Três

Dylan ficou contente quando soube do novo emprego da filha e mais contente ainda por ter ficado em segundo lugar na primeira corrida do ano. Aquele era apenas o começo da nova etapa que se sucederia em sua vida, ele podia sentir. 

Não demorou muito para que Ward anunciasse que Cath era sua nova acessora de imprensa, o que não repercutiu muito bem entre as revistas de fofoca, que estavam sempre a atormentar a vida do piloto. 

"Ward Carter anuncia que a filha de Dylan Turner é sua nova acessora, mas será que é apenas isso?" Dizia a manchete. O texto que vinha a seguir era ainda mais preocupante "Sinto muito em preocupar as muitas fãs do novato das pistas, mas a notícia que se segue é muito chocante! Ward Carter anunciou que Catherine Turner, filha do experiente Dylan Turner é sua nova acessora de imprensa. Como bem sabemos o caçula da RFB tem um talento muito conhecido entre as mulheres e ao que tudo indica a acessora pode sim ter um caso secreto com o famoso.

Afinal ambos já foram vistos publicamente em festas e o próprio pai de Catherine afirma que tem Ward como um filho. Será que isso é verdade? Teremos de acompanhar os próximos capítulos para saber a conclusão dessa história! 

Vale lembrar que a arrasadora de corações namora o jogador William Bain do Artin Paris Futebol Club, algo está muito errado nisso aqui."

Cath ficou puta com aquilo. O texto afirmava "festas" mas foi apenas uma festa e mesmo assim eles brigaram naquela noite. A garota viu a notícia enquanto estava sozinha em seu apartamento recém adquirido na parte sul de Ottawa, não era grande, porém era só seu onde podia descansar sem acompanhar as crises de meia idade do pai. E quando digo "crises de meia idade" me refiro as mulheres com quem Dylan se envolvia. 

Aquela maldita notícia lhe acarretaria uma série de problemas, Catherine tinha certeza. Obviamente não seria nada relacionado à Ward, ele já estava acostumado com coisas do tipo. Entretanto Will não iria reagir bem a aquilo, não mesmo.

Ela conhecia seu namorado suficientemente bem para saber que ele apontaria o novo emprego como uma desculpa para tentar leva-lá para a França. Will sentia falta de Cath e mais de uma vez tentou convencer ela a morar com ele, afinal o país do amor era o país deles! 

Se conheceram durante um aniversário de um amigo de Dylan, Poul que era jogador de futebol. Will conta que se apaixonou por Cath a primeira vista e lembra de ter dito à Poul " Tá vendo aquela garota ali? Eu vou casar com ela!". Naquela noite eles trocaram telefones e após dois encontros tiveram o primeiro beijo, em uma cafeteira próxima a Torre Eiffel, Love Coffee onde se encontravam todas as vezes que a garota ia visitá-lo. 

O pedido de namoro foi feito um mês depois disso, quando Will foi à Los Angeles pela primeira vez conhecer o lugar onde Catherine nasceu. Claro, ele fez a típica piada de quem viaja à L.A. perguntando se Cath era um verdadeiro anjo, ela que já tinha ouvido a mesma ladainha sem graça um milhão de vezes respondeu que era "um querubín pronto pra acertar a bunda dele com uma flecha". 

Mas ela não estava a fim de morar com William, se fosse para a França significaria que não iria acompanhar o último ano de trajetória de Dylan. Fora isso ser acessora de Ward a animava, mesmo que aquele otário a irritasse de mais com sua irresponsabilidade. 

A garota foi à sua varanda pensando em que medidas tomar para amenizar as coisas, viu as luzes das casas que iluminavam a cidade naquela noite escura. Isso e as milhões de estrelas que estavam no céu lhe deram esperanças de que tudo terminaria bem. Era uma paisagem linda pois as estrelas nunca estavam solitárias, haviam tantas constelações visíveis que Cath teve certeza que jamais conseguiria contar as estrelas. Sentiu uma pitada de inveja daqueles astros que queimavam há milhares de anos luz dali, desejando ter sua própria constelação. 

Ficou um bom tempo a olhar o céu e suas maravilhas e só parou para atender o telefone na segunda chamada tendo um pouco de raiva da pessoa que a tirou de seus devaneios. Era William que ligava, como imaginou que faria. 

- Alô - Catherine atendeu com sua voz suave. 

- Você viu os jornais? - Will perguntou, dava para ver que estava furioso pelo seu tom.

-Vi, mas agora estou vendo as estrelas. 

-Cat que porra de estrela o que? Todo mundo acha que eu sou corno e você vem me falar de estrelas?

Ele não entendia o quão importante as estrelas eram pra ela, a coisa mais difícil é encontrar alguém que veja o mundo com a mesma beleza que você vê. Essa era a única certeza de Catherine. 

- Você está aí Cat? - Ele questionou depois de ver que ela não estava respondendo - Me desculpa, eu não queria brigar com você. 

- Tudo bem. 

Não estava bem.

- Gatinha você precisa resolver isso, não posso ficar  com a fama de otário. Você sabe que tem um lugar aqui na minha casa, né? É só vir! 

- Will eu finalmente consegui um emprego, preciso aproveitar essa chance ao máximo!  Se for para à França vão dizer que sou interreseira, mais do que já dizem - Catherine explicou tentando não se desviar do foco da conversa enquanto pensamentos paralelos sobre estrelas pairavam em sua mente - Sabe tanto quanto eu que esse é o último ano de meu pai nas pistas. 

Do seu lado da linha Cath pode ouvir seu namorado bufar alto como sinal de deboche, ele sempre fazia isso quando estava bravo ou irritado. 

- São sempre as pistas! Antes era para correr e agora pra ver outras pessoas correndo enquanto você as inveja. Isso só pode ser piada! 

- Boa noite Will Bain, não temos mais nada para conversar. 

Assim ela desligou o telefone e o pôs no peito querendo desaparecer. Cath amava William, contudo as vezes tinha vontade de terminar tudo com ele principalmente quando a magoava. Claro que isso ocorria com uma frequência muito baixa, porém quando acontecia era pra valer. 

Obviamente ela sentia saudade dele e sabia que no fundo Will estava certo, Cath olhava para o pai e para Ward querendo estar no lugar deles, mas também se sentia feliz por terem a oportunidade de correr. Isso o namorado dela nunca entenderia, eles estavam no mesmo planeta contudo tinham visões tão diferentes dele que pareciam realidades totalmente paralelas. 

A garota então saiu da friagem da varanda e entrou em seu apartamento, pensou em ligar para Luana, sua amiga de infância a qual não conversava fazia muito tempo. A verdade é que quando Catherine começou a pilotar no Cart e na Fórmula 2 deixou suas amizades um pouco de lado pois seu sonho exigia que viajasse constantemente de modo que não conseguia manter vínculos por muito tempo. E Luana Stone não era o tipo de mulher que voltaria a conversar com Cath de uma hora para outra sem ao menos uma briga por tê-lá abandonado. 

Logo Catherine desistiu de ligar, embora quisesse. Ela já ia dormir ou fingir que o fazia enquanto chorava pela briga com o namorado, eis aí a maior vantagem de morar sozinha: poder chorar a hora que quiser. Isso é um tanto quanto deprimente, todavia ela não ligava, a única coisa que queria naquela momento era dar vazão à sua tristeza. 

Contudo sua campainha tocou forçando ela a atender. Cath secou as lágrimas com a mão e assegurou-se de que o ropão que usava estava bem afivelado. Quando se julgou pronta destrancou a porta e virou a maçaneta, para seu alívio o visitante era seu pai e para sua tensão ele levara Ward. 

- Estava chorando Cath? - Dylan perguntou assim que viu o rosto vermelho da filha com os olhos inchados.

- Não, só estava... - Catherine não sabia qual desculpa inventar, a primeira coisa que veio a sua mente foi falar que estava picando cebolas, mas provavelmente eles entrariam e veriam que era mentira - Estava olhando as estrelas. 

- É magnífico como astros a anos luz daqui possam ser tão facinantes, não acha? - Ward disse se interessando pelo assunto - Posso entrar? 

Cath anuiu e os três foram à sua sala de estar. Tudo estava perfeitamente organizado, mas na mente dela não estava suficientemente limpo então sentiu vergonha de receber pessoas em sua casa com a sala naquele estado, gostaria de ter pelo menos passado passado um aspirador nos móveis pela quinta vez na semana. O pai de Catherine se atirou no sofá e Ward Carter ao lado dele. 

A garota tentava conter as lágrimas e secar o resquício de que um dia estiveram ali, o pai continuava a analisar o rosto dela imaginando o que teria acontecido. Cath sentiu vontade de contar tudo à ele, contudo não se sentia a vontade para revelar os problemas de sua vida pessoal ao caçula da RFB. 

- Will ligou? - Dylan supôs em um tiro certeiro.

A filha confirmou com a cabeça evitando tocar no assunto. 

- Sabe que pode ir à França se quiser? Não precisa acompanhar seu velho pai, ele sabe muito bem o que está fazendo, no duro.

- Eu não quero ir, Will que se dane ele terá que aceitar que eu não sou a bonequinha dele. 

Um silêncio constrangedor se manifestou no próximo minuto onde ninguém disse ao menos uma palavra. Pai e filha se encaram com um rosto triste enquanto Ward ficava a parte daquilo. 

- Catherine - Falou o novato quebrando a tensão e sendo interrompido por quem chamara.  

- É Cath! 

- Catherine Jones Turner soa muito melhor - O rapaz explicou - Vim aqui para resolvermos o que foi publicado hoje, acho que sabe do que estou falando. 

- Ward disse que não era necessário nos reunirmos mas eu sei que você não lida bem com a imprensa falando de você então insisti - Confessou Dylan deixando Cath nervosa e ao mesmo tempo envergonhada por ele ter contado coisas da personalidade dela para o novato. 

- Bom, basicamente é só enviar uma resposta nas redes sociais para os canais de fofocas negando nosso envolvimento, Catherine Jones Turner. 

- Vai repetir meu nome inteiro toda hora? - A garota quis saber rindo da situação, embora sua tristeza não tivesse ido embora por completo. 

- Só se isso te irritar - Ward respondeu convencido de que tivera a resposta certa - Resolva o nosso pequeno problema por favor, não posso decepcionar minhas fãs! 

Dessa vez todos riram, depois de conversar pediram comida japonesa por um aplicativo de entregas. Comeram até ficarem satisfeitos, fazendo com que a Cat tristonha de Will desaparecesse. Quando deu duas da manhã os homens decidiram que era hora de ir embora, então Cath os levou ate o estacionamento do prédio. 

Beijou seu pai e desejou a ele uma boa noite sabendo que se veriam mais tarde no treinos dos pilotos. Ward por sua vez pediu que o patriarca fosse na frente pois queria dizer algo à filha dele:

- Se o babaca no seu namorado te fazer chorar de novo eu juro que vou até à França chutar o traseiro atlético dele, Catherine Jones. 

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