Capítulo 1 - parte 3 (não revisado)

Ansiosa, Sheila chega a casa, pois sabe que se atrasou um pouco e Juan já deve estar esperando. Está preocupada porque não se falam há algum tempo, achando que ele se chateou quando a conversa foi interrompida pela falta de luz.

Loga no chat, mas ele está fora. Triste e desiludida, Sheila permanece observando a tela, aguardando até muito tarde, mas nada do seu namorado virtual aparecer.

A irmã vê a sua infelicidade e tenta acalentá-la, sem sucesso. Abraça Sheila e convida:

– Venha comigo, Sheilinha. Vamos sair com os meus amigos. Ele deve estar ocupado, provavelmente estudando ou treinando para a meia maratona. Não esquente a cabeça.

– Ele nunca deixou de entrar nem que fosse só pra dizer oi, Bia. Será que arrumou outra? – Comenta com a voz sumida. – Eu nem sei como ele é, só que sinto como se o conhecesse a vida toda. Estou apaixonada por alguém que nem imagino como é pessoalmente, mas ele é sempre tão doce!

– Venha, irmãzinha, vamos sair juntas. Afinal a minha turma é bem bacana, ou você não se quer misturar com o pessoal do segundo grau?

– Que bobagem, mana, eu recém estou no primeiro ano da faculdade e mal saí do segundo grau, sem falar você está terminando o terceiro. Como sempre, estamos coladas uma na outra.

Abatida, sai com a irmã mais nova. No bar onde se encontram os amigos da Beatriz, Sheila permanece calada. Sente-se deslocada e triste, apenas bebendo, sem conversar e pensando na sua vida, no seu passado. Um jovem muito simpático aproxima-se e senta ao seu lado.

– Você é irmã da Bia? – Pergunta, sem esperar resposta. – São tão parecidas! Eu sou Carlos.

– Era só o que me faltava. – Suspira, pensando alto e erguendo os olhos até ao teto. – Oi, Carlos, sou Sheila.

– Oi. Não vim com intenção de cantar você, Sheila, não se ofenda. Além disso, se a acalma eu sou gay. Você está muito solitária e abatida. Eu só quis ser gentil, apenas isso.

– Desculpe a grosseria. – Ela sorri, ainda triste. – É que eu conheço um sujeito chamado Carlos que é muito chato e discutimos toda hora.

– É por isso que está triste?

– Céus, não! Eu sempre falo com um cara na internet e ele não apareceu hoje.

– Sheila, tome muito cuidado com as pessoas da internet. Você não imagina o horror que rola por aí. Tem de tudo: pedófilos, tarados, estupradores, assassinos, sequestradores e assaltantes. É assustador o número de vítimas que aparecem todos os meses.

– Bia já me alertou, mas eu estou realmente apaixonada por ele, que droga. E ele é tão gentil...

O rapaz põe a mão no seu ombro.

– Sheila, estar apaixonada é uma coisa muito gostosa e não motivo para sofrer. Mas antes, tente descobrir mais sobre ele. Quem sabe não é um cara bem bacana. O fato de não ter aparecido hoje, não quer dizer nada. Pode até ser o computador dele avariado, ou a conexão da rede. Pode ser muita coisa.

– Faz dois dias que ele não aparece! Desde que estávamos falando e faltou luz!

– Não esquente a cabeça. – Ele serve o copo da garota, que já vai bem alta. – Como dizem os gaúchos: quem esquenta cabeça é palito de fósforo.

– Você é gaúcho, Carlos? – Ela ri para o novo amigo, de quem está gostando muito. – O seu sotaque é daqui!

– Sou carioca, mas tive um namorado gaúcho.

Ambos conversam por mais de hora e ela fica encantada com a companhia do rapaz, que deve ter a sua idade. É gentil, educado e bonito. Tem cabelos lisos e pretos, com olhos azuis, expressivos, e cerca de um metro e oitenta. O seu sorriso é cativante e o olhar sincero, profundo. Sheila nota que ele é muito seguro de si e deve ter um caráter bastante íntegro e forte, com a personalidade bem formada.

― ☼ ―

Carlos espera a namorada na frente da sua casa. Ela caminha até ao carro e ele fica agradado do que vê. Está vestida de forma informal, com uma calça jeans bem justa que mostra o contorno de lindas pernas e um traseiro maravilhoso. A blusa azul-escura é simples e um pouco decotada, deixando ver seios bem feitos, contrastando com a sua pele, muito clara. Os cabelos castanhos, longos e ondulados, realçam ainda mais a sua beleza. Ela entra e beijam-se.

– Você está muito linda, Ana. Eu devia ter-me arrumado melhor para você, mas sou meio folgado. Desculpe-me.

– Ora, você já é lindo, amor, pode ter certeza disso. Por que sempre usa roupas folgadas? Tem vergonha de si?

– Claro que não. – Carlos ri. – Apenas acho que são mais confortáveis. Somente isso, Aninha. Definitivamente, não gosto de roupas apertadas que só uso para praticar esportes.

Alegres, vão para Copacabana em direção ao cinema. Têm uma certa dificuldade em arranjar estacionamento e chegam em cima da hora para ver o filme que, curtem muito. Quando termina e saem do cinema de mãos dadas, Ana comenta:

– Muito bom, amor, adorei o filme. Mas acho que foi o mais fraco dos três.

– Também achei, gatinha.

Ela abraça o namorado, feliz.

– Vamos para o barzinho?

– Claro. Onde é?

– É perto e dá pra ir andando. Sabe, nunca imaginei que ia namorar você. Eu sempre achei você bem gatinho e tinha muita vontade, mas faltava coragem.

– É mesmo? – Dá uma risada. – Mas você foi bem direta.

– Bem, naquela hora eu tava pra lá de altinha e nem sei quantas já tinha tomado. A sua resposta à provocação da Sheila propiciou o que eu mais precisava. Na verdade, eu queria mesmo era deixá-la desconcertada e acabar com a vossa discussão, pois achei que você não me ia beijar.

– E não ia. Mas também desejei mostrar para ela que não pode ter todas as atenções e fiquei decidido a isso. Tenho a certeza que Sheila não gostou nada, nem que seja inconscientemente. Além disso, ao beijar você, foi pra lá de gostoso. Afinal eu não beijava uma garota há mais de ano, quando terminei com uma namorada, e andava meio carente.

– E então comprou o manequim pra quebrar o galho? – A garota provoca, divertida.

– Claro que não comprei. – Ambos dão uma risada. – Aquilo foi pura pirraça. O que acha que os meus pais iam pensar se fizesse isso? Pode não parecer, anjo, mas eu sou muito seguro de mim mesmo.

– Por que acha que ela não gostou?

– Promete que não conta pra ninguém?

– Claro, amor.

– Há cerca de dez para onze meses, eu conheci a Sheila no bar da faculdade e fiquei perdidamente apaixonado por ela. Isso foi por intermédio do Mauro, que a conheceu no mesmo local. Cada vez que a via, o meu coração disparava alucinado e eu só pensava nela noite e dia. Por um mês, fomo-nos encontrando na faculdade ou no Cantinho do Escritor. Também nos víamos em vários outros lugares, a turma toda junta. Foi aproximadamente um mês antes de você começar a sair com a gente.

– Um dia – continua – eu estava só, estudando no bar...

― ☼ ―

Levanta a cabeça e dá de cara com o sorriso da Sheila, o que faz os seus olhos brilharem intensamente. Carlos retribui e aponta a cadeira para ela se sentar.

– Oi, Carlinhos, estudando? – Pergunta. – Você está sempre grudado nos livros! Não cansa não?

– É, vai ser uma prova muito difícil. – Ela senta-se e este observa a moça, sempre apaixonado. Sheila veste uma saia simples e uma camiseta, mas é tão perfeita que qualquer coisa a faz deslumbrante. Olha para os seus olhos, muito verdes, e os cabelos dourados, desejando beijá-la. Suspirando, toma coragem – Sheila, eu posso dizer uma coisa pessoal?

– Claro. Algo errado?

– Da minha parte não há nada errado. É que... eu... eu... eu... estou perdidamente apaixonado por você. Eu te amo muito e queria te convidar para sairmos juntos, só nós dois. O que acha?

Para sua surpresa, ela fica de boca escancarada e olhos arregalados. Logo a seguir, irrompe em uma gargalhada homérica.

– Você só pode estar de sacanagem, Carlos. Apaixonado!?

– Caramba, Sheila, não faça isso comigo que você está rindo dos meus sentimentos...

– Caraca, Carlos, tudo o que você faz é estudar! Você é um baita nerd, o que esperava de mim? Nós não temos nada em comum, nada a ver um com o outro. Esqueça isso. Apaixonado por mim? Que maluquice!

Muito magoado, ele levanta-se, juntando os livros e o caderno. Sheila fica observando o rapaz que lhe diz:

– Eu pensei que você era diferente, Sheila, especial. Mas estava redondamente enganado. Você é insensível e cruel, brincando desse jeito com os sentimentos alheios, sem falar na sua mesquinhez de sequer pensar no que eu disse. Você está totalmente por fora. Nem sempre estou estudando, mas tenho que estudar muito se eu quiser ser alguém na vida. Obrigado por me mostrar esse seu lado tão ruim. Assim, fica mais fácil para esquecer que a conheci, uma fruta bonita por fora e podre por dentro. – Ela vê uma lágrima nos seus olhos.

– Espere, Carlos. – Ele ignora-a e segue a passos largos para fora do bar, entrando no banheiro e chorando baixinho. Algum tempo depois, vai para casa. O seu telefone toca e reconhece o número como sendo da Sheila. Não atende. Uma hora depois, Mauro aparece na sua casa.

– Oi, Carlos. O que tá rolando, mano? – Demonstra preocupação pelo grande amigo. – Primeiro, Sheila liga tão aflita que nem a entendi direito e justo para pedir o seu telefone fixo; agora, vejo essa cara de quem acabou de perder um ente querido!

– Deixe assim, Mauro, que é bem melhor.

– Cara, eu sou o seu melhor amigo, e amigos são para se ajudarem e apoiarem. Você não está nada bem e desconfio que Sheila está muito envolvida nisso. Desembuche aí, maninho.

Para grande espanto do Mauro, Carlinhos senta-se no degrau em frente à porta de casa e grossas lágrimas caem dos seus olhos, tantas que parecem pingos de chuva. Este senta ao lado do amigo e passa o braço em volta do seu ombro.

– Calma aí, mano. Desembuche logo que vai sentir-se melhor.

Carlos conta tudo para Mauro, que ouve em silêncio.

– Mas que cadela filha da puta. Isso não se faz!

– Deixe pra lá, Mauro. Pelo menos agora sei quem ela realmente é. Melhor assim do que ficar iludido.

– Vamos, levante daí. Vamos para um boteco encher a cara de bira e amanhã vai sentir-se melhor.

– Preciso de estudar, Mauro.

– Seja sincero, amigo. Se você entrar em casa e sentar na sua mesa para estudar, vai fazer tudo menos isso, tá ligado? Além do mais, polimorfismo nunca foi um mistério para você.

– É verdade, você está certo.

– Então qual é? – Insiste. – Vamos que é por minha conta. Na pior das hipóteses, em vez de tirar o costumeiro dez, fica com um oito ou nove.

Sentados no bar, bebem um pouco quando Mauro confessa:

– Você devia ter-me dito que tava a fim dela, Carlos. Vou ter que contar algo muito chato, mas quero que saiba por mim e não por terceiros.

– O que foi?

– Eu e ela saímos ontem e rolou um lance leve, nada sério. Nós meio que começamos um namorico. Se eu soubesse, jamais a teria convidado para sair. Desculpe.

– Você não tem culpa. – Fala com a voz abatida.

– Independente disso, qualquer continuidade está fora de questão. Uma pena, pois ela é gostosa demais.

– Faça o que quiser, Mauro. Eu não tenho nada a ver com Sheila, como ela mesma disse. Sim, é muito gostosa, mas não vale nada.

– Já lhe disse, mano, sou seu amigo e não deixaria uma mulher estragar isso. Afinal, eu não estava apaixonado. Só um pouquinho a fim. E, obviamente, tava a doidão pra dar uma nela.

O celular toca e Carlos, ao ver quem é, rejeita a ligação. Após a quarta vez, desliga o aparelho.

– Talvez fosse uma boa ideia você atender e ouvir o que ela tem a dizer, pois deve estar arrependida, senão nem me teria pedido o seu número de casa. Além disso, punha logo todos os pontos nos is.

– Estou demasiado magoado para vê-la ou ouvi-la, mano.

Umas poucas horas depois, ambos vão embora um pouco bêbados e Mauro dirige devagar, com medo de ter um acidente. Deixa o amigo em casa, tomando o seu rumo. Ao pôr a mão no bolso, Carlos descobre que deixou tudo em casa, inclusive as chaves. Felizmente, sabe que o pai não se deita antes da meia noite e toca à campainha. Este abre e olha para o filho, ficando logo preocupado.

– O que houve, Carlinhos? – Pergunta. – Você está bem tonto e com uma cara demasiado abatida!

– Deixe pra lá, pai, esqueci as chaves. Realmente não estou bem, mas não desejo discutir isso agora. Vou dormir. Boa noite.

– Boa noite, meu filho. Cuide-se.

Na sala, o pai fala com a esposa:

– Nunca vi Carlinhos assim, Júlia, e estou preocupado. Ele não é de beber, mas estava no limiar da bebedeira. Acho que teve uma profunda decepção amorosa.

– É uma coisa que ele vai precisar de superar por si, amor. Quem de nós não sofreu uma?

De manhã cedo, Carlos vai para a faculdade. Na porta da sua sala está Sheila, esperando por ele e com ar aflito.

– Carlos, por favor, precisamos de falar.

– Nada há para ser dito, Sheila, sinto muito. – Desvia-se para não tocar nela e entra na sala. A garota fica parada mais alguns segundos e vira as costas, indo de ombros caídos para a sua aula.

Sentado e apático, recebe a prova do professor. Escreve o seu nome e matrícula, ficando a olhar para as questões, totalmente fora da realidade, como se tivesse ingerido drogas alucinógenas. Dez minutos depois, entrega o exame sem ter respondido qualquer das questões e sai da sala. Boquiaberto, Mauro vê o amigo desistir de uma prova pela primeira vez na vida.

Carlos vai para o bar e pega um refrigerante, tomando-o sem prazer. Enquanto bebe, pensa no último mês e pelo que passou no dia anterior, revivendo tudo novamente, revendo a garota naquela mesma mesa e rindo de si. Uma mágoa muito profunda aperta a sua garganta e faz com que o refrigerante se torne algo desagradável e intragável. Deixa a lata quase intacta e vai para casa, cabisbaixo.

― ☼ ―

Polimorfismo: Características da mais moderna tecnologia de desenho de sistemas, a programação orientada a objeto (POO ou OOP em inglês).


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