A Deusa Em Forma De Mulher - Sango Obi

“Grande garota, pequena garota, você é uma onda
Criando seu caminho através deste enorme fluxo
Eu sei que você está louca, você está em um campo de guerra
Você sabe que você não quer enterrar mais”
Big Girl, Little Girl. — Sia

Um dia foi tudo que a mulher precisou para sentir-se mais forte.

Tendo seu corpo mais fortalecido, agora estando de banho tomado e sem toda a sujeira que a cobria, tornou-se muito mais fácil avaliar o quão bonita a mulher sem nome era.

Não, bonita era um eufemismo da parte de Sango. De certo não fazia jus ao que o capitão via, agora que a mesma estava devidamente vestida e alinhada.

— Não, você não pode deixar seus cabelos soltos, moça! — Nala a repreende séria, fazendo a mulher a olhá-la com uma expressão séria.

Seus lábios, embora crispados eram bem desenhados e possuíam vultuosidade, de forma que se destacavam, só não tanto quanto os olhos, que eram bonitos, harmoniosos com todo o resto do rosto que a mulher possuía, olhos que, por serem na cor branca, só não brilhavam mais que as estrelas do céu do Caribe à noite.

— Feche estes botões! Não pode andar com a blusa solta e aberta desta forma... Vão ver suas bandagens se o fizer! — a menina pedindo madona recebe um olhar triste da mulher.

Algo nela era diferente, não no sentido de ruim, mas um detalhe que de certa forma inebriava seus sentidos e, por vezes, Sango se flagrava pensando em como seria tocá-la.

O que não o faria, pois mesmo sendo um pirata possuía príncipios e, especialmente por ter Nala como sua irmãzinha. Ciente da dificuldade que era mantê-la a salvo de homens vis e maus caráter que poderiam fazer algum mal à sua pequena, preferia não ser um homem daqueles com uma mulher.

Sendo assim, ele reservava-se o direito de manter-se a uma distância saudável daquela desconhecida, que o instigava e confundia seus sentidos, quase enlouquecendo o capitão do navio Olokun por conta do desejo que sentia.

— Está apenas se deixando levar pelas histórias, Capitão. Contenha-se — diz o homem a si, ainda observando as duas mulheres do navio.

Não era normal que uma mulher o fizesse experimentar de tal sensação, contudo lá estava Sango Obi a observar, quase como um criminoso pela fresta da porta, Nala tentando colocar a desconhecida de pé mais uma vez.

Já começava a se preocupar com a ideia de que houvessem feito algo que paralizasse as pernas, quando após muitas quedas, a nova aquisição do navio conseguiu andar. Passos frágeis, mas ainda sim, era notável o esforço.

— Muito bem! Você conseguiu... Quer mais água? — Nala a pergunta animada.

Feliz por ter uma sereia a bordo, a menina tentava de toda forma aproximar-se da possível entidade, que não parecia chateada ou algo do gênero.

Na verdade parecia um tanto quanto curiosa, tentando entender o porquê de Nala ser tão gentil com ela.

— De certo que estamos a ver e manter em nosso navio uma deusa. — Sango comentando indiscreto é surpreendido por alguém que chega pela suas costas.

— Seria ela aquela deusa do mar que havia me dito certa vez? — Henry pensou alto, assustando o velho amigo.

Iemanjá não era o tipo de divindade que a estranha era.

Isso pois, a deusa, também conhecida por Rainha dos Mares, era quem decidia o destino de todos aqueles que entram no mar. E aquela mulher não parecia nem mesmo saber de si mesma.

Uma vez que, desde o começo da estadia da vítima das sereias em seu navio, não viu nada de diferente. Muito pelo contrário.

Como seu navio chamava-se Olokun, que era o nome de uma divindade, ou melhor dizendo, um Deus do oceano oculto, o mar onde homem, tampouco a luz alcançava, significava no seu dialeto de origem “sabedoria imensurável”, tudo ia prosseguindo de maneira harmônica e até mesmo sobrenatural, tal como as melodias que ele gostava de ouvir.

O que o recordava que a estranha merecia um nome. Não um nome comum, sim um que fizesse jus a imponência que aquela mulher possuía.

A desconhecida emanava uma áurea misteriosa, possuía uma beleza exótica e uma femininidade bem peculiar, além de ser um atrativo para animais marinhos.

Pois desde que ela chegou, peixes e mais peixes eram pegos pela tripulação com facilidade, quase como num agradecimento de Iemanjá pela ajudada que estava sendo prestada a tal divindade.

Entretanto tirando a presença dela, não havia nada de diferente na rotina do navio Olokun.

Na verdade tudo prosseguia bem monótono.

— Capitão Sango! Os espanhóis estão vindo em nossa direção...! — um dos tripulantes avisa fazendo o homem respirar fundo.

Malditos espanhóis. Não havia nada mais a fazer, além de incomodar à ele?

— Muito bem homens, todos aos seus postos! Nala! Vá ajudar com os canhões! — ordenando a sua irmã, se surpreende em ela ficar parada na porta do quarto do imediato.

Claro. Havia se esquecido da mulher.

Antes que pudesse dizer para que ela se juntasse a mulher dentro do quarto, viu a mulher sair com um chapéu na cabeça, logo sendo arrastada para parte de baixo do navio por Nala.

— Isso não vai acabar bem, irmãozinho! — repreende em vão a menina que como sua mãe, fez o que bem entendia.

Nala era pior que uma praga por vezes.

Embora tivessem partido direto para uma ofensiva, seu navio, ainda que sendo avariado por alguns tiros de canhão, a luta logo passou a ser corporal o que de imediato preocupou o homem.

Nala e seu mapa para o tesouro das Sereias estava bem abaixo do convés e algo o dizia que não terminaria bem.

Forçando sua espada contra um dos oficiais, aproveitou que o homem perdeu para o capitão na disputa por força e o chutou, atirando na cabeça do homem com sua arma, que guardava em sua cintura para ocasiões específicas.

— Eu quero todos esses espanhóis fora do meu navio! — Sango grita recebendo "sim, capitão"dos demais.

Lutando contra outros oficiais, o pirata foi pego de surpresa por um grito a suas costas, de um inimigo que se esgueirava sem chamar a atenção dele.

— Mais o quê...? — falando ao se virar se surpreende pela mulher sem nome, que com suas unhas grandes, deixou a cara do homem marcada.

Em pé sorridente, Nala parecia feliz dizendo algo que não era comum a meninas com doze anos de idade:

— Mata ele! Mata!

A criança não possuía refinamento algum, contudo a amava justamente por ser assim, de maneira que, mesmo tendo acabado de matar um homem, não pensou muito antes de rir da cena que via.

Ainda sim, não podia arriscar sua irmã mais nova, bem mais precioso que possuía. Tampouco o mapa em forma de mulher - ou seria deusa?- para o tesouro que tanto almejava.

— Vocês dois! Já para o quarto! — ordenou Sango recebendo olhares displicentes das duas.

Mulheres eram piores que seus tripulantes.

Distraído por um segundo, desviou de um ataque de um inimigo e ao se voltar para as duas, viu apenas sua irmã sendo imobilizada por um dos homens, embora ela tentasse à todo custo não era solta pelo homem.

— Solte o garoto imediatamente! — Sango exigiu antes de matar seu oponente, focando sua atenção no homem que segurava sua irmã.

Se algo acontecesse a Nala... Não tinha ideia do que faria.

— Me solte agora, seu porco espanhol! — a menina grita tentando ao máximo lutar para se libertar.

Se aproximando por detrás, a mulher apenas jogou o homem para fora do navio, o deixando em choque.

De onde havia saído toda a força que ela tinha?

— Ele não sabe nadar, seu desgraçado! — xinga a mulher que também pulou para fora do navio, o deixando para trás.

Como a luta continuava dentro do navio, o capitão Sango Obi precisou lutar contra mais alguns espanhóis até que finalmente um navio muito conhecido por ele afundou o navio dos espanhóis, ajudando a subjulgá-los, jogando seus corpos para fora de seu amado Olokun.

— Olá, Capitão... Como vai a vida lhe indo? — Anny Bonny, a irlandesa de sangue mais quente que ele conhecia, saudou sorrindo como se estivesse num passeio no campo.

Não obstante que tivessem tido um relacionamento, ainda que curto deveras intenso, Sango Obi e a sanguinária Capitã do navio Airlann, mantinham a mesma cordialidade de antes de compartilharem a cama, ainda que tivessem terminado de maneira um tanto quanto complicada.

— Você viu Nala? — perguntando apressado se põe a andar pelo navio em busca de marcas de pegadas molhadas no chão do convés.

— Onde ela estava da última vez que a viu? —  Anny questionou séria o fazendo correr até onde sua irmã havia caído junto do homem e a mulher estranha que pôs em seu navio.

No lugar da água cristalina só se via sangue e restos de um corpo humano o que o deixou desesperado.

Haveria a possibilidade de algum monstro marinho tê-las devorado?

Como todos procuravam a pequena, vendo o desespero do irmão dela, não demorou muito um deles grita dizendo:

— Achei o garoto! Ajudem ele a subir!

Correndo para onde havia sido vista, na parte de trás do navio, Sango pegou a primeira corda que viu, a jogando para a menina que era segurada pela mulher sem nome.

— Irmãozinho! Rápido! Ele está voltando! — Nala avisando desesperada, grita antes de quase afundar, sendo empurrada pela estranha, que para surpresa dele estava sendo puxada para debaixo do navio.

Logo que sobe sua irmã, recebe um olhar assustado da mulher que, ao invés de segurar a corda apenas se deixou arrastar para o fundo do mar, debaixo do navio.

O que estava acontecendo ali?

— Nala? O que era? O que puxava vocês? — perguntou a menina, que mesmo assustada o olhou séria.

— Um monstro, meu irmão... Um monstro horrível. — repete assustada de enrolando mais no seu lençol.

Não seria um monstro a tirar dele a chance de dar um futuro melhor a Nala.

Iria trazer a mulher mesmo que fosse na base da força.

Tirando o excesso de roupas, ficou apenas com a seu punhal e correu para fora do navio, pulando sem pensar duas vezes no mar.

Já orando a Iemanjá que o ajudasse a trazê-la de volta em segurança.

Glossário de informações:
Anne Bonny (Irlandesa, 1700-1782)
Quando viajou para o Novo Mundo com a sua família, Anne se apaixonou e se casou com um marinheiro pobre chamado James Bonny. No entanto, ela foi ficando decepcionada com a falta de coragem do marido e começou a procurar a companhia de homens valentes em Nassau.

Entre esses homens, estava "Calico Jack" Rackham, o capitão de um navio pirata. Ela se juntou a sua tripulação enquanto agia e se vestia como um homem. Assim, ela lutou sob seu comando, e junto com a sua amiga pirata Mary Read, ela persuadiu a tripulação para travar batalhas ainda mais sangrentas e se tornou uma verdadeira pirata.

No entanto, ela foi capturada com tripulação de Rackham e condenada à morte. Tanto Anne quanto Mary Read alegou gravidez na prisão enquanto aguardavam a sentença, e as suas penas de morte não foram executadas. Ninguém sabe ao certo como a famosa pirata morreu, embora haja especulações de que ela tenha voltado para casa com o marido ou com o pai.

Notas Finais:
Sim crianças! A Anny Bonny é real. Decidi usar uma pirata desconhecida a fim de acrescentar mais na história. Espero que tenham gostado! Nos vemos na próxima atualização...!
Deixe seu comentário! Não se esqueça que ele vale trechos do novo capítulo! Beijos!

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