Capítulo 4 - parte 2 (não revisado)
Sheila caminha devagar, com o livro na mão. Ela, no fundo, tenta protelar ao máximo o encontro. Curiosa, olha a contracapa da obra e lê a sinopse, que a deixa para lá de curiosa sobre o livro. Abaixo, vê a resenha do Miguel, que é só elogios. Caminhando devagar, vai para a primeira página e começa a ler, ficando completamente fascinada e, como anda sem olhar para o caminho, colide com um poste. Esfrega a cabeça com um gemido, mas não consegue tirar os olhos da obra. Ao fim de meia hora, está de frente à casa da amiga, ainda lendo. Tropeça no degrau da varanda e cai um senhor tombo. Com uma careta, levanta-se e ajeita a saia, que subiu deixando tudo de fora. Olha em volta para ver se alguém a viu, mas está sozinha. Toca na campainha e Ana abre. Ao ver quem é, faz cara feia.
– Posso entrar, Aninha? – Estende o livro. – Carlos pediu para lhe entregar.
– Entre. – Ana pega o livro e ambas sentam-se na sala. Sheila não sabe por onde começar. – O que deseja?
– Ana... eu... eu... – suspira fundo – me perdoe por tudo.
– Eu me ofereci para sair do caminho, Sheila, e você não quis. Horas depois e na minha casa, declara-se para ele e ainda por cima o tenta beijar! Tenta beijar o mesmo cara que, dias antes, jurou que jamais beijaria, que preferia morrer a fazer isso!
– Eu o amo, Ana, me desculpe. – Sheila baixa a cabeça. – Acabei de descobrir que jamais o esqueci e me perdoe pelo domingo. Apenas queria ter certeza se, para ele, eu era uma página virada. No entanto, acabei sucumbindo ao impulso de o beijar e, como você bem viu, ele não me deseja mais. Me perdoe o que fiz. Ultimamente faço tudo errado.
– Você não vê que me magoa profundamente com o que faz a ele? – Ana fica meio exaltada. – Puxa vida, Sheila, ele fez algo sensacional: escreveu um livro que foi elogiado pelo melhor escritor do Brasil! E você simplesmente detona com a imagem dele e com a nossa alegria por uma vitória mais do que merecida! Que droga...
Novamente a garota baixa a cabeça. Envergonhada, interrompe a amiga, dizendo:
– Tem razão, Ana. Acho que me vou afastar da turma até superar isto tudo.
– Vamos fazer o seguinte. Eu vou ver por mais uma semana como são as coisas entre nós. Se houver uma chance para você, por menor que seja, vou terminar com ele. Você é minha amiga de infância e eu não suporto ver o seu sofrimento. E olhe que até isto que tá rolando entre eu e ele é de sua responsabilidade ou esqueceu que foram as suas provocações que começaram tudo?
– Você achava ele um gato, ou foi só onda?
– Sempre achei. Eu até tirei uma foto dele em segredo e ampliei, colocando na porta do meu armário. E ele é um gato sim. Você é que nunca quis ver isso, pelo menos até há pouco tempo. Eu vou sentir muito, se terminar com ele, mas vejo que você o ama muito mais do que eu. Se não fosse tão cabeçuda, já teria resolvido isso. E pare com esse papo de nerd, Sheila, pois ele é um atleta e dos bons. O quarto dele deve ter mais de cinquenta medalhas na estante, a maioria de ouro.
– Caraca!
– Pois é. Bem, vamos esquecer tudo e ver o que vai acontecer esta semana, ok?
– Obrigada por isso, Ana, mas acho que perde o seu tempo.
– Não me agradeça. Só pare com essas brigas sem sentido. Isso só vai afastar Carlos cada vez mais, ou acha que ele gosta das suas provocações?
– Vou tentar, juro. Vou voltar porque Carlos me espera para sairmos.
– Sheila, esse Carlos tá perdidamente apaixonado por você. Já se deu conta que o vai magoar?
– Ele sabe de tudo. Contei para ele.
– Carlinhos acha que ele é gay, mas o jeito que ele a olha diz que não é!
– Ele me confessou que é bissexual. Mas não diga nada, ok? Ele é doce e sensível.
– Ok. – Ambas abraçam-se e Sheilinha, muito aliviada, beija a amiga.
– Eu dei uma olhada no livro do Carlinhos. Parece ser realmente muito bom.
– Então aproveite para se desculpar com ele.
– Farei isso, Aninha. – Sheila suspira e olha para o livro na mesa. – Não sei como sempre acabo fazendo tudo errado.
– Isso acontece porque você luta contra si mesma. Não aceita uma coisa demasiado simples, mas que a assusta muito.
– Carlos já me disse isso. Bem, vou indo que ele me espera.
― ☼ ―
Quando a garota retorna, só estão os dois Carlos conversando tranquilamente e tomando uma cerveja. À distância, ela observa o par. Olhando o rosto do seu Carlos, aquele que tanto ama e só agora assumiu, nota que é realmente muito bonito e que os óculos não lhe tiram essa beleza, apenas fazendo com que pareça mais sério. Ela nunca havia parado para observar e agora sente uma grande tristeza ao ver isso. Quando se aproxima, o rapaz sorri, gentil.
– Então, resolveram-se?
– Sim, e me perdoe pelo que eu disse sobre o seu livro e você escrever. Enquanto caminhava, li algumas páginas.
– Eu imaginei, Sheila. – Sorri novamente. – Por isso pedi para você o levar prá Ana. Se soubesse quando e porquê escrevi-o, entenderia. Bem, eu esperava você voltar para que as duas tivessem privacidade. Agora vou encontrar Aninha que vamos jantar juntos. Até mais.
– Té mais.
Este levanta-se enquanto liga para os pais, avisando que não vai dormir o fim de semana em casa. Ela ouve e fica tremendamente abatida, mas esconde isso. Carlos, enquanto caminha, começa a pensar que pretende ir viver sozinho na sua própria casa, Decide que, em breve, vai procurar um local para si.
– Sabe, Sheilinha, ele é um cara sensacional. Não sei como você não viu isso!
– Vi sim, mas tarde demais. Agora tenho que pôr esse passado todo para trás e recomeçar do zero.
– Você ainda me tem.
– Eu sei disso, gatinho. – Sorri e beija-o delicadamente. – Mas não sei se estamos certos em fazer isto. Eu posso magoar você. Infelizmente, me tornei especialista nisso.
– Ora, acho que posso correr o risco, né?
– Quer fazer o quê?
– O seu pessoal vai-se reunir em uma danceteria e nos convidaram para irmos juntos. Tá a fim?
– Claro que sim. Só peço que me deixe em casa pra trocar de roupa.
– Também preciso me trocar. Vamos indo que já está escuro.
No carro, ele beija a garota, que corresponde.
– Acho que a amo, meu coração.
– Gosto de você, mas não posso dizer o mesmo, me perdoe. Talvez no futuro, quando superar tudo.
– Tudo bem, Sheilinha, eu entendo e posso esperar. Acho que esperaria até ao fim dos tempos. Você é uma pessoa muito especial, mas precisa de se reencontrar, coração. Eu vejo claramente que você está assim por culpa sua.
– Eu sei, mas há coisas difíceis de corrigir, talvez impossíveis. Esta é uma delas.
– Acho que não, mas você precisa de mudar. Apesar de amar você, Sheila, eu faria tudo para a ajudar; contudo, somente você pode fazer isso.
― ☼ ―
– Então, amor, melhor? – Carlos abraça e beija a namorada.
– Sim, mas não se esqueça que prometeu que não vai mais revidar as provocações da Sheila. Sabe o que sinto quando você faz isso?
– O quê?
– Que isso afeta você, que ainda gosta dela.
– Eu gosto de você, Ana, cada vez mais. Não consegue ver isso nos meus olhos?
– Sim, consigo. – Sorri e acrescenta, manhosa. – Mas você tremeu quando ela pegou o seu braço e vacilou quando o beijou.
– Pare com isso, amor. – Carlinhos fica meio sem jeito, mas a namorada não nota.
– Tá bom. – Enlaça o seu pescoço e beija-o. – Vamos para o quarto que quero ajuda para escolher uma roupa.
– Que tal aquele vestido vermelho da semana passada. Você fica linda nele. Linda e muito gostosa.
– Você gosta porque tenho que usar sem sutiã, não é meu lindo taradinho?
– Entre outras coisas, amor – ele dá uma risada – mas a melhor parte é ver você se trocar.
Ela despe-se e ele vai agarrando e acariciando a namorada, puxando-a delicadamente para a cama.
– Nada disso, amor. Temos de comprar preservativos. Já chega a Deby e nem penso em ver a Aninha grávida. Estou exatamente no período fértil.
– Ora, é só manter o controle e não terminar dentro...
– Essa é a forma mais perigosa de fazer isso, amor, sem falar que é difícil se controlar nessa hora. Muito difícil mesmo, e você bem sabe disso. Afinal, a melhor definição de orgasmo é "o momento em que o Homem perde a razão".
– Então a gente fica só nos carinhos!
– Caraca, amor, nós vamos dormir juntos e temos a noite toda para fazer isso. Seja sensato!
– Tem razão, Aninha. – Solta a namorada, sorrindo. – Sabe, eu adoro você. Há muito que não me sentia tão bem e feliz.
Ela fica deliciada com o que ouve. Beijam-se e a moça põe o vestido, rindo do namorado que vai fazendo cara de triste à medida que a sua nudez desaparece.
Quando saem, ele para na farmácia e compra o que precisam para a noite, que promete muito. Ana, ao ver uma sacola com montes de preservativos dá uma risada.
– Caraca, você pretende transar com um harém – pergunta, olhando a sacola e rindo ainda mais – ou tem algum complexo de super-homem? Quantos tem aqui?
– Uns quarenta, de todos os tipos e cheiros. É bom variar. Tem até alguns que servem para prolongar a relação. Esses eu nunca tinha visto e quero experimentar.
– Nossa, amor, isso dá cento e vinte camisinhas. Você realmente pensa que é o super-homem? – Ela ri de novo, – Você deve ter limpo o estoque da farmácia!
– Não. – Carlos também ri. – Mas você devia ter visto a cara do sujeito do caixa. Bem, a gente fica com um pequeno estoque e deixamos metade na sua casa. Afinal, com o seu pai sempre em Brasília, podemos ter fins de semana idílicos. Como o anterior e agora.
– Para sua informação, não preciso esconder nada dos meus pais e minha mãe sabe sobre nós.
– Mesmo assim, fico mais à vontade quando somos só nós.
– Bobinho. Não devia pensar desse jeito, amor. Eu nunca escondi nada dos meus pais e acho muito melhor assim.
– Querendo ou não, Aninha, eu ainda sou muito inexperiente. Antes de você, só transei com uma namorada.
– Eu sei, amor. Você me disse quando discutimos sobre não termos usado camisinha.
― ☼ ―
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