Capítulo 2 - parte 4 (não revisado)

As duas amigas ouvem a freada, e veem os quatro marginais saindo do veículo. Ana nota logo que um deles é Gilberto, que o namorado acertou horas antes. Ele aponta, informando:

– Essa aí é a namorada daquele veado do quatro olhos. Peguem-nas e vamos fazer uma rica festa com elas.

Com um grito ambas se abraçam e encostam ao muro do prédio por onde passam, enquanto os marginas cercam-nas. Antes que possam fazer algo, eu alcanço as garotas e me coloco na frente delas, pronto para tudo. Com calma, ameaço:

– Tchê, se vocês querem manter os dentes e ossos no lugar usual, entrem naquele carro e vão embora. Deixem estas gurias em paz.

– Xi, o gaúchinho pensa que é macho! – Afirma um, rindo. Este pega um canivete e me ameaça. – Qual é, mermão, perdeu.

– Quem perdeu foste tu, tchê, os dentes e as costelas.

Furioso com a ameaça, eu avanço sobre eles e pego o do canivete primeiro. Uma pancada seca sobre o seu pulso é o suficiente para o quebrar, seguido de um soco no maxilar, forte o bastante para rebentar uma boa quantidade dos seus dentes enquanto ao mesmo tempo chuto o do lado que voa longe e cai rebentado. Finalizo o do canivete com outro pontapé e este fica arrumado, com algumas costelas partidas e a cinco metros de distância das garotas, inanimado, enquanto mantenho o giro para chutar o terceiro, que cai desmaiado no chão. O último saca de um revolver e eu salto com os dois pés no seu peito, antes que o possa erguer e atirar. Este voa e colide com o carro, caindo todo rebentado e amassando o veículo. Calmamente, pego o revolver dele pelo cano e me aproximo das moças, que tremem de medo. Denise chega, enquanto elas se abraçam a mim, tremendo sem parar e com uma cara de puro medo. Apesar do mal estar, a minha esposa ajuda as duas, puxando-as para si.

– Já chamei a polícia, Miguel. Vocês estão bem? – Denise abraça as meninas. – Graças a Deus que estávamos atrás de vocês.

– Sim, só assustadas. Obrigada pela ajuda, Miguel.

– Não precisas de agradecer, Sheila. A polícia já deve estar chegando.

Mal termino de dizer isso, uma viatura da polícia militar encosta com a sirene a mil e saem dois PMs. Casualmente um deles é o que, mais cedo, queria prender Carlos. Olha os corpos no chão.

– O que houve, senhor Almeida? – Pergunta, assombrado.

– Esses quatro atacaram as moças. São da mesma gangue daquele ali, o que o senhor viu ser espancado pelo namorado desta menina. Queriam descontar nas garotas, estuprando-as. Portavam uma arma de fogo. – Miguel levanta o revólver. – Eu não duvido nada que hajam drogas no carro, pois já os vi cheirando coca na frente do quiosque.

O policial começa por algemar os criminosos. O outro, sai da viatura e começa a revistar meticulosamente o carro, encontrando entorpecentes, tal como eu suspeitava.

– Bem, antes de irem para o xilindró vão precisar de passar um tempinho no hospital. – Com simpatia, o primeiro policial sorri para as moças. – Vocês precisam de ir para a delegacia prestar depoimento. – Haja sorte o senhor Almeida estar por perto.

– Não tem problema. Mas primeiro vou levar a minha esposa para casa, pois ela não se sente bem e está grávida. Depois passo lá. Moças, vocês vão ficar bem?

– Vamos sim. Obrigada, Miguel.

O policial negro põe as duas na viatura e leva para a delegacia, enquanto o colega espera a SAMU.

– Caraca! – Comenta Ana, baixinho. – Comparado com Miguel, Carlinhos é um santo. O cara detonou os quatro em cinco míseros segundos! Que foi aquilo que ele fez?

– Sei lá – responde Sheila, sem querer trair a confiança que Miguel depositou nela – mas chegou na hora exata. Caramba, aqui dentro estou me sentindo uma delinquente!

A viatura para na delegacia e o PM leva as moças para dentro, explicando a uma policial feminina o que ocorreu. Esta sorri para as duas e leva-as para uma sala. Ambas olham o recinto de tamanho médio, cheio de cadeiras nos cantos e com paredes de azulejo. Ao longo do corredor, há algumas portas, todas fechadas.

– Aguardem aqui que o delegado já vai chamar vocês. Não querem ligar para as vossas famílias?

– Eu vou ligar pro Carlinhos, pois não quero assustar os meus pais que estão fora da cidade.

– Também não quero assustar os meus, mas acho melhor ligar para eles.

– Ele não atende! – Aninha estranha muito.

– Ligue para o fixo.

– Não tenho o fixo. – Sheila diz o numero e Ana liga.

– Tá chamando. – Você sabe os números dele de cabeça?

– Você nem imagina quantas vezes liguei para ele, tentando falar e me desculpar, desde Março. Peguei com o Mauro. – Ana nota o olhar de infelicidade da moça.

– "Alô."

– Boa tarde, por favor queria falar com Carlinhos. É muito urgente.

– "Quem fala?"

– Desculpe. Sou Ana, a sua namorada. É muito urgente, por favor.

– "Ele está nadando na piscina. Espere que levo o fone até lá."

– Está praticando natação. – Afirma Ana, tapando o fone. – Por isso não atendeu.

– Ninguém atende em casa e nos celulares. – Comenta Sheila, muito preocupada. – Tá tudo fora de área!

Ao ver o pai estendendo o telefone, este para de nadar e vem para a beirada.

– É a sua namorada...

– Valeu, pai. – Pega o fone, mas nada ouve. – Está mudo. Deve ter caído a ligação.

― ☼ ―

– Que droga! – Ana olha para o aparelho. – Mas que hora para acabar a bateria...

– Use o meu. Só que eu acho que ele não vai atender...

– Ele sabe que estou com você, logo deve imaginar que sou eu, sem falar que afirmei que era urgente. Além disso, acho que ele não tem motivos para não atender.

― ☼ ―

– Ligue para ela, filho, pois disse que é urgente.

– Estou tentando mas tá fora de área. Deve ter acabado a bateria. – O telefone toca e este vê que é o número da Sheila. Cancela a ligação. Na quarta tentativa, comenta, irritado. – Caramba, essa Sheila nunca se toca... Opa, Ana está com ela, só pode ser isso.

O telefone toca novamente e ele vê que é Sheila.

– Oi, Sheila, Ana está com você?

– "Você demorou a compreender, amor, sou eu."

– Oi, Aninha, estava tentando ligar de volta. Pensei que só íamos sair mais tarde e praticava natação...

O rosto de Carlinhos começa a ficar pálido e o pai nota que algo vai muito errado, aguardando.

– Que sorte, amor. Olhe, eu vou para aí e levo o meu pai. Só preciso de me trocar. Beijo. – Com agilidade salta para fora da piscina, entregando o telefone ao pai e pegando uma toalha.

– O que aconteceu?

– Pai, ela e uma amiga foram atacadas por uns marginais que queriam se vingar. – Conta tudo. – Os pais da Ana estão viajando e a Sheila não conseguiu contatar ninguém da família. Todos os aparelhos estão fora de área. Poderia vir comigo para a delegacia? Acho que alguém mais velho pode ajudar, nem que seja na moral.

– Que bom que esse escritor estava por perto. Vamos lá, filho, que eu acompanho.

― ☼ ―

Na delegacia, Ana diz para a amiga:

– Sabe, Sheilinha, tenho uma séria desconfiança que você ainda não superou isso...

– Quem é Ana Cerqueira? – Pergunta o delegado, abrindo uma porta. Ao ver o aceno da moça, sorri e continua. – Entre, por favor. Depois será você, moça. Aguarde e não fique nervosa que o pior já passou. Graças a Deus não aconteceu nada a vocês e estão ilesas.

– Obrigada. – Sheila fica sozinha, pensando na vida e nos acontecimentos recentes.

― ☼ ―

Poucos minutos depois estão na delegacia. Ana atira-se aos braços do namorado, ainda tremendo um pouco.

– Você está bem? – Pergunta após um curto beijo. – Onde está a Sheila?

– Dando depoimento, amor. Sim, foi só um senhor susto, mas tô tremendo até agora.

– Ana, este é o meu pai, Rodrigo Magalhães. Pai, a minha namorada, Ana Cerqueira.

– Prazer.

– O prazer é meu, filha. Que bom que foi só um susto.

– Eu não devia ter batido naquele marginal. Por pouco que vocês se dão muito mal e tudo por minha culpa. Sinto muito.

– Devia sim, amor. Ele bateu no Mauro. Você não podia ficar omisso.

Sheila aparece e Carlos vira-se para ela, aproximando-se e colocando a mão no seu ombro.

– Você está bem, Sheila? Sinto muito. Isso foi tudo culpa minha.

Num impulso cego, a moça abraça Carlos, encostando a cabeça no seu peito e este estremece ligeiramente. Sem jeito, também passa os braços em volta das suas costas. Ana olha para ambos e vê nos olhos da amiga a sua aflição. Quando os fecha, nota lágrimas caindo, até que começa a soluçar. Ana aproxima-se e puxa Sheila para si, abraçando-a. O delegado aparece e olha para o Carlos, perguntando:

– Foi você que bateu no primeiro meliante?

– Sim, fui.

– O seu depoimento e do seu outro amigo podem ajudar, assim como a moça negra. Racismo é inafiançável e esses rapazes não são réus primários, sem falar que portavam arma de fogo e drogas.

– Importa-se se o meu pai me acompanhar? – Pergunta, enquanto liga para o Mauro vir com a Rita.

– Claro que não. Venham.

Carlos presta depoimento e, ao retornar, encontra os amigos juntos, conversando comigo. Sorrindo, aproxima-se e estende-me a mão.

– Obrigado por salvá-las. Eu não devia ter batido nele, mas o sangue subiu quando ele acertou Mauro. Se algo lhes acontecesse, eu jamais me perdoaria.

– Agiste corretamente, tchê. Não esquenta que deu tudo certo.

O delegado pede para Mauro e Rita deporem primeiro, por ser mais rápido e liberar os garotos. Sheila finalmente consegue falar com o pai que aparece na delegacia e, ao ver o pai do Carlos, sorri e cumprimenta-o.

– Como vai, doutor? – Estende a mão. – Pelo jeito não foi só a minha filha que sofreu um atentado.

– Ela e a namorada do meu filho são amigas e estavam juntas quando foram atacadas por quatro marginais em busca de vingança. Felizmente, o senhor Almeida as salvou. – Aponta para mim. O homem vira-se e estende a mão, que eu aperto. Tem um aperto firme, digno de um homem de caráter.

– Obrigado, senhor Almeida, não há nada que pague isso que fez.

– O senhor não precisa agradecer. Gosto bastante destes jovens e fiquei muito satisfeito em estar perto delas quando tal fato aconteceu.

– Bem vejo que a minha filha não exagerou ao dizer que é muito simpático. Ela e a irmã devem ser as suas fãs número um. Bem, eu vou indo. Obrigado novamente. Vamos, Sheilinha?

Os amigos saem da sala do delegado e este me chama. Quando Sheila está para sair, dá meia volta e abraça Carlos novamente, dizendo:

– Obrigada por se importar. – Beija-o no rosto.

Depois, sai com o pai seguida pelo olhar atônito dos outros. Ana levanta a voz e diz:

– Sheila, lembre-se do que eu disse. A minha oferta ainda está de pé.

– O que você disse a ela, amor?

– Desculpe, Carlinhos, mas é um assunto entre eu e ela.

– Tudo bem. Você ainda deseja sair ou está assustada para isso?

– Claro que quero sair. Você me leva pra casa e eu me troco. Daí, nós saímos.

– Pai, obrigado pelo apoio. Como viemos com dois carros, acho que pode ir indo. Eu vou levar os nossos amigos e sair com Ana. Devo chegar tarde; então, não se preocupe.

– Tá certo, filho. Por favor, cuidem-se.

Após largar Mauro e Rita nas suas residências, ambos vão para a casa da Ana. A garota leva-o para o seu quarto e abre o guarda roupa. A primeira coisa que Carlos vê é uma foto sua, uma ampliação grande, colada na porta.

– Onde você arrumou essa foto, Ana?

– Eu fiz secretamente, logo que conheci você. – Enlaça-o pela cintura e beija-o. – Falei a verdade quando disse que sempre achei você um gatinho. Me ajuda a escolher uma roupa?

– Ponha algo simples, pois não estou bem arrumado. – Ela retira um vestido vermelho, muito simples e encosta ao corpo, fazendo pose para o namorado, que faz sinal afirmativo. – Eu acho que esse vai ficar lindo.

Pousa o vestuário na cadeira e tira a camiseta, bem devagar e provocante, vendo o efeito que faz no namorado cujos olhos estão arregalados e fixos nela, mesmo depois de terem passado a noite anterior fazendo amor. Com desejo crescente, Carlos olha o seu corpo, muito bonito, enquanto ela tira o jeans e fica só de calcinha. Babando, este olha para ela que, provocante, aproxima-se dele e beija seus lábios, enquanto ele a acaricia delicadamente.

– Você tá com uma cara de tarado, amor!

– O que esperava de mim, despida desse jeito, ainda mais com langerie transparente! – Vai abraçando a namorada e puxando para a cama.

– Acontece que temos que comprar preservativos, esqueceu? Eu não desejo engravidar aos dezenove.

O namorado tira dois da carteira e mostra, sorrindo. Ela, feliz da vida, começa a tirar a camiseta do Carlos.

– Já vi que a noite de sábado vai começar bem. Melhor impossível.

– Não posso imaginar começo mais perfeito, Aninha. Acho que você é a coisa mais especial que me aconteceu nos últimos meses, e eu penso que...

Ana cala a sua boca com um beijo lânguido e cheio de paixão, enquanto se deitam lado a lado, repletos de desejo.

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