III
Querido caderno azul,
Eu havia perguntado para a minha professora se mãe tem que ser, necessariamente, mulher. Ela falou que não, "mãe é quem cuida". Concordei com isso e voltei para a minha carteira.
Olhei para os desenhos dos meus colegas, todos tinham uma mulher representando a mãe. Então desenhei Michael e Simon na minha folha, para dar de presente para eles. Foi aí que um garoto chamado Barry viu e começou a criticar.
— Pelo o que eu saiba, mãe é mulher. — disse ele, chamando a atenção da sala.
— Minha mãe são os meus pais. — foi o que respondi.
— Você não tem mãe, Christian? Todo mundo tem mãe! — Barry cruzou os braços. — Como você foi feito, então?
Eu me controlei para não voar em cima dele. Segurei o lápis de cor azul com firmeza e tentei ignorá-lo.
— Não importa. — eu respondi para ele.
— Acho que você não deveria fazer um desenho de dia das mães para seus pais gayzãos...
Eu não havia pensado mais em nada, avancei sobre ele e o derrubei no chão. Trocamos socos e chutes. Ele tentava me imobilizar e acabou por eu sentir um grande estalo no braço e uma dor terrível: eu o havia quebrado.
O resto... Bem... Cinco horas depois eu estava sentado no sofá da minha casa, com o braço engessado e o olho esquerdo roxo. Michael estava irritado ao telefone, conversando com os pais de Barry. Simon estava ao meu lado, fazendo cafuné na minha nuca e assistindo Hora de Aventura comigo.
— Seu filho quebrou o braço do meu, está ouvindo?! — Michael andava de um lado para o outro. — Não importa! Acontece que seu filho não foi educado o bastante para... E daí? Ele provocou e não saiu com um arranhão sequer... Nossa... Compare esse cortezinho com o braço quebrado de Christian e mais olho roxo. Ah, vá se lascar, meu senhor. Que falta de compreensão...
Eu suspirei impaciente.
— Quer chocolate quente, Chris? — Simon me perguntou.
Balancei a cabeça negativamente e ele me puxou para o seu colo. Beijou a minha bochecha e ajeitou o meu cabelo. Me abraçou em seguida e disse que eu ficaria bem, e que ele e Michael me protegeriam.
Peguei você, caderno azul, e subi para o meu quarto. E aqui estou eu, escrevendo com a mão esquerda e tendo que apagar a cada quatro palavras. E como não tenho mais nenhuma ideia e o dia das mães é amanhã, acho que vou entregar esse caderno mesmo. Separei alguns dos nossos momentos de crises e carinhos e espero que eles gostem. Vou deixar um texto para eles, e acho que Simon vai chorar.
Estou muito ansioso para a ver a reação dos dois! E então o caderno azul não será só meu, mas dos meus mães também.
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