Seis

Assim que o julgamento acabou Catherine quis ir pra casa, não porque não tinha fome para ir almoçar com o piloto mas a garota possuía certeza de que Ward iria começar a se gabar. Ele sempre fazia isso após um grande feito, uma mania completamente ridícula. 

Entretanto Cath sabia que não estava livre do ego do rapaz, afinal iriam se ver na festa da casa dele isso se a garota fosse. Festas não faziam parte da lista de coisas que gostava, para falar a verdade as experiências dela com esses eventos adolescentes não eram tão vastas. Quer dizer, obviamente Cath já tinha ido à uma festa em seus tempos de escola,  no último ano para ser mais específico e ficou poucos minutos lá, embora sua amiga Luana Stone tenha passado horas no recinto. 

Luh como Cath gostava de chama-lá entrou em uma daquelas apostas de quem bebe mais e até que foi bem, recebeu o segundo lugar. O problema foi quando a menina precisou ir ao banheiro e pela quantidade de álcool que tinha ingerido somado ao zíper emperrado de sua calça saiu alucinada entre os convidados pedindo para que alguém abrisse seu jeans. 

Essa foi a única vez que Catherine foi à uma festa do tipo e não queria ir à mais uma, mas Ward insistiu e prometeu que aquela seria sua última festa durante muito tempo. Como ela era a colaboradora número um da promessa achou válida a exigência do garoto: Cath teria de ir à festa. 

O problema é que ela não via graça nesses eventos e mesmo que o anfitrião mudasse, o padrão continuava o mesmo, todas as sociais jovens tinham a mesma estrutura. Para começar o dono da festa convida umas cinquenta pessoas achando que apenas trinta vão realmente ir, mas quando vai ver há setenta convidados em sua casa. A segunda coisa que acontece é que o som se torna um motivo de briga, como se fosse o trono e quem o comanda é o rei, com seu próprio estilo musical. Não é incomum estar em um desses lugares e o rádio tocar Los Hermanos e de repente começar uma música do Queen. 

Em seguida as pessoas começam a fazer suas próprias bebidas misturando álcool com fruta e quando se vê o próprio anfitrião deixou de recepcionar os convidados para se jogar na pista de dança muito louco. Outra coisa que costuma acontecer e que irritava muito Cath é o problema dos copos, não importa quantos copos descartáveis o dono da casa compre, nem mesmo todos os copos do mundo seriam o suficiente para conter amigos bêbados, de modo que eles acabam rapidamente. 

Em seguida algum idiota descobre onde ficam guardados os copos de vidro e os exibe de maneira orgulhosa para todos os outros presentes, esses por sua vez se sentem tentados pelo diabo a pegar um para si mesmo. E enfim cada um tem um copo de vidro em mãos, só que não para por aí já que toda turma tem um desastrado que faz o favor de quebrar o seu copo, propagando o caos em meio a pessoas alcoolizadas. Em uma situação como essa Catherine estaria demasiadamente desesperada, os cacos de vidro no chão eram um sinal claro de perigo e principalmente de sujeira, uma coisa que ela não suportava. Fora que o mesmo ser humano que derrubou o objeto poderia pisar no copo espalhando sangue pela casa e a manchando. 

Mesmo que a residência não fosse dela a garota se chateava em ver um bom ambiente totalmente sujo, seria algo que facilmente tiraria o apetite dela. Embora muitos não compreendam, ver pequenas partículas de poeira ou até mesmo grandes lixos e manchas de grude assustavam Cath por uma razão que ela nunca soube explicar e festas são oportunidades para fazer bagunças sem restrições. 

Mas isso não era tudo, ainda havia milhares de razões para ela não ir à casa de Ward naquela sexta-feira, dentre elas, a companhia. Estariam lá uma porção de "amigos" do piloto, totalmente bêbados sendo que ela era uma pessoa comprometida e estar na presença de pessoas embriagadas sem senso nenhum provavelmente não seria uma medida aprovada por William. 

Quando Catherine Turner estacionou na garagem de seu condomínio a vontade de mentir para o amigo dizendo que estava passando mal já era maior que tudo, mas não sabia ao certo se faria isso ou realmente compareceria ao evento. Então subiu as escadas porque o elevador estava quebrado, entrou em casa, almoçou e foi tomar um bom e relaxante banho. 

Assim que saiu da sauna que ela tinha transformado o banheiro pela quentura do chuveiro ligou a televisão a fim de escutar o que a imprensa estava falando do julgamento de Ward e para sua surpresa pela primeira vez era algo positivo. Não estavam aclamando ele ou coisa do tipo, porém outros famosos se manifestaram em apoio ao piloto fora a quantidade de internautas que fizeram montagens com o rosto dos presentes no tribunal. 

As frases de zombaria que Ward, ou como era mais conhecido agora, Sr.Carter disse no Fórum se tornaram um marco dos memes e quando a garota olhou as redes sociais do amigo percebeu que os seguidores dele haviam aumentado drasticamente. Uma vitória significativa a qual ele iria clamar por todo crédito e exibí-la para sempre. 

Ainda enrolada na toalha Cath não sabia se deveria ir à festa, foi quando ouviu batidas em sua porta. Resolveu atender embora um pouco de má vontade pois não estava de roupa e não lhe agradava atender visitas apenas de toalha. Perguntou ainda dentro da sala quem estava do lado de fora, no entanto nada obteve em resposta. Assim que abriu a porta viu que se tratava de uma idosa com uma cesta de biscoitos caseiros. 

- Sou a nova vizinha, Liliam Sand - Ela se apresentou de maneira simpática ao mesmo tempo que tirava um cigarro da boca. Em seguida a idosa olhou Cath de cima a baixo com uma expressão negativa em desaprovo - Não deveria atender a porta assim! 

- Eu não imaginei que alguém fosse bater - Catherine rebateu - Mas é um prazer conhecer a senhora, quer entrar? 

É claro que a garota não queria que a idosa entrasse, estava oferecendo por educação. Porém assim que as pessoas chegam a uma certa idade procuram outras para lhes contar seus grandes feitos e acontecimentos da vida de modo que a senhora Liliam entrou. 

Cath pediu que a idosa a esperasse no sofá enquanto ia colocar uma roupa, não só pela presença da velha como também para cessar o frio que estava sentindo. A temperatura amena do Canadá faz até as pessoas mais quentes sofrerem com o frio e pegar um resfriado facilmente caso tome um deslize. 

Ela voltou o mais rápido possível e visualizou que a mulher que permitiu que entrasse não estava no local instruído, contudo foi para cozinha e a viu passando café. A ousadia e audácia da senhora passavam dos limites e ver ela sujar a pia com pó de café fez com que Catherine se contorcesse por dentro. 

- Onde mora, senhora Liliam? 

- Oh então não sabe? Minha filha disse que sou incapaz de morar sozinha porque ando esquecendo de algumas coisas e esqueço mesmo, porém já tinha esse hábito antes de ficar velha - A idosa disse cerrando seus olhos puxados, seus cabelos curtos e brancos balançavam conforme os movimentos da cabeça dela - Esqueci meu cartão dentro do caixa eletrônico, tomei o remédio do gato e ainda esqueci em que piso do shopping tinha estacionado e após andar por ele inteiro duas vezes prestei um depoimento na delegacia. Foi aí que minha menina me trouxe para morar com ela no andar de baixo do seu. 

- E onde estava o carro, alguém o roubou?  

- Do lado de fora, na rua paralela ao shopping onde eu estacionei. 

Cath riu um bocado enquanto pegava xícaras na parte superior de seu armário, chegando mais perto da velha sentiu cheiro de cigarro e naftalina imaginando como seria seu próprio cheiro daqui cinquenta anos. 

- Pode rir eu deixo - Liliam falou em meio às gargalhadas - A questão é que sou velha, não inútil como minha filha acha. Me pediu para distribuir esses biscoitos ridículos e me apresentar para a vizinhança, uma cretinada só! 

- E por que a senhora veio pra cá?

- Era isso ou ir pra um asilo. 

-Sinto muito.

- Não sinta, minha jovem. Já vivi muito e tenho certeza que aproveitei cada segundo dessa vida como se fosse o último, só se vive uma vez e é seu dever aproveitar ao máximo! 

A jovem pensou que aquelas poderiam ser muito bem palavras de Ward Carter e se questionou se não deveria ir à casa dele mesmo, aproveitar ao máximo era a melhor opção segundo a anciã. Então olhou pro relógio calculando quanto tempo teria até tudo começar, vinte minutos. 

Contudo a idosa não parava de falar de suas aventuras na juventude e de como tinha aprontado. Uma vez quando tinha dezessete anos foi presa por nadar nua no rio da cidade, em outra de suas histórias confessou ter bebido mais de três garrafas de vinho em uma noite o que resultou em uma baita confusão e infelizmente a velha Liliam só lembra de ter acordado a trezentos kilómetros de casa. 

A cada fala dela uma única pergunta se passava na mente de Cath "Estou aproveitando minha vida ao máximo?". Não tinha certeza, olhava para o relógio, a velha e a pia suja de café. Sem conseguir se concentrar direito levantou e limpou a pia o mais rápido que pode eliminando o pó de cima dela. 

Chegou à um ponto em que a senhora Liliam percebeu o incomodo de Catherine, dessa forma ela inclinou a cabeça e perguntou: 

- Mocinha qual o seu nome mesmo, esqueci de perguntar? 

- Catherine. 

- Está atrasada para algum lugar, não é Catherine?  - A idosa supôs com uma cara maliciosa acendendo outro cigarro para o desespero de Cath que já imaginava o odor que impregnaria em sua casa - Quem é o sortudo que não sai da sua cabeça, já estão namorando? 

- É um amigo - A garota contou exibindo um sorriso confidente de quem conta seu maior segredo - Talvez a senhora já tenha ouvido falar nele, é... 

Quando ia pronunciar o nome do piloto o mesmo ligou para ela, Cath desligou na hora, mas ele continuou a ligar e assim que viu que ela não iria atender mandou uma mensagem de texto. Dizia:

Ward: Catherine Jones Turner a festa está chata sem você. 

Ela duvidava muito de que estava chata, conhecendo Ward tinha certeza de que ele estava se divertindo um bocado, mas nenhum daqueles convidados era seu amigo. Cath estava se tornando uma. 

- Me diz o que está fazendo em uma sexta-feira a noite com uma velha sendo que você tem um garoto desesperado te esperando? 

- Não é o que a senhora está pensando. 

- Minha filha eu já vivi muitos anos e se tem uma coisa que eu sei reconhecer é quando alguém está interessado. 

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