Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)

Carlos está no seu quarto, estudando, quando a empregada bate à porta.

– Senhor Carlinhos, esta moça pediu para vê-lo. – Ele ergue os olhos e dá um sorriso franco, levantando-se alegre. – Diz que é sua namorada.

Ana olha para o namorado, que veste apenas uma bermuda, e corre a abraçá-lo. Após um beijo, ele diz para a empregada:

– Obrigado, dona Maria, pode retirar-se. – A funcionária fecha a porta e os dois começam a se abraçar e beijar. – Ontem estava muito bom, amor, uma sexta maravilhosa. Ainda mais que eu não saía com alguém há tanto tempo!

– Desde Sheila?

– Antes disso. Quando conheci Sheila, estava sozinho. Cerca de um ano. E nunca saí com a Sheila.

– Você ainda a ama, Carlinhos? – Pergunta, apreensiva. – Seja sincero, por favor.

– Ela destruiu todo o amor que eu tinha, Ana, mas agora tenho você. – Beija-a novamente. – Não imaginava que me fosse apegar a alguém tão rápido! Você é demasiado especial, Aninha.

A garota para de o beijar e olha em volta. O quarto é muito espaçoso e bem decorado. Num dos cantos, tem uma cama grande. Ao lado, a porta que dá para o closet e banheiro. No centro, uma salinha com estantes de livros nas paredes, uma televisão e aparelhagem de som. Um sofá de três lugares fica no fundo e, no outro extremo, uma secretária com o computador e uma estante cheia de medalhas.

– Minha nossa! – Exclama, assombrada. – Quantas medalhas!

Aproxima-se para as olhar, uma grande quantidade delas e alguns troféus, a maioria de ouro.

– Gosto de praticar esportes, amor. Que tal a gente sair. Eu já estava ficando cansado de estudar. – Põe uma camiseta e sorri, meigo, enquanto estende a mão para a garota.

– Então vamos ao Cantinho. E de noite? – Ela pega a sua mão e ambos saem caminhando para a praia.

– O que você quiser, Aninha, o que você quiser.

– Tem um motel novo e ouvi dizer que é bacana. – Responde com ar sapeca.

– Podemos ir. – Ele dá uma risada. – Sabe, Aninha, nós fomos muito levianos em não usar preservativos. Espero que não dê um azar.

– Tem razão, amor. É que você me despertou um desejo intenso e um fogo que me queimava sem parar. Se está preocupado com gravidez, não se inquiete que a minha menstruação tinha terminado um dia antes. Quanto a doenças, eu não devo estar contaminada, porque sempre transei de camisinha. Esta foi a primeira vez que fiz tal leviandade. Além disso, não transei tantas vezes assim e foi apenas com um namorado, que acabou rápido, pois descobri que ele me traía.

– Nesse caso, estamos ambos seguros porque a única garota com quem transei também foi sempre com camisinha. Mas, mesmo assim, vamos passar a usar, ok?

– Você tem razão, amor. Apesar de estarmos limpos, há o risco da gravidez. Paramos no supermercado ou na farmácia e compramos.

– Devo ter várias em casa, mas não sei se estão vencidas. Depois olho. Afinal fazia mais de ano que eu não transava.

– Devia ter comprado a boneca inflável, amor. – Ambos caem na risada.

– Essa do manequim, pelo jeito, vai ficar na história.

– Também! Você pegou a Sheilinha de jeito. Ela ficou escarlate e ninguém esperava por aquilo.

Chegam ao Cantinho, sempre muito abraçados, e cumprimentam-me. A garota aproveita para pedir uma foto minha com ela, que dou com prazer. Depois, ela tira o meu primeiro livro da bolsa e pede um autógrafo. Eu pergunto o nome dela e escrevo uma dedicatória. Após agradecer, ambos sentam-se nas mesas que costumam ocupar, no lado oposto do bar. Eu fico observando aquela moça, curioso. Ela é lindíssima, mas não é páreo para a outra, a Sheila. Entretanto, a garota tem um carisma fenomenal, muito maior do que a amiga. Além do casal, em outra mesa próxima a eles, vejo um sujeito conhecido do grupo, mas não amigo. Antes pelo contrário; são inimigos. O outro rapaz é usuário de drogas e anda com gangues, sempre agressivo, mas ignorado pela turma do Carlos.

– Olha só – diz este provocador, ao ver que Carlinhos está sozinho – não é que o babacão número um da escola arranjou uma namorada? E o maior filé, ainda por cima. Parabéns, pois eu já achava que você era um baita veado.

– Já veio preparado para arrumar confusão, Gilberto? – Questiona Carlos, aborrecido. – Você um dia vai-se dar mal e, pelo jeito, continua na escola. Rodou de ano novamente? Tenho pena dos seus pais.

– Fique bem quietinho aí. A sua sorte é que não bato em gente de óculos. Além disso, essa aí é areia demais para o seu caminhãozinho. Manda ela aqui pro papai...

Preocupada com confusões e não gostando da provocação, Ana pega o braço do namorado, falando baixinho:

– Acho melhor irmos embora, amor, que esse sujeito quer arrumar encrenca.

– Não se preocupe, Aninha, que nada vai acontecer. Ele não morde. Conheço o idiota há três anos e é só garganta.

Mal Henry serve as cervejas do casal, chega Mauro, atracado numa garota que tem um corpo espetacular. Esta é negra, muito bonita, e veste apenas biquíni e uma canga. Carlos assobia e leva logo um beliscão, o que faz o amigo cair na risada. Mauro está de sunga e camiseta. Abraçados, sentam-se com o casal.

– Oi, gente, esta é Ritinha, irmã do Denílson. – Mauro dá outra risada descontraída. – Dá pra acreditar que aquele safado escondia este filézinho da gente?

– Oi, Rita, prazer. Mauro, se ele escondia, devia ser de você. E quando souber, vai te sentar o cacete.

– Mas olha só – Gilberto interrompe debochado – agora Mauro se amarra nas crioulas!

– Repita isso, seu racista filho da puta – Mauro levanta-se furioso e avança contra o outro – que vou quebrar a sua cara.

Gilberto, um rapaz rebelde e na casa dos vinte anos, sendo grande e muito forte, bem mais alto que Mauro, senta um tremendo soco no amigo do Carlos, que cai no chão, atordoado e com o lábio sangrando. Calmamente, o jovem levanta-se da cadeira e desafia:

– Se você não pedir desculpas para esta moça e o Mauro, eu vou-lhe dar a maior surra que pode imaginar, meu caro. Vai apanhar tanto, mas tanto, que vai precisar de sair daqui de quatro, se não for de ambulância. – A sua voz é calma e terrivelmente ameaçadora.

– Olha aí, boiola. Já falei que não bato em gente de óculos.

– Não seja por isso – tira os óculos e entrega na mão da namorada – só que não terá a menor chance de chegar perto do meu rosto. Agora, quero ver você bater em mim.

– Não faça isso, amor – pede Ana, sentindo-se assustada – vai-se machucar!

– Acalme-se, lindinha, você viu as medalhas, não viu?

Carlos começa a se virar para enfrentar o outro, que já vem dando um soco no seu rosto. Com uma velocidade impressionante, o jovem desvia-se e desfere uma sequência violenta de pancadas que fazem o agressor começar a recuar aos trancos. Do nariz e lábios, jorra sangue. Com um giro, Carlos pega na mão dele e dá uma chave de braço que faz o adversário cair ao solo. Usa um joelho para pressionar as costelas do agressor contra o chão, provocando uma dor aguda. Enquanto uma mão mantém a chave de braço. a outra pega os seus cabelos e obriga-o a erguer o rosto. Perante o olhar atônito da namorada, o jovem ordena:

– Agora você vai pedir desculpa para a Rita, por ter sido racista, e para o Mauro, por o ter agredido covardemente e sem direito algum. Vamos, senão vai apanhar até pedir.

Gilberto não pede e Carlos solta os seus cabelos, metendo três socos seguidos nas costelas, que já doem muito. Puxa-o pelos cabelos de volta, erguendo o seu rosto.

– Desculpe, Rita, por ser racista. – Diz aos gritos de dor. – Desculpe, Mauro, por bater em você. – Carlos ergue o agressor e dá um chute no seu traseiro, dizendo:

– Rasga daqui, seu monte de bosta, e nunca mais apareça neste bar.

– Você está preso em flagrante, rapaz, por agressão. – Uma mão segura o ombro de Carlos e a outra uma arma destravada. Carlos olha para um PM enorme, de quase dois metros, e diz:

– Aquilo foi legítima defesa, senhor, bem como defesa de terceiros e da honra. Olhe para o meu amigo que está com o lábio cortado. Esse cara aí começou a fazer comentários racistas para a namorada dele. – O policial, que é negro, solta o ombro do Carlos e vira-se para Gilberto.

Nesse momento eu decido intervir e aproximo-me dos PMs. Enquanto caminho, os garotos olham para mim.

– Oficial, esse garoto disse a mais pura verdade. Também, mais cedo, difamou o jovem chamando-o de veado e boiola. Isso é crime de calúnia e difamação e eu sou testemunha dos fatos. Mas, considerando que o outro já teve o castigo mais do que merecido, acredito que poderíamos esquecer o assunto.

– Você quer prestar queixa de racismo, moça? – O policial pergunta, olhando atravessado para Gilberto. – Se quiser, ele entra em cana na mesma hora. Racismo é inafiançável.

– Deixe pra lá, senhor. – Afirma Rita, sorrindo. – Ele já apanhou muito e acho que basta. E pediu desculpas, mesmo a contragosto.

– Minha garota tem razão, senhor. Isso iria estragar o nosso sábado.

– Então deixamos assim. – O PM olha para Gilberto. – Suma daqui, garoto. E lembre-se que vou ficar de olho em você.

– Muito bom, meu jovem. – Digo, sorrindo. – Jiu-jitsu da melhor qualidade!

– Nada que se compare com você – Carlos ri e fala baixo, enquanto pega os óculos e coloca de volta. – Afinal, Miguel, há uns anos eu estava em São Paulo e assisti o mundial. Obrigado por intervir, pois isto ia estragar o nosso dia.

Quando me retiro e Carlos senta ao lado da namorada, que o agarra e beija cheia de orgulho, Mauro comenta, rindo:

– O famoso quatro olhos entrou novamente em ação. Obrigado, amigo. Mas que força aquele diabo tem! Fiquei atordoado na mesma hora. Só que, com você, o babaca ficou na pista.

– Que história é essa de famoso quatro olhos em ação? – Pergunta Ana. – Caraca, amor, nem imaginava que você fosse assim!

– Uma vez – Mauro conta – tinha um cara na escola que era metido a besta e implicava muito com Carlos. Foi lá pela quarta série. Ele chamava Carlinhos de quatro olhos, por causa dos óculos. O nosso amigo aqui nem dava bola, mas comentava comigo que um dia esse cara ia levar a maior surra. Certa vez, Carlos viu o cara espancar um garoto muito menor. Calmamente, tirou os óculos e deu para mim, caminhando na direção do outro que era um gigante da sexta série. Daí, Carlinhos perguntou: "Quem sabe você vem bater em alguém do seu tamanho, seu merda, ou tem medo de mim?" O cara começou a rir, pois Carlos devia ter um palmo a menos. Só que o quatro olhos se transformou e desceu a porrada nele, que teve de ir para o ambulatório. Quando parou, Carlos jurou e ameaçou gritando que surrava qualquer um que se metesse com gente menor, não importando o tamanho do agressor. Sempre que Carlinhos fica sério e tira os óculos é sinal que alguém fica na pista.

– Caramba, você ainda se lembra disso?

– Claro, por isso o apelido do quatro olhos em ação. Nunca mais gozaram do Carlinhos nem nunca mais bateram em gente menor, mas ficou o quatro olhos.

– É, esse apelido foi até ao primeiro ano do segundo grau, eu acho. Agora, só você e Denílson é que falam.

– Você foi legal nos defendendo, Carlinhos, obrigada.

– De nada, Ritinha, foi um prazer pois odeio racistas. Estamos no século XXI e não no tempo dos escravos.

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