Sete
A festa já havia começado a muito tempo quando Cath lá chegou e embora Ward tenha prometido não convidar muita gente estavam presentes mais de cem convidados. Óbvio que aquilo irritou ela pois, quanto mais pessoas no recinto, mais possibilidades de escândalos públicos. Além de que o piloto tinha um péssimo gosto para amizades.
Contudo a garota tentou se livrar das amarras de sua vida comum para seguir os conselhos da Senhora Liliam e aproveitar a vida ao máximo. Catherine não planejava usar drogas, beber até cair ou trair seu namorado, iria apenas dançar com seu amigo, contar umas boas fofocas e voltar para casa.
O senhor Carter, como era conhecido agora nas redes sociais, foi recepcioná-la. Ele aparentava não ter bebido nada, estava agasalhado por inteiro. Uma calça de moletom preta, cachecol bordado a mão provavelmente por sua mãe, jaqueta e toca faziam parte de seu vestuário de festa de inverno. Cath o viu chegando com um imenso sorriso no rosto e o abraçou.
- Pensei que não iria vir, Catherine Turner.
- Também pensei o mesmo.
- Aposto que veio para ver seu amigo mais bonito, não aguenta ficar algumas horas sem ele - O piloto brincou se exibindo jogando uma ponta do cachecol vermelho para trás.
- Se concordasse com você estaria mentindo.
Claro que ela não estava falando sério. Ward não era dono de uma beleza excepcional como imaginava, mas tinha algo especial em sua fisionomia que encantava quem olhasse. Sua aparência era como de um filme cliché dos anos oitenta, principalmente pelo topete que mantinha nos momentos que estava em sociedade. Isso porque a vaidade só era cultivada para uma ocasião como essa, porém em casa Ward mal penteava os cabelos deixando seus fios caramelos bem bagunçados.
Ele a conduziu pela casa apresentando a amiga para um conhecido ou outro. Por fim a levou ao balcão da cozinha a fim de conversar. Ela queria conversar, mas manter um diálogo em um lugar desorganizado como aquele se mostrava um desafio dificílimo.
Pessoas gritavam coisas indecentes, a música estava no último volume e a sujeira em torno deles desconcentrava Catherine. Ela realmente tentou se inteirar nos assuntos que Ward contava, puxa como ele estava empolgado em ver ela ali, talvez pensasse que aquela seria a única festa que ela concordaria em ir.
O piloto disse o que tinha acontecido no recinto antes da chegada dela. Um de seus camaradas dormiu no sofá da sala então um grupo de baderneiros passou pasta de dente no rosto do homem que acordou assustado e correu atrás de seus agressores. Isso por sua vez não se sucedeu muito bem fazendo com que o rapaz lambuzado de pasta batesse de cara na parede.
Outros dos convidados decidiram dar uma voltinha no quarteirão, vendo cones de trânsito na rua, levados pela loucura do álcool, roubaram os objetos que sinalizavam os motoristas e os colocaram na cabeça. Um guarda viu isso acontecendo e foi intervir como seguidor da lei que era, todavia quando os amigos de Ward o convidaram para a festança desistiu de os punir. Desde então o vigia noturno passou a curtir seu som na casa do piloto, cantando no karaoke bem desafinado.
- Está aí Catherine Turner? - Ele quis saber vendo que Cath estava perdida em seus devaneios, desconectada da conversa pensando no trabalho que daria para limpar tudo aquilo.
- Como?
- Você é surpreendente Catherine Turner.
- Vai me chamar assim para sempre?
- Só enquanto isso te irritar - Ward respondeu sem nenhuma dúvida do que falava, a convicção nunca lhe faltava - Por que está longe daqui, é o idiota do seu namorado?
Isso fez com que ela risse, por incrível que pareça Ward odiava William e aquilo surpreendia muito ela já que os dois nunca se viram. Na última vez que ela falou com Will, ele também mostrou sinais de que não ia com a cara do piloto, um fato no mínimo intrigante.
- Não tem nada a ver com ele, Will está bem.
- E você?
- Eu estou estou sempre presa na minha mente Ward, por exemplo agora mesmo estou com uma vontade imensa de sair limpando toda a sua casa. Acho que você nunca entenderia, a maioria das pessoas não entende.
- Olha nos meus olhos - Ele falou com um tom mais baixo que o habitual - Talvez eu não consiga te entender mas eu juro que vou tentar.
- Obrigada.
Por um tempo eles nada falaram, apenas olharam a face um do outro aproveitando aquele momento mágico. Foi como se o tempo tivesse parado e ambos fossem astros diferentes compondo um eclipse, Ward levou sua mão à dela e entrelaçou os dedos em seguida perguntou:
- Você dança?
- Não quando posso evitar.
Cath respondeu com um tom sarcástico relembrando Ward da noite em que se conheceram.
- Qual é? - Ele respondeu fingindo um desanimo e em seguida puxando delicadamente a mulher para a pista de dança disse - Eu te devo essa, não vou deixar a minha garota sem a dança que me pediu.
Chegando na pista de dança tiveram a sensação de que eram os únicos sóbrios de la, pois todos os outros presentes estavam fora do ritmo e com uma coreografia que lembrava os movimentos de uma minhoca. Ao ver aquilo ambos se entreolharam tendo de segurar a risada por um bom tempo.
A música não era lenta, mas também não era agitada. O guarda de trânsito regulava o hit que queria acompanhando com sua péssima voz, porém Ward não se importou com isso e segurou a amiga pela cintura. Cath balançava a cabeça conforme a música fazendo com que seus cabelos na medida do ombro voasse bastante de uma maneira um tanto quanto engraçada na percepção do senhor Carter.
O rapaz guiou a dança ao mesmo tempo que faziam umas caretas estranhas obrigando a garota a rir. Não eram dançarinos profissionais e justamente por isso se enroscaram na hora do giro, contudo nem se encomodarm, os momentos perfeitos não são aqueles que seguem os padrões. Pelo contrário, os melhores instantes são os que fogem totalmente do meio comum fazendo que a sensação deles nunca saia da memória.
Quando a música atingiu o seu ápice os dois se seguraram pelas mãos e giraram freneticamente, cada qual ia para um lado na mais pura velocidade. Já estavam cientes que provavelmente um cairia como ocorre quase sempre que essa brincadeira é posta em prática, todavia assim que Cath percebeu que iria cair no ar o amigo a segurou. Ele agarrou a amiga ainda um pouco tonto pela quantidade de voltas que tinha dado e a segurou perto de si.
Se isso fosse um filme seria aquele fatídico momento em que os protagonistas quase se beijam colados corpo a corpo sem nada dizer com a cor rubra nas bochechas, tão vermelhas quanto um morango maduro. Corada pelo constrangimento Catherine pôs a mão no peito de Ward os distanciando gentilmente enquanto agradecia com um sorriso.
- Você está cheirando à baunilha, Catherine Jones Turner - Ele comentou indo à uma mesa de amigos com a garota.
Sentando à mesa eles perceberam que já não havia tantas pessoas na casa, boa parte já tinha ido embora. Contudo uma porção considerável permanecia no local e os que Ward começou a conversar pareciam ser os mais embriagados de lá e justamente por isso os mais divertidos.
Decidiram então fazer uma brincadeira de adivinhação onde um jogador tenta adivinhar fatos da vida do outro, caso o adivinho erre deve beber, mas se acertar o outro quem beberá. É um jogo meio irresponsável na visão de Catherine, ela bebia as vezes porém nunca em uma quantidade muito grande. Todavia aquela era a noite que iria aproveitar ao máximo para ter o que contar à senhora Liliam.
- Catherine Turner não joga esse tipo de jogos - O piloto informou aos demais membros da mesa.
- Uma garota como Catherine Turner pode fazer o que quiser, não é mesmo? - Uma menina de cabelos cor de rosa rebateu passando uma garrafa de cerveja à Cath.
- Eu faço o que eu quiser! - Ela confirmou empurrando o líquido por sua garganta.
Os amigos de Ward lhe deram uma salva de palmas em especial a garota de cabelos rosa, a mesma guria que iniciou a rodada. Infelizmente não se pode dizer que tinha um talento para a adivinhação de modo que bebeu uma garrafa e meia sozinha, sua vida era um livro aberto.
Na vez de Cath o nervosismo não a atingiu o que foi surpreendente já que situações como essas lhe davam nos nervos geralmente. Sua jogada seria contra um dos playboys amigos de Ward Carter, assim ela imaginou que não seria uma rodada difícil.
- Você conheceu Ward em uma festa? - Catherine supôs quase revirando os olhos de tão óbvio que era aquilo.
- Beba!
Um bom gole se sucedeu com as outras cinco pessoas falando "bebe, bebe, bebe". O queixo da garota estava caído com o tamanho do choque que levou, afinal supunha que todos os amigos do piloto eram conhecidos de festas.
- Você foi criada em berço de ouro? - O amigo ruivo de Ward afirmou com certeza.
Como acertou a garota bebeu, a segunda consequência do acerto foi a continuação das suposição por parte do ruivo.
- Não tem muitos amigos?
Outro gole.
- Sente falta da sua mãe?
O choque chegou à Catherine. Nunca ninguém falava de sua mãe com ela, talvez por um respeito ao luto ou por simplesmente não se importarem com os mortos. Assim que o rapaz acertou ela bebeu a metade restante de sua garrafa pegou uma segunda e a tomou inteira. Dessa forma o resto dos participantes julgou melhor encerrar a vez dela na partida, aquilo estava ficando muito pesado.
Mesmo assim ela não parou de beber, enquanto todos prosseguiram com suas próprias conclusões da vida alheia, Cath se prendeu mais uma vez à sua mente. Pensou em como o mundo era injusto e tirava o melhor de sua vida, se tinha uma coisa que ela sentia era falta da mãe.
Puxou uma mecha de cabelo e o prendeu atrás da orelha como costumava fazer quando era mais nova pensando na doença que acometeu sua mãe anos antes. Lembrou da época que a matriarca a levava para a escola e preparava sua lancheira com geléia de goiaba, isso aparentava ter ocorrido há uma vida atrás. A cada recordação Catherine tomava mais e mais bebida como uma verdadeira válvula de escape.
Vendo a situação deplorável a qual sua amiga se encontrava Ward decidiu que aquela era a hora de levá-la de volta a casa porque poderia fazer algo que se arrependesse depois.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top