Capítulo 3 - parte 3 (não revisado)
Carlos passa pela praia e me vê sentado no quiosque justo quando Sheila despede-se e volta a correr. Encosta o carro e vem até mim. Quando está próximo, ergo os olhos e sorrio para aquele jovem com quem simpatizo tremendamente. Aponto a cadeira, depois de apertar a sua mão.
– Aceitas uma cerveja, tchê?
– Claro. Obrigado, Miguel. Apesar de ter acabado de tomar café da manhã, acho que preciso disso. Eu vim falar consigo para lhe pedir uma coisa, se não for incômodo.
– Se estiver ao meu alcance, terei o maior prazer.
– Bem, eu gosto muito de escrever e fiz um pequeno ensaio. Uma comédia romântica. Obviamente sou totalmente inexperiente, mas gostaria de uma opinião de alguém entendido como você.
– Mas é claro que terei o maior prazer em ler o teu livro. Quando tu quiseres, manda-mo.
– Ele está no meu pen drive. Já que o seu micro está ligado, pode copiar. – Tira o chaveiro e mostra o pen. Eu copio para o meu computador e devolvo. – Obrigado por ter essa paciência. É que estou realmente curioso sobre o que escrevo. Eu faço isso há alguns anos e adoro.
– É bom ver um jovem fazer isso, Carlos.
Continuamos a beber tranquilamente quando Sheila volta, ainda correndo. Ao ver Carlos, não resiste e para junto a nós.
– Você não estava dormindo com Ana? – Pergunta-lhe e noto os ciumes terríveis que a acometem. – Ou veio aqui fazer fofoca?
– Se você se preocupa com fofocas, Sheila, deveria evitar andar com gays. Afinal, eu notei como ele olhou para mim.
– Como se atreve. – Diz ela, muito vermelha. – Você...
– Olhe, Sheila, sei que é muito amiga da Débora. Então vá para a casa da Ana que ela está lá e muito encrencada. É por isso que eu saí, para elas ficarem mais à vontade.
– O que aconteceu? – Sheila demonstra preocupação. – Vamos, diga logo.
– Pra você me rotular de fofoqueiro? Já chega ser nerd, Sheila. Faça um favor e vá logo para lá. Ela precisa, e muito, de amigas. A coisa tá muito feia.
Eu vejo a garota sair correndo e noto que ele não tira os olhos dela.
– Bela garota – comento sorrindo – e que corpo espetacular.
– Mas uma cabeça vazia, infelizmente.
– O que aconteceu com a amiga?
– Não se cuidou e engravidou, com apenas dezoito anos. Verdadeiro desperdício. O namorado é outro cabeça vazia e nem pensa em assumir, querendo que aborte. Ela, por causa da religião, não quer fazer isso. Mais uma idiotice, deixar a religião dirigir nossas vidas. Entretanto, também não sou a favor do aborto, mas admito exceções.
– Não queria estar na pele deles. Que perrengue!
– Nem eu. – Carlos ri. – E olhe que sexta-feira nós cometemos uma leviandade dessas!
– Quanto à Sheila, eu não concordo com o que disseste sobre ela. É jovem e impulsiva, assim como tu, mas não é vazia e está passando por um momento difícil. Eu acho que a deverias reavaliar. Sei que te fez sofrer muito, pois eu vi isso e ela me contou tudo. Mas também sei que se arrependeu profundamente, entretanto tu não lhe dás chance de provar isso.
– Miguel, eu nunca e em tempo algum tomei a iniciativa de qualquer agressão; mas, geralmente, devolvo a bola quando ela me ataca.
– Perdoa o que te vou dizer, mas isso é uma atitude infantil. Não notaste que ela está roxa de ciumes? Além disso, o fato de tu revidares é sinal que isso te afeta, que ela ainda mexe contigo?
– É possível que tenha razão. Afinal, também não passo de um jovem inexperiente sobre a vida. Talvez por isso o meu livro possa ser um pouco infantil.
– Ora, o fato de não ter experiência, não faz o autor ser fraco. Eu demorei a entender isso. E jovens da vossa idade me atraem. Tanto que ando observando vocês e pretendo escrever uma história a respeito.
– Deixa-me lisonjeado, Miguel... – O telefone dele toca. – Com licença. Alô... oi Mauro... o Rui?... sim, já sei de tudo. Estava com Ana quando Débora apareceu na casa dela... ok, estou indo.
Desliga e olha para mim.
– Desculpe, Miguel, hora de dar bronca no palhaço do Rui. E ele ainda quer ter razão!
– Pega leve, tchê, e boa sorte. Vou ler o teu livro agora mesmo.
– Obrigado pela cerveja, Miguel, até breve.
– Inté mais, tchê.
― ☼ ―
Sheila, muito preocupada, bate na porta da Ana que a abre. Curiosa, olha para a amiga.
– Encontrei Carlos na rua com Miguel Almeida e ele disse que eu deveria vir aqui. O que houve?
– Entre. Ele não disse o que foi?
– Não. – Sheila não deseja falar sobre a pequena afronta. – Só disse que Deby está bastante encrencada e que precisa muito das amigas.
– Disso, você pode ter certeza.
Ambas dirigem-se à cozinha e Sheila vê a amiga com ar desesperado e infeliz. Chega-se a ela e abraça-a com força.
– O que houve de tão ruim, Deby. Carlos disse que você precisa de ajuda!
– Já começou a fofoca...
– Não seja injusta, Deby. Ele não quis contar nada pra mim. Nós nos encontramos e, pra variar, tivemos uma pequena discussão. Ele disse que era melhor eu vir correndo para cá, que você estava encrencada e precisava de muita ajuda. Eu conheço Carlos e ele jamais faria uma sacanagem com você.
– Caraca, o que tá acontecendo? – Espanta-se muito. – Você defendendo ele! Acho que o mundo vai acabar!
– Olhe, ele pode ter muitos defeitos, mas não faria isso.
– Você é a única que não enxerga isso, Sheila. Se parasse de implicar com ele, veria que é o cara mais bacana da turma, mas juro que eu pensava que ele não era chegado. Bem, se quer saber, eu estou grávida de quase dois meses.
– MAS QUE MERDA VOCÊ FOI FAZER, DÉBORA!
– Pelo amor de Deus, Sheila, não grite comigo que já estou no fundo do poço.
– Desculpe. Puxa vida, Deby. Nem da minha irmã eu esperava uma cagada dessas! Pô, você não é mais criança...
– Chega, Sheila. – Afirma Ana. – O que ela precisa agora é de apoio e ajuda. O que aconteceu, aconteceu e não pode ser mudado.
– Onde está Rui?
– Nós brigamos. Ele não quer assumir e a briga foi feia. Estou muito magoada e zangada. Não sei onde ele foi.
― ☼ ―
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