Capítulo 3 - parte 2 (não revisado)

– Amor, eu podia jurar que aquele Carlos que Sheila nos apresentou é gay!

– Não acredito que está dizendo isso! – Ana zanga-se. – Não bastam os ataques de ciume da Sheila e agora é você?

– Anjo, estou falando sério. Ele me olhou de um jeito estranho!

– Ora, vai ver é bissexual. E ela foi logo arrumar um com o seu nome. Sei não, mas nada me tira da cabeça que ela é perdidamente apaixonada por você, Carlinhos. O que disse a ele? GAU?

– Um cumprimento Maçônico. GAU significa Grande Arquiteto do Universo, a forma como nos referimos a Deus.

– Você é Maçom, amor? – Ana ri. – Meu pai também é!

– Sabe a loja dele?

– Só sei que é Grande Oriente do Brasil. Será que vocês se encontram?

– Não, Aninha, pois sou das Grandes Lojas. Então, vamos para o tal motel ou de volta para a sua casa. Aquela sua cama é muito gostosa!

– Você quer dormir lá? Afinal, os meus pais só voltam segunda! Apesar que não ia dar em nada, se estivessem aí.

– Mas é mais que óbvio que eu desejo ficar com você, Aninha. Vai ser uma maravilha dormirmos juntos, coisa que nunca fiz. Muito melhor que ir para o motel e depois para casa.

– Então vamos, amor, que também nunca fiz isso. Deve ser uma delícia passar a noite fazendo amor com você e acordar nos seus braços, no dia seguinte.

Feliz, liga para os pais avisando que não vai dormir em casa e entram no carro.

― ☼ ―

– Sheila, você não acha que já bebeu demais?

– Ora, Carlinhos, é sábado. – Ela ri. – Não seja careta, amor.

– Tá me chamando de amor?

– Você é um amor – Sheila beija-o, rindo – e bem gostoso. Afinal tivemos uma manhã tórrida pra cacete.

– E você é uma ébria, lindinha, uma bela e irresistível ébria. Melhor parar que até já está enrolando a língua.

Rindo, Sheila volta a beijar o rapaz, encostando-se mais a ele e insinuando-se.

– A gente podia sair daqui e ir pra outro lugar fazer algo muito gostoso que é continuar o que fazíamos de manhã. O que acha?

– E você quer fazer amor com qual Carlos, Sheila? – Ele fica sério e afasta-a. – Seja sincera, meu coração.

– Você tem que estragar tudo?

– Coração, eu também quero muito fazer amor consigo, mas desejo você comigo e não uma Sheila pensando em outra pessoa.

– Eu estou aqui com você, certo? – Esta olha o amigo. – Garanto que não estava pensando nele.

– Então vamos.

Pagam a conta e entram no carro. Ambos começam a se beijar e agarrar ali mesmo, tremendamente excitados. Carlos liga o veículo e vão para o motel.

Uma hora depois, o celular da moça toca e vê que é a irmã.

– Oi, Bia.

– "Onde está, mana?"

– Com Carlinhos.

– "Ah, tá. Cheguei agora e não vi você, daí me preocupei. Até imagino o que anda fazendo."

– Pode ter certeza. – Sheila ri. – Que gato, já estamos na quinta!

– "Pelo jeito, você o desvirtuou totalmente e tem voz de quem novamente bebeu demais. Bem, não chegue muito tarde."

– Tchau, mana. – Desliga e vira-se para o amigo. – Que tal uma última, antes de irmos embora?

Manhosa, acrescenta:

– Ajuda a dissipar o álcool.

― ☼ ―

Ana está feliz, dormindo abraçada ao namorado e sentindo-se cada vez mais envolvida. Muito cedo, a campainha toca, despertando a moça que se levanta com cuidado para não acordar Carlos. Veste um robe e abre a porta para dar de cara com Sheila, que está vestida com um short bem curto, camiseta e tênis.

– Oi, Ana, posso entrar? Queria falar com você.

– Agora não é uma boa hora, Sheila. Carlos está no quarto, dormindo.

Ana nota o semblante da amiga mudar e o ar de triste que ela vem apresentando acentua-se bastante.

– Tudo bem, eu entendo. De qualquer forma, vim aqui para dizer que não quero que termine com ele. Eu quero que seja feliz, só isso. – Abraça Ana. – Obrigada por ser tão minha amiga.

– Você ainda o ama, Sheila?

– Sim. Acabei de descobrir isso, mas de nada adianta. Esqueça a sua oferta que não vale a pena, pois ele não me quer mais. O que eu lhe fiz foi tão pesado que ele jamais perdoará e não posso culpar Carlos. Agora vou correr um pouco. Até mais.

Ana fecha a porta e volta para a cama, descobrindo que o namorado já está acordado.

– Algum problema, amor?

– Apenas Sheila. Ia correr e quis dizer algo. – Ana abraça Carlinhos, beijando-o e subindo em cima. – Acho que este domingo vai começar como o diabo gosta.

Mais tarde, na mesa da cozinha e tomando café, Carlos comenta para a namorada:

– Engraçado, mas não tenho visto Débora nem Rui desde que começaram a namorar há dois meses.

– Sinceramente, acho errado o casal se isolar dos amigos.

– Também acho, Aninha. Eles começaram a namorar e literalmente desapareceram da turma. Isso não está certo. Uma hora dessas, aparecem de novo e com a vida mudada.

Tocam a campainha e Ana vai ver quem é. Para sua completa surpresa trata-se da moça de quem falavam e que está aos prantos. Ela abraça a amiga e leva-a para dentro. Esta chora muito, sem ver Carlos que está tão espantado com a aparição quanto Ana.

― ☼ ―

Sheila corre por meia hora e para no quiosque, que não tem ninguém exceto eu, embora ela nem me note. Senta-se na mesa, pede uma água fora do gelo, cruza os braços e deita a cabeça sobre eles, chorando discretamente.

Eu vejo-a ali sentada, aos prantos, e chego perto, pousando a mão no seu ombro, o que a assusta. Vira-se para mim, com os olhos cheios de lágrimas, vermelhos. Ao me ver, ela levanta-se e abraça-me, enterrando o rosto no meu peito e chorando mais, enquanto lhe afago os cabelos. Quando se acalma, faço-a sentar-se e sento-me ao seu lado. Henry traz uma cerveja para mim e a sua água.

– Então, querida, o que te aflige tanto?

– Tudo. Minha vida está um inferno.

– Por causa do Carlos. Diz-me sinceramente, meu anjo, tu amas realmente esse garoto?

– Eu o amo desesperadamente, Miguel, mas não posso roubar o namorado de uma amiga tão especial. Afinal, fui eu que fiz a merda toda. E ela ainda se propôs a terminar com ele, por mim.

– Nesse caso, querida, tu tens duas opções: mudas de rumo e partes para outra; ou vais à luta e tentas reconquistá-lo.

– Já disse que não vou roubar o namorado dela. Hoje fui-lhe dizer que ela não deve terminar com ele. Além disso, Carlos não quer saber de mim. Ele jamais perdoou o que lhe fiz e eu não o posso censurar por isso.

– Mas quem te garante que não te perdoou? – Questiono a moça, pois conheço a índole dele. – Sabes, não me espantaria nada se ele ainda gostasse de ti e sabes porquê?

– Não faço a menor ideia.

– Simples, minha linda, porque ele revida todas as tuas provocações. Se ele te ignorasse completamente, aí sim, a peleja seria outra. Bah, tchê, que perrengue tu foste arrumar. – Ela sorri ligeiramente ao ouvir isso. – É bom ver um sorriso nesse rosto.

– É que tenho um amigo que disse isso. Ele quer ser filósofo e também citou Sartre.

– Ele é gaúcho?

– Não, na verdade é bissexual e teve um namorado gaúcho. Agora, está apaixonado por mim e até já fiquei com ele, que foi muito gostoso. O problema é que não quero ele magoado e eu acabo magoando as pessoas. Principalmente porque ele se chama Carlos.

– Sabes, coisinha bonita, tu tens o verdadeiro dom de arrumar confusão.

– Tem razão, Miguel, acredito que sou expert nisso. – Ela levanta a voz. – Henry, pode trazer outra água, mas agora gelada?

― ☼ ―

– Céus, Deby, o que houve?

Débora é uma moça alta, de um metro e oitenta, ruiva e com muitas sardas. O seu rosto é bonito e a pele muito branca, tanto quanto a Ana. Mas, ao contrário desta, é um pouco acima do peso sem chegar a ser obesa. A garota, que sempre irradia muita alegria de viver, está de tal forma transtornada que até assusta Carlinhos. Em meio aos soluços, continua:

– Eu fiz uma besteira terrível, Ana. – Não consegue falar mais nada, voltando a soluçar sem parar. Carlos estende um copo de água para a moça, que só agora o vê. Logo depois, nota que ambos tomavam café da manhã, concluindo que dormiram juntos. O espanto é tão grande que fica muda e de queixo caído.

– Quer que eu me retire para ficar mais à vontade, Débora?

– Tudo bem. De qualquer forma vai acabar sabendo. Eu me descuidei. Coisa boba, mas o resultado é que estou grávida.

– Puxa vida, Deby, que vacilada! O que pretende fazer?

– Rui quer tirar. Ele não quer assumir a criança, mas eu sou religiosa e não pretendo abortar. Sem falar na grana.

– Você sabe que isso vai prejudicar a sua vida, e muito, não sabe? – Questiona Carlos. – Eu também não sou a favor do aborto, mas por outros motivos que não a religião. Se você decidir fazer, eu lhe dou o dinheiro, Débora, e de boa vontade. Mas pense bem, pois acho que deve refletir muito e tomar uma decisão da qual não venha a se arrepender depois. O pior já aconteceu. Agora, pondere com muita calma e somente após isso tome a sua decisão. Você correu muitos riscos, bem piores que engravidar. Quando a gente transa com alguém que acabou de conhecer, deve ter todo o cuidado. Afinal, a AIDS está aí e é um inimigo invisível.

– Tem razão, Carlos, mas eramos ambos virgens.

– E aquele safado vivia contando vantagem! – Carlos dá uma risada delicada. – Não sei por que os homens têm tanta vergonha da sua inexperiência. Bem, eu vou deixar vocês a sós, para ficarem mais à vontade. Você devia ter pensado que virgindade não a livra de uma gravidez, Deby.

Carlos, levanta-se e beija a namorada. Depois, dá um beijo na testa da amiga.

– Depois me ligue, amor. Deby, acalme-se que tudo tem solução e, o que não tem, já está solucionado.

– Desde quando começaram? – Pergunta, assim que Carlos sai, ainda bem espantada. – E eu que pensava que esse cara não era chegado!

– Ele é o maior gato do mundo, Deby. Tem o corpo sarado pra caramba e é um verdadeiro atleta; em todos os sentidos. Começamos na quarta e estou cada vez mais a fim dele.

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