O parceiro - Vampiro (Part 1)



O retorno para casa estava sendo ainda mais difícil que Leony imaginava, recordava o quão alegre estava quando deu seus primeiros passos rumo a sua "aventura", só o fato de fugir da vila bucólica aonde fora criado e adentrar no desconhecido mundo que só tivera vislumbres nos diversos livros de aventura empilhados em seu pequeno quarto... Quanta esperança... Quantos sonhos... Mas tudo não passava de ilusão como tanto enfatizou os seus "possíveis" parceiros ao longo daquela tola jornada. Fora ingênuo em imaginar que o desejar algo realmente tinha algum poder! Que o esforço podia transpor as suas limitações de conhecimento e físicas. Nunca poderia ser um caçador... Essa era a dura verdade, teria que conviver com ela.

Um vazio enorme se fez em seu peito. O que faria agora? Seria um fazendeiro como o seu pai? Um alfaiate como a profissão de sua mãe? Será que conseguiria? Afinal... Era um fracassado!

Fungou, elevou a mão para enxugar novamente o rosto. Queria poder conter as lágrimas que teimosamente rolavam de sua face, mas, pelo visto, nem isso poderia fazer.

– Já chega! – urrou Leorion que liderava o trio pela a tranquila trilha na floresta. O caçador se virou bruscamente e encarou o seu irmãozinho que rapidamente tentava limpar o rosto de qualquer evidência de seu choro (inutilmente).

Leorion se aproximou, com passos firmes e pesados.

– Eu não estou chorando! – prontamente disse Leony, mesmo que seu nariz estivesse escorrendo e uma lágrima solitária ainda jazia em sua bochecha – Isso é alergia! Acho que devo ser alérgico a toda essa natureza, sabe...

Antes que continuasse a sua elaborada mentira, fora puxada para um caloroso abraço por seu irmão mais velho. Pode ouvir ao fundo Silv fazer um sonoro "owttt".

– Me desculpe. – sussurrou o caçador.

– P-por que está se desculpando? Sou eu que lhe devo desculpas... Essas últimas semanas acabei por interromper sua jornada como caçador para participar dessa estúpida busca por parceiros.

– Leony. – Leorion se afastou um pouco para encarar o seu irmãozinho, levou suas grandes mãos para o rosto do mesmo, acariciando as bochechas úmidas e rosadas de Leony com afeto fraternal – Não tem nada de estúpido em buscar por seus sonhos.

– Hã?

– O que você fez durante esses dias foi surpreendente! Você, mesmo sem treinamento apropriado, adentrou nos locais mais remotos e perigosos de nosso mundo em busca de seu sonho! Isso é algo que devia ser elogiado e não criticado... Você é um verdadeiro e corajoso herói, como aqueles que você tanto leu em seus livros.

– Mentiroso. – novamente as lágrimas verteram dos olhos do garoto – Não precisa mentir para me fazer sentir melhor, Leorion!

– Eu não estou mentindo! Estou realmente admirando com seus feitos! Eu... Posso não ter me expressado antes, mas... Agora estou corrigindo os meus erros! Sim, como irmão mais velho, desejava que você ainda estivesse em nossa casa, junto com nossos pais, seguro. Esse é meu maior desejo, contudo não posso me por cego as evidências. Não...Escute, Leony! Quero deixar bastante claro o quão forte você é! Mais do que a sua segurança, eu desejo a sua felicidade. Quando comecei a minha própria jornada não foi algo fácil. Não me olhe assim! Acha que esses músculos cresceram sozinhos? Tive que treinar muito! E não é só de músculos que se define um caçador! Temos que ser inteligentes e logo me afundei em livros e mais livros. Tinha que conhecer tudo e mais um pouco sobre os seres sobrenaturais e o nosso mundo! Mas só isso não bastou, acompanhei também caçadores em suas jornadas buscando aprender sobre sua profissão e além disso analisar se de fato queria seguir aquela linha de trabalho por toda a minha vida... Tudo isso ocorreu antes de eu me tornar um caçador! Tal como você, eu só tinha um sonho a perseguir... Demorou para eu alcançar o que tanto almejei e só nesses últimos dois anos é que ganhei o brasão da guilda dos caçadores, após conseguir Silvana como parceira. Não foi fácil para mim, tão pouco será fácil para você...

– O que você está querendo dizer com isso? – sua voz saiu trêmula devido ao choro incontrolável que vertia de seus olhos (e até mesmo do seu nariz!). Leorion deu um sorriso afetuoso. Se afastou um pouco mais do menor para retirar algo no bolso do casaco esfarrapado que usava.

– Aqui. – entregou um papel, na verdade se tratava de um pergaminho, cuidadosamente dobrado. Leony o recebeu ainda sem entender o que se tratava. Abriu, suas mãos tremiam, sentia um estranho poder emanando daquele igualmente estranho presente.

– O que é isso?

Por fim conseguiu abrir, não conseguiu decifrar muito bem a letra, muito menos a língua, a qual preenchia quase a folha toda do pergaminho. Todavia, conseguiu discernir o símbolo do "C" com uma espada atravessando a letra... Era o brasão da guilda dos caçadores.

– Esse é o contrato a qual deves assinar junto com o seu parceiro para assim se tornar um caçador oficial.

Os olhos de Leony se abriram, ora fitaram o pergaminho ora mirando abismado o irmão mais velho. Sua boca abria e fechava qual peixe fora d'água. Por fim, conseguiu ímpeto para se expressar de forma inteligível.

– M-mas... Pensei que iria me proibir de continuar...

– Acho que deixei bastante claro no meu discurso a momentos atrás! Não me faça repetir tudo de novo! – resmungou, rosto meio corado.

– Owt! Que momento lindo! – Silv que estivera assistindo todo o evento com lágrimas nos olhos saltou sobre os dois ruivos os abraçando com inimaginável força – Eu já estava preocupada! Tipo, não aguentando mais esse clima deprê! Não sei se vocês sabem, mas isso atrai energias ruins e afetam a minha magia!

– Silv! – choramingou Leony que já se sentia sufocado.

Leorion conseguiu se desvencilhar do mortal abraço, com certa facilidade, talvez já estivesse acostumados a esses "ataques" dados por sua namorada/parceira.

– Que seja... – resmungou – Tome cuidado com esse contrato, sim? Não é algo fácil de conseguir e ainda mais, escolher um parceiro é algo sério!

– Oh! Sim! – concordou prontamente a bruxa (nota: ainda abraçando Leony, o coitado estava praticamente azul devido à falta de oxigênio.) – Esse contrato, acho que já deves ter percebido, é mágico. Ao assina-lo, um laço invisível irá se formar e ligar os contratantes... Dificilmente será quebrado! E quando digo difícil significativa que qualquer tentativa de desfazer o contrato resultaria em um sofrimento infernal! Com direito a ossos quebrados, diarreias e coisas do tipo...

– Silv, ele precisa respirar para prestar atenção na explicação! – ralhou o caçador liberando o seu semi-inconsciente irmão.

– Ops! – riu a bruxa nervosa.

– Será que estou mesmo fazendo a escolha certa? – murmurou Leorion aparando o desacordado irmão nos braços, notou que mesmo naquele estado o garoto segurava com força o contrato com ambas as mãos.

Havia tantos perigos naquele mundo... Leony ainda era tão inocente e frágil... Será que estava mesmo preparado para tudo aquilo?

– Sim, você fez a escolha certa sim! – sorriu Silvana dando um cafuné nos cabelos avermelhados do jovem aspirante a caçador – Não devemos obstruir o sonho de ninguém! Ainda mais, daqueles que amamos...

Leorion deu um leve aceno, mesmo assim não deixava de se preocupar.

~~**~~**~~

As bochechas de Loeny estavam doloridas de tanto sorrir, não sabia quanto tempo tinha ficado ali, sentando no pequeno quarto da estalagem e encarando o contrato. Ou melhor, o seu contrato. Sabia que não deveria estar tão feliz por segurar um pedaço de papel ainda sem a sua assinatura... Mas aquilo significava o seu futuro. Seria um caçador, cedo ou tarde.

– Primeiro tenho que conseguir sangue... – lembrou, Silvanna e seu irmão tinham lhe explicado depois que finalmente despertara, sobre as condições do contrato. Não era necessário que escrevesse seu nome, tão pouco o seu parceiro deveria fazer o mesmo. A dita "assinatura" seria gotas de sangue que ambos deveriam deixar no velho pergaminho, logo seriam absorvidos por este e a magia teria início. Parecia algo bem simples à primeira vista, mas trata-se de um evento delicado, deve-se evitar que outro sangue toque o papel, pois isso poderia ter duras consequências... Já imaginou ter sua alma ligada a algum animal, monstro, pessoa... Enfim, qualquer ser que produza sangue, por acidente? Logo, tinha que manter o "contrato" seguro!

– Mas... Isso não significa que esteja mais próximo de ser um caçador que antes. – ponderou deitando na cama, ainda segurando o contrato e o mirando. De fato, com ou sem aquele papel magico ainda estava com o mesmo problema de não ter nenhum parceiro. Seu coração apertou com aquela realidade... Quem sabe tenha cultivado uma esperança tola? Seu irmão primeiro estudou e treinou para assim buscar seu parceiro... Talvez devesse agir da mesma maneira, não devia queimar etapas de sua jornada.

– Amanhã mesmo irei buscar alguma biblioteca, vou estudar e... – seu tagarelar fora interrompido por um grito de desespero, na verdade não foi só um e sim vários. Preocupado, saltou da cama e abriu a porta do seu quarto, foi recebido por uma muralha de músculos: Leorion.

Massageou o nariz, afinal tinha colidido com o caçador com bastante força.

– O que está acontecendo? – choramingou.

– Que bom que já está aqui. – disse o rapaz, Leony notou que seu irmão mais velho estava empunhando sua longa espada, havia uma expressão séria em seu rosto. O ruivinho engoliu em seco e sentiu um calafrio percorrendo a espinha.

– O que está acontecendo? – inqueriu novamente em um sussurro.

– Orcs. – respondeu com um ranger de dentes.

Leony já ouvira falar daquele tipo de raça, eram seres grandes, gordos, meio porcos meio homens que só causavam confusão aonde passavam. Pelo visto, esses mesmos seres estavam passando justamente naquela pequena cidade aonde tinham parado para se restabelecer e descansar de sua viagem.

– O que faremos?

Leorion arqueou uma sobrancelha enquanto fitava o irmão.

– O que eu farei, você quis dizer.

– Como assim? – franziu o cenho.

– Eu irei enfrentar esses monstrengos, você irá buscar um lugar seguro.

Leony não gostou nem um pouco dessa opção.

– Mas... Eu posso ajudar!

O caçador agora arqueara as duas sobrancelhas, um sinal evidente de descrença.

– Leony, apreciamos sua vontade de ajudar. – Interpôs Silvanna, a bruxa também estava preparada para o possível embate, vestia (pela a primeira vez) uma roupa que não revelava muito do seu avantajado peitoral – Porém, existe uma grande possibilidade de as coisas ficarem bem... Digamos...Sangrentas, sabe? Orcs não costumam levar a sério diplomacia para resolver os seus problemas. Seu melhor argumento são socos, pontapés e mordidas!

– Vocês acham que irei atrapalhar. – concluiu o mais novo, cabisbaixo.

– Leony, você tem ainda muito que aprender, por enquanto ainda estas no mesmo nível de um civil. Sei que pode me achar um chato por falar isso... Mas, esse é meu trabalho e não o seu. Fique em um lugar seguro e nós deixe lidar com esse problema. – explicou Leorion já se dirigindo para a porta de entrada da estalagem, que no momento estava vazia, pois seus ocupantes acharam melhor fugir do que assistir o que um grupo de orcs arruaceiros poderia fazer. Leony bateu com o pé no chão, ainda não tinha desistindo...

– Eu poderia ir como observador! Você mesmo disse que tinha feito isso como aspirante a caçador, não é?

Leorion praguejou e voltou-se para mirar seu irmãozinho.

– Você não vai vir, ponto final.

–Mas...

Antes que o menor pudesse falar algo, o ruivo mais velho fez um gesto para Silv.

– Sinto muito Leozinho... – sussurrou a bruxa fazendo um sinal mirabolante com as mãos, luzes roxas e verdes surgiram e...

ZAP!

Uma luz.

Uma sensação de flutuar.

Uma queda.

Leony piscou várias vezes para tentar recuperar a visão e assim se localizar. Estava escuro. Fedia. Olhou em volta, estava em um beco sujo em algum lugar na cidade. Podia ouvir ao longe os gritos de alguns civis, indicativo que deveria estar distante de onde estava ocorrendo a ação.

Seu irmão tinha mandando Silv o teletransportar para longe? Foi isso? Leony se levantou (tinha caído de bunda no chão sujo da ruela, para o seu nojo e desespero) furioso. Leorion não precisa ter tomado uma medida assim tão drástica!

– Talvez eu ainda consiga alcança-lo. – analisou a possibilidade, mas nem tivera tempo para dar um passo e sair do beco, pois uma mão misteriosa tapou sua boca e ainda o puxou rumo as sombras. Leony se debateu tentando se desvencilhar do desconhecido, mas quem quer que fosse era bastante forte. Podia sentir seu braço forte envolvendo sua cintura e contendo suas tentativas frustradas de liberdade.

– Quieto. –mandou uma voz.

O garoto sabia que já ouvira aquela voz antes. Mas aonde? A verdade era que pouco importava! Conhecido ou não devia tentar se soltar.

– Se acalme humano, não irei fazer nada com você. Ainda. – a voz tinha um "q" de arrogante o que só irritou mais Leony. Mas seus protestos foram interrompidos por passos pesados cada vez mais altos. Algo se aproximava.

– Eu não gostar de ter que fazer isso... – Parecia uma voz resultante do cruzamento de um trombone com algum animal, talvez um porco, pois podia escutar entre as palavras um guinchado característico desse mamífero... Porco? Era um orc?

– Caçar humanos... Bah! – continuava reclamando (e guinchando) o ser – traga eles para a praça! Bah! Que eles fujam! Assim fica mais fácil fazer a pilhagem!

Loeny viu fascinado a grande criatura passar pelo beco. Tinha narinas achatadas e meio arrebitadas, de fato parecia um grande porco de pele esverdeada e vestido com uma tosca armadura. Talvez não um porco... Quem sabe um javali devido as presas que saiam de sua boca. O ruivinho temeu ser descoberto, o orc era alto, corpulento e obviamente deveria ter uma força sobre-humana, sua mão podia facilmente envolver toda a sua cabeça e esmaga-la.

"Era com esses monstros que Leorion e Silv irão lutar?" pensou desesperado. Seu irmão podia ser forte, mas... Enfrentar vários orcs como aquele? Seria uma loucura!

O orc fungou o ar, Leony agora estava prestes a ter um ataque cardíaco, já ouvira falar do prodigioso olfato dos porcos, muitos deles sendo empregados na caça de trufas na floresta, logo o que impediria daquele orc (que podia ser um parente distante do fofo porco) também ter esse talento? Estava perdido!

O orc fungou o ar novamente e levou um dos seus grandes dedos a narina e...

"ECA!" Leony preferiu fechar os olhos para não se traumatizar com a cena de um homem-porco "limpando o salão". Pouco tempo depois, escutou os passos pesados e arrastados se distanciando. Tentou soltar um suspiro de alivio, só então lembrou que tinha a boca tapada (ainda). Seu capturador não parecia ter muita pressa em liberta-lo, pelo visto.

– Ai! – resmungou o desconhecido – Você me mordeu?

Por fim, livre... Ou melhor, sua boca estava livre, pois havia ainda o problema do braço segurando o seu corpo de encontro ao capturador.

– Se não me soltar agora eu juro que vou... Gritar!

– E chamar atenção do orc? Não me faça duvidar da sua inteligência, humano.

Leony tentou se virar para encara-lo. O que conseguiu ver fora alguém encapuzado...

– Quem é você? – inqueriu impaciente.

– Ainda estou esperando um obrigado, sabia?

Ele não tinha só um "q" de arrogante, não... Ele tinha todas as letras do alfabeto!

– Eu não agradeço a alguém que não me permite identificar o rosto!

– Petulante. – riu o capturador e de súbito soltou Leony que, atrapalhado, acabou por cair de cara no chão.

– Francamente... Você só me traz problemas. – falando isso o desconhecido retirou o capuz e ofereceu a mão para o débil ruivinho que ficou admirado...

Aquela pele alva, cabelos loiros quase platinados amarrados em um firme e majestoso rabo de cavalo, aquela feição bela e irritantemente altiva. Além disso, os olhos de íris vermelha que pareciam faiscar na penumbra do ambiente.

– O...O...O vampiro do xixi! – disse Leony apontando para o meio da cara surpresa do dito vampiro.

– Eu preferia não ser reconhecido por tal nome, humano. – rosnou revelando seus avantajados caninos.

– E como eu saberia o seu nome? Digo... Não tivemos tempo para apresentações, se bem me lembro! – Leony estava internamente admirado com a sua coragem de enfrentar aquele vampiro, levando-se em consideração que se tratava de um "puro-sangue" e "caçador" de sua raça, logo bastante forte e perigoso... Talvez não fosse muito prudente deixa-lo chateado.

"Dane-se! Esse vampiro me humilhou e ainda riu dos meus sonhos!" Recordou irritado.

– Isso não foi bem a minha culpa, pois me recordo de alguém me deixando falando sozinho, sem ter a polidez de esperar que eu me apresentasse e ainda mais, não permitindo que o escoltasse para fora do bosque. – disse todo pomposo. Loeny fez biquinho e estufou as bochechas, sim, era um ato infantil, mas aquele vampiro parecia trazer seu lado birrento à tona.

– Ora, isso só ocorreu por que você estava sendo um...um... Chato! – concluiu.

O "vampiro do xixi" arqueou uma elegante sobrancelha.

– Você que parece não aceitar uma crítica construtiva. – deu os ombros.

– Crítica construtiva! Você falou para eu desistir!

– Estava sendo realista.

– Pois saiba que a realidade é essa: serei um caçador, independente de quantas críticas "construtivas" eu receber ao longo de minha jornada!

Nisso Leony se levantou, ignorando a mão oferecida pelo o outro.

– Se veio aqui só para jogar na minha cara sua opinião... Perdeu o seu tempo! – disse isso enquanto já se dirigia para a entrada do beco, mas fora interrompido por uma mão forte segurando o seu pulso.

– Eu não vim aqui para isso! – rosnou o caçador-vampiro – Eu... Como é possível? Não costumo perder meu tempo com esse tipo de briguinhas! Em menos de 5 minutos que nós encontramos você já me faz agir... Estranho! Isso não é minha atitude... Digo, pelo menos acho que não é... Tsk! Você me deixa confuso! Um caçador é um título relegado aos nobres vampiros, somos treinados para que nossas ações sejam equilibradas, sendo capazes de julgar e punir com severidade e justiça! Nossas emoções devem ser sempre comedidas ! E agora veja como estou?! Gritando com um humano em meio a um beco!

–Er... – Leony não sabia como responder a aquela pequena explosão – Desculpe?

– Devia se desculpar mesmo... – resmungou.

O humano franziu o cenho.

– Então, qual seria o motivo? Fale logo que tenho coisas para fazer!

– Coisas? Que tipo de coisas? – inqueriu desconfiado.

– Salvar meu irmão é lógico!

– Você tem noção que a cidade está infestada de orcs, não é?

– Isso é mais um motivo para eu ir logo ajudar meu irmão e Silv! Agora se você puder me soltar...

– Escute! Essa ideia é insana! Não tem como você...

Leony levantou o dedo indicador quase tocando os lábios do vampira que pela surpresa do movimento se calou.

Outra coisa que não condizia com seu comportamento... Não devia se calar só por que um humano fez um gesto de silêncio! Não era um cachorrinho adestrado! Mesmo assim, esperou que o ruivinho falasse.

– Eu pensarei em uma maneira! Não me subestime!

O vampiro rolou os olhos com aquele tolo argumento.

– Ainda estou esperando por seu suposto motivo de estar aqui, vampiro do xixi!

– Já disse para não me chamar assim!

– E como devo chama-lo? – questionou colocando a sua outra mão livre na cintura, já que tinha um braço ainda preso as mãos firmes e fortes do senhor Xixi.

– Victor Redcliff. – falou cada silaba com bastante ênfase.

De início o humano não expressou nenhuma reação, mas segundos depois sua boca moldou um perfeito "o".

– V-você é o vampiro amigo da Silv!

– Obvio... – comentou Victor sarcástico.

–Aquele que devia ter buscado para ser meu parceiro!

– Er... bem... – agora o vampiro estava meio embaraçado.

–Você me enganou! – concluiu o menor.

– Não te enganei! Você sumiu antes de eu poder me apresentar!

– Sei... Você me fala de educação, mas acredito que as pessoas devem se apresentar antes de trocarem gestos íntimos como... Me "ajudar" a fazer xixi! – com apenas uma mão livre fez o gesto das aspas arrancando um rosnado baixo do vampiro, que Leony não pode enquadrar como um gesto de ameaça, parecia mais frustração e embaraço levando-se em consideração a vermelhidão que refletia o rosto de Victor.

– Nisso você tem razão. – admitiu baixando o olhar.

Um silêncio se seguiu, meio constrangedor no ponto de vista de Loeny. O vampiro parecia imerso em pensamentos e ignorava que ainda detinha o humano em suas garras.

– E? Você veio aqui só para se apresentar? – insistiu o menor.

– Não! Eu... Eu vim... – parecia que Victor estava fazendo muito esforço para pronunciar as palavras – Me... Me desculpar.

– Como é?!

– Não me faça repetir de novo, humano! – praticamente rugiu, seus olhos faiscaram rubros, emitindo um alerta de perigo, que estranhamente não afetou Leony.

– Então.... Veio me pedir desculpas por ter sido um chato metido a besta? – o humano deixou que um sorriso transparecesse em seus lábios.

Victor inspirou e expirou de forma longa e pausada. Será que o humano não via o quão difícil aquilo era para ele? Sentiu seu orgulho ser esfacelado... Ainda mais, o que era pior: a confusão que o dominava. Sim, desde que o garoto repudiou a sua generosa ajuda no bosque, um sentimento de culpa, abandono e indignação passaram a controlar sua mente. Recorda, constantemente o encontro com o humano, sentia um bizarro ímpeto de ir atrás dele... Em querer se provar, afinal, não agira de acordo com o modo de ser de um caçador nobre vampiro. Não. Fora impulsivo... E até mesmo infantil! Como, depois de tantos anos, fora incapaz de controlar a sua libido? Não! Aquilo era inadmissível! Não devia manchar a sua honra e da ordem dos caçadores desta maneira! Teria que ir atrás do ruivinho e mostrar o seu verdadeiro "eu".

Mas isso era tão importante assim para abandonar o seu dever e ir atrás de um mero humano que cruzou seu caminho devido a ação de sua velha amiga bruxa louca?

E agora que o tinha ali, na sua frente... Simplesmente não queria solta-lo.

O que estava acontecendo?

– Victor? Você ainda está entre nós? – Leony estalou os dedos perto da face do vampiro que se sobressaltou.

– Não faça isso! –rosnou.

– Pois eu te perdoo!

– Hã?

– Não me faça repetir de novo, vampiro. – para a surpresa de Victor o garoto teve a audácia de tentar emita-lo, fazendo uma voz cômica voz grossa e assumindo um semblante bravo. Sabe o que era pior? Teve que virar o rosto para o lado, tentando ocultar o riso que lhe escapava. Fazia anos que não ria!

– E-ei! Estou falando sério! – ruborizou-se Leony ao ver o outro gargalhando, seu coração acelerou por alguns instantes, não imaginara que o outro poderia fazer algo assim...Comum... Como sorrir ou rir.

– Perdão. – disse, agora mais controlado – Digo, não esperava que você me perdoasse tão facilmente, tendo em vista que minutos atrás me acusou de várias coisas e demonstrou que não aprecia a minha presença...

–Ei! Espera um pouco! Posso ainda está bravo com você, mas... Eu não disse nada sobre não apreciar a sua presença. – comentou enrolando um cacho ruivo no dedo, evitando o olhar inquisitivo do vampiro.

–Não?

– Você é chato, mas ... Me salvou! Duas vezes para falar a verdade... Estou meio que te devendo. E mesmo sendo um metido de nariz empinado... Não acho que seja uma má pessoa!

Novo silêncio.

Novo rubor que se alastrou no rosto dos dois.

– Acho que esse é o momento que você irá me soltar, não é? – quebrou o momento Leony, ainda mais por ter ouvido gritos de horror e urros a poucos metros dali. Não podia esquecer o seu irmão! Tinha ainda que ajuda-lo.

– Se eu fizer isso, vais se meter em outra confusão, não é?

Loeny mordeu o lábio inferior. Ora, o que Victor tinha a ver com isso? Iria lhe dar sermão como Leorion fez momentos atrás? Ao invés disso, o vampiro o libertou e soltou um novo suspiro.

– Eu devo estar louco.... – resmungou se desfazendo do grosso manto que usava. Loeny observou a roupa azul escura que o outro usava, era como um terno que vira alguns ricos usando em bailes, mas aquele, em particular tinha proteções nos ombros, cotovelos e joelho, mas era tão sutil tais adições e se mesclavam com a tonalidade da vestimenta que quase era imperceptível. Além disso, havia as duas espadas gêmeas que se dispunham na lateral do corpo esguiou e musculoso de Victor.

– O que... O que está fazendo? – Novamente o coração do ruivinho disparou, aquela reação do seu corpo era anormal... Só esperava que não chamasse tanto a atenção do vampiro.

– Acha mesmo que iria ficar aqui parado vendo você cometer outra burrada?

Leony devia se sentir ofendido, mas a surpresa suprimiu tal sentimento.

– Vai me ajudar? – inqueriu animado.

O vampiro deu como resposta um rolar dos olhos e se encaminhou a passos largos rumo a fonte do desespero local.

– Mas... Não que eu esteja reclamando, nem nada... Sua ajuda será muito apreciável... Mas, por que está fazendo isso? – perguntou o humano que, ofegante, tentava acompanhar o ritmo daquele ser sobrenatural.

– Eu também gostaria de saber isso... – resmungou Victor.

Sua mente dizia não.

Mas seu coração e consciência não conseguia simplesmente não ficar alheio ao perigo que rodeava o humano.

"Eu devo estar mesmo louco!" concluiu o caçador-vampiro.

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