28| Pai: O Monstro
Alerta de gatilho; esse capítulo contém cenas fortes de agressão doméstica, uso de grogas e morte, respeite seus limites!
Gente, antes de qualquer coisa, perdoem o Erick. Ele só queria defender sua mãe e a si mesmo.
🌠🌠🌠
Era sexta, e logo logo seriam as provas, e como as aulas estavam quase no fim, eu teria que estudar muito, ou caso contrário eu iria ganhar uma bela de uma reprovação, e eu diria adeus as minhas mesadas e eu provavelmente ganharia vários dias de castigo.
Em alguns dias seria meu aniversário de dezoito anos! Porra, eu ia ser finalmente adulto! Ia sair de casa quando eu quisesse e finalmente iria morar sozinho. E talvez eu nem precisasse me importar com castigos porquê eu seria adulto e meu pai, ou minha mãe, não teriam mais controle das minhas ações.
Como combinado, falei com o Luís. Era intervalo e eu falei ao Hugo que iria procurá-lo, avistei ele sentado sozinho ouvindo música e então fui até ele.
Ele comia uma barra de chocolate branco. Céus, chocolate branco é totalmente desnecessário à sociedade!
Assim que ele me viu, ele sorriu e tirou os fones.
- E aí, Jason? - ele disse, guardando seu IPod na mochila. - Quer? - perguntou, me oferecendo seu chocolate.
- Olá! Não, que nojo! Odeio chocolate branco. - falei, me sentando ao seu lado. - Vou ser direto: nunca mais enfrente meu namorado! Não quero mais brigas.
- Você veio aqui só pra falar isso? - ele disse - Se for, Tchau!
- Não, não vim falar só isso. - se fosse o "eu" de antes, eu sairia dalí sem dizer nada, mas eu devia um pedido de desculpas. - Foi mal por ter falado daquela maneira. Você foi um babaca por ter sido grosso e o Erick também.
- Foi mal também. Eu fiquei com ciúmes.
- Ciúmes? Que raios de vida é essa? Luís, eu nunca te dei motivos para ter ciúmes de mim. Somos SÓ amigos!
- Eu sei. Já desisti disso. Digo, te ter algo com você. - ele falou, sorrindo - Amigos?
- Amigos.
Eu nunca imaginei que eu iria ser amigo daquele ser humano. Para mim, antes, ele era só um dos vários alunos irritantes daquela escola.
🌠🌠🌠
- O Luís com ciúmes? - perguntou Erick, calmo, fazendo uma expressão engraçada. Ele não ficou puto nem nada disso quando contei. Estávamos na sua casa, mais especificamente, na sua cama. - Puta que pariu esse garoto não desiste.
Eu estava deitado sobre seu peito nú, ele só estava de cueca, e eu, em um short de moletom, não transamos nem nada, quando cheguei ele estava assim então achei melhor tirar minha camisa. Seu peito já tinha alguns pelinhos. Preguiçoso. Nunca tirava quando crescia. Sua barba estava muito grande.
- Relaxa, Erick, ele sabe que eu já tenho dono. - eu disse, e não tinha percebido o quão aquilo saiu estranho até que ele disse:
- Não, eu não sou seu dono, eu sou seu namorado. Bandido sim, possessivo nunca.
Era fato, eu sei, mas a palavra "bandido" nunca tinha me incomodado tanto.
- Tenho medo. Eu sei, é sua vida, mas eu sofro em pensar que você pode morrer a qualquer momento.
- Por eu ser bandido? Ah, qualé, Jason? Eu sou o melhor traficante que esse país já viu.
- É uma coisa muito estranha de se orgulhar. Você já matou gente? - aquela pergunta foi repentina.
Ele ficou em silêncio, mas logo respondeu, não com palavras, mas somente com seu olhar.
- É claro. Você é dono disso tudo aqui, provavelmente ganha muito dinheiro, tem que ter matado pelo menos um, senão não iria ser o maior traficante que esse país já viu.
- Ei, calma lá. Nunca matei gente inocente. Só matei alguns caras.
Eu não queria discutir, eu sabia onde eu estava me metendo desde o primeiro momento em que o vi, não valia a pena chorar pelo leite derramado quando merda já estava feita; eu amava o Erick.
- Que tipo de caras?
- Um deles foi meu pai.
Aquela notícia me pegou em cheio, meus olhos se arregalaram e eu me afastei dele. Como ele conseguiu matar seu próprio pai? Porra, era nojento! Eu queria ir embora. Como eu podia confiar em alguém que matou o seu próprio pai.
- Você matou o seu próprio pai? Que porra de pessoa é você?
- Calma, Jason. - ele pegou no meu braço, mas eu me afastei, com medo. Eu não tinha medo dele antes, mas ele matou o pai dele. Quem poderia saber o que ele faria comigo?
Eu tinha que sair dalí.
- Eu preciso ir embora. - falei, me levantando, mas ele entrou no meio da porta. Ele vai me matar também. - Só me deixa sair.
- Jason? O que tá acontecendo? Você tá com medo de mim? - ele tentou tocar em mim de novo, mas não deixei. Na minha cabeça eu iria ser a próxima vítima.
Erick.
Meu coração não iria aguentar ouvir ele falar daquela maneira. Eu não devia ter dito nada, mas eu não estava aguentando guardar tudo para mim. Agora meu namorado - a única pessoa que sabia quem eu era e me amou mesmo assim - estava com medo de mim. Para ele, agora, eu só era um monstro.
Eu só queria defender minha mãe, e lá no fundo, a mim mesmo. Daquele monstro. Eu não o culpava por eu estar naquela vida, mas ele foi um dos motivos.
- NÃO TOCA EM MIM! VOCÊ É UM MONSTRO! NÃO CONSEGUIU MATAR A PORRA DO SEU EX, MAS NÃO PENSOU DUAS VEZES ANTES QUE MATAR SEU PAI! ERICK, ELE ERA SEU PAI.
Eu não estava aguentando, então gritei:
- EU SÓ DEFENDI MINHA MÃE DAQUELE MONSTRO! - agora eu chorava, era a segunda vez que eu mostrava meus sentimentos, que eu chorava na frente de alguém. - EU... EU NÃO ESTAVA MAIS AGUENTANDO TÁ BOM? - eu sai do meio da porta e fui para o outro lado, o Jason me olhava sem reação.
Meu pai se chamava Alberto, ele sempre foi presente na minha vida e da minha mãe, Ana, mas ele mudou isso tão rápido que tudo que era amor, se tornou ódio.
Ele não ligava mais para mim nem para minha mãe, ele chegava tarde quase todas as noites e às vezes chegava bêbado. Eu tinha 11 anos. Meus colegas me diziam que ele estava metido com gente ruim, eu odiava é claro, mas percebi que era verdade quando ele chegou em casa bêbado - o que era frequente - mas daquela vez ele não chegou só bêbado, ele estava agressivo e tinha nas suas mãos uma quantia significativa de dinheiro e, na outra, uma bolsa com uma quantia provavelmente maior.
- Minha vadia, eu ganhei uma bolada com uns lances aí! Tamo rico - ele nunca tinha chamado ela assim, não no começo, pelo menos.
O ódio, substituiu o amor.
O "vadia", substituiu o "querida"
Os dias em que ele chegava bêbado, substituiu os momentos Boma; os momentos de felicidade, quando ele arrumava trabalhos, ou quando eu tirava notas boas.
Os "meu campeão", foi substituído por "bandidinho, moloque, inútil"
Os carinhos, os abraços, os beijos, foram substituídos por agressões.
- Onde você estava, Alberto? Será todo dia isso? Eu tô cansada!
- Cala a porra da boca. Eu trago dinheiro para essa merda e você fica aí? Se foder. Você e esse aí ó - disse ele, apontando para mim - São tudo inútil. E aceita logo essa merda.
Ele entregou o dinheiro para minha mãe, mas ela apenas jogou nos seus pés, e disse:
- Eu não quero esse dinheiro sujo!
Um tapa foi deferido no rosto dela. E mais um tapa. Ela cambaleou e caiu no chão. Eu estava com medo. Eu era só uma criança quando vi o porra do meu pai bater na minha mãe. Me agachei e tentei ajudá-la, mas eu também apanhei. Não foi um tapa, não foi um empurrão, eu levei um soco e um chute. Eu chorava. Uma dor insuperável. Sangue.
E tudo só piorou. Meu pai batia na minha mãe constantemente, a estuprava, e fazia dela um lixo. E sempre quando eu tentava fazer alguma coisa, eu apanhava. Eu era um medroso.
Foi aí que, um dia, dia 24 de Março, quarta-feira, para ser mais exato, aconteceu.
Meu pai chegou bêbado, minha mãe lia para mim, com seu braço quebrado e a falta de alguns dentes. Ela estava acabada, e tudo culpa do meu pai. Mas, mesmo assim, ela só queria me ver feliz, ela me mandava para a escola escondido, meu pai queria que eu fosse igual a ele. De qualquer forma, eu fiquei.
Minha mãe se assustou, ele odiava livros, odiava tudo que nos fazia feliz, por isso ele tomou o livro de suas mãos e o jogou longe. Ele tinha uma arma na mão, ele xingava minha mãe.
Eu não ia chorar, eu estava cansado, com ódio. Eu precisava defender minha mãe.
Eu corri para a cozinha e peguei uma faca, eu estava disposto a matá-lo, para nos proteger daquele monstro que transformou nossas vidas num inferno.
Corri rapidamente rumo a ele e enfiei a faca em sua perna, ele começou a gritar de dor e me deu um murro, me fazendo bater a cabeça e desmaiar.
Quando eu acordei, ele estava enforcando minha mãe, ele ia matá-la. Peguei a arma que estava no chão e sem medo, atirei em suas costas.
Pow!
Ele soltou minha mãe.
Pow!
Ele caiu no chão.
Pow
Ele morreu.
Aquele tinha sido meu primeiro contato com uma arma. Eu matei meu pai com 12 anos.
- Eu juro que só fiz aquilo para defender minha mãe. - comecei a chorar mais ainda, sentado no chão. O Jason ainda me olhava com uma expressão que eu não conseguia distinguir, depois de ouvir toda à história. - Por favor, não me abandona.
Jason
Eu estava me sentindo um idiota por ter agido daquela forma. Cara, eu não soube como reagir, não é todo dia que eu ouço que alguém matou seu próprio pai. Mas, ele fizera tudo para defender sua mãe, para se defender.
Corri rumo a ele e então o abracei, o abracei como um pedido de desculpas, um pedido de desculpas por ter sido tão idiota.
- Me perdoa... - o Erick disse. Mas não tinha nada a ser perdoado. Foi em legítima defesa, ele ia matar a mãe dele. - Porra, eu nunca faria nada contigo. Eu nunca vou machucar você, mano. Por favor, confia em mim.
- Ei, eu confio! Eu sei que você não faria nada contra nim. Eu só sinto isso. E você não tem que se culpar por algo que você fez apenas para proteger sua mãe e você. Eu te amo, Erick. - dei um beijo nele e o abracei. Ficamos assim durante alguns minutos.
Pensar que o Erick matou alguém com doze anos é assustador, nenhuma criança merece ver sua mãe sofrer agressões, e nem mesmo ser agredida. Ele só queria se defender, senão sua mãe ia morrer. Eu não o culpava, pelo contrário, eu acho que faria o mesmo.
Por isso eu pergunto: E você, faria?
- Então por que você entrou nesse mundo? - já tinha passado alguns minutos, mas ele sabia do que eu falava, eu só queria entender.
- Três anos depois minha mãe se afundou nas drogas, ficou depressiva... Ela não era mesma. Não a minha mãe de antes; sorridente, feliz, que faria tudo por mim. Ele nem sabia que tinha um filho de tanta drogas que consumia.
"Por isso eu entrei nesse mundo. Não foi por prazer, ostentação, foi por necessidade. Eu precisava tirar minha daquela vida. Então eu continuei o trabalho do meu pai, não para fazer o que ele fazia, matar por prazer, roubar por prazer, mas para trazer a minha verdadeira mãe de volta. Ela morreu de overdose 6 anos depois, depois de uma recaída. Eu não consegui mais sair desse mundo, porque, se você entrou, não tem mais saída. Ou você morre fazendo o que faz, ou morre pelo o que faz"
- Você é muito corajoso, Erick. Obrigado por simplesmente confiar em mim. Só me perdoa por ter agido daquela maneira, eu só não estava preparado. - falei, acariciando seu rosto, cheio das marcas das lágrimas. Beijei sua testa e ele a minha. - Eu te amo.
- Eu também te amo. Pra caralho. - ele disse, e então começou a fazer cócegas na minha barriga.
Era alí que ele errava, porque eu não tinha cócegas, não na barriga. Mas ele sim, tinha. Então comecei a fazer nele.
🌠N.A🌠
Olá, minhas berinjelas!
Antes de começar essa conversa, entendam o Erick! E eu não estou romantizado assassinato ou algo assim, longe de mim. Eu só queria mostrar que nem todos têm escolhas de entrar nesse mundo. O Erick não teve.
Mas, voltando, QUE CAPÍTULO MEUS AMADOS!
Espero que tenham gostado e desculpa qualquer coisa. Se eu fiz algo errado, me corrigem!
#DigaNãoÀAgressãoContraMulheres!
Ninguém merece sofrer isso, ninguém. Denunciem. Liguem 180 antes que seja tarde.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top