Capítulo 6 - parte 6 (não revisado)

Ana está sentada no Cantinho. Com ela estão Mauro, a namorada e o irmão da Rita.

– Onde será que anda o Carlinhos? – Pergunta Mauro.

– Provavelmente com a irmã da Sheila. – Responde Ana. – Talvez estejam correndo, embora já seja um pouco tarde para isso.

– Eu não queria estar na pele dela. – Afirma Denílson. – Primeiro demora a se tocar que é apaixonada por ele. Quando descobre, perde a chance!

– Isso é muito mais antigo que pensam. – Diz Mauro. – Já que agora todo mundo sabe que ela o ama não vejo motivo para não contar...

– Não sei se devia. – Interrompe Ana. – Isso é uma intimidade deles.

– Tem razão, Aninha, melhor deixar assim.

– Pô, mano, primeiro atiça a curiosidade e depois larga essa!

– Sinto muito, negão, mas Ana tem razão.

Ana vai beber um pouco de cerveja. Olha para a rua e engasga-se, cuspindo tudo e tossindo muito, com o rosto vermelho e olhos arregalados. Os amigos acodem-na, batendo nas suas costas e rindo muito da sua cara, não vendo o par chegar.

– Você está bem, Ana? – Eles viram-se para o lado, deparando-se com Carlos e Sheila parados e de mãos dadas. Boquiabertos ficam olhando para o par. Carlos faz a moça sentar. – Eu vou buscar uma água para você, Sheilinha.

– Não tô entendendo mais nada, negão!

– Ninguém está, Mauro. Mas tenho a nítida impressão que vou ganhar aquela aposta.

Quando o jovem volta para a mesa, chamo por ele, ao passar perto de mim. Este pergunta:

– Oi, Miguel, deseja algo?

– Sim, quero entregar-te isto. – Retiro um livro da mochila. – O primeiro exemplar é sempre do autor.

– Obrigado, Miguel. – Carlos olha para a sua obra. – Sabe, nem acredito que seja real. Aquele pessoal sabe mesmo fazer uma linda capa!

– Mas é real. Sabem mesmo. As minhas capas são lindas, assim como essa.

– Tem uma caneta aí?

– Claro. Deixa-me adivinhar, vais dá-lo para ela.

– Sim, vou. – Pega a esferográfica. – Obrigado.

– Agora, Carlos, estás com a garota certa.

– Ainda não estou. Nós decidimos recomeçar do zero, reconquistar o que foi destruído.

– Acho muito sensato, mas não percam tempo demais que a vida é excessivamente curta para isso.

Escreve a dedicatória e leva o livro para a mesa dele. Senta-se e entrega a água da Sheila, enquanto bebe a sua.

– Que livro é que ele lhe deu? – Pergunta Ana.

– O primeiro exemplar do meu livro.

– Posso ver? – Pergunta Sheila. – Parabéns, Carlinhos.

– Tome, é seu.

– Obrigada. – Levanta-se de um salto e abraça Carlos pelo pescoço para beijá-lo em seguida. Este afasta-a após alguns segundos, mas sorri.

– Caraca – Mauro dá uma risada debochada, decidido a provocar a garota – pra quem dizia que preferia morrer a beijar Carlos, nem que ele fosse o último hom...

– Não zoa, Mauro! – Diz a moça com um tom de ameaça.

– O reveillon é em três semanas. Alguém vai viajar? Podíamos passar todos juntos.

– Boa ideia, Aninha – concorda Carlos – podíamos fazer uma festa aqui mesmo.

– Aprovado...

Quando ficam apenas os dois, Carlos pergunta:

– Como se sente, Sheilinha?

– Apaixonada.

– Tá, mas e o resto?

– Acho que este, apesar de ser um dia simples e como outro qualquer, tem sido o melhor que tive, Juan.

– É, parece com os dias das nossas conversas na internet, Florzinha. – Sheila olha para o seu garoto, deitando-lhe um olhar todo especial, que ele derrete. Gentil, beija a garota nos lábios mas não passa disso. – Amanhã você não poderá correr comigo, ok?

– Por quê? Agora que tomei o gostinho! – Faz cara de triste e ele ri.

– Vai haver uma maratona mês que vem e pretendo competir. Você não vai aguentar quarenta e dois quilômetros no meu ritmo.

– E se eu for de bicicleta?

– Nesse caso, acho que aguenta. Não tinha pensado nisso. Passe na minha casa às sete horas. Temos de sair cedo para não pegar calor muito forte.

Os dois passam o dia inteiro juntos, passeando de mãos dadas, até que Carlos a deixa em casa e despede-se com um beijo nos lábios. Feliz, a garota entra no quarto agarrada ao livro, sorrindo muito.

Beatriz chega pouco depois, encontrando a irmã a ler.

– Onde andava? – Sheila pousa o volume no colo.

– Ora, fui dar um jeitinho de manter o Carlinhos mais desvirtuado. Nossa, o que ele sabe de filosofia não tá no gibi. E você?

– Passei o dia com o outro Carlinhos.– Feliz, ela fecha os olhos e sorri. – O melhor dia que tive em muito tempo.

– O que está lendo? – Pergunta, pegando a obra. – Miguel escreveu um novo livro?

– Não é do Miguel, mana.

– Carlos Magalhães? – Lê o título, curiosa. – Nunca ouvi falar nesse. E com uma resenha do Miguel Almeida! Que legal! O cara deve ser muito bom. Me empresta depois que terminar? Ei, tem uma dedicatória dele para você!

– Você é mesmo desligada, mana. Ele é Carlinhos, o meu Juan.

– Caraca! Ele escreveu isso?

– E me deu o primeiro volume, Bia. Eu o amo tanto que dói!

– Finalmente paz nesse coração, mana? – Bia dá uma risada alegre e debochada. – E bastava ter chegado nele e sido sincera, como eu queria que fizesse.

– Tem razão, mana. Pelo menos as coisas acertaram-se.

Marota a Bia diz.

– É verdade. E, pelo menos, eu tive a oportunidade de tirar uma boa casquinha. – Ela cai na risada perante a careta da irmã.

― ☼ ―

Sheila bate na casa do Carlos, muito triste.

– Oi, amor. Não vou poder ir com você.

– O que foi, Florzinha?

– A bicicleta está com o pneu furado e é cedo demais para consertar.

– Ora, isso não é problema. – Pega na sua mão e leva para a garagem. Ao abrir, Sheila vê oito bicicletas.

– Caraca, pra quê tanta bike?

– São de competição, para triatlo. – Escolhe uma com marchas e mostra para a moça. – Que tal esta? É muito leve e as marchas ajudam a não se cansar.

– Tá ótimo, meu Juan. – Sheila sorri, experimentando a altura do banco. – Felizmente, você não é muito mais alto que eu.

– Esta bicicleta é fácil de regular, anjo.

Uma vez prontos, Carlos corre com Sheila toda feliz pedalando ao seu lado. Ela fica espantada com a sua resistência, vendo que corre com quase o dobro da velocidade que usou com ela. Quando retornam, param na casa dele.

– Você é incansável, Juan! – Ela gosta de o chamar assim e ele adora. – Eu já estaria caindo dura e mortinha.

Carlos sorri.

– Preciso de beber água e de um bom banho. Você me espera, Florzinha? Depois podemos ir para o Cantinho.

– Também não me importava de tomar um banho. – Aproxima-se dele e abraça-o. – Que tal tomarmos banho juntos?

– E o que combinamos, Florzinha?

– Ora, seria como uma pequena fantasia. Eu a sua Flor, e você o meu Juan. Carlos e Sheila voltam depois. O que acha? – A moça enlaça a sua cintura e aperta-se mais, oferecendo os lábios. Sem resistir, o jovem puxa-a para si e beija-a.

– Que seja, minha Florzinha, pois eu amo você. – Vão para o quarto dele e tomam banho muito juntos, beijando-se e às carícias, que se vão transformando em algo mais. Quando terminam, ficam se beijando. Saem da banheira de hidro e secam-se, deitando na cama e continuando as carícias. Ficam namorando por um tempo enorme, sentindo cada vez mais profundamente que ambos estão destinados um ao outro. Com o cansaço da corrida e da pedalada, acumulado aos momentos de amor, os dois adormecem abraçados e só acordam após o horário de almoço.

– Oi, Flor, acho que dormimos. Que tal tomar outro banho e sairmos para almoçar fora?

– Sim, amor. Você me deixou de perna bamba. Não cansa não?

– Claro que canso, Florzinha. Por isso acabei adormecendo. Quarenta e dois quilômetros não são nada desprezíveis. Na antiguidade, atletas chegavam a morrer com o esforço exigido por este percurso. Hoje é corriqueiro, desde que se tenha um bom preparo físico.

– Eu amo você, Juan.

– Eu amo você, Flor, mas vamos levantar. – Carlos puxa a moça que nem pensa em sair do aconchego dos seus braços. Contrariada, ela levanta-se.

– Por mim, passava o dia todo aqui com você, amor.

– Ainda estou cansado para uma coisa dessas, Florzinha. E pretendo caminhar um pouco.

― ☼ ―


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