Capitulo Oito
Marlon Shipka:
Depois que Jam saiu do meu quarto, fiquei em silêncio por um momento, observando novamente o espaço ao meu redor. O quarto era luxuoso, cada detalhe cuidadosamente projetado, mas uma parte de mim ainda se sentia deslocada ali. Estava perdido em meus pensamentos quando ouvi uma batida suave na janela. Ao me virar, vi um pequeno beija-flor flutuando do lado de fora, suas asas batendo rapidamente.
Abri a janela, e no instante seguinte, Arthur estava ali, apoiado no parapeito, transformando-se de volta à sua forma humana com um sorriso travesso nos lábios.
— O que estava fazendo? Por que não veio pela porta da frente? — perguntei, arqueando uma sobrancelha enquanto tentava conter uma risada.
— Assim é mais divertido — respondeu ele, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, ainda com aquele sorriso despreocupado.
Balancei a cabeça, rindo.
— Cara, você é um animago folgado — brinquei, apreciando a leveza que Arthur sempre trazia consigo. — E o Steven? Onde ele está?
Arthur riu, os olhos brilhando com malícia.
— Depois de comer tudo aquilo, ele está tomando banho para se certificar de que Marty goste dele da próxima vez — disse ele, divertido.
A imagem de Steven, meticuloso como sempre, tentando se livrar de qualquer traço de sua refeição para agradar o enorme urso me fez rir.
— Faz sentido — respondi, ainda sorrindo. — Marty parece ser exigente com quem ele gosta.
Arthur assentiu, olhando para dentro do quarto com uma expressão que misturava curiosidade e preocupação.
— E você, Marlon? Como está se sentindo com tudo isso? — perguntou ele, o tom de sua voz ficando um pouco mais sério, mas sem perder a leveza que lhe era característica.
Eu suspirei, sentindo o peso da pergunta.
— Para ser honesto, é muita coisa para processar. — Olhei ao redor, como se o ambiente pudesse me dar alguma resposta. — Este lugar, estas pessoas, as expectativas... Às vezes parece um sonho, e em outros momentos, um pesadelo. Mas... estou me adaptando, aos poucos.
Arthur se inclinou um pouco mais, seus olhos cheios de compreensão.
— Eu entendo. Isso tudo é novo para você, mas você está lidando bem. — Ele sorriu de novo, mas desta vez, era um sorriso mais suave, mais encorajador. — E você não está sozinho. Steven e eu estamos aqui, e tenho certeza de que, juntos, vamos superar qualquer coisa que vier.
Eu senti um calor se espalhar dentro de mim ao ouvir suas palavras. Arthur tinha essa habilidade de me fazer sentir mais leve, mais capaz de enfrentar o desconhecido.
— Obrigado, Arthur. Eu realmente aprecio isso — disse, minha voz sincera.
— Não precisa agradecer — respondeu ele, dando de ombros de forma despreocupada. — Afinal, o que são amigos para?
Ele piscou para mim, e antes que eu pudesse responder, transformou-se novamente em um beija-flor, zumbindo rapidamente pela janela aberta, desaparecendo no crepúsculo.
Fiquei ali por um momento, olhando para o céu que começava a escurecer, sentindo uma mistura de gratidão e determinação. Mesmo em meio a toda a incerteza, saber que tinha amigos como Arthur e Steven ao meu lado tornava tudo mais suportável. E talvez, apenas talvez, com eles ao meu lado, eu pudesse realmente encontrar meu lugar neste novo mundo.
******************
Estava perdido em pensamentos quando ouvi uma batida na porta. Levantei-me e fui até lá, esperando ver um dos empregados ou talvez Jam voltando para dizer algo que havia esquecido. No entanto, ao abrir a porta, fui pego de surpresa.
Otto estava ali, parado no corredor, vestindo roupas casuais que contrastavam fortemente com a imagem formal que eu havia começado a associar a ele. A visão dele assim, mais descontraído, me desarmou por completo. Ele parecia quase... humano, mais próximo de mim, e a barreira invisível de hierarquia que normalmente pairava entre nós parecia ter diminuído de repente.
— Otto? — falei, minha voz traindo a surpresa que senti. — Eu... não esperava vê-lo assim.
Ele deu um sorriso meio divertido, meio enigmático, enquanto se encostava levemente no batente da porta, os braços cruzados em um gesto que parecia casual, mas que, de alguma forma, fazia meu coração bater um pouco mais rápido.
— Espero que não se importe com a minha visita inesperada, Marlon — disse ele, a voz suave, mas carregada com uma familiaridade que era nova e intrigante. — Achei que uma mudança de cenário seria boa, tanto para você quanto para mim. E pensei que, talvez, pudesse usar um pouco de companhia.
Eu me afastei da porta, abrindo espaço para que ele entrasse. A presença dele preenchia o quarto de uma maneira que me fazia sentir uma mistura de nervosismo e algo mais que eu não conseguia identificar completamente.
— Claro, entre — respondi, tentando manter minha voz firme, apesar da confusão que sentia. — Só não esperava... vê-lo assim, tão informal.
Ele riu, um som suave que parecia quebrar um pouco da tensão que eu estava sentindo.
— Nem sempre preciso ser o imperador, sabe? — disse ele, enquanto entrava no quarto, seus olhos percorrendo o ambiente antes de voltarem para mim. — Às vezes, gosto de deixar o peso da coroa de lado, mesmo que seja por alguns momentos. E com você, sinto que posso fazer isso.
Essas últimas palavras me pegaram desprevenido. Otto estava admitindo uma vulnerabilidade, algo que raramente vi nele ou em qualquer pessoa com tanto poder. E o fato de que ele sentia que podia ser ele mesmo comigo... isso significava mais do que ele poderia imaginar.
Eu fechei a porta e me virei para ele, tentando ignorar a maneira como meu coração parecia querer sair do peito.
— Fico... feliz em ouvir isso — respondi, e então, sem pensar muito, acrescentei: — Você fica bem assim, sabia? Mais... acessível, talvez.
Otto sorriu, mas dessa vez foi um sorriso mais suave, quase íntimo.
— E você, Marlon? — ele perguntou, inclinando ligeiramente a cabeça enquanto me estudava com seus olhos penetrantes. — Como está se sentindo? Isso tudo deve estar sendo um grande ajuste para você.
Eu hesitei por um momento, não porque não quisesse responder, mas porque o jeito que ele estava me olhando, tão diretamente, parecia perfurar as paredes que eu havia erguido ao meu redor.
— É muita coisa para processar — admiti finalmente, mantendo o olhar dele. — Mas estou tentando me adaptar. Acho que, com o tempo, tudo vai fazer mais sentido.
Otto deu um passo em minha direção, fechando parte da distância entre nós. A proximidade dele fazia o ar parecer mais denso, carregado de uma tensão que não era desconfortável, mas sim cheia de possibilidades.
— Eu entendo — disse ele, a voz mais baixa agora, quase um sussurro. — E quero que saiba que estou aqui para ajudar. Não apenas como imperador, mas como alguém que realmente se importa com o seu bem-estar.
Havia algo nos olhos dele, uma mistura de preocupação genuína e... algo mais. Algo que fazia minha mente se agitar com perguntas e meu corpo reagir de uma maneira que eu não esperava.
— Obrigado, Otto — respondi, minha voz também um pouco mais baixa, como se não quisesse quebrar o momento que estava se formando entre nós. — Significa muito para mim ouvir isso.
Ele sorriu novamente, e dessa vez, foi um sorriso que parecia prometer algo mais, algo que estava começando a surgir entre nós, mas que ainda era indefinido.
— Acho que estamos apenas começando a nos conhecer de verdade, Marlon — disse ele, com um tom que sugeria que, talvez, essa noite reservasse mais surpresas do que eu poderia ter imaginado.
E com isso, a tensão que pairava no ar entre nós parecia se transformar em uma corrente elétrica, carregada de expectativa.
O quarto parecia ter encolhido com a proximidade de Otto, como se o espaço entre nós fosse muito menor do que realmente era. A forma como ele me olhava, com aquele misto de curiosidade e algo mais profundo, fazia minha mente girar em direções que eu não estava preparado para explorar, mas que, ao mesmo tempo, me atraíam como um ímã.
— Sabe, Marlon — Otto começou, sua voz baixa e envolvente, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida para me atingir no fundo. — Às vezes, sinto que, neste mundo de intrigas e responsabilidades, o mais difícil é encontrar alguém com quem eu possa realmente ser eu mesmo.
Eu fiquei em silêncio por um momento, absorvendo o que ele estava dizendo. Havia uma vulnerabilidade na maneira como ele falava, algo que parecia quebrar a imagem perfeita do imperador inabalável. E o fato de que ele estava compartilhando isso comigo... isso mexia comigo de uma forma inesperada.
— Eu entendo o que você quer dizer — respondi, finalmente encontrando minha voz. — É difícil... manter uma fachada o tempo todo, especialmente quando tudo ao nosso redor está constantemente mudando e nos desafiando.
Otto deu mais um passo em minha direção, e agora estávamos a apenas alguns centímetros de distância. Eu podia sentir o calor que emanava dele, e a tensão entre nós parecia quase palpável.
— Exatamente — ele disse, seu olhar fixo no meu, como se estivesse buscando alguma confirmação. — Mas, aqui, agora, com você, sinto que não preciso fingir. Posso apenas... ser. E isso é algo que eu não esperava encontrar tão cedo.
Eu não sabia o que responder a isso. Havia algo de assustador e excitante ao mesmo tempo em ser o foco dessa intensidade, dessa sinceridade. E, antes que pudesse pensar melhor, minha mão se moveu quase por conta própria, pousando levemente no braço de Otto.
— Eu também não esperava isso — admiti, meu toque suave, quase hesitante. — Mas talvez... talvez seja exatamente o que precisamos. Um ao outro, nesse momento.
Otto não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele ergueu sua mão livre e a colocou sobre a minha, seus dedos deslizando com naturalidade sobre os meus. O simples contato enviou um arrepio pela minha espinha, e eu me vi capturado por aqueles olhos intensos, incapaz de desviar o olhar.
— Você tem razão — ele disse finalmente, sua voz um pouco rouca, como se estivesse segurando algo dentro de si. — Talvez estejamos aqui, agora, por uma razão maior do que podemos entender.
Houve um silêncio carregado entre nós, e eu sabia que estávamos em um ponto de virada. Algo estava prestes a mudar, algo que iria além das formalidades, das obrigações. E, de repente, eu percebi que não queria recuar. Queria ver até onde essa conexão, essa química, poderia nos levar.
— Otto... — comecei, mas minha voz falhou, incapaz de articular exatamente o que eu estava sentindo.
Ele, no entanto, parecia entender sem que eu precisasse dizer mais nada. Com um movimento suave, ele se inclinou, aproximando seu rosto do meu. O tempo pareceu desacelerar, e o ar entre nós estava eletricamente carregado, como se o mundo inteiro estivesse esperando por esse momento.
E então, ele parou, a apenas um fio de distância, seus olhos buscando os meus por alguma forma de permissão, algum sinal de que eu estava pronto para cruzar essa linha junto com ele.
Eu podia sentir meu coração batendo descontroladamente, cada fibra do meu ser ciente da proximidade, da inevitabilidade do que estava para acontecer. E, com um pequeno movimento de cabeça, dei-lhe o sinal que ele procurava.
Otto fechou o espaço entre nós, seus lábios tocando os meus com uma suavidade que me surpreendeu. O beijo foi lento, quase hesitante no início, mas rapidamente se intensificou à medida que a certeza crescia dentro de nós. Havia algo de libertador e ao mesmo tempo avassalador naquela conexão, como se tudo o que havíamos reprimido, todos os pensamentos não ditos, estivessem sendo finalmente expressos naquele gesto simples, mas poderoso.
Quando nos separamos, ambos estávamos respirando um pouco mais rápido, o quarto ao nosso redor parecendo mais quente, mais íntimo. Otto manteve a mão sobre a minha, seus olhos ainda brilhando com aquela intensidade que agora eu sabia que era tanto desejo quanto algo mais profundo.
— Acho que... realmente estamos apenas começando — sussurrei, tentando recuperar o fôlego e a compostura, mas sabendo que nada mais seria o mesmo entre nós.
Otto sorriu, aquele sorriso que agora eu entendia ser reservado para momentos como este, quando ele estava completamente desarmado, completamente ele mesmo.
— Sim, Marlon — ele respondeu, a voz firme, mas cheia de promessa. — E eu mal posso esperar para ver onde isso nos levará.
Otto se inclinou novamente, seus lábios a poucos milímetros dos meus, e por um breve momento, eu quase me deixei levar pela intensidade do momento. Mas, com um esforço consciente, coloquei a mão suavemente em seu peito e o afastei um pouco.
— Otto, melhor você ir — falei, tentando manter minha voz firme apesar do tumulto de emoções dentro de mim. — Eu preciso dormir, tenho que estar no campo de treinamento amanhã cedo.
Ele parou, a surpresa evidente em seus olhos por um instante, mas logo se transformou em compreensão. Otto deu um passo para trás, respeitando a barreira que eu acabara de erguer. Seu sorriso foi um pouco mais suave agora, mas ainda carregava aquele toque de afeto e consideração.
— Você está certo — disse ele, ajeitando-se e respirando fundo, como se estivesse tentando afastar o momento tão intensamente vivido. — Amanhã será um dia importante.
Otto se aproximou da porta, mas antes de sair, voltou-se para mim, seu olhar ainda carregado daquela intensidade que havia caracterizado nossa interação.
— Boa noite, Marlon — ele disse suavemente, suas palavras carregadas de uma promessa silenciosa de que este momento não seria o último.
— Boa noite, Otto — respondi, tentando oferecer um sorriso que não revelasse a confusão e a antecipação que eu sentia.
Com um último olhar, ele saiu, fechando a porta atrás de si. Fiquei parado no meio do quarto por alguns instantes, tentando processar tudo o que havia acontecido. Meu coração ainda batia acelerado, e eu sabia que o sono não viria tão facilmente quanto eu havia sugerido.
Finalmente, suspirei, deixando-me cair na cama, os pensamentos ainda girando em torno de Otto, da química inegável entre nós, e do que o futuro poderia nos reservar. O campo de treinamento amanhã seria um desafio, mas eu sabia que, de alguma forma, o verdadeiro desafio seria enfrentar o que estava crescendo entre mim e o imperador.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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