Capítulo Onze - 1°parte

Marlon Shipka:

O restante do dia foi preenchido com lições intensivas de magia de combate e defesa para os novatos. À medida que as horas passavam, a atmosfera no campo de treinamento se transformava, com o nervosismo inicial dando lugar a uma determinação focada. Cada um deles se dedicava ao máximo, absorvendo cada ensinamento e aplicando-o nas práticas.

Foi gratificante ver o progresso, mesmo que em pequenos passos. Alguns dos alunos, que no início pareciam hesitantes e inseguros, começaram a mostrar sinais de confiança à medida que dominavam feitiços e técnicas de defesa. Havia, é claro, momentos de frustração, quando as coisas não saíam como planejado, mas esses momentos eram importantes para o crescimento deles, tanto quanto as pequenas vitórias.

Ao final do dia, enquanto o sol começava a se pôr, o cansaço era evidente nos rostos dos alunos. Alguns cambaleavam levemente, os corpos doloridos pelas horas de prática intensa. Apesar disso, havia uma satisfação silenciosa em seus olhos — uma sensação de realização por terem superado mais um desafio em seu caminho para se tornarem cavaleiros mágicos.

Enquanto se dispersavam, pude ouvir murmúrios de agradecimento e até algumas risadas, apesar das dores que sentiam. Era um bom sinal; indicava que, mesmo diante das dificuldades, estavam dispostos a continuar se esforçando, a melhorar.

Observei enquanto os últimos alunos deixavam o campo, sentindo uma sensação de dever cumprido. Ensinar esses jovens não era apenas uma tarefa; era uma responsabilidade que eu estava começando a apreciar profundamente. Cada dia trazia novos desafios, mas também novas recompensas.

Quando o último dos alunos se foi, fiquei sozinho por um momento, deixando o silêncio do campo de treinamento se acomodar ao meu redor. O vento suave da tarde trouxe uma sensação de calma, e eu soube que, apesar do esforço extenuante, havia valido a pena.

— Mais um dia de progresso — murmurei para mim mesmo, satisfeito com o que havíamos alcançado. Com um último olhar ao redor, me preparei para seguir em frente, ansioso pelo que o dia seguinte traria.

Como não havia mais nada para fazer depois do treinamento, decidi que era hora de voltar ao meu quarto. O cansaço do dia começava a pesar nos meus ombros, e a ideia de um momento de descanso parecia bastante atraente.

Caminhei pelos corredores do palácio, que agora estavam mais tranquilos com o final do dia. A luz suave do entardecer se infiltrava pelas janelas, projetando sombras longas e douradas nas paredes, criando uma atmosfera quase serena. Os poucos criados que encontrei pelo caminho se curvaram respeitosamente, mas desta vez, sem a urgência dos horários de trabalho. Era como se o palácio estivesse também começando a relaxar, preparando-se para a noite.

Quando cheguei ao meu quarto, empurrei a porta com um suspiro de alívio, feliz por finalmente estar em meu próprio espaço novamente. A familiaridade do ambiente, com sua decoração elegante e confortável, trouxe uma sensação imediata de paz.

Deixei-me cair na poltrona perto da janela, permitindo que o silêncio me envolvesse por um momento. Observei o céu escurecendo lentamente, as primeiras estrelas começando a aparecer. Era um contraste interessante com o dia agitado e cheio de desafios que havia acabado de terminar.

O dia havia sido produtivo, e eu sabia que os alunos estavam progredindo, mas agora, tudo o que eu queria era aproveitar alguns momentos de calma antes que as responsabilidades do amanhã surgissem novamente.

Pensei brevemente em Otto e em Sofia, nos alunos que haviam se destacado e até nos desafios que ainda estavam por vir. Mas, por ora, permiti-me simplesmente existir naquele momento de quietude, aproveitando a tranquilidade que só o fim do dia podia oferecer.

Após um longo dia de treinamento, eu finalmente me acomodei no meu quarto, desfrutando do silêncio e da tranquilidade. Estava relaxando, quando senti um leve traço de magia do outro lado da porta. A sensação foi tão breve que, por um momento, pensei ter imaginado. No entanto, havia algo de estranho naquele momento. Definitivamente, alguém havia chegado e, de alguma forma, desejava chamar minha atenção.

Engoli o último pedaço da torta que Jam havia trazido para mim mais cedo e esperei. Passos se aproximaram e logo ouvi uma batida na porta.

— Sou eu. Deixe-me entrar — disse uma voz masculina familiar. Levantei-me e abri a porta, revelando Otto. Ele estava ali, com sua presença imponente, mas ao mesmo tempo relaxada, que me fazia sentir uma mistura de desconforto e curiosidade. Para minha surpresa, ele se ajoelhou levemente e inclinou a cabeça.

Os guardas que o acompanhavam ficaram visivelmente chocados, quase tanto quanto eu. Não era comum ver o imperador agindo assim, especialmente diante de alguém que deveria ser seu subordinado.

— Você não precisa abaixar sua cabeça para mim — disse ele, entrando no quarto. Fechei a porta atrás dele, tentando processar o que acabara de acontecer.

— Isso não é permitido, você é o imperador — retruquei, ainda surpreso. — Além disso, seus guardas estavam me encarando demais — apontei para fora do quarto, onde os guardas permaneciam.

Otto, no entanto, apenas sorriu, um sorriso que misturava diversão e algo mais travesso.

— Ah, então é por isso que você está agindo assim... ou talvez esteja com raiva de mim, meu lindo bruxo? — disse ele, fingindo inocência.

— Não, não é isso... Estou feliz que Vossa Majestade se importou o suficiente para me fazer uma visita ou até mesmo me permitir sentar à sua mesa — respondi, tentando manter um tom formal enquanto ele se acomodava na minha cama.

— Mas nós somos amigos, Marlon. Você não precisa se preocupar com essas formalidades — disse ele, fazendo um gesto despreocupado com a mão.

Eu suspirei internamente. Não queria criar nenhum mal-entendido entre nós, mas Otto parecia não perceber a linha tênue que estávamos cruzando.

— Mesmo que sejamos parceiros e aliados apenas no nome, é preciso manter certa fachada — comecei, tentando escolher minhas palavras cuidadosamente. — Mais importante, você acha que existe algum problema em se tornar um casal de verdade em breve?

Otto me olhou com uma curiosidade que não consegui interpretar totalmente.

— Eu não quis dizer isso. Mas... é muito cedo para começarmos a discutir esse assunto — respondi, dando de ombros, tentando desviar a conversa para algo menos carregado.

— Essa é sua opinião real? Você está estranhamente fraco de espírito agora. Mesmo que você estivesse em alto astral quando eu o chamei para o café da manhã ao meu lado — ele comentou, com um sorriso malicioso. Eu engasguei com a lembrança, o que fez Otto rir escandalosamente. — Então, eu adivinhei certo? Você realmente estava em pânico naquela hora...

— Não! Em vez disso, gostaria que você se controlasse mais ao fazer essas coisas no futuro! — falei, tentando me recompor.

— Mesmo que você parecesse tão encantado enquanto comia o bolo e o café da manhã com uma expressão tão feliz? — ele provocou, sorrindo amplamente ao ver minha expressão de choque. — Aliás, fui eu que fiz aquele bolo para você. Não há nenhuma lacuna no meu plano familiar absoluto.

Com um gesto quase teatral, Otto tirou de sua roupa um pequeno pão.

— Eu assei especialmente para você, em comemoração ao seu primeiro dia como o bruxo imperial. É um croissant — disse ele, estendendo o croissant envolto em uma luva. Estava quente, com uma aparência crocante e brilhante, como se tivesse saído diretamente do forno de um chef experiente.

— Qualquer um poderia tentar me envenenar todos os dias, em qualquer chance. É difícil apontar o culpado, então comecei a cozinhar para mim mesmo — ele comentou casualmente.

— O imperador... cozinha para si mesmo? — perguntei, incrédulo.

— Bem, mais ou menos. Gosto de ser assim. Aprendi desde jovem e gosto de compartilhar meus gostos com aqueles que são meus aliados — ele disse, com uma expressão satisfeita. — Se você gostar, posso entregar pessoalmente suas refeições todos os dias. Dimitri não vai se importar com isso.

Antes que eu pudesse protestar, Otto já estava delirando sobre seus modos culinários.

— Dizem que o segredo de uma parceria amigável é através do estômago. A julgar pela sua aparência, parece que a ideia acertou em cheio. Às vezes, um livro vulgar pode ser útil, hein? — ele sussurrou, parecendo usar livros questionáveis como referência. Eu estava completamente abobalhado, preso ao lugar enquanto ele continuava. — Vou dizer a Dimitri que, de agora em diante, serei eu quem cuidará do seu café da manhã, e darei folga para os membros da cozinha.

Voltei a mim e olhei para Otto, sentindo um misto de exasperação e frustração.

— Não precisa fazer esse tipo de coisa. Majestade, você cozinha muito bem, mas deixe de lado esses assuntos para focar nos reais deveres de um imperador. — Falei, colocando as mãos no rosto dele, forçando-o a olhar diretamente nos meus olhos. — Pode me tratar como qualquer outra pessoa que trabalha para o senhor.

Otto sorriu docemente, mas cheio de uma dignidade que eu sabia que ele raramente demonstrava.

— Agora, você não vai comer? Quero que se lembre do meu gosto, da forma do meu amor que fiz especialmente para você. Tenho certeza de que nunca mais será capaz de dizer que não quer experimentar outro prato — ele disse, aproximando o croissant da minha boca.

Apesar de tentar resistir, a tentação foi forte demais. O aroma do pão fresco, misturado com manteiga e açúcar, era irresistível. Como poderia recusar tal momento de felicidade?

— Bom garoto. Agora, você nunca mais poderá sair do meu lado. Nossa união e parceria serão seladas por este croissant! — ele exclamou, rindo de maneira abobalhada.

Revirei os olhos, tentando manter a compostura.

— Você precisa ser um pouco mais adulto nessa parceria — respondi, depois de engolir o primeiro pedaço do croissant. Peguei o resto da mão dele, sentindo a massa ainda quente entre meus dedos. — Não há como um casal tão estúpido existir. Você não percebe como suas ações são impróprias, seu imperador pervertido?

Enfiei o croissant na boca dele, empurrando-o de volta no colchão enquanto ele engasgava, pego de surpresa.

Quando ele finalmente se recuperou, olhou para mim com uma expressão confusa, como se não entendesse o que havia feito de errado.

— Que estranho. O que eu fiz de errado? — perguntou, claramente perplexo. Cruzei os braços, irritado com sua teimosia.

— Você é simplesmente errado da cabeça, Otto. Como quer que eu não reaja assim, se está literalmente tentando me seduzir? — falei, vendo a mágoa passar por seu rosto. — Você diz que não quer me forçar a gostar de você ou a aceitar um casamento, mas, minutos depois, começa a tentar me seduzir.

Apontei para a porta do quarto, meu tom agora sem espaço para discussão.

— Se já terminou nossa pequena reunião, peço que se retire do meu quarto — ordenei.

Otto se levantou, sua expressão agora neutra, e saiu do quarto sem dizer mais nada. Fiquei ali, sentindo uma mistura de emoções conflitantes, tentando entender a linha fina entre nossas responsabilidades e as complicações pessoais que estavam começando a surgir.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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