Vinte e Cinco
Nos sentamos à mesa prontos para almoçar, mas uma dúvida ainda pairava em minha mente: porque haviam cinco lugares se somente nós estávamos ali?
Foi o que perguntei a meu pai e ele se prontificou a responder um tanto quanto nervoso, confesso que essas situações que o constrangiam me divertem. Talvez ver as pessoas envergonhadas me deixe alegre, mas isso não vem ao caso.
O importante é que Dylan Turner me pediu para sentar e em seguida se preparou para fazer uma das maiores palestrinhas que já tive de ouvir, sei que pode parecer chato, todavia essa conversa estava sendo adiada há muito tempo e precisava ser feita.
- Cath, eu tenho que te pedir desculpas - Meu pai disse e, quando percebeu que não tinha entendido o motivo do pedido, tratou de explicar - Eu te abandonei no momento que mais precisou de mim, você teve toda razão em me culpar aquele dia...
- Não precisa se desculpar, já acertamos isso - Amenizei sua consciência o cortando.
- Por favor me deixe continuar, você sempre tenta carregar o peso das ações dos outros, então pelo menos dessa vez quero levar meu próprio fardo.
Vendo que era o que ele realmente desejava, permiti que o fizesse me concentrando cem por cento em suas palavras.
- Eu fui ridículo ao sair com aquelas mulheres, como se alguma delas pudesse substituir sua mãe. Eu fui duas vezes mais ridículo te abandonando nos momentos que precisou de mim e triplamente ridículo pelo motivo que o fiz, evitei te ver pois toda vez que olho pra você, vejo sua mãe!
Aquilo me chocou como nunca antes, jamais imaginei que ele me diria tais coisas e justamente por isso não expressei reação às palavras dele.
- Você tem os olhos dela - Ele sussurrou baixinho como se fosse um segredo só nosso e ninguém no mundo pudesse notar - No começo estar contigo me trazia dor... não tenho orgulho do que fiz, muito pelo contrário. Mas hoje ter a sua presença é como rever uma das pessoas mais maravilhosas que já tive a honra de encontrar, ela teria tanto orgulho da mulher que você se tornou, Cath, no duro.
Pela primeira vez na vida o termo "no duro" não me irritou, somente preencheu um vazio que eu nem sabia que tinha de tanto tempo convivendo com ele. Obvio que um pedido de desculpas não apagaria tudo o que eu passei, claro que não, no entanto as aventuras de pai e filha que pouco tivemos e estavam por vir seriam o suficiente para que eu o perdoasse.
- Depois que conversamos no aeroporto, vi isso com clareza e decidi que não sairia com ninguém - Meu pai prosseguiu coçando a cabeça enquanto ria de nervoso - mas o amor é cheio dessas pequenas armadilhas, não é mesmo?
Dylan perguntou esperando alguma resposta minha, porém Ward que silabou um "com certeza" enquanto passava a mão pelo meu cabelo indicando que foi vitima de uma dessas armadilhas.
- Pois é meu jovem, as pegadinhas do amor são imprevisíveis. E eu acabei conhecendo uma pessoa... Uma pessoa que me conquistou e agora nós estamos em algo um pouco mais sério, dessa vez é pra valer mesmo, te prometo.
- Quem é? - Eu e Ward questionamos ao mesmo tempo.
Perguntei a mim mesma se alguma vez notara um interesse peculiar de alguma mulher que eu conhecia sob meu pai e não me veio ninguém em mente, somente as ex namoradas dele evidentemente. Portanto havia a possibilidade de ser alguém totalmente estranho para mim, o que imediatamente me preocupou, já que o receio de ser uma pessoa má intencionada era imenso.
Passei o olho pela sala para ver se tinha algum ser humano escondido observando nossa conversa, somente esperando o instante ideal para se apresentar. Logo fui obrigada a parar ao ouvir meu pai pigarrear e quando seus lábios se mexeram para revelar a identidade de sua namorada outra fala o cortou.
- Já posso sair daqui? Essa planta do caralho com cheiro ruim está me incomodando, tem que podar essa bosta! - Virando-me para trás confirmei que a voz familiar que escutei era de Liliam.
Me desesperei ao vê-lá ali afinal era velhíssima para Dylan e já comecei a supor que estava louco. Arregalei os olhos de espanto e a julgar pela cara de Ward o mesmo espasmo ocorreu a ele. Vendo nosso estado e percebendo as possibilidades que imaginamos a Senhora Liliam começou a rir e fumar bem no meio do recinto, se distanciando do vaso que se escondera. Imediatamente tratou de explicar que tudo não passou de um mal entendido e que na verdade Dylan estava comprometido com a filha dela, Mikasa Ishii.
De início senti um leve desconforto por saber que entre tantas pessoas no mundo meu pai escolheu a mulher que desligava o telefone da mãe para que eu não falasse com a mesma. Mas vendo a felicidade estampada no rosto do piloto veterano, relevei tudo o que aconteceu e as coisas terríveis que a idosa me contou sobre Mikasa no dia em que veio à minha casa distribuir bolinhos.
Eu daria uma chance a ela esquecendo tudo o que passamos. Alias esqueci que não pedi a autorização dela para contar esses detalhes no livro, mas creio e espero que ela não se importe.
E mesmo que eu já soubesse diversas coisas sobre a mulher, foi a primeira vez que a vi. Sinceramente o formato de seu rosto me lembrou um abacate, mas olhando novamente percebi que tinha feições muito simpáticas e desse dia em diante passou a ser um amor de pessoa comigo.
Mikasa é o tipo de gente que se não a conhece, você a odeia, entretanto sempre se mostra gentil e disposta a ajudar os amigos. Diria que a coisa mais importante para ela seja a mãe, o que minha vizinha descreveu como "ser chamada de velha inútil", não passava de uma preocupação normal de uma filha. E mais tarde vim a descobrir que ela me impedia de telefonar para a idosa mais incrível que já encontrei pois Ward fornecia vinho à Liliam, algo que Mikasa Ishii queria cortar da rotina da mãe.
E se você meu caro leitor pensa que a narrativa desse dia termina aqui está muito enganado, o melhor ainda aguardava ser revelado. Assim que terminamos de comer um ensopado de frango, Dylan e Ward se entreolharam dando sinal um para o outro de que chegara a hora exata de me dar a surpresa. Como eu não costumo gostar de surpresas pedi para que me contassem logo em vez de alimentar minha curiosidade.
Um pedido em vão obviamente, o novato das pistas não se abalava nem com um protesto meu. Então suplicou para que eu fechasse os olhos e contasse até dez, só quando acabasse saberia o que me aguardava. Fiz o que me instruíram, porém nem imaginava a grandiosidade dessa revelação.
O que eu recebi naquele dia foi o que aguardei e sonhei nos últimos tempos, tinha em mão um contrato para voltar à pilotar. Após divulgarem as filmagens de corridas antigas que tive na Formula 2, meu amigo e eu brigamos e ele se sentiu mal com isso. Foi assim que moveu céus e terras para que a RFB me desse uma chance na próxima temporada, infelizmente seus superiores informaram que a F1 estava fora de cogitação afinal logo um novo piloto que já estava contratado seria apresentado para substituir meu pai no ano seguinte.
No entanto saber que me seria reservada a categoria de base não me abalou, esse presente foi a realização de um desejo que eu pensei que nunca se cumpriria. Mal consegui crer que era verdade e na manhã seguinte a primeira coisa que fiz foi ir até a central da equipe assinar aquele papel.
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