Capítulo Quinze
Marlon Shipka:
Quando a carruagem finalmente parou, abri a porta e pulei para fora, sentindo o ar fresco do lado de fora. Lila desceu logo em seguida, seus olhos percorrendo o ambiente ao redor com uma expressão de entusiasmo.
— Nossa, faz um bom tempo que não venho às compras — disse Lila, com um brilho nos olhos. — Marlon, que tal comprarmos algumas roupas novas para você?
Os meninos apareceram ao nosso lado enquanto o cocheiro se afastava, provavelmente para cuidar de outros afazeres.
— Lila, as roupas dele estão ótimas — Guilherme comentou, um tanto incrédulo. — São completamente novas.
— Nem adianta discutir — Lopes suspirou, resignado. — Você sabe como minha irmã é. Quando ela cisma com algo, não desiste facilmente. Se colocou na cabeça que as roupas do Marlon não são boas, então é isso que ela vai acreditar, ponto final.
Eu não disse nada, apenas continuei caminhando pelas ruas entre as lojas e barracas que vendiam uma variedade de ingredientes mágicos e itens comuns. O resto do grupo me seguia, ainda discutindo sobre as minhas roupas, enquanto eu me perdia na agitação ao nosso redor.
Havia momentos em que Lila examinava as lojas como se cada uma fosse um campo minado, escolhendo cuidadosamente onde entrar, como se estivesse à procura do tesouro mais valioso. A cada passo, eu observava as famílias que passavam por nós — pais, mães, irmãs e irmãos pequenos, todos rindo e brincando, suas bocas manchadas com a doçura das balas que comiam. Em um momento, uma das pessoas acenou em nossa direção, e Guilherme retribuiu o cumprimento com um sorriso caloroso.
Criaturas de todos os tipos também cruzavam nosso caminho. Homens-feras passaram rapidamente por nós, enquanto homens-lagartos, vestidos como aventureiros, analisavam papéis e discutiam entre si. A cidade parecia vibrar com uma energia de alegria e convivência, quase a ponto de ser assustadora de tão perfeita.
Enquanto caminhava, me vi refletindo sobre minhas próprias experiências — as dores e feridas que acumulei ao longo do tempo. E, no entanto, ao observar essas famílias, rindo e se divertindo, senti uma inesperada e suave alegria aquecer meu coração. Era como se a felicidade delas fosse contagiante, uma lembrança de que, apesar de tudo, ainda havia beleza no mundo.
Suspirei, sentindo um sorriso involuntário se formar em meus lábios. Continuei seguindo Lila, deixando meus pés me levarem onde quer que ela decidisse ir, enquanto meu coração encontrava um raro momento de paz em meio à confusão de sentimentos.
Enquanto estávamos em uma determinada loja de roupas, a vendedora, uma senhora de aparência simpática, tentou iniciar uma conversa sobre como Lila tinha todas as qualidades para se tornar uma ótima lutadora das ruas. Isso me fez olhar para Lila, que imediatamente ficou vermelha de vergonha, desviando o olhar como se quisesse desaparecer. Foi então que meu estômago roncou, alto o suficiente para chamar a atenção de todos ao redor.
— Acho que está na hora de comer algo — comentei, tentando suavizar o momento. — Afinal, vocês me acordaram e nem me deixaram tomar café da manhã.
— Mas... — Lila começou a protestar, claramente com mais planos para as compras.
Interrompi-a com gentileza, segurando seu braço levemente.
— Podem continuar na frente. Depois de comer, eu encontro vocês em alguma dessas lojas de roupas ou bijuterias.
Antes que ela pudesse insistir ou tentar me convencer a continuar com eles, saí correndo da loja. Precisava me alimentar, afinal, pelo jeito que as coisas estavam indo, com Lila comprando tudo o que via pela frente, íamos demorar muito mais tempo do que o previsto. Com o estômago roncando novamente, apressei-me em direção a uma das barracas de comida que vi mais cedo, determinado a me sustentar antes de enfrentar o resto do dia.
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Enquanto caminhava entre as lojas, nada parecia suficientemente atraente para saciar minha fome ou me dar a energia necessária para suportar o longo dia de compras que ainda estava por vir. Já estava prestes a desistir quando o aroma inebriante de bolos frescos capturou minha atenção, fazendo minha boca salivar instantaneamente. Segui o cheiro até uma aconchegante loja de bolos, onde o ar estava impregnado com o doce perfume de açúcar e especiarias.
Ao entrar, notei que o lugar estava frequentado principalmente por nobres comuns e alguns com características de homens-feras. A atmosfera era agradável, e as conversas eram abafadas pelo murmúrio das vozes e o som suave de louças sendo manuseadas. Aproximei-me da vitrine, admirando a seleção de bolos expostos, quando levei um susto ao perceber que Jam estava ao meu lado, vestindo um uniforme com o nome da loja bordado no peito.
— Bom dia, Marlon — ele disse com um sorriso amigável, enquanto eu ouvia alguns sussurros ao redor ao escutarem meu nome. — Vejo que decidiu experimentar um dos deliciosos bolos da minha irmã.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, surpreso, enquanto ele me guiava até uma mesa.
— Bem, prometi ajudar minha irmã na loja hoje. A noiva dela e ela tiveram que sair às pressas para resolver alguns detalhes do casamento, e me pediram para cuidar das coisas por aqui até que voltem — explicou Jam, apontando para uma mesa no primeiro andar. — Então estou dando uma mão, já que ela só tem onze funcionários divididos entre atender as mesas, cuidar do caixa, cozinhar e lavar a louça.
Ele me entregou um cardápio e pegou um pequeno bloquinho de notas, pronto para anotar meu pedido. Olhei de relance para as opções, e tudo parecia tão delicioso que tive dificuldade em escolher. Finalmente, apontei para um pedaço de bolo recheado com creme de sonho e pedi também um copo de leite.
Jam anotou meu pedido com eficiência e se afastou para prepará-lo, enquanto eu ainda podia ouvir os murmúrios das pessoas no andar de baixo, comentando sobre minha presença. Aquilo me trouxe de volta à época em que comecei a traçar meu plano contra meus tios e primo. Quando mostrei minha habilidade mágica, todos começaram a sussurrar sobre como eu era superior àqueles idiotas, seja nas poções, nos encantamentos ou até mesmo na criação e desfazimento de pequenas maldições.
No entanto, mesmo com todos esses elogios, ainda me sinto desconfortável ao ouvir os outros falarem de mim. As palavras, por mais lisonjeiras que fossem, nunca deixavam de trazer uma sensação de inquietação, como se houvesse algo não resolvido por trás de cada murmúrio. Essa eterna expectativa de perfeição, de ser sempre o melhor, era um fardo que muitas vezes pesava mais do que eu estava disposto a admitir.
Em poucos minutos, Jam retornou com o bolo e o copo de leite. Comecei a comer, saboreando cada pequeno pedaço que derretia em meu paladar. O sabor era incrível, e cada mordida parecia uma pequena explosão de doçura e suavidade.
— É fantástico — comentei em determinado momento, depois de passar o guardanapo na boca para tirar as migalhas. Jam sorriu amplamente, e pude sentir os olhares curiosos das outras pessoas no andar, como se estivessem ansiosas para ouvir minha opinião verdadeira. — Posso dizer que todos aqui estão fazendo um excelente trabalho, e a comida é simplesmente divina.
Jam parecia ainda mais satisfeito, seu sorriso se alargando enquanto eu entregava o dinheiro. Quando ele se preparava para pegar os pratos, levantei a mão para impedi-lo.
Com um simples estalar de dedos, os pratos flutuaram da mesa e voaram em direção à cozinha, desaparecendo pela porta, seguidos por murmúrios chocados que ecoaram pelo ambiente.
— Você... você acabou de usar magia para lavar a louça? — Jam perguntou, incrédulo, enquanto eu me levantava da cadeira.
— Sim — respondi com um sorriso discreto. — Coloquei um encanto que vai ajudar vocês com a limpeza do lugar.
Os olhos de Jam brilharam de animação ao ouvir isso, e ele segurou minhas mãos com delicadeza, o entusiasmo estampado em seu rosto.
— Marlon, você é realmente um ser divino — ele exclamou, apertando minhas mãos com admiração.
Retribui o sorriso e, com um gesto suave, puxei minhas mãos de volta.
— Fico feliz em poder ajudar — disse, despedindo-me finalmente. Saí da loja e segui meu caminho, decidido a encontrar os outros e continuar com o que o dia reservava, enquanto uma sensação de satisfação tranquila me acompanhava.
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Encontrei os outros dentro de uma loja de vestidos, onde Lila estava experimentando um modelo na cor vinho que realçava seu sorriso de maneira encantadora.
— Você está... — Guilherme começou a falar, mas logo se atrapalhou, suas bochechas ficando visivelmente vermelhas.
— Estou... o quê? Não me diga que estou horrível ou que o vestido destaca demais meus cabelos! — Lila disse rapidamente, cruzando os braços, enquanto Lopes dava uma cotovelada em Guilherme para ajudá-lo.
— Você está fantástica — intervi calmamente, ajudando Guilherme a encontrar as palavras certas. — Esse vestido realça sua beleza e dá o destaque perfeito para o seu lindo sorriso. Tenho certeza de que o Gui queria dizer exatamente isso.
Lila sorriu, satisfeita com o elogio.
— Vejo que você finalmente chegou, Marlon. Então, vamos escolher algo para você também — disse ela, virando-se para as vendedoras, que me olharam com olhos brilhantes.
Antes que eu pudesse protestar, as vendedoras começaram a me puxar em direção às roupas, insistindo para que eu experimentasse diversas peças. Fui desfilando entre estilos que variavam de natural a clássico, passando pelo sofisticado, dramático, romântico e até criativo.
Em determinado momento, elas me colocaram em uma roupa mais ousada, com um estilo sexy, que se ajustava perfeitamente à minha silhueta e marcava minha cintura. Quando apareci ao lado dos meninos usando aquela roupa, eles não resistiram e soltaram um assobio de aprovação. Ri baixinho com a reação deles, aproveitando o momento de descontração.
Assim, passei a experimentar mais algumas roupas, e a brincadeira se transformou em um pequeno desfile de moda, com eu e Lila como os modelos, enquanto Lopes, Guilherme e as vendedoras nos davam notas e faziam comentários divertidos.
O dia passou rapidamente, e antes que percebêssemos, já era hora do almoço. Após escolhermos nossas roupas e fazer as compras, nos dirigimos a um restaurante próximo para finalmente comer algo. O tempo voou enquanto nos divertíamos, e ao final do dia, a sensação de companheirismo e leveza era inegável, algo que eu sabia que guardaria como uma memória especial.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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