No dia que puxei a casca da ferida

O corpo humano reage de forma perfeita e sistemática. Semanas atrás estava com um machucado no joelho que depois dias e no ápice do tédio, analisando a ferida certa curiosidade me despertou por conta daquela casquinha que estava ali protegendo a verdadeira ferida.

A curiosidade me levou para a pesquisa, queria saber como se formava aquela casquinha que me dava uma tentação para tirar. Quem nunca fez isso?

Descobri que aquela casquinha se forma para proteger o local que foi lesionado, mas o que foi me chamou a a atenção foi a criação dela. O sangue coagula ali com enorme rapidez e os glóbulos brancos começam a fazer seu trabalho com as bactérias e impurezas. Para limpar tudo de uma vez os macrófagos surgem em cena, como se fossem o pessoal da limpeza fazendo o trabalho depois do péssimo showzinho que eu fiz após cair. Mas depois o que aconteceu é que minha ferida não estava ali, a pele era nova, um tanto diferente do que é minha pele original com seus caminhos esguios e falhas.

O corpo é perfeito, mas ele só me é perfeito para o físico.

Eu sei que ano passado tive meu coração com feridas que até agora não foram estancadas, que até agora nenhum glóbulo branco fora lá para fazer sua devida tarefa. Todo meu sistema, todo meu organismo não se importa com a parte que mais me doí, com a parte que tira sua própria e frágil casquinha. Não me machuquei porque eu quis, e cá estou pagando a dor pela dor.

Mas caso assim fosse, teria ali no coração peles novas, demostrando que eu tirei as impurezas das feridas, mas cicatrizes sempre serão cicatrizes. Eu sei que dizem que devemos ter orgulho de nossas marcas porque nós sobrevivemos à isso, mas eu olho para cicatrizes e eu sinto novamente aquela ferida pulsando e me queimando. Ela está ali, faz parte de mim. 

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