Capítulo 6 - parte 1 (não revisado)
"A Filosofia é o melhor remédio para a mente."
Cícero.
Carlos levanta os olhos do livro bem a tempo de ver uma moça, linda de morrer e usando um boné do Fluminense, aproximar-se de si. Na sua opinião, ela só não é mais gostosa por falta de espaço: cintura fina, seios fartos mas sem exageros, coxas bem torneadas e musculosas, cabelos dourados, olhos verdes e nariz arrebitado. Tem os lábios carnudos que despertam uma vontade irresistível de a beijar. Sorrindo, levanta-se para ela.
– Você é Juan?
– Flor?
– Meu nome é Beatriz.
– Carlos. Você é ainda mais bela que supunha, Beatriz. – Beija o seu rosto e convida-a a sentar-se. – Engraçado, tenho uma amiga muito parecida com você, muito mesmo! Quer beber o quê?
– O que está bebendo, Carlos?
– Água tônica.
– Também gosto. – Comenta. – Pode ser isso.
– Que legal que veio, Flor. – Carlos está fascinado ante tanta beleza e perfeição. – Senti muito a sua falta, quando estava fora.
– Também senti. Então você é o atleta que quer vencer a meia maratona? Eu também vou participar dela.
– Eu pretendo sim, mas pensei que você não gostava de correr!
– "Que vacilada! Tenho de agir igual à Sheila." – Pensa a garota, deliciada. – Sabe como é. Na internet, todo o cuidado é pouco. Então menti em algumas coisas. Felizmente, estava enganada e você é o mó gato, Carlos.
– Tudo bem. De você eu perdoo tudo, Beatriz.
– Me chama de Bia... ou Flor. Eu gosto.
O par começa a conversar, cada qual mais interessado que o outro.
― ☼ ―
Sheila entra novamente em crise existencial. De todos os homens do mundo, ela foi ter o azar de encontrar aquele. Em casa, despe-se e põe um short de corrida, uma camiseta e os tênis. De uma coisa ela dá-se conta: tomou gosto pela corrida e já corre todos os dias por, pelo menos, uma hora. Nesse momento, lembra-se do Juan ter dito que correu trinta quilômetros no dia em que voltaram a se falar e conclui que é uma mentira deslavada, indo para a rua correr.
Inconscientemente, não consegue ver Carlinhos como o atleta que é, sempre pensando errado a seu respeito.
― ☼ ―
No bar, Carlos e Bia estão cada vez mais entusiasmados um com o outro e já passaram da água para a cerveja, a segunda garrafa. Em pouco tempo estão conversando de mãos dadas, fazendo pequenas carícias.
― ☼ ―
Sheila corre num ritmo pouco mais puxado que o habitual. Passa em frente ao bar, onde está a irmã, e chega precisamente no momento em que esta começa a beijar Carlos. Olha boquiaberta, quando a sua corrida é interrompida por um som surdo e uma dor intensa que a faz ver estrelas e a saliva ficar doce. A garota cai de costas, desmaiando.
No bar, ambos começam um beijo, quando ouvem um barulho seco e o som dos murmúrios das pessoas.
– Meu Deus – afirma um dos fregueses – a moça desmaiou e está muito machucada!
Muitos levantam-se para olhar. Curiosos, Carlos e Bia interrompem o beijo e levantam-se, procurando ver o que é.
– Sheila!? – Carlos balbucia espantado, ao ver a garota no chão e inanimada. Em passos largos vai acudir a colega.
– MANA! – Grita Bia, correndo para a rua atrás do Carlos que afasta os curiosos. Sheila, enquanto corria, colidiu na quina de um orelhão e cortou feio a testa. Ao cair de costas, bateu a cabeça no chão, fazendo um novo corte e perdendo a consciência.
– MANA – Beatriz grita desesperada. Com a calma que lhe é peculiar, Carlos pega a moça ao colo.
– Venha, Flor. Ela precisa de ir ao pronto socorro levar uns pontos. Me acompanhe ao meu carro. – Carlos vê que Sheila sangra bastante dos dois cortes. Pousa a garota no chão e pede para Bia a segurar, enquanto tira a camiseta e enrola como uma toalha, amarrando em volta da cabeça da amiga. Bia olha o corpo do rapaz e fica de boca escancarada, cada vez mais interessada.
– Caraca, seu corpo é lindo, Carlos. Você deve malhar muito!
– Até que não. – Ele sorri. – Mas obrigado pelo elogio. Caramba, de todas as garotas do mundo fui logo conhecer a irmã da Sheila. Por isso achava você tão parecida com ela. Já tava pensando que tinha pirado da batatinha! Pegue a chave no meu bolso esquerdo e abra o carro. Você vai atrás com ela, para a segurar e proteger.
Sentada no banco de trás, a garota não para de olhar o corpo do rapaz. Chegam rapidamente e este sai para pegar Sheila ao colo, justo quando ela abre os olhos. A primeira coisa que vê é o rosto sorridente do Carlinhos que, ao vê-la desperta, pergunta:
– Como se sente?
– Muito tonta e com dor de cabeça.
– Você tem o dom fenomenal de atrapalhar a minha vida, Sheilinha. – Ele ri. – É verdadeiramente impressionante!
– Me perdoe, mas pode ter certeza que não desejei isso. – Fecha os olhos, triste. – Quando vi você e minha irmã, fiquei tão espantada que me distraí.
– Não esquente a cabeça. Vai levar uns pontos e já fica bem.
Ao pousar a garota na maca, ela vê que Carlos está de tronco nu e tem o corpo mais belo que jamais viu, ficando boquiaberta. De olhos arregalados, solta um suspiro e diz:
– Minha nossa! – Carlos ri, enquanto o enfermeiro tira a camiseta da cabeça dela, entregando-a e levando a moça para a enfermagem, enquanto ela balbucia. – Você é um Deus da perfeição!
Dentro da emergência, um dos residentes que vai atender a Sheila olha a garota deitada na maca, caindo de amores por ela.
– Como se chama, moça?
– Sheila.
– Oi, Sheila, sou o doutor Carlos Cunha. Você é a garota mais bela que eu vi, sabia?
– Isso só pode ser um pesadelo – afirma ela, fechando os olhos e suspirando fundo – outro Carlos? Por favor, me acorde.
– Sheila, acalme-se que sofreu uma pancada forte. Você não está sonhando. Talvez um pouco tonta e desorientada. Em breve, vai sentir-se melhor.
O médico anestesia a moça a faz os pontos necessários, enquanto ela mantém os olhos fechados.
– Bem, bela Sheila, eu adoraria convidar você para sair comigo...
– Doutor, não me leve a mal, mas poupe o seu latim. Eu jamais poderei sair com você. Já há Carlos demais no meu caminho. Infelizmente, um deles é o amor da minha vida. Desculpe.
– Bem, ficou a tentativa. Esse Carlos deve ser o sujeito mais sortudo do mundo, Sheila, para ter você.
– Infelizmente, quem não tem essa sorte sou eu. Joguei fora a minha chance há alguns meses.
– Então me dê uma chance, Sheila. – O residente, um jovem de vinte e quatro anos, suspira olhando o corpo da moça, tão belo e perfeito.
– Desculpe, mas não posso fazer isso. Como disse, já há Carlos demais na minha vida...
― ☼ ―
– Onde estávamos? – Pergunta Carlos, sorrindo para Bia.
– Iniciando um beijo delicioso que foi cruelmente interrompido pela minha querida irmã.
Pega o queixo dela e puxa para si, beijando a garota. Beijam-se bastante, até que ela se afasta, sorridente e ofegante.
– Você é o cara mais gostoso do mundo, Carlos!
– Acho que posso dizer o mesmo de você, Flor. Quer sair hoje de noite?
– Se quero. Tô perdidinha por você!
– Eu também, Flor.
Meia hora depois, Sheila aparece, abatida e com dois curativos na cabeça, mas ainda caminhando um pouco tonta. Não consegue tirar os olhos do Carlinhos, fascinada com o corpo dele. Este nota e não resiste a brincar.
– Acha que um nerd seria como eu, Sheila?
– Não seja injusto, Carlos. Há muito que não o chamo assim.
– Desculpe, Sheilinha, foi sem maldade. Ainda está tonta?
– Sim, bastante.
A garota olha o brilho nos olhos da irmã e do pretendido, atinando-se que novamente se deu mal. Vê que Carlos segura a mão dela, mas solta Bia e vem ajudá-la, pegando-a ao colo.
– Vamos, vou levar você para casa. É melhor ficar em repouso.
– Obrigada, Carlos, desculpe novamente. – Encosta a cabeça no seu ombro, cheia de desejos.
– Tudo bem, Sheilinha, deixe pra lá. O importante é que você está bem.
Ao parar o carro para elas descerem, Carlos pergunta:
– Quer ajuda para subir, Sheila?
– Já estou melhor, Carlinhos, obrigada. Acho que a minha irmã pode ajudar.
– Ok. Cuide-se. – Vira-se para Bia e dá-lhe um pequeno beijo nos lábios. – Pego você em uma hora. Pode ser, Flor?
– Claro.
Este vai embora e as irmãs sobem.
– Nossa, mana, que gato! – Comenta, fascinada. – Não sei como foi jogar aquilo fora. Que vacilada!
– Não provoque, Bia, por favor. Afinal, você sabe toda a parada. Caraca, nunca imaginei que tivesse aquele físico todo! Também, ele está sempre com aquelas roupas folgadas. – Suspirando muito, continua. – Ele é tudo o que eu pedi a Deus!
– Mesmo antes já achava ele um gatinho, mana, desculpe. Olhe, se isso magoa você tanto assim, eu cancelo tudo e conto a verdade para ele.
– Nem pense nisso, pelo amor de Deus. Pode ficar com ele, se isso o faz feliz. Eu o amo e quero que fique bem. Como ele disse, eu só atrapalho.
Abatida, a moça vai para o quarto e deita-se, enquanto a irmã revira o guarda roupa. No final, põe um vestido simples e umas sandálias.
Uma hora depois, Carlos toca no interfone e Bia desce. Ambos entram no carro e param no Cantinho, indo com a garota para a mesa dos amigos, agarrado à sua cintura. Ao verem a moça, o falatório para na hora. Ana, que está tomando um gole de cerveja, engasga-se e cospe tudo fora, ficando muito vermelha. Mauro, o mais desinibido, afirma sem rebuços:
– Caraca, Carlinhos, de onde desenterrou esse filé? – Dá um grito e ri. – Pô, Ritinha, beliscões doem.
– Ae, galera, esta é a Bia.
– Oi, Bia, se você soubesse o quanto é parecida com uma amiga nossa, a Sheila, até ria.
– Sheila é minha irmã. – O silêncio que se faz chega a incomodar. – Oi, Ana.
Ana levanta-se e diz:
– Oi, Bia. Gente, lembrei que tenho uma coisa urgente pra fazer. Té mais.
– Té, Aninha, se cuida. – Os únicos que se dão conta são Denílson e Mauro. Este último fala para o amigo, muito baixo:
– Negão, danou geral...
– Bota geral nisso, Mauro. E olha a cara do quatro olhos! Nem para Ana ele olhava assim! Sheilinha se deu mal e vou perder a aposta.
– Ei, Carlinhos, cadê Sheila?
– Sofreu um acidente correndo e está em casa, repousando.
– Que acidente? – Questiona Mauro, preocupado.
– Ela tava correndo, distraiu-se e deu com a fuça num orelhão. Caiu de costas e desmaiou. Precisou de levar alguns pontos, mas está bem. Felizmente, isso ocorreu bem na nossa frente.
Bia olha para o lado e vê-me sentado, tomando uma cerveja enquanto os observo. Ela arregala os olhos e abre um sorriso. Ofegante, diz, quase gritando:
– Não acredito! – Vem até mim. – É você mesmo, Miguel?
Com um grito de alegria, atira-se ao meu pescoço, enquanto Carlos aproxima-se.
– O meu escritor preferido! Sempre quis conhecer você. Posso tirar uma foto com você? – Eu concordo e ela estende o celular para o namorado, que tira a fotografia. – Obrigada. Espere até minha irmã saber disso.
– Sheila tem uma foto similar, minha querida.
– Você conhece a minha irmã?
– Claro, ela e a sua turma vêm sempre aqui, que é o meu lugar preferido. Tu és tão bela quanto ela. Parabéns.
– Obrigada. – Ela abraça o namorado e voltam para a turma. Este diz-me, com uma risada:
– Quem tem uma forte concorrência sou eu, Miguel. Por acaso caiu no mel quando nasceu?
– Não tens não, Carlos. – Eu dou uma risada. – Tu não me deves nada, nem fisicamente nem como escritor. Divirtam-se, mas acho que cometes um grande erro.
– Não estou muito certo disso, Miguel.
– Mas eu estou, meu jovem. Vejamos o que o tempo diz.
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