e deve ser bem difícil pra você, mas sei lá, tenta não ficar muito nisso. - Luiz tinha razão, obviamente. Mas, eu não conseguia simplesmente esquecer algo tão nojento e tão recente. Talvez eu fosse demorar anos para superar, talvez um mês, não sei. Só sabia que eu estava muito magoado e inseguro.
- Eu não consigo, desculpa. - falei, estava cansado daquele assunto, se fosse para esquecer Erick e toda aquela merda, que a gente começasse não falando dele. - Não quero falar disso, pode ser?
- Como quiser. - ele falou. - Vai pra escola hoje?
- Não quero ir, mas o final das aulas estão chegando, não quero reprovar.
- Entendo. Eu vou descer. - ele disse - Desce quando tiver pronto.
- Espera... - ele se virou pra mim. - Depois do café, podemos ir na minha casa pegar meu material?
- Claro.
Ele sorriu, e então saiu do quarto. Tratei de ir tomar um banho, o sono ainda era presente e eu não queria dormir da aula do professor de física. Por mais que a ideia fosse maravilhosa e aulas deles fossem um tédio, eu tinha que passar de ano.
Logo depois de todo aquele ritual matinal, desci para a sala de jantar, onde a família tomava café. Na mesa, aliás, não tinha só café. Tinha uma porção de coisas, que aposto que eles nem comeriam tudo aquilo. Bem típico de uma família rica, digo por experiência própria.
- Bom dia, Jason! - disse Seu Júlio, sorrindo. Ele vestia um terno preto e chique, e era fascinante como ele conseguia comer sem derrubar um pouquinho de comida nele.
- Bom dia. - falei, sorrindo. Eu ainda estava com vergonha.
- Bom dia, querido. - disse dona Iolanda, sorrindo gentilmente. Ela, por sua vez, estava em um vestido florido, que constatei que ela ficaria em casa. Ninguém vai para o trabalho com um vestido tão chamativo. - Como foi sua noite?
- Tirando a fato que só fui dormir lá para quatro horas, dormi sim. - eu disse. - E vocês?
- Eu dormi maravilhosamente bem. - disse Seu Júlio.
- Claro, ninguém é capaz de ouvir seu próprio ronco, mesmo quando ele é absurdamente alto. - disse Iolanda, e então rimos.
- Eu não ronco, não, senhora! - ele se defendeu.
- Eu bem que senti a casa balançando mesmo. - entrei na brincadeira, todos riram.
- Até o senhor, Jason? - ele fez uma cara de bravo. - Saia agora da minha casa.
Engoli seco.
- Brincadeira - disse ele, rindo horrores. Parecia que ele tinha contado a maior piada de todas.
- Bom, querido, mas deixa eu perguntar - começou dona Iolanda, mudando de assunto. - Por que foi embora de casa? Se quiser ficar aqui vai ter que contar a verdade.
Engoli em seco, ficando visivelmente nervoso. Eu sabia que eles perguntariam, mas não agora, por isso não inventei nenhuma desculpa.
- Iolanda, mulher, pelo amor de deus! - disse seu Júlio, repreendendo sua mulher.
- Mãe, para.
- Gente, não tem problema, eu falo. Se quero ficar aqui eu tenho que fisee - eu disse. - Eu não tiro a razão dela. Bom, eu fui embora porquê meus pais fizeram algo ruim, que me machucou muito.
- Oh, querido, me desculpa ser tão invasiva, eu só quero ter certeza que esteja fazendo tudo certo.
- Tudo bem, a senhora está com a razão. - eu disse. - Se importa se eu não querer contar o que eles fizeram? É algo que não me sinto bem em dizer.
- Ah, claro. Não quero ser uma ditadora.
- Bom, Luiz, vamos buscar meu material? - falei, mudando de assunto e evitando possíveis choros. - Acho que tá na hora.
- Sim, sim. - ele disse, se levantando. - Pai, posso pegar seu carro pessoal?
- Pode, mas toma cuidado e respeite as leis de trânsito. - disse ele.
- Tudo bem. Vamos Jason.
- Tchau, gente. Tenham um um bom dia de trabalho, Júlio. - falei, sorrindo.
...
Já no carro, ficamos em silêncio, diferente da música que rolava na rádio local. Meus pensamentos foram em Erick.
"Você me mordeu? "
"Não sei de nada"
"Você já se apaixonou por alguém que acabou de conhecer?"
"eu posso te beijar?"
"Eu sinto muito, Jason."
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som de uma buzina, paramos em um engarrafamento e Luiz estava furioso.
- Maldito trânsito. - ele disse. - Ei, ahn... Foi mal por minha mãe hoje. Ela gosta de ter tudo certinho, e ela não quis, sei lá, parecer chata ou algo assim.
- Ah, tudo bem. Uma hora ou outra ele iria perguntar. É meio estranho seu filho trazer um garoto para ficar um tempo em sua casa. - eu disse. - Uma vez que você nem sabia da existência dele.
- Claro que sabiam. Eu sempre falava de você...
- Sério? Eu, ahn...
- Até que enfim! Está andando. - ele disse, mudando a música e finalmente dando partida.
Logo chegamos na minha casa - eu nem sei se podia denominar assim mais - e respirei fundo antes de entrar. Fechei a cara e enfim entrei, meu pai trabalhava no computador, minha mãe conversava com Petrus na cozinha. Eles me viram e toda a atenção veio para mim.
- Aí filho que bom que voltou - disse minha mãe, vindo me abraçar, não movi um músculo sequer. Só segurei a vontade de empurrá-la, mesmo com tudo aquilo, ela era minha mãe.
- Jason, que bom que voltou. - meu pai estava vindo na minha direção.
- Fica longe. Eu não voltei pra cá, só vim pegar o meu material escolar. - falei, subindo as escadas rapidamente.
Pegando tudo o que tinha que pegar, apenas passei por eles, sem olhar, sem falar nada. Eles vieram atrás de mim, em vão, já que ignorei. Eu não queria falar mais nada. Falar foderia mais ainda minha mente, e eu não queria aquilo.
Eu de fato, não estava preparado para voltar, para perdoar e finalmente, olhar na cara de Erick novamente. Eu só queria que tudo aquilo passasse logo, não estava aguentando mais.
Talvez a morte fosse a solução, talvez eu cortar meus pulsos até a morte fosse a solução.
- Não acha melhor conversar com eles?
- Não quero, só quero ir embora, ou eu não respondo por mim.
Falei, assustando Luiz, que logo deu partida. Eu nunca mais voltaria aqui, nunca mais.
Nunca. Mais.
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