43. Novos rumos

𓅯 Capítulo 43 | O Canto dos Pássaros 𓅯

A festa fora mais divertida do que Lucas havia imaginado a princípio. Depois daquela situação constrangedora, o rapaz se esforçou para relaxar um pouco. No entanto, uma mistura de sentimentos opostos vinham à tona, debatendo-se entre si — o encantamento, a insegurança, a alegria e o medo. Estava orgulhoso de si mesmo; mas ao mesmo tempo constrangido. Para o seu consolo, Beatriz não havia reagido de forma que o fizesse se sentir oprimido — mesmo escutando a sua voz, a moça não mudou seu comportamento. Era como se nada demais tivesse acontecido. Lucas não sabia explicar o que deu nele — talvez o desejo de falar com ela, acumulado por tantos meses, e a súbita coragem que o envolveu naquele instante.

Aparentemente, fora um pequeno passo — mas em seu interior, fora grande o suficiente para provar para ele mesmo que ele conseguia. Que ele seria capaz, em um futuro próximo, de conversar com a sua primeira namorada. Lucas sabia que se não tivesse tido a coragem de falar com uma desconhecida, em uma padaria desconhecida — ou com um homem que cortara alegremente os seus cabelos — ele nunca conseguiria falar uma palavra com Beatriz.

Ela não falara nada sobre aquilo. Nem na hora, nem depois. Apenas continuou ao seu lado, segurando o seu braço e acariciando vez ou outra suas mãos. Às vezes Lucas queria levá-la para longe de todos, em um lugar que pudessem ficar sozinhos e em silêncio. Heitor os via juntos o tempo todo, mas não parecia incomodado com a clara proximidade deles. Talvez ele já soubesse de tudo — ou talvez não se importasse mesmo.

Mais tarde, antes de começarem a quadrilha, Miriam e Ben chegaram com suas vestimentas de caipira. Atrás deles, Pedro segurava a mão de Melissa — que não perdia uma festa junina e estava com um terrível desejo de comer cachorro-quente com bastante batata palha crocante. Sua barriga havia crescido consideravelmente, e parecia mais deslumbrante. Luan apareceu minutos depois, empanturrando-se de comida e desaparecendo pela escuridão — com certeza mais disposto em ir a uma festa mais interessante.

A dança em conjunto, sem ensaios prévios e sem casais o suficiente, fora uma confusão divertida. Até mesmo Ben e Miriam participaram, dançando juntos ao som da música que tocava. Laura levou Miguel para ser o seu par, e Raoni e Bianca foram os noivos. Lucas sentiu-se envergonhado no começo, mas todos estavam tão soltos — e sem saber muito o que fazer durante a dança — que o rapaz se habituou rapidamente. Beatriz o encorajava, afastando-se dele apenas quando a dança exigia que se separassem. Heitor registrava tudo, atento a cada ângulo favorável e a cada sorriso espontâneo. No final da dança, o fotógrafo se aproximou para tirar uma foto dos dois, e Beatriz passou o braço ao redor da cintura de Lucas, abraçando-o.

— Ficou ótimo. Te mando depois — Heitor conferiu as fotos, depois olhou para um casal de idosos sentados em uma mesa sob a árvore. — Olá! Posso tirar uma foto de vocês também?

Beatriz olhou para Lucas, os olhos reluzentes sob o varal de luzes acima deles.

— Você está bem? — perguntou, ainda apoiada nele. — Lembro que me disse que não gostava muito de tirar fotos.

Lucas sorriu para ela, querendo dizer: Eu acabei de dançar na frente de todos por sua causa, por que eu não tiraria uma foto com você? Mas não conseguiu dizer nada. Apenas maneou a cabeça em sinal positivo, demonstrando que estava muito, muito bem. Nunca havia me sentido tão bem; apesar da montanha russa de emoções. Contudo, naquele momento, o entusiasmo estava vencendo a timidez, e o afeto por ela e por todos vencia a sua ansiedade. Todos aqueles sentimentos, apesar de estarem ali, tornavam-se cada vez menores a cada segundo. Não havia muitas pessoas na festa; mas o bastante para que o antigo Lucas quisesse sair correndo. Mas ele não sentiu nada disso. A única coisa que lhe deixou com falta de ar fora a quantidade de comidas deliciosas que comera — e, é claro, a presença de Beatriz o tempo todo ao seu lado.

Ele voltou para casa meia-hora antes da festa terminar. Estava com sono e cansado, mas sentindo-se muito bem. Beatriz o acompanhou até a varanda, despedindo-se dele com um beijo na bochecha. Desejou que ela não fosse embora, por mais que tivessem ficado juntos por tantas horas.

Boa noite — Beatriz sussurrou, descendo os degraus. — Até amanhã.

Lucas sorriu, acenando para ela. Ficou observando-a se afastar, desaparecendo na escuridão em direção à casa vizinha. O rapaz suspirou, entrando em casa. Olhou para Mozart, que dormia de barriga para cima no canto da sala. Depois, observou as estantes e parou o olhar sobre o piano. Algo o fez querer sentar-se ali, passando os dedos suavemente nas teclas do instrumento. Arriscou algumas notas, um dó-ré-mi-fá que Ben um dia lhe ensinara. O padrasto sempre quis que um de seus filhos aprendessem a tocar um pouco; e Pedro até chegou a praticar, mas não levou adiante. Luan nunca tivera paciência, e Lucas nunca se achou capaz o bastante para aprender algo supostamente tão complexo. Ele achava que não era capaz de tantas coisas...

Concentrado em lembrar de alguma música infantil que Ben tentou ensiná-lo, tocando aleatoriamente algumas notas, Lucas não ouviu os passos do lado de fora da casa. A porta se abriu, e ele parou abruptamente de tocar (seja o que for que ele estava tentando).

— Tentando tirar algumas notas? — o padrasto perguntou, acendendo as luzes. Lucas piscou, franzindo o cenho. — Sua mãe quis ficar até às dez. Estava conversando com um dos vizinhos novos, se eu não me engano da casa treze. Um casal de arquitetos, então já viu. Nem me arrisquei a entender a conversa.

— Ah. Pedro e Melissa já foram? — Lucas perguntou, envergonhado, não sabendo se saía de frente do piano ou não.

— Já. Melissa cansou-se rápido, mas acho que foi pela quantidade de comida — Ben falou. — Minha neta vai nascer saudável, e é isso que importa.

— Saudável de cachorros-quentes...

— E abacaxis, que ajudam o sistema imunológico e elimina as toxinas do corpo. Equilíbrio é tudo, meu filho — ele observou. — Então, não estou com ciúmes, mas o que faz em meu velho e amado piano? Foi finalmente seduzido pela deleitosa melodia?

Lucas riu, balançando a cabeça.

— Para ser sincero, não sei. Acho que eu deveria tentar aprender um dia... — ele fechou a tampa que protegia o teclado.

— Um dia? Ora, isso é um argumento procrastinador. Não perca a oportunidade de começar logo, de preferência amanhã — ele foi até o rapaz, apertando de leve seus ombros. — Que tal? É de graça!

— Certo — Lucas assentiu. — A ótima oratória vem de brinde?

— Dedos cansados e as costas levemente doloridas vêm de brinde! — Ben brincou. — Mas valerá a pena. Pode tocar para a sua nova namorada.

Lucas sentiu o seu rosto corar.

— Hã...

— Desculpe-me! Ainda não houve o pedido oficial, eu sei. Mas não importa, vocês formam um belo casal — Ben se afastou, subindo as escadas. — Não há por que se envergonhar, filho. O amor é belo. Que tal... — ele parou no terceiro degrau, apoiado no corrimão. — Mariage d'amour? Hum? Eu acho perfeito para começar. Boa noite, Lucas. Amanhã será um dia esplêndido! Não se esqueça da terapia, hein?

Lucas bateu a própria mão na testa, escutando o padrasto subir as escadas. Mozart agitava as patinhas, provavelmente sonhando que corria atrás de algum gato intruso. O rapaz esticou o corpo, esfregando os olhos. O dia seguinte, além de esplêndido, seria cheio. Combinara com Luan de ir à academia do condomínio bem cedo, e depois teria a primeira consulta depois da viagem com Edith. Ele tinha muito o que contar — e muitas decisões importantes a tomar. As coisas estavam tomando novos rumos, e ele precisava colocar suas ideias em ordem. 

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