Um Homem Que Amava O Mar - Oxum

Sem entender o porquê de uma irmã estar a atacando, Oxum continuou a lutar, tentando se tornar uma sereia, o que não estava acontecendo, por algum motivo que a sereia não tinha ideia.

— O que raios é aquilo? — o humano pequeno grita ao subir a superfície, sendo empurrado por ela com toda sua força.

Sequer respeitavam as regras sobre não ferirem humanos pequenos. Onde estava os bons modos das suas irmãs? O temor à Mãe do Mar?

Vendo a sombra da sua irmã dar a volta, indo na direção que ela e o humano tentavam subir a bordo do navio, Oxum observa o irmão de Nala aparecer antes de jogar algo que o menino segurou.

— Irmãozinho! Rápido! Ele está vindo! — o humano gritou segurando o item, sendo empurrado para cima pela Sereia, que pegando algo na cintura do menino, acertou com o pé a irmã que a perseguia.

Vendo que ele estava em segurança, foi puxada para baixo da água, onde frente a sua irmã tentou usar a comunicação delas.

"Junte-se a mim, me ajude a tirar Ekua do trono e terei misericórdia por sua transgressão." — deu uma chance a mulher que a segurou pelo pescoço apertando com toda sua força.

"Já passa da hora de deixarmos de ser lacaias de Iemanjá, irmã Oxum... Estamos cansadas de servir a Rainha do mar! Agora é a nossa vez de tomarmos o trono! Todo o mar que ela tem como seu, será nosso! E não precisaremos mais levarmos os mortos para ela! Tudo será nosso! E os mortos, que vaguem amedrontando os da terra..!" — a voz grita na cabeça dela que vê algo se aproximar das duas.

O humano maior não seria tão louco a ponto de ir atrás dela, seria?

Parecendo notar a presença do humano, a Sereia o acertou com sua cauda, fazendo Oxum também acertá-la com sua mão fechada no rosto, forçando sua irmã a libertar do aperto em seu pescoço.

"Sendo assim, não terei muita escolha senão puni-la. E eu sinto muito por isso.." — Ela fala com a adversária antes de usar o que pegou do humano pequeno para perfurar a cintura de sua irmã.

Mordendo um pedaço do corpo da sereia, continuou a arrancar pedaços e engolir eles até que não somente pudesse respirar embaixo da água, como também sua regeneração pudesse a dar aquilo que havia sido tirado por sua irmã, sua língua.

Como agora já tinha uma cauda, nadou até o fundo, onde o homem da terra dava seu último suspiro, escutando a voz que bem conhecia a dizer:

Salve-o.

Como filha obediente, ciente que havia um propósito para tal gesto, usou a técnica que nenhuma Sereia era permitida de fazer, dando um sopro de vida ao homem que continuou desacordado. Mesmo tendo Oxum selado seus lábios nos dele por alguns segundos.

Ao emergir a superfície não vendo nenhum barco, a Sereia arrastou ele, juntamente do corpo de sua irmã a fim de terminar de devorá-la e absorver o resto de magia que ela ainda possuía.

Uma vez que o humano não acordaria tão cedo e não veria ela cumprindo os seus costumes.

Achando restos de um barco, que não era o que estava, a mulher o pôs sobre uma superfície acima da água enquanto se alimentava e recuperava toda energia que perdeu.

Tao logo que não havia mais energia ou magia, os restos da Sereia se desfizeram, virando espuma, deixando bem claro que agora ela resolveria-se com a Rainha e sua senhora, não com ela ou qualquer ser vivo.

Que Ekua as mandasse.

Uma de cada vez ia derrotar e usar as traidoras para tornar-se mais forte, pois quando a hora chegasse, lutaria contra a sua irmã não só com sua força, como também com a força das outras que derrubaria uma a uma no caminho até onde renovaria seus votos.

Retomaria seu posto não pelo diálogo, sim pela força e pela violência, a única linguagem que as traidoras conheciam como ninguém.

Certa que não poderia continuar com cauda, uma vez que sua magia esgotava-se depressa, pois seu trato com sua senhora está próximo do final, Oxum subiu em um pedaço do navio, segurando firme onde o homem desacordado ficava deitado sobre.

O sol havia nascido, até mesmo se secado a sereia tinha, agora estando com pernas como os outros, quando ouviu a voz do humano pequeno a chamar:

— Senhorita!? Vê só? Eu disse que eles estavam vivos! Irmão! — gritando a faz virar o rosto na direção deles.

Como se tivesse finalmente tomado coragem, o Capitão Sango acordou assustado, se mexendo muito o que o fez cair na água.

Incomodada com as vozes, a sereia apenas levou uma das mãos ao outro lado do rosto, o cobrindo com o antebraço e parte do braço, ignorando os chamados de uma voz feminina.

— Essa mulher é surda!? Por que raios ela não me atende a chamando? — ralhou inconformada fazendo o capitão ir até Oxum.

Fazendo menção de encostar nela, a assustou, quase derrubando a sereia que acabou sendo segurada pelo humano menor, que também havia entrado na água para ajudá-los.

— Como não os encontramos antes? — Nala reclama para ninguém em especial observando seu irmão subir.

— Acha que consegue a levantar? — a voz feminina perguntando curiosa faz o humano sorrir.

— Não pode se molhar, né? Vou segurar esse pedaço de madeira e você pode ficar de pé sobre ela... Que tal? — sugeriu séria se debruçando ao lado de Oxum.

Aproveitando a estabilidade, ela de fato se colocou de pé, segurando o que jogaram para sereia, escalando uma parte do caminho até ser segurada pela dona da voz que reclamava todo o tempo.

— Você está bem? — pergunta a ela que a ignora por completo.

Não gostava de pessoas da terra, tampouco gostava de responder a perguntas.

Mesmo que agora tivesse sua voz, a sereia não pretendia gastá-la com humanos.

Eles no geral não valiam o esforço.

Na verdade, se tinha uma coisa que lembrava de sua vida anterior, era que humanos, homens principalmente, não valiam muito mais que a refeição que eles costumavam a ser para Oxum e suas irmãs.

Isso pois peixes pequenos tinham gosto semelhante e  mesmo os maiores, enjoavam conforme o tempo, tendo tudo o mesmo gosto.

Humanos eram uma carne boa para variar.

Até porque levavam seus espíritos a sua Mãe, pois para cada morto no mar uma de suas irmãs os encaminhavam e para o corpo não sobrava muita utilidade apenas ser refeição delas.

— Ela não escuta? — repetindo irritada a mulher a segura pelo braço, fazendo a sereia voltar-se para ela.

Sorte a dela que estava satisfeita da última refeição que teve, caso contrário a comeria também.

E não faria questão de matá-la para começar a lhe arrancar pedaços com os dentes.

— Ela não entende muita coisa... — Nala tentou a defender.

— O sol que a forçaram a pegar fez mal a cabeça da pobre. — explica o capitão Sango fazendo sinais com as mãos.

O puxando para perto a mulher o deu um beijo nos lábios que pareceu afetar o homem alguns segundos.

E segundos depois voltou a ficar furiosa com a sereia que a cada segundo piorava mais e mais suas dores de cabeça.

— Pois que aprenda! Como pretende chegar a algum lugar tendo ela como guia? — a humana reclamando a leva a rosnar para ela, que não se afasta ao a mulher tentar se aproximar.

Mais uma palavra e iria jogá-la na água, depois desfazê-la em pedaços.

— Ela até mesmo rosna como um animal! Onde está o seu bom senso, Sango!? O que acha que essa mulher pode fazer por ti, meu caro?

A empurrando, Oxum fez a mulher cair no chão, sendo segurada por dois homens que a arrastaram até o quarto e jogaram lá por algum tempo.

— Você não está sendo razoável, senhorita. — a voz do capitão a advertiu logo que entrou no lugar, com seu irmão ao seu lado.

Ignorando ao humano maior, Nala foi até ela e se colocou a vistoriar a sereia, desfazendo sua expressão fechada logo que a viu.

— Sorte a sua que não foi pega pela Sereia, moça. — o humano menor explica mostrando a marca do arranhão em seu braço.

Com pena dele, a mulher se colocou a revirar as coisas procurando alguma alga que pudesse aliviar a dor, mas não encontrou nada.

— Sabe de algo que diminui a ardência? — Nala perguntando curioso recebe um sinal positivo.

— O que seria? Rum? Sal? Água do mar? — o homem tentou adivinhar sem sucesso.

— Algas?

Apontando para o Nala, Oxum concorda com a cabeça e faz menção de sair, sendo impedida pelo homem maior que entrou na frente dela.

Sentindo que ele não pretendia a deixar ir, fez a única coisa que sabia que o deixaria sem reação, encostando seus lábios nos dele, o empurrando para o lado antes de sair apressada do quarto.

Embora tivesse corrido, ela não conseguiu ser mais rápida que o homem, que a impediu de entrar na água, segurando pela cintura e arrastando de volta para o quarto.

— De forma alguma, senhorita. Você é meu mapa do tesouro. — a repreendendo, o homem coloca sobre um de seus ombros e só solta sobre o lugar macio.

— Ela só queria me ajudar! — o humano menor reclamou com o mais velho que o puxa a orelha e deixa lá dentro também, trancando o lugar em seguida.

— Tem água do mar? — Oxum pergunta desistindo de ficar em silêncio.

Ao menos com aquele humano pequenino valia a pena falar.

— Posso arrumar... — ele diz sorrindo com gentileza, embora tivesse se assustado a princípio.

Chamando alguém, Nala pediu com muita veemência antes de em alguns minutos algo ser passado pela porta antes de ser trancada novamente.

Tomando cuidado para não se molhar, Oxum mexeu em suas roupas e encontra em um buraco na roupa uma alga que haveria de servir.

— Segredo. — pedindo ao humano recebe um gesto que não tinha visto antes.

— Vou guardar...

Cantarolando sem usar de fato sua voz, a sereia se pôs a usar sua magia na água e coloca a alga para cobrir o ferimento do humano, que pareceu estar bem melhor.

—Então... Você fala. — Nala observou olhando para onde tinha sido ferido.

— Agora sim. — devolve depressa olhando para os lados.

Rindo baixo, o humano arrumando o cabelo da sereia, dá nós e o deixa mais preso a cabeça dela, até que finalmente a porta é aberta e o capitão Sango entra no  lugar animado:

— Nala, lembra-se do dia que a prometi mostrar o céu colorido? — questionando ao pequeno recebe um aceno rápido.

— Sério? Vem, senhorita! ! Vamos lá! — Nala a guiou para fora indo até onde todos os homens se reuniam parando para ver algo no horizonte.

Bem a frente, havia uma faixa colorida nos céus, que a deixou surpresa e de imediato pensativa sobre o que seria.

— O senhor sabe dizer o que é, capitão? — um dos homens pede a Sango que se senta na beira do navio, segurando-se à uma corda para não cair.

— De maneira dos outros não, mas meu povo tem uma história muito interessante sobre a origem desse acontecimento...

— Deve ser deveras interessante, mas finalmente chegamos a ilha. Deixemos para depois... — Anna, que foi o nome dito pelos homens que a chamavam avisou a todos que se prepararam par a voltar a terra firme.

— Qual a história.? — Oxum pergunta ao humano menor que corre atrás de seu irmão.

— Tem cinco minutos pra contar a história pra ela? — pedindo ao mais velho recebe um olhar pensativo.

— Ela quer saber ou você quer ouvir novamente, Nala?

Batendo palmas, a Sereia atrai a atenção do homem, que a encara antes dela apontar para si e para Nala.

As duas queriam ouvir. Ele tinha que falar. E a humana de pele transparente que fosse sozinha sabe-se lá onde.

— Muito bem. Sente-se. — pediu as duas que se sentam no chão, o fazendo sorrir.

Ignorando os chamados dos outros, ele as imita, também se sentando enquanto dizia:

— Dizem que essa faixa colorida no céu é sinal que Oxumarê acaba de descer da sua morada nos céus para terra...

— Oxumarê é filho de quem mesmo? E ele é Deus da chuva, certo? — Nala questionando agitado recebe um olhar confuso da Sereia.

— Ele é filho de Nanã e Oxalá. Controla a chuva, a fertilidade do solo e a prosperidade propiciada pelas colheitas. É masculino e feminino ao mesmo tempo. Um Deus muito interessante de vida difícil...

— Vida difícil assim como nós? — Nala o perguntou com um enorme sorriso.

Parecendo pensar um pouco o homem concordou por fim e se colocou de pé.

— Exatamente como nós, minha irmã. Se quiserem ficar, limpem todo o convés e os quarto principais. Depois façam o que quiserem, mas não atraiam atenção...

— Ok! Preciso arrumar os canhões para futuras emergências também? — Nala também se levanta estendendo as mãos para a sereia.

— Sim. Seria ótimo... Voltarei antes que Oxumarê o faça e a listra colorida nos céus desapareça! Até mais tarde! — o Capitão Sango disse dando um beijo no rosto do humano menor.

Tão logo que o homem saiu, o humano que ficou com ela se pôs a descer para parte debaixo do navio dizendo:

— Agora que você fala, preciso que me diga tudo sobre sereias... Queria saber se posso me tornar uma também.

Incrédula sobre o que havia acabado de escutar, a mulher negou com a cabeça pensando sobre o quão enganado o humano estava em querer se tornar algo como ela.

Sereias não eram tão maravilhosas como todos os humanos da terra diziam. Nem de perto, tampouco de longe.

Notas Finais:
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