Capítulo 4 - parte 5 (não revisado)
Sheila está cada vez mais deprimida, tendo assumido totalmente o seu amor por Carlos. Isso acaba chamando a atenção da irmã, que a procura para conversar.
– Mana, você não pode continuar assim! Desistiu até do Carlinhos!
– Porque é outro Carlinhos que eu desejo.
– E o Juan?
– Se ele estivesse disponível, talvez fosse diferente. Hoje sei que ele me ajudou a esquecer Carlos e, por isso, senti tanto a sua ausência. Eu o conheci logo depois de levar o fora do Carlinhos e começamos a conversar muito, todos os dias. Ele, na época, também estava triste por ter perdido uma garota. Eu ficava cada vez mais envolvida por Juan e senti muito a sua ausência. Em compensação, foi essa ausência que me fez descobrir que jamais deixei de amar Carlos e isso me deixa no fundo do poço.
– Diga isso para ele.
– Já disse. Até tentei beijá-lo. Ele cedeu por uns poucos segundos e me empurrou para trás, zangado. Pior que fiz isso na casa da Ana e ela viu. Ficou pra lá de bolada comigo, senti a chapa quente.
– Caramba! – A irmã abana a cabeça. – Sheila, você só queima seu filme. Por que não para e reflete um pouco. Deixe de ser tão impulsiva e emotiva, irmãzinha.
– Eu sei. Mas agora é tarde. – Suspira, muito abatida. – O jeito é superar isto e começar de novo.
– É isso aí, mana. Que tal a gente dar um rolê?
– Boa ideia. Vamos passear na praia.
As duas caminham tranquilamente pela areia, quando encontram Carlos com ar pensativo e fazendo o mesmo.
Ao ver as duas irmãs, aproxima-se delas, sorrindo. Beija Sheila nos lábios e diz:
– Oi. Tava agora mesmo pensando em você, Sheilinha, e tinha saudades. Quer sair esta noite?
– Esta noite não, Carlinhos. Tenho uma prova dificílima logo no primeiro horário. Mas, se quiser, saímos amanhã.
– Claro que quero, meu coração.
– Então tá combinado. Você me pega às nove.
– Legal. Agora preciso ir. – Beija as garotas e afasta-se. – Até mais.
Quando voltam a caminhar, a irmã comenta:
– Esse aí tá fisgadinho por você.
– Ele é muito bacana, maravilhoso.
– É um gato, isso sim. Um dia ainda dou uns amaços nele, Sheila. É só você largá-lo e vai ver. – A garota ri. – Vou mantê-lo bem desvirtuado.
– Por mim, pode dar quando quiser. Eu gosto dele e é bem agradável, só que não o amo.
– Mas você gosta de sair com ele.
– Gosto muito. Ele sabe satisfazer uma mulher direitinho e tem um corpo bonito, embora não seja exatamente o meu tipo. A verdade é que nem o meu Carlos é. Eu sou fã do tipo atlético, musculoso, mas que ele é bem forte, lá isso é. Carregou uma amiga nossa no colo e saiu correndo com ela para o carro sem a menor dificuldade. E ela não é nada pequena.
– O que houve para ele fazer isso?
– A tonta engravidou e fez um aborto. Depois teve uma tremenda hemorragia. Esteve entre a vida e a morte.
– Essa idiota não sabe o que é um preservativo?
– Nem me fale. Xinguei-a muito. Vamos voltar que eu preciso de estudar. Pelo menos estou-me sentindo melhor. Obrigada, Bia.
― ☼ ―
A turma está reunida no Cantinho quando chega um amigo meu, que veio a pedido. Carlos, que está de frente para mim, vê o meu sinal. Beija a namorada, levanta-se e vem até nós.
– Boa tarde, Miguel, senhor.
– Carlos, este é o Luiz, lá da minha editora. – Carlos cumprimenta o visitante. – Eles leram a tua obra.
– Exato, meu jovem. Nós gostaríamos muito de publicar o seu livro. É uma obra de primeira e será um recorde de vendas.
– Nossa, fico lisonjeado, pois não esperava tanto!
– Tem outros trabalhos?
– Tenho mais quatro.
– Mande para mim. – Estende um cartão. – Se nós gostarmos, faremos um contrato de exclusividade. Para o seu primeiro, tenho aqui um contrato padrão pronto e basta acrescentar seus dados. Deseja fechar conosco?
– Mas claro, fico muito feliz.
Assina o contrato e Luiz despede-se.
– Jamais imaginei que fosse agradar tanto, Miguel.
– Tu mereces, tchê. Considerando que temos estilos similares, acho que agora tenho um forte concorrente.
– Obrigado pelo elogio, mas não creio que seja páreo para você, sem falar que me inspirei na sua primeira obra. Além disso, entre escritores não pode haver concorrência, já que o leitor não vai dar preferência a um e sim aos dois, se o agradarem. Eu vou voltar para a mesa. Adeus e obrigado por tudo.
Senta-se e Ana pergunta:
– O que eles queriam, amor?
– Vão publicar o meu livro.
– Ae, Carlinhos. – Gritam, parabenizando o amigo.
– Parabéns, Carlos, você merece. – Afirma Sheila. – Espero que tenha bastante sucesso.
– Obrigado, Sheilinha. – Carlos e os demais estão bastante espantados. Ele, entretanto, não demonstra, mas pousa o olhar sobre ela mais tempo que o necessário para o agradecimento.
– Caraca – afirma Mauro, sempre debochado – agora sim, o mundo vai acabar de vez. Sheila elogiando Carlinhos!?
– Seres inteligentes sabem reconhecer quando estão errados, Mauro. Se liga.
– Tá bom, Sheilinha, me desculpe que não quero que mude o seu alvo para mim. Não sei revidar tão bem quanto o quatro olhos.
– Ah, vá-se catar. – Ela levanta-se. – Gente, vou embora que tenho um compromisso.
– Opa, pelo jeito vai sair com alguém.
– Vou sim, Denílson, mas agora vou correr um pouco. Só isso.
Ela sai, seguida pelo olhar do Carlos, que toma um gole de cerveja.
– Que diabo deu nessa garota – questiona-se Denílson – para ter mudado assim? Faz atletismo, elogia e não ataca Carlinhos... Vai ver está apaixonada!
– Óbvio que está. Só vocês é que não enxergam.
– Ah é, e posso saber por quem, Mauro?
– Pelo Carlinhos, ora. – Este, que está bebendo, engasga-se e tosse muito. Os amigos, rindo bastante, começam a bater nas suas costas, divertidíssimos. – Se eu fosse você, Aninha, tomava muito cuidado.
– Ela é minha amiga, Mauro.
– Mas está apaixonada e muito.
– Eu sei, e sei que ela me respeita. Tanto é, que parou de implicar com Carlinhos.
Um casal, que bebe ao lado deles, termina as bebidas e levanta-se, aproximando-se do grupo. Os dois são altos, simpáticos e de pele muito branca, usando mochilas grandes nas costas. Nota-se, pela tonalidade queimada dos seus rostos muito avermelhados, que são turistas estrangeiros. O par tem cabelos loiros e olhos de tom azul-claro. O rapaz, dos seus vinte anos, fala educadamente:
– Escuse me. Do you speak English? We'd like to know where is a bathroom near.
– Caraca, o que raio o gringo disse? – Pergunta Jorge. – Batroom? Room é quarto! Será o quarto do batman? Bat room? Deve ser isso. Que maluquice!
– Vai ver eles querem uma pensão ou algo do gênero. – Diz Mauro. – Ou dar umazinha no motel.
– No Batroom. – Denílson ri para os dois e o casal entreolha-se.
– Hotel? – Pergunta Mauro, rindo.
– No, we need a bathroom, just a simple bathroom.
– Caraca – Denílson dá outra risada – não faço ideia do que esses dois querem.
Os estrangeiros desistem e vão-se retirar quando Carlos sacode a cabeça e levanta-se, estendendo o dedo para trás.
– You must go about forty meters by that way. There is a bathroom at life keeper's post.
– Thank you.
– You're welcome.
– Ae, Carlinhos, arrasando no inglês, hein? – Mauro dá uma risada. – Afinal, o que os gringos queriam?
– Caramba, gente, não é legal rir dos estrangeiros. Já pensaram se fosse ao contrário? Vocês iam gostar? Eles queriam saber onde tem um banheiro perto. Esqueceram das aulas de inglês no colégio?
– Porra, mano, as aulas de inglês eram um saco e o professor muito chato.
– Também achava – Denílson concorda – mas Carlinhos tem razão. Foi mal. Você fez algum curso de inglês, quatro olhos?
– Fiz dois anos, quando era criança e por exigência do meu pai. Mas valeu a pena, especialmente quando viajamos para a Europa, nas férias. Foi gostoso entender as pessoas. Eu até ando pensando em fazer espanhol um dia destes.
– Você falou com muita desenvoltura, Carlinhos – afirma Denílson – tanto que até me deu vontade de fazer um curso de inglês.
– Nunca é tarde para aprender, negão.
― ☼ ―
Na sexta-feira o casal sai com os amigos e, na volta, dormem na casa da Ana. Tarde da madrugada, ela levanta-se para beber água e, ao retornar, aninha-se nos braços do Carlos.
De manhã, quando acordam, Carlos estranha a seriedade da namorada. Enquanto tomam café, pergunta:
– Aninha. Você está demasiado séria. Aconteceu alguma coisa?
– Acho que temos de conversar, Carlos.
– Você está me assustando, gatinha. Por acaso descobriu que engravidou?
– Não, nada disso.
– Então diga logo. Estava tudo tão bom até você acordar!
– Nós não podemos continuar mais.
Carlos para de tomar o café e olha para a namorada sem entender absolutamente nada. De olhos arreglados e sentindo a cabeça latejar, ele diz:
– Olhe, Aninha, se isso é uma brincadeira, é de péssimo gosto. Péssimo mesmo. Posso garantir.
– Eu não aguento mais ver Sheila sofrendo daquele jeito, Carlos, e sei que você não me ama.
– Ana. Estamos juntos há pouco menos de quatro semanas. Isso é uma palavra forte demais para tão pouco tempo, mas eu estou muito apaixonado e você sabe disso.
– Acho que você ainda ama Sheila, mas não se entrega.
– Mas que...
– Carlos, não estou zangada e sei o que digo. Você nunca me vai amar, nunca. Sem falar que não aguento ver Sheila daquele jeito. Por isso, nós vamos terminar agora antes que eu também comece a sofrer. Já decidi e ponto final.
– Ana, você está falando besteira. – Carlos exaspera-se. – Caramba, eu sou perdido por você!
– Não, não é. Apenas pensa que é e sei o que estou dizendo. Carlos, isto é muito difícil para mim, mas sei que estou fazendo o que é certo. Você ainda ama Sheila e não quero mais namorar com você.
– Tudo bem, se é isso que deseja, mas nem pense que vou ficar com Sheila por conta do que disse. – Levanta-se para sair. Vai-se despedir com um beijo e ela agarra-o, dando um último e grande beijo, tremendo toda.
– Adeus, meu amor. – Seus olhos estão úmidos. – Eu amo você e peço perdão. Quer ficar com o carro de volta?
– Presentes não se devolvem, Ana. Adeus.
Muito chateado, Carlos sai da casa da Ana, andando devagar pois veio sem carro.
― ☼ ―
Com licença, vocês falam inglês? Nos gostaríamos de saber onde há um banheiro por perto.
Andem cerca de quarenta metros naquela direção. Há um banheiro no posto salva vidas.
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