Capítulo 6 - parte 4 (não revisado)
Numa churrascaria, onde estão todos os colegas de escola, Bia diverte-se bastante, quando Carlos aproxima-se e diz:
– Oi, Bia, como anda Sheilinha?
– Na mesma. – Sorri para o amigo. – Ela não tem jeito.
– Não diga isso, Bia, pois é muito ruim ser rejeitado. Afinal, sei muito bem o que é isso.
– Fala pela mana? – A garota sorri. – Você foi mesmo bem desvirtuado!
– Eu estou muito apaixonado por ela sim, mas não é só isso. Eu falo mesmo de ser rejeitado por uma sociedade que não aceita nada que não o heterossexualismo. Você e a turma são uma das raras exceções.
– As coisas mudam com o tempo, gatinho. Até há cerca de cinquenta anos as mulheres nem podiam votar! Você ainda verá o casamento gay ser oficializado.
– Voltando à minha princesa, onde está ela, e como? Faz algum tempo que não nos vemos.
– Em casa, sozinha e triste. Sabe o que aconteceu depois que Ana e Carlos terminaram?
– Não faço a mínima ideia. Eu achava que ela estava tratando de tentar reconquistá-lo e dei espaço para ela.
– Podia até estar, mas acabou lançando Carlos nos meus braços.
– O QUÊ!? – Berra Carlos, muito espantado. – Como assim?
– Foi a maior doideira, Carlinhos. – Bia conta tudo. – Eu já disse para ela que ia largar Carlos e contar toda a verdade, mas a mana não quis. Diz que ele não a quer. Se fosse diferente, aceitaria.
– E você?
– Ele é o mó gato, Carlinhos. Sabe, eu acho que você devia ir ver a mana. Sempre que ela fica com você, sente-se melhor.
– Talvez, mas só por causa do nome, que a faz lembrar do outro Carlos, não acha?
– Você está enganado. Uma parte pode até ser verdade, mas ela já me disse que você é um gato e gosta muito quando saem. Fala de um jeito que até me dá vontade de experimentar desvirtuar você mais um pouquinho.
– Sua taradinha. – Carlos sorri.
– Sou e não nego. – Dá uma risada. – Afinal isso é tão gostoso! Eu sou um pouquinho como você, Carlinhos. Mas, mesmo assim, só fiz isso com quatro pessoas até hoje. Sabe como é, né? A gente precisa se cuidar para não sofrer as consequências de atos irrefletidos. Por falar nisso, nunca imaginei que ela fosse ler um livro como o que lhe deu. Você tem uma boa influência sobre a mana!
– Conhece aquela obra?
– Adoro filosofia, Carlos, mas prefiro outros. Sartre não me chama muito a atenção por ser excessivamente existencialista. Gosto de Voltaire e de Nietzsch de quem tenho uma das melhores obras: "Assim Falou Zaratustra".
– Jura, Biazinha? Não conhecia esse seu lado! Eu também tenho esse livro e o acho fabuloso, poético.
– Eu tenho aquele livro, "O Ser e o Nada", assim como outras obras filosóficas. Amo Renné Descartes e a sua famosa frase, "Penso logo existo", ou Blaise Pascal com "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Mudando de saco pra mala, os meus pais viajaram e só voltam em três semanas. Se eu fosse você, ia lá visitar a Sheilinha. Daí, eu aproveito para dormir com Carlinhos. Que tal?
– Sinto muita falta dela. Eu topo. – Carlos levanta-se.
– Espere.
– O que foi?
– Ora – Beatriz levanta-se e abraça o amigo – quero me despedir.
Esta lasca um beijo na sua boca, deixando o amigo completamente ofegante. Sorrindo, acrescenta:
– Queria saber se é realmente tão gostoso assim. Parece que é!
– Vai trair o seu namorado? – Pergunta, meio desnorteado.
– Sei que não devia fazer isso, mas foi só um beijo inocente.
– No dia que um beijo de língua e desse tipo for inocente, Bia, então até terei medo de pensar no que não é. E você beija como poucas. Não deve nada à sua irmã!
– Tudo bem, Carlinhos, ninguém viu e só estava curiosa. Na verdade, estou cada vez mais apegada pelo outro Carlos. Então, vamos esquecer isto. Agora vá.
– Adeus, Bia. Nos vemos depois. – Carlos vai saindo do restaurante enquanto Bia pega no telefone.
― ☼ ―
A campainha toca e Sheila abre a porta para dar de cara com Carlos sorrindo e duas garrafas de vinho nas mãos.
– Oi, minha Sheilinha. A festa estava acabando e eu com muita saudade de você. Posso entrar ou vou levar um pé na bunda?
– Eu não daria um pé na bunda de um sujeito tão bacana quanto você. – Abre a porta para ele, sorrindo. – Como sabia que eu estava justamente precisando de uma boa companhia, especialmente a sua?
– Você sempre está, meu coração, e sempre estragando a sua linda vida. – Entra e beija a moça nos lábios. – Bia me contou o que tem acontecido.
– Onde ela está?
– Tenho a nítida impressão que você não a vai ver hoje. A sua irmã se preocupa demais com você e pensa em terminar com Carlos.
– Não vale a pena fazer isso. – Responde com um suspiro.
– Então, vamos esfriar um pouco este vinho? – Ele muda de assunto. – Tá calor demais para tomar com temperatura ambiente, mesmo um tinto desta qualidade.
– Eu tava tomando uma cerveja que peguei no mercado, ali em baixo. Ainda há cinco e bem geladas. Assim podemos saborear uma enquanto o vinho esfria.
– Ótimo, minha linda ébria. – Carlos põe o vinho na geladeira e abraça a amiga, beijando-a docemente.
– Só você mesmo para me tirar desta amargura. – Sheila sorri e abraça o amigo. – Já que Bia vai ficar com o namorado, que tal você ficar aqui, me fazendo companhia?
– Sabe que a amo e desejo estar sempre ao seu lado, coração, mas terei de sair bem cedinho. Você sabia que a sua irmã é profunda conhecedora de filosofia?
– Então ela está com o Carlos errado. – Sheila ri. – Infelizmente para mim.
– Você gosta mesmo de complicar a sua vida, anjo. Esqueça essa tristeza e fiquemos juntos. Pelo menos, este Carlos ama você.
– É muito doce, Carlinhos, obrigada. – Abraça o amigo que a acaricia.
― ☼ ―
O telefone do Carlos toca e este atende sem olhar quem é.
– "Oi, gatinho. Tô com muitas saudades e a festa está acabando. Não me quer pegar?"
– Claro, anjo, onde é?
– "Na barrinha, a churrascaria à beira do canal." – Bia fornece o endereço.
– Chego em vinte minutos, amor. Também tenho muitas saudades de você.
Pouco tempo depois, Carlos pega a namorada. Esta entra sorrindo e atira-se aos seus braços, beijando-o alegre.
– Biazinha, você está bêbada!
– Só um pouquinho, amor, mas com muitas saudades e uma vontade irresistível de dormir com você.
– E seus pais, lindinha? – Pergunta, preocupado. – Você é menor de idade!
– Meus pais estão viajando por três semanas e eu desejo você desesperadamente. Tanto que já dei um jeito de fazer Carlos ficar com Sheila para não atrapalhar.
– Mas você vai dizer para ela onde está, anjo.
– Mandei recado pelo Carlinhos.
– Nesse caso, vamos para a minha casa. – Carlos sorri e volta a beijar a namorada. – Você está me enfeitiçando de tal forma que até assusta, Flor.
Por uns segundos a garota fica séria e olha para o namorado.
– Você está enfeitiçado por mim, ou pela Flor, Carlinhos?
– E não é a mesma coisa, meu amor?
– Não. Eu sou Bia e Flor é a Flor, alguém virtual que pode não ter nada a ver comigo.
– Pois para mim tem, amor. Você é exatamente igual à Flor das nossas conversas virtuais. Você é o virtual que se tornou real e a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.
Por pouco Bia não diz toda a verdade, mas sabe que a irmã ia brigar com ela, se o fizesse. Com mais um beijo, Carlos liga o carro e vão embora para casa. Apesar de ser um pouco tarde, ambos divertem-se muito até caírem adormecidos nos braços um do outro.
De manhã cedo, repetem a dose e saem para correr. Carlos leva a namorada para a casa dela, de modo a trocar de roupa. Espera na rua, enquanto ela se muda. Quando desce, Sheila vem junto.
– A mana vem correr conosco, amor.
– Ok, corremos quanto?
– Uns dez mil metros, pois estou meio de ressaca. Mas temos que ir no ritmo da Sheila, senão ela cai dura.
– Acham que eu não posso aguentar vocês? – Pergunta Sheila, um pouco irritada.
– Sheilinha – Carlos sorri – não é maldade da sua irmã, mas eu e a Beatriz corremos tanto quanto atletas profissionais. Faço isso desde os cinco anos!
– Tudo bem. Sei que não devia ser sedentária, mas antes tarde que nunca. – A garota não consegue tirar os olhos do corpo de Carlos, que veste uma camiseta sem mangas e relativamente justa.
– Vamos? – Caminham até à praia e começam a correr no calçadão, mantendo o ritmo da Sheila. Esta fica impressionada, porque a irmã e Carlos batem papo normalmente enquanto correm, como se nada sentissem. Ela, porém, está tão ofegante que nem consegue falar. Quando estão nos sete mil metros e já voltando, Sheila vai ficando para trás, pois nunca tinha corrido tanto. O casal nota que ela não os acompanha e vira-se para ver a moça sentada no cordão da calçada a cem metros, massageando as pernas e com cara de muita dor. Ambos voltam até ela.
– Deu câimbra? – Pergunta o amigo, gentil.
– Sim. E está doendo muito. – Tem lágrimas olhos. – Tanto que nem consigo mais andar.
Com calma, Carlos abaixa-se e massageia as suas pernas, forçando um alongamento. Ela, apesar das dores, sente aquele toque com tanta intensidade que tem vontade de se atirar aos seus braços.
– Relaxe, Sheila – acalma-a Carlos – que a dor passará em breve. Caramba, você devia deixar de ser orgulhosa e dizer quando está no limite! Forçar o corpo desse jeito não ajuda em nada.
– Desculpem. Ai, como isso dói...
– Calma. Mais alguns minutos e passa. Acha que consegue caminhar?
– Ainda não, mas estou morrendo de sede.
– O Cantinho é logo ali, nem quinhentos metros. – Carlos pega a moça ao colo. – Vamos, Florzinha?
Sheila aproveita para enlaçar o pescoço dele e encostar o rosto no seu ombro, sentindo o quanto deseja o garoto que espezinhou cruelmente. Impressiona-se ao ver a notória facilidade que este tem em carregá-la sem demonstrar qualquer cansaço e isso depois de correr tanto. Embalada e cansada da noite anterior, ela quase adormece, até que se sente pousada em uma cadeira. Abre os olhos vendo Ana e Denílson, que a olham de olhos arregalados.
– O que houve? – Pergunta Ana, preocupada. – Tá passando mal, Sheilinha?
– Não se preocupem – Carlos acalma os amigos – Sheila tentou superar o seu limite na corrida e passou mal. Uma câimbra muito forte que passa logo, mas que dói demais. Qualquer atleta já teve isso.
– Estou bem, gente, mas tenho muita sede.
Denílson estende o copo de cerveja, contudo Carlos afasta sua mão, rindo.
– Nenhum de nós pode tomar algo gelado pelos próximos dez minutos ou mais. – Vira-se para o balcão e diz. – Henry, por favor traga três águas fora do gelo.
Carlos senta na mesa, entre Sheila e a namorada. Ana olha para os três e faz uma careta para a amiga. Esta, ao ver que Sheila termina a água e pousa a cabeça na mesa, levanta-se.
– Sheila, me deixe levar você para casa, que não está nada bem!
– Minhas pernas ainda doem, mas já melhorei.
Ana ajuda a amiga a levantar-se e vai apoiando o seu caminhar lento e dolorido. Senta a amiga no carro e dirige com calma.
– Sheilinha, você está perdendo a sua chance. Além da sua irmã ser praticamente uma cópia sua, ela é uma atleta, tal como Carlinhos. As afinidades vão aproximar os dois de tal forma que você vai-se dar mal, muito mal.
– Depois de ontem, não estou tão certa, Aninha. Só preciso de fazer a coisa certa sem cagar tudo de novo.
– O que houve ontem?
A garota conta a conversa na internet.
– Viu a merda que fez? Se tivesse sido sincera desde o início, já estariam juntos!
– Tive medo, Ana – ela deixa cair algumas lágrimas – tive muito medo de ser execrada por ele e jamais imaginei que estivesse tão apaixonado pela Flor, por mim.
– Lembre-se, Sheila, não se tente igualar à sua irmã que vai sair perdendo. Ela é uma atleta completa, com experiência. Você deve conquistar Carlos de outra forma.
– Que outra, Ana?
– Sendo você mesma, sendo verdadeira. Sendo a Sheila que ele conheceu em Fevereiro e antes do que você fez em Março. Afinal, era essa Sheila que ele amava; então, traga-a de volta para a vida. Basta isso e ele será seu bem rapidinho.
– Acha que eu realmente tenho alguma chance perante a minha irmã?
– Não basta o que ele falou? Já lhe disse uma vez que a ama, Sheila, e muito. Senão, não teria dito aquilo estando nos meus braços.
– Mas ele tava dormindo!
– Pior ainda, Sheilinha, pois dormindo o subconsciente toma conta e não há lugar para mentiras. ELE A AMA, sua tonta, então corra atrás disso antes que seja tarde demais!
– No fundo, morro de medo disso.
– Nesse caso, vai perdê-lo. Pense bem.
― ☼ ―
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