Capítulo 5 - parte 2 (não revisado)

– Daí, Carlinhos, pela tua cara tu mesmo muito chateado.

– Não era para estar? – Questiona, triste. – Justo agora que eu tava pra lá de amarrado! Depois de um ano sozinho, encontro alguém bacana, passo um mês com ela e levo o maior pé na bunda. O pior é que foi sem um motivo racional, cara!

– É verdade, desde a Tânia. Afinal o que aconteceu com ela e por que terminaram?

– Ela e a família voltaram para o Sul. Sei lá, eu até que gostava muito dela e foi a minha primeira transa, mas tive que ser realista e encarar os fatos. Logo depois veio Sheila... Bem, sabe de tudo.

– É, essa gaúchinha era muito gata, mais até que a Sheilinha, meu caro...

– Ainda não vi garota mais gata que a Sheila, Mauro. – Corta sem pensar. – Nem mesmo a esposa do Miguel, infelizmente.

Mauro não nota o que o amigo disse e continua, mudando de assunto.

Vamu lá, desembuche aí, quê que rolou?

Carlos conta tudo e Mauro ouve em silêncio, como sempre faz quando ambos se confidenciam. Quando acaba de falar, este comenta:

– Ela jogou limpo, mano, e deve estar bem pior que você. Agora, faço uma pergunta: Será que ela não tem razão, toda a razão?

– Se tem, nem quero saber. Estou farto da Sheila, cara. Ela só me fode a vida!

– Epa, irmãozinho. A coisa não é bem assim e você sabe disso. Ela reconheceu o seu erro e pediu desculpa. Você é que nunca a perdoou. Sem falar que também a mandou passear. Nisso, cês empataram.

– Por quê, Mauro? Quer que acredite que ela era sincera depois daquilo? E tem mais: há muito que a perdoei. Sempre perdoo!

– Vejamos uma coisa: quantas pessoas saíram com ela nestes últimos meses?

– Sei lá. – O amigo encolhe os ombros.

– Nenhuma, Carlos, nenhuma. Ela só saiu com aquele rapaz que nos apresentou, quando você começou a namorar Ana. Pense bem, pois tenho certeza que o amor dela é genuíno.

– Mesmo que seja, cara, eu tenho direito às minhas escolhas.

– Bem sei. Mas ela anda bem arrasada e hoje parece pior que nunca. Tá pra lá de bolada. Aconteceu alguma coisa?

– Sim, por minha culpa. – Carlos suspira e conta sobre o encontro.

– Agora o filho da puta foi você, mano.

– Eu sei e estou-me sentindo muito mal por isso, mas não deixo de ter toda a razão.

– Até tem, mas esse não é o Carlos que eu conheço. Que tal se juntar ao grupo e pedir desculpa para ela?

O rapaz pensa por alguns segundos.

– Tem razão, Mauro. – Levantam-se e vão para o Cantinho.

Quando Sheila o vê, não tira os olhos dele que se aproxima e diz, sem medo de ser ouvido pelos outros:

– Me perdoe o que lhe disse hoje, Sheila. Foi mal e estou muito arrependido.

– Tudo bem, esqueça. No fundo, você tem toda a razão.

– Mas não o direito...

– Esqueça e sente aí. – Interrompe-o. – Eu é que devo desculpas para você, muito mais vezes que essa.

A cadeira vaga fica ao lado da Sheila. Carlos dá a volta à mesa e senta-se, mas antes dá um beijo na sua testa.

– Obrigado, Sheilinha. – Os olhos da moça brilham de felicidade e Denílson sorri, piscando para ela como quem diz: eu não falei?

― ☼ ―

Os pais da Ana chegam e encontram a filha sentada no chão, apática, abraçada aos joelhos e com os olhos vermelhos e inchados de tanto choro.

– O que houve, minha filhinha? Você está arrasada! – A mãe pega na Ana pela mão e fá-la ir até à sala, sentando a moça no sofá ao seu lado. O pai senta-se de frente. – Você brigou com seu namorado?

– Não. Terminei com ele. – Volta a chorar aos soluços. A mãe abraça a filha, puxando a sua cabeça contra o peito e espera que pare de chorar.

– Que tal nos explicar tudo, filha? Acho que se sentirá melhor, depois disso. – Pede o pai.

Ana conta tudo sobre o namorado e ambos apenas ouvem. Quando ela termina, o pai questiona:

– Já lhe ocorreu que podia ser um sonho, como uma lembrança do passado?

– Infelizmente, pai, tenho certeza que não é. E eu não aguentava mais ver Sheila sofrendo. Ele apenas ainda não se deu conta dos seus sentimentos, justamente pelo que ela lhe fez. Mais cedo ou mais tarde, vai abrir os olhos e seria muito pior para mim.

– Se é como diz, Aninha, você agiu certo, pois ia realmente sofrer muito mais daqui a um tempo. Sheila não tem nem ideia do valor da sua amizade.

– Ela tem, pai. – Afirma a moça, muito abatida. – Descobriu o que fiz e mesmo amando profundamente Carlos, quase brigou comigo exigindo que eu voltasse para ele. Também é uma boa amiga.

Mais calma, levanta-se para tomar um banho, enquanto a mãe prepara uma refeição para a família.

― ☼ ―

Duas semanas depois, as coisas ficam mais tranquilas e começam as férias. Carlos mantém-se calmo, mas também permanece abatido. Já Ana está serena.

No desenrolar desta história, eu tenho deixado de lado um personagem muito importante, só que inexpressivo até agora: o nosso amigo virtual Juan.

Falando nele, é um rapaz de dezenove anos, como Carlos, bem constituído e um grande atleta que tem corrido diariamente sempre treinando para a meia maratona.

Neste dia em particular, ele correu nada menos que trinta quilômetros e, cansado, caminha na beira da praia pensando na Flor e sentindo uma saudade enorme da moça que não conhece fisicamente. Ele sentia-se meio apaixonado por ela desde que começaram a conversar na internet e deixou-a de lado pela namorada. Agora, desejaria profundamente estar conversando com ela. Decidido, caminha para casa, toma um banho e senta-se à frente do seu computador, entrando no site e vendo o poema dela na sua caixa de mensagens particulares. Emocionado e compadecido, fica triste por a ter deixado de lado. Procura descobrir se ela está on-line, mas não a encontra, decidindo aguardar um pouco. Na cozinha, serve-se de um energético e volta para a sua mesa, sempre de olho nos usuários que fazem log-in. Ignora duas ou três garotas que puxam conversa e aguarda, paciente.

― ☼ ―

Triste, Sheila chega ao apartamento pois não viu Carlos nesse dia. Desde que ela parou de o afrontar, ele tem sido mais gentil, mas sempre mantém alguma distância.

Liga o computador e, por pura curiosidade, entra no site onde conheceu Juan, desejando ardentemente voltar a falar com ele pois foi a pessoa que a ajudou a superar a primeira crise com Carlos.

Mal se loga, salta uma janela de conversa privada.

– "Juan: Oi, Florzinha, estava morrendo de saudades de você."

– "Flor de Coração Partido: Oi, Juan." – O seu coração fica aos pulos.

– "Juan: Está zangada comigo, Flor?"

– "Flor de Coração Partido: Não, Juan, não estou. A minha vida tem sido um inferno nas últimas semanas e ando sofrendo muito. Comigo, tudo deu errado desde o dia que você saiu e senti muito a sua falta."

– "Juan: Desculpe, Florzinha. Eu senti demasiadas saudades suas. Vi o seu poema e fiquei muito emocionado. Me perdoe por fazer você sofrer e ter-me afastado."

– "Flor de Coração Partido: De você, Juan, perdoo tudo. Sabe, eu me sinto muito só e infeliz."

– "Juan: Não está mais só, Florzinha. Não vou mais me afastar de você, eu prometo, mas mude esse nick tão triste. Afinal, agora estou aqui."

– "Flor de Coração Partido: E a sua namorada?"

– "Juan: Terminamos. Não deu certo, minha Florzinha."

– "Flor de Coração Partido: Sinto muito."

– "Juan: Não sinta. A cada segundo que falo com você, tenho mais certeza que nunca deveria ter namorado com ela e me afastado de você. Às vezes, meu amor, sinto que conheço você tão bem como se tivesse vivido toda a minha vida ao seu lado. Mude o seu nick, Florzinha, por favor."

– "For: Já mudei. Você me chamou de meu amor! Nunca disse isso antes!"

– "Juan: Então vou dizer de novo, meu amor. Voltar a falar com você, junto com a carência que estou sentindo, faz com que eu me sinta cada vez mais apaixonado por você."

– Caraca, maninha, ele voltou!?

Sheila assusta-se, pois não escutou a irmã chegar. Com os olhos brilhantes e o coração acelerado, sorri para Beatriz que, curiosa, lê a conversa dos dois.

– Parece que o seu inferno astral está acabando, Sheilinha.

– Ele é tão doce. Acho que, com ele, esqueceria Carlinhos.

Vira-se para o computador e digita:

– "Flor: Sinto o mesmo, Juan."

– "Juan: Quero conhecer você, Florzinha. Preciso desesperadamente de conhecer você."

– Ele parece bem sincero, Sheila. Marque um encontro que eu acompanho você.

– "Flor: Eu quero sim, Juan. Onde mora?"

– "Juan: Na Barra."

– "Flor: Moramos no mesmo bairro. Pode ser num bar na Lúcio Costa, ao lado da praça da feira?" – Ela dá o nome do bar e o endereço.

– "Juan: Pra mim, está perfeito, meu amor. Que tal sexta às quatro da tarde?"

– "Flor: Acho ótimo."

– "Juan: Estarei lá. Para facilitar, usarei um boné do Palmeiras que um amigo de São Paulo me deu."

– "Flor: Eu usarei um do Fluminense."

– "Juan: Legal, Flor, o meu time. Não me deixe na mão, tá?"

"Flor: Não deixarei, Juan. Juro pra você."

– "Juan: Estão-me chamando pra jantar. Amanhã conversamos mais. Eu vou deitar cedo porque corri uns trinta quilômetros e estou um pouco cansado."

– "Flor: Sonhe com os anjos, Juan. Esperarei por você amanhã, no horário de sempre."

– "Juan: Sonharei com algo muito melhor que isso, sonharei com uma linda Flor desabrochando em frente aos meus olhos, mas será uma semana demorada para passar. Amanhã falamos mais. Um beijo, amor."

– "Flor: Um beijo, meu Don Juan."

Juan desconecta e ela, pulando, atira-se aos braços da irmã, louca de alegria.

– Ele gosta de mim, Bia. Vai mesmo ser uma semana longa, longa demais para o meu gosto.

― ☼ ―


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