Capítulo Sete

Marlon Shipka:

Depois da reunião com Otto, uma empregada me guiou por corredores decorados com ouro e prata, até chegarmos a um quarto luxuoso, com um intricado desenho de uma rosa adornando a porta. Ao entrar, fiquei imediatamente impressionado com o espaço, mas, admito, não precisei da ajuda dela quando decidi me banhar. Aproveitei a oportunidade para cortar um pouco as pontas do meu cabelo e, ao terminar, senti-me completamente limpo e renovado. Coloquei um roupão de seda, enrolando uma toalha no cabelo ainda úmido, e voltei para o quarto.

Enrolado no roupão, sentei-me na cama por alguns minutos, ouvindo o canto dos pequenos pássaros que vinham do jardim além das janelas. Era o único som no ambiente silencioso, enquanto o sol começava a se pôr lentamente, tingindo o céu com tons suaves de laranja e rosa.

Olhei ao redor, examinando o quarto com mais atenção. As paredes eram de um verde-claro suave, adornadas com delicadas estampas douradas de rosas, e as molduras também eram douradas, conferindo um toque de sofisticação ao ambiente. Meu antigo eu teria achado tudo isso completamente antiquado, mas a mobília e os tapetes marfim combinavam perfeitamente com o resto do quarto. A enorme cama compartilhava o mesmo esquema de cores, e as cortinas que pendiam do enorme dossel oscilavam levemente com a brisa que entrava pelas janelas abertas. O robe de seda que eu vestia, com a borda de renda simples, era macio ao toque, e não pude evitar passar os dedos pelo tecido, apreciando sua textura.

Apesar do conforto do ambiente, uma sensação de tristeza profunda se instalou em meu peito, como se uma sombra se abatesse sobre mim sem que eu soubesse o motivo. Talvez fosse o desconhecido, o fato de estar cercado por pessoas cujos pensamentos e intenções eu não conseguia decifrar. A incerteza me sufocava, mas eu sabia que, por enquanto, não tinha escolha a não ser esperar e observar.

Suspirei profundamente e me joguei na cama, colocando as mãos sobre a barriga, tentando organizar meus pensamentos.

— Será que tudo isso é porque não estou familiarizado com meu ambiente...? — falei em voz alta, soltando outro suspiro.

Se me lembro bem da linha original dos eventos neste império, em alguns anos, ocorrerá um massacre terrível, causado por ninguém menos que a filha do Marquês, uma das famílias mais fiéis ao Império das Rosas. Ela se recusará a aceitar uma decisão que o imperador tomou para a capital do império. Um por um, ela assassinará todos os que comparecerem à festa, antes de cometer suicídio ao incendiar o castelo. O vento forte espalhará as chamas, transformando o incêndio em um desastre florestal. Mesmo assim, o Marquês Veil continuará a apelar pela inocência de sua filha, mencionando a negligência do imperador em relação aos residentes da Divisão do Norte.

Otto, no entanto, não dará ouvidos a essas súplicas. A resposta do imperador será implacável: toda a família do Marquês será executada, e a linhagem será extinta. Embora a rebelião do Marquês fosse imprudente, ele nunca havia ameaçado diretamente Otto. Mas, após o incidente, Otto, que sempre foi um líder justo e benevolente, tentará reconstruir a capital, transformando-a em uma cidade naval, absorvendo todos os territórios que antes pertenciam ao Marquês.

As críticas ao imperador se espalharão como um incêndio. Muitos dirão que a punição foi "exagerada" e que Otto orquestrou tudo para expandir seu poder militar. Especulações sobre suas intenções crescerão, e os conflitos internos só se intensificarão, culminando na guerra civil que devastará o império, com nenhum dos lados disposto a ceder.

Lembro-me de como, no passado, eu tinha apenas um conhecimento superficial desses eventos, vistos de fora, como um observador distante. Os conflitos dentro dos países inimigos sempre foram distorcidos pela propaganda de guerra, alimentando a crueldade e a indignação.

O Império de Summer também tinha seus próprios problemas, e o vilão da história desempenhava seu papel ali. Meu antigo eu não tinha estômago para realmente considerar a profundidade dessas tragédias.

Agora, do fundo do meu coração, desejo que a guerra, a tragédia e as mortes possam ser evitadas. Que os erros do passado não se repitam, e que, de alguma forma, eu possa fazer algo para impedir que essa história siga o mesmo caminho sombrio que conheci.

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Saí dos meus pensamentos assim que ouvi uma batida na porta e, dando permissão para entrar, endireitei-me na cama.

— Senhor Marlon, vim me apresentar como o seu ajudante pessoal — disse o rapaz que entrou, um jovem que parecia ter uma idade próxima à minha, vestido impecavelmente com um smoking. Ele parecia um pouco nervoso, mas havia um brilho de entusiasmo em seus olhos. — Como você está? Trouxe algo que o senhor Dimitri preparou há algumas horas.

Ele estendeu a mão, revelando um pedaço de torta. Com uma expressão radiante, recebi o pedaço e, sem hesitar, coloquei-o na boca. A textura úmida da massa se combinava perfeitamente com o sabor picante da cereja e do morango, suavizado pela doçura do açúcar. Cada mordida trazia à tona a deliciosa complexidade do doce, uma experiência que palavras não poderiam descrever adequadamente.

Para uma comida tão saborosa sair de um porto militar, percebi que o Império das Rosas tinha uma cultura alimentar surpreendentemente refinada, possivelmente superior à do Império de Summer. O primeiro conhecimento que adquiri sobre este império foi que a comida aqui era excepcional.

A variedade dos pratos era impressionante. Até mesmo o pão, um alimento básico, tinha uma textura, aroma e sabor diferentes do que eu estava acostumado. Havia pães que poderiam ser saboreados com guisado, outros apenas com manteiga — como na minha segunda vida. No momento em que um pão achatado e quadrado, coberto com ovo frito, salsicha e fatias finas de cebola, foi colocado na minha frente, eu o devorei com prazer.

Se estivessem apenas falando sobre ingredientes, o Império das Rosas tinha muitos à disposição. Afinal, com a bênção da Deusa da Terra, esse lugar poderia cultivar quase qualquer coisa em qualquer parte do império, certamente uma de suas maiores vantagens.

No entanto, a culinária do Império de Summer também tinha seus méritos, principalmente devido à engenhosidade. No Império das Rosas, as colheitas só cresciam em lugares selecionados, mas, através da sabedoria nos métodos de preservação, maneiras deliciosas de se alimentar nasceram.

— Seu apetite parece estar ótimo; imagino como a viagem deve ter sido exaustiva — comentou o rapaz, corando ligeiramente ao perceber que talvez tivesse falado demais.

Mastigando felizmente, balancei a cabeça em concordância.

— Tudo aqui é delicioso — falei, engolindo a última mordida. — Ah, antes que me esqueça, qual é o seu nome?

— Me chamo Jam Yeshana — respondeu ele, fazendo uma reverência exagerada. — É uma honra servi-lo.

Engoli o último pedaço da torta e levantei um dedo, gesticulando para ele.

— Primeiro, não precisa me tratar como se eu fosse um membro da realeza — disse, observando a surpresa que atravessou seu rosto. — Segundo, pode me chamar pelo meu nome, ao invés de "mestre" ou "senhor".

Os olhos de Jam se arregalaram com minhas palavras. Neste mundo, chamar alguém pelo nome sem nenhum título honorífico era um sinal de uma relação profunda, ou, no mínimo, indicava que ambas as partes se viam como iguais. Eu podia ver a hesitação e o choque em seu rosto, mas também um lampejo de admiração. Claramente, ele não estava acostumado a esse tipo de informalidade, especialmente vindo de alguém em minha posição.

— Senhor... — Ele começou, mas se encolheu ao ver a careta que fiz, claramente esperando suas próximas palavras. — Digo, Marlon. Não seria muito bom fazer isso... As pessoas podem pensar coisas erradas sobre nós dois.

— Não me importo — respondi calmamente, mantendo meu olhar firme no dele. — Também sou um funcionário do castelo imperial, assim como você, e podemos ser amigos.

Ele me olhou com os olhos levemente marejados, emocionado com a simplicidade e sinceridade de minhas palavras.

— Honorários não são importantes para mim e nunca serão — continuei, tentando aliviar sua preocupação. — Ainda mais no meu caso, sendo alguém que reencarnou de um mundo onde a nobreza não existe e todos são parte de uma sociedade contemporânea.

Jam parecia processar o que eu disse, ainda surpreso com minha perspectiva. A informalidade era algo raro e, para ele, talvez até desconcertante, mas a verdade é que eu não tinha paciência para hierarquias formais e os jogos de poder que vinham com elas. Não neste novo mundo, onde tudo parecia tão incerto e onde eu ainda estava tentando encontrar meu lugar. Para mim, a simplicidade e a autenticidade nas relações eram muito mais valiosas.

Jam ficou em silêncio por alguns momentos, processando minhas palavras. Eu podia ver a luta interna em seus olhos, dividido entre as normas rígidas que ele estava acostumado e a honestidade do que eu havia dito. Finalmente, ele respirou fundo, como se estivesse se preparando para cruzar uma linha invisível.

— Marlon... — Ele testou meu nome novamente, desta vez sem hesitação. — É difícil para mim... acostumar-me a isso, mas se é o que você deseja, farei o meu melhor.

Um sorriso genuíno surgiu em seu rosto, um reflexo do alívio que sentia. Eu sabia que, para alguém como ele, adaptar-se a um tratamento mais informal seria um desafio, mas o fato de ele estar disposto a tentar já era um grande passo.

— Isso é tudo o que eu peço — respondi, dando-lhe um pequeno aceno de encorajamento. — Vamos construir nossa própria forma de convivência, longe das formalidades que tantos insistem em manter.

Ele assentiu, visivelmente mais à vontade agora, e eu senti uma onda de satisfação. Jam era jovem, e talvez, por isso, mais flexível e aberto a novas ideias. Havia uma sinceridade nele que eu apreciava, algo que faltava em muitos dos nobres com quem eu havia interagido desde minha chegada ao Império das Rosas.

— Então, Marlon... — começou Jam, seu tom agora mais relaxado e curioso. — Como foi a sua primeira impressão do Império das Rosas?

Eu sorri, apreciando a mudança de assunto. Era uma pergunta simples, mas carregada de significado, pois demonstrava seu desejo de realmente me conhecer.

— Bem, além da comida incrível — comecei, rindo um pouco —, tenho que dizer que o lugar é impressionante. É muito diferente do que eu estava acostumado em Summer, tanto em termos de arquitetura quanto de cultura. Há uma sensação de grandiosidade aqui, mas também algo de familiar, como se o império carregasse as tradições e a história de todos que vieram antes.

Jam ouviu atentamente, seus olhos brilhando com interesse.

— O que mais chamou sua atenção? — perguntou ele, inclinando-se ligeiramente para frente, como se cada detalhe que eu desse fosse importante.

— Acho que a forma como tudo aqui parece ter um propósito — respondi, refletindo enquanto falava. — Desde os jardins até os corredores dourados, tudo parece ser feito para impressionar, mas também para servir a uma função. Há uma organização e uma lógica por trás disso que é fascinante. Mas, ao mesmo tempo, também percebo que há desafios... tensões que estão à espreita, prontas para emergir.

Jam assentiu, parecendo entender a profundidade do que eu estava tentando expressar.

— Sim, você não está errado — ele disse, sua voz um pouco mais baixa, como se reconhecesse a gravidade da situação. — O Império das Rosas tem muitas bênçãos, mas também carrega o peso de sua história. Muitos aqui se apegam ao passado, enquanto outros querem seguir em frente. É uma linha tênue que todos nós temos que navegar.

Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Jam tinha uma visão mais madura do que eu esperava, e isso me fez perceber que ele poderia ser um aliado valioso.

— Eu só espero que possamos encontrar um caminho que evite a dor que vi em outras histórias — disse, mais para mim mesmo do que para ele, mas Jam parecia captar o significado.

— Com a sua ajuda, Marlon, acredito que podemos. — Ele sorriu, confiante. — E quem sabe, juntos, possamos mudar algumas dessas histórias.

Assenti, sentindo uma renovada determinação crescer dentro de mim. Havia muito que eu ainda não entendia sobre este mundo e sobre meu papel nele, mas uma coisa era clara: eu não estava sozinho. E talvez, com aliados como Jam ao meu lado, eu pudesse realmente fazer a diferença.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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