29| O Aniversário

Era oficial: O DIA DO MEU ANIVERSÁRIO DE 18 ANOS HAVIA CHEGADO!

Era tão incoerente isso; alguém ficar feliz por estar ficando velho e cada vez mais perto da morte. Mas eu não ligava, eu só pensava na minha independência; adeus as chatices de Mário Navarro.

Eu estava visivelmente feliz, parecia até que era o primeiro aniversário que eu fazia, mas não era, na verdade eu fiz aniversário de todas as minhas idades. Mas, aquele ano era diferente, eu não ia fazer uma festança, convidar meus falsos amigos ou coisa assim.

Eu só ia namorar, com meu namorado, transar com ele até dizer chega e minha alma sair do meu corpo.

- Que felicidade! Ganhou na loteria? - meu pai nunca deixava nada passar. - Nunca vi alguém tão feliz por está ficando velho.

- Me deixa, Mário! Eu vou sair com o Hugo, vou passar a noite inteira na rua e vou voltar só quando eu quiser ( até porque eu já tenho dezoito anos ) - falei, passando geléia no meu pão, ou passando o pão na geléia, não sei.

Meus pais começaram a gargalhar. Por que eles estavam rindo?

- Por que estão rindo? Não aguentam ouvir a verdade?

- Que verdade, Jason? Enquanto você morar debaixo do meu teto, temos autoridade para mandar e demandar em você. E se você acha que é uma maravilha sair de casa e ter uma própria, está muito enganado. Se tornar adulto não te faz realmente um adulto. - podia ser verdade, mas eu preferia acreditar na primeira teoria.

- Você ainda é um adolescente. Não sabe do mundo. - minha mãe disse.

- Que seja! - eles começaram a rir novamente. Meus pais estavam debochando de mim, e o Petrus não falava nada? - Controle sua mulher, Petrus!

- Realmente eu não posso fazer nada, opá. - ele disse, rindo também.

- ROBSON! JÁ QUERO IR PRA ESCOLA, PORQUE O CLIMA NA MESA ESTÁ INSUPORTÁVEL! - gritei propositalmente, me levantando e pegando minha mochila, eu havia comprado outra, na nova tinha lanternas, bicicletas e luzes, bem legal.

Robson, o motorista, apareceu na sala, ele assentiu e então eu sai. A jornada para à escola demorou mais que o previsto, o trânsito estava horrível. No carro, eu me peguei pensando no Erick e na história que ele me contou, sobre sua infância e sua mãe. Era tudo tão triste e trágico.

Senti meu celular vibrar no meu bolso e quando olhei, Erick ligava para mim.

- FELIZ ANIVERSÁRIOOOOOOO, MEU DELICIAAA - ele gritou assim que atendi, até tirei o celular do ouvido - QUERO FODER TANTO VOCÊ QUE SUA ALMA VAI SAIR DO SEU CORPO!

- Obrigado, Erick. Eu te amo, tanto. Sabia que eu pensei a mesma coisa? O Robson deve tá com saudades de mim... - falei, e então o Robson olhou para mim. Merda. - Não é você Robson, é outro Robson.

- Quem tá aí? - perguntou ele. O carro começou a se mover novamente e eu agradeci ao Senhor.

- O motorista. Mas, eu queria passar esse dia tão especial na sua casa. A gente poderia assistir um filminho, comer pipoca...

- Eu acho uma ideia maravilhosa, de ficarmos sozinhos, mas, e se a gente chamasse o Hugo pra passar esse dia tão especial com a gente? Ele é seu melhor amigo. -

- Pode ser.

- Vou desligar, tô chegando na escola. - falei, olhando a movimentação da escola pela janela fumê do carro.

- Até mais.

Desliguei.

- O Sr.Navarro não vai gostar nadinha de saber que você tá namorando. - falou Robson, com seu sotaque nordestino.

Ele parou o carro e então eu desci, mas antes eu disse, perto da janela onde ele estava:

- Eu já tenho dezoito anos, posso namorar quem eu quiser. E se caso meu pai saber disso, vou cortar sua orelha fora. Brincadeira, fofo - falei, apertando a bochecha dele. Ele gargalhou.

- Vocês jovens não têm jeito.

- Adulto, meu amor! - falei, indo rumo a entrada da escola.

Logo de cara, avistei Hugo. Ele veio correndo na minha direção e me deu um abraço.

- PARABÉNS, VIADOO! - gritou Hugo, dando pulinhos - TE DOU PARABÉNS, QUANDO PARA A BUNDA, TE DOU PARABÉNS, BÉNS, BÉNS - ele cantarolou - Finalmente você é de maior! Agora vamo dá a bunda sem ninguém se meter!

- Eu faço das suas palavras as minhas. - eu disse.

- Hoje tem o pirocão de 45 centímetros do Erick para dá e pra vender, não é? - disse ele, em uma animação absurda.

- Na verdade não, não mais pelo menos. Ele resolveu te chamar. Para assistirmos um filme, é claro. - corrigi, para que não houvesse constrangimentos, o que era raro entre Hugo e eu.

- Como assim você não ia me chamar para comemorar seu aniversário? - ele parecia chateado, ou encenou muito bem isso. Revirei os olhos.

Começamos a andar rumo à sala de aula, onde a professora de Física nos esperava.

- Eu não vou fazer festa nenhuma, como você já viu. E se eu não pensei em te chamar para o meu rolê com o Erick, você sabe muito bem o porquê.

- Diz então, sua gay!

- Você lembra o que você fez na minha festa de 16 anos? Você convidou a escola inteira e ainda fez um boquete no cara do terceiro ano. Quer mais algum motivo?

- Mas foi espontâneo! Tipo, ele era gostoso pra caralho e eu meio que não resisti. Mas, eu não vou fazer nada demais na casa da sua paixão bandida, literalmente. - revirei os olhos e então apressei meus passos, torcendo para que a professora deixasse a gente entrar.

"Dá próxima vez é diretoria " foi o que ela disse.

🌠

No intervalo, vi Luís sentado comendo Cheetos, junto com um garoto do segundo ano, ele me encarou, mas tirei o olhar. Não gostava que as pessoais olhassem muito tempo para mim, foi assim que eu tive meu primeiro crush.

- Olá, aniversariante! - falou Luís, se levantando e me abraçando. Ele cheirava. - Juro que se você não fizer festa, eu vou ficar muito bravo. - ele falou, depois de cumprimentar Hugo, ele sentou. Fizemos o mesmo.

- Não, eu não vou fazer festa. Mas, vou assistir um filminho com meu amor, na casa dele. - falei, foi então que ele o garoto que antes estava calado, riram. - Do que estão rindo? E você, quem é? - falei, com uma voz um pouco debochada, confesso.

- Meu nome é Bernardo - ele falou, ainda rindo - Cara, da última vez que eu disse isso, acabei engravidando uma guria.

Hugo e eu nos olhamos, e então eles riram mais ainda.

- Tô zoando - eles gargalhando. Eles pareciam que tinham bebido horrores, pois todos olhavam para nossa mesa.

- Não teve graça. - falou Hugo, pela primeira vez - Você de longe é uma gay, meu gaydar não falha.

Ele parou de rir por alguns segundos e então rimos novamente, não sei porque. Ele pareceu não se incomodar com o que Hugo disse.

- Tem razão. Mas eu não sou gay, sou bi.

- Ahn... Ele e eu... É... - balbuciou Luís.

- Estamos namorando. - o Bernardo completou. Comecei a tossir.

Luís namorando? Não creio.

- Felicidades ao casal! - disse Hugo, dando um abraço no garoto Bernado.

- Mandou bem, viado! - falei, só que não saiu tão legal quando se saía da boca de Hugo.

🌠🌠🌠

Quando sai de casa - com uma mochila nas costas - avistei Erick ao longe, encostado no seu carro, sorrindo. Ele usava uma jaqueta preta e uma calça colada, e um óculos estranho na cabeça, não fazia ideia de onde havia surgido objeto tão peculiar.

- Tá maluco? Vir tão perto de casa? E se meu pai te ver? - falei, ele pareceu não ligar, pois ele apenas me abraçou.

- Relaxa mano, ele não vai me ver. Não hoje. - ele disse, se referindo ao assunto dele conhecer meu pai. Revirei os olhos e então entrei no carro.

- Temos que pegar o Hugo na casa dele.

Pegamos Hugo na sua casa e logo chegamos no morro. Tudo estava muito movimentado, pessoas andando para lá e para cá, um som alto tocando brega funk, e alguns cachorros latindo e correndo.

Assim que seus capangas viram o carro de Erick, eles abriram o portão e ele passou com o carro. Olhei para Hugo e ele parecia nervoso, tal como da última vez que saímos daqui.

-Tá tudo bem, Hugo? Você parece tenso. - perguntei.

- Tá tudo ótimo! E não tem nada tenso, não - ele riu, quase que forçadamente, para que eu provavelmente não desconfiasse de nada. Mas o que ele queria esconder?

- Se você diz... - achei melhor não me aprofundar naquele assunto. - Mas ver se melhora essa cara.

- É a única que eu tenho, Jason!

- Dá pras duas princesinhas pararem de brigar? - se intrometeu Erick.

Descemos do carro e avistamos Rômulo vindo em nossa direção, ele parecia sério e nervoso.

- E aí, Jason e Hugo. Chefe, precisamos conversar, a sós. - ele olhou para mim por alguns segundos e depois voltou a olhar para Erick.

Erick

- Como assim ele veio aqui, porra? - eu estava visivelmente irritado. Ele tinha perdido a noção do perigo? Caralho, esse não era nosso combinado! - Ele tá brincando com fogo.

- Ele disse que queria devolver o dinheiro. - olhei para Rômulo, incrédulo. - Eu falei que...

- Diz que eu aceito! - eu disse, o cortando. Se o dinheiro fosse tirar o peso que eu estava sentindo, que se dane. - Quero a porra dos quatro milhões na minha conta, ou eu eu abro o jogo. Ele sabe que vai ser pior.

- Mas você será comprometido. Ele nunca mais vai vim aqui e...

- Eu não ligo, mano! Só faz o que eu te mandei e pronto, caralho!

Na verdade, eu ligava sim. Eu ia perdê-lo de qualquer forma, mas que fosse com a coisa certa. Eu ia abrir o jogo com Jason, nem que isso me custasse o amor dele. Eu não ia aguentar manter esse segredo por muito tempo.

Hugo

Rômulo voltou de dentro da casa com um semblante estranho, mas assim que me viu, ele abriu um sorriso e me cumprimentou, de novo. Deixei, uma falha terrível, que um sorriso escapasse de meus lábios.

Hugo, você tem um namorado!

Ele é lindo.

Gostoso.

E é rico.

Tudo que você sonhou.

Agora ver se para de flertar com esse sujeito.

Isso fez com que Jason olhasse para mim, dei de ombros.

- Rômulo, espera! - o que ele estava fazendo? - Quer assistir um filme com a gente? Hoje é meu aniversário. - falou Jason, o olhei com uma olhar de que porra você está fazendo, merda? ele deu de ombros, como eu fiz segundos antes.

- Parabéns, cara! - ele abraçou Jason e em seguida me olhou - Mas, acho que o Kiron não vai gostar disso.

- Vamos testar?

Como imaginei, o Erick deixou sim, ele assistir o filme com a gente. Escolhemos o filme Alex Stranger Love. Era estranho, de certa forma. Nunca imaginei que bandido assistia filme de romance, ainda mais romance gay.

Jason e Erick estavam sentados na ponta do sofá, com Erick deitado com a cabeça em seu colo, enquanto o mesmo acariciava seus cabelos. Parei de olhar e vi Rômulo sentado no chão, por escolha dele, é claro. Ele olhou para mim e sorriu. Sorri de volta.

Durante o filme, nós dávamos gargalhadas em algumas cenas do filme, eu percebia o olhares de Rômulo sobre mim e era constrangedor.
O filme estava quase no fim, quando eu pedi para ir ao banheiro, olhei mais uma vez para o carinha sentado, enquanto ele comia pipoca e então eu sai.

Minutos depois, senti alguém me empurrar na parede, e quando olhei, Rômulo estava na minha frente, com seus braços na parede. Eu respirava fundo enquanto o olhava.

- Você me deixa louco, sabia? - ele perguntou, se afastando de mim. - Você não sai da minha cabeça e isso está me deixando louco! - era informação demais para minha cabeça.

- Rômulo, eu tenho namorado. - falei, com uma vã tentativa de afastá-lo. - Por favor, não piore algo que já está ruim.

- Você ama aquele cara mesmo? - ele perguntou. Aquela pergunta era fácil de responder, mas de alguma forma, eu não conseguia falar.

Fala que ama o Mário, merda! FALAAAAA!

- O silêncio fala por si só. - ele disse, antes de entrar no banheiro. Fiquei pensando no que aconteceu.

Por que eu não consegui dizer que amava o Mário? Eu o amo, certo? Porra, eu o amo! Agora estou não tão convicto assim disso!

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