Capítulo Nove

Marlon Shipka:

Despertei na manhã seguinte me sentindo renovado e cheio de energia. O sol já brilhava pelas janelas, iluminando o quarto com uma luz suave. Olhei para o lado e vi que a porta do quarto se abria, revelando Jam e mais dois empregados que o acompanhavam.

— Marlon, você acordou sem que eu o chamasse — Jam comentou, visivelmente surpreso. Sua expressão era quase cômica, e os outros dois empregados pareciam igualmente chocados.

Ri suavemente enquanto me levantava da cama, notando como a situação parecia inusitada para eles.

— Costume — respondi com um sorriso. Levantei-me e segui para o banheiro, sentindo o olhar curioso de Jam e dos outros enquanto me afastava. Se realmente tivesse que conversar com aquelas pessoas mais tarde, iria deixá-los esperando um pouco mais. Entrei na banheira cheia de água morna e me acomodei, deixando a água quente relaxar meus músculos enquanto olhava para o teto, perdido em pensamentos.

As pessoas geralmente ficam mais ansiosas quando algo importante está prestes a acontecer. Me perguntei o que os jovens cavaleiros mágicos pensariam de mim. Estariam nervosos? Empolgados? Ou apenas curiosos? Quando terminei de me lavar, saí da banheira, enrolei-me em um roupão e voltei para o quarto, onde Jam já me aguardava, pronto para ajudar na escolha da roupa.

Ele me seguiu até o provador, ansioso para encontrar algo adequado para o dia. Queria escolher uma roupa que transmitisse confiança, mas que também mostrasse aos novatos que eles não precisavam ter medo de mim. No entanto, por mais que tentássemos, o traje "simples" escolhido ainda era incrivelmente extravagante, o que não era exatamente do meu agrado.

Mesmo assim, ao me olhar no espelho, admiti que o reflexo não era nada mal. A roupa realçava minhas feições e me fazia parecer mais imponente, quase como se eu realmente pertencesse àquele lugar. Sorri para o espelho, ajustando as mangas e colocando meus óculos, decidido a sair do quarto.

— Antes que eu esqueça de avisar, o imperador pediu para que você se junte a ele para o café da manhã — Jam disse calmamente, observando enquanto eu fazia os últimos ajustes.

— Então acho melhor me juntar a ele. Não se pode recusar um pedido do imperador — respondi, dando um último olhar no espelho antes de sair do quarto. Enquanto caminhávamos pelos corredores, notei como todos os criados que cruzavam nosso caminho se curvavam profundamente, quase quebrando a espinha de tanto respeito.

— Abrirei a porta para você, Marlon — disse Jam, colocando-se ao lado da porta da sala de jantar e segurando a maçaneta.

— Tudo bem — concordei, acenando com a cabeça para ele. — Espero que aproveite o café da manhã.

— Obrigado, senhor. Espero que você também tenha uma boa refeição — respondeu ele, abrindo a porta e me permitindo entrar.

Ao passar pela porta, meus olhos foram imediatamente atraídos por Otto, sentado sozinho à mesa, parecendo um tanto solitário. Ele levantou o olhar quando entrei, e um leve sorriso surgiu em seus lábios.

— Pode se sentar — disse Otto, fazendo um gesto para que eu ocupasse a cadeira ao lado dele.

Olhei para o banquete disposto na mesa, um verdadeiro banquete que não correspondia à minha ideia tradicional de café da manhã. Sentei-me, mas algo parecia estranho. Olhei para Otto, que estava mexendo em um pedaço de pão, claramente perdido em pensamentos.

— O que aconteceu? — perguntei, notando um brilho de alegria momentânea em seus olhos que rapidamente desapareceu quando ele encontrou meu olhar.

— Não é nada, só estava pensando em outra coisa — respondeu ele, de forma evasiva.

Percebi que insistir no assunto talvez não fosse apropriado, então decidi concentrar-me na refeição. Este banquete luxuoso, tão diferente dos cafés da manhã a que estava acostumado, me fez rir por dentro. Cortei um pedaço de salsicha, que parecia tão perfeita em sua cor e aroma que meu estômago roncou de antecipação.

A comida era divina, e meu humor melhorou significativamente enquanto eu provava cada prato, desde as carnes suculentas até a salada de frutas que brilhava no prato à minha frente. Não pude evitar um sorriso satisfeito enquanto comia.

— Estava realmente delicioso — comentei, levantando-me após terminar a refeição. — Acho melhor eu ir para o campo de treinamento. Em breve, os novatos dos cavaleiros vão chegar, e preciso preparar tudo. Tenha um ótimo dia e bom trabalho, majestade.

Otto esboçou um meio sorriso, um tanto surpreso, mas logo seu olhar se suavizou, quase agradecido. Parecia que ele não estava acostumado a ter alguém ao seu lado durante o café da manhã, muito menos alguém que lhe desejasse um bom dia de forma tão genuína.

— Obrigado... você também tenha um ótimo dia — respondeu ele, a voz cheia de uma sinceridade que tocou algo em meu interior.

Com um último aceno, me afastei e saí da sala de jantar, cruzando as portas para o corredor. Enquanto caminhava, não pude deixar de pensar em como aquela manhã, simples e cotidiana, havia carregado um peso maior do que eu havia esperado. Algo estava mudando, tanto em mim quanto na minha relação com Otto, e eu sabia que essa mudança iria moldar tudo o que viria a seguir.

*************************

Segui meu caminho até o campo de treinamento do palácio, com Jam me seguindo de longe, talvez hesitante em se aproximar mais ou simplesmente respeitando meu espaço. O campo de treinamento era imenso, bem organizado e decorado de forma impressionante. Nas paredes, estantes de livros se alternavam com exibições de armas cuidadosamente dispostas. Cada parede era revestida de metal, com todo tipo de espadas, adagas, lanças, chicotes, bastões e arcos pendurados de maneira ordenada. Havia também bolsas de couro macias, cheias de flechas, além de prateleiras de botas, protetores de pernas e armaduras para pulsos e braços, todas prontas para serem usadas.

Quando me aproximei da parede, o cheiro de metal, couro e produtos de limpeza de aço atingiu meu olfato, trazendo uma sensação de prontidão e disciplina. Eu me virei rapidamente nos calcanhares, e Jam, pego de surpresa pelo meu movimento repentino, perdeu o equilíbrio por um momento.

— Está tudo bem? — perguntei, sentindo-me um pouco culpado por tê-lo assustado.

— Sim, só me surpreendi com a rapidez do que você fez — respondeu ele, olhando ao redor com uma mistura de curiosidade e apreensão. — O que você planeja fazer para o treinamento dos cavaleiros?

Sorri levemente, percebendo a curiosidade em sua voz.

— Você verá — falei, levantando um dedo. — Circuits.

Girei a ponta do dedo e seis círculos começaram a se formar no chão, desenhados com precisão mágica. Pedi para Jam se afastar enquanto me ajoelhava e colocava uma das mãos brilhando sobre um dos círculos.

— Magia de Marionete: Irmãos Golem Sêxtuplos — murmurei, e em segundos, seis golens, feitos de areia e lama, surgiram de cada círculo, suas formas imponentes e robustas ganhando vida diante de nós.

Essa magia permite ao usuário controlar objetos ou elementos da natureza, com a exceção dos seres humanos. Era uma técnica poderosa, mas também delicada, exigindo concentração e habilidade.

Olhei para Jam, que estava visivelmente assustado com o tamanho dos golens, seus olhos arregalados de medo, como se esperasse que eles o atacassem a qualquer momento. Coloquei a mão em seu ombro, com um gesto suave para tranquilizá-lo.

— Eles não atacam sem um comando — assegurei, enquanto estalava a língua, virando-me para os golens no exato momento em que os primeiros alunos começaram a chegar.

Ao longe, vi a menina e os dois rapazes que haviam me chamado a atenção no dia anterior. Eles estavam vestindo uniformes desta vez, na cor ametista, que se destacava em meio ao grupo. Outros cinco usavam uniformes azuis, enquanto mais cinco estavam com uniformes verdes. Seis alunos vestiam uniformes cinza, e outros oito usavam uma variedade de cores, incluindo vinho, vermelho, rosa e branco. Um pouco afastado do grupo principal, havia um rapaz em um uniforme dourado, isolado dos demais.

Jam, percebendo meu interesse, começou a sussurrar informações sobre os grupos.

— Os de azul são chamados de Esquadrão da Pureza. Os de verde pertencem ao Esquadrão da Natureza Esmeralda. Os de cinza são o Esquadrão Pata Noturna. Os de vinho são os Orcas, os de vermelho são os Vulcanos, os de rosa são o Esquadrão Pavão. Os de branco são conhecidos como Ursos das Neves.

— E os que estão usando as cores ametista e aquele de dourado? — perguntei, curioso.

— Ametista é o Esquadrão das Mariposas, e dourado é a cor do Esquadrão da Raposa — respondeu Jam, olhando para os alunos desses esquadrões. — Há rumores de que os novatos do Esquadrão Mariposa e da Raposa são os piores no uso de suas habilidades mágicas ou de qualquer artefato. Dizem que Guilherme Milkovich, o rapaz do uniforme dourado, é igual ao irmão, sem nenhuma quantidade significativa de magia. Muitos acreditam que ele só entrou nos cavaleiros porque seu irmão é o conselheiro do imperador.

A essa altura, minha curiosidade estava aguçada. Chamei minha magia, tentando ver a verdadeira natureza de seus poderes. Para minha surpresa, todos eles pareciam ter uma quantidade considerável de magia, mesmo aqueles dos esquadrões com má reputação. Quando me concentrei em Guilherme, notei que ele tinha, sim, um traço de magia, embora fosse sutil.

— Posso dizer que ele tem magia — falei, ainda observando Guilherme. Jam soltou um suspiro chocado, sua expressão alternando entre surpresa e confusão.

— Isso é... realmente inesperado — disse ele, ainda tentando processar a informação. — Talvez as aparências realmente enganem.

Enquanto os alunos continuavam a se reunir, percebi que seria meu trabalho não apenas treiná-los, mas também descobrir o verdadeiro potencial que cada um possuía. Havia muito mais por trás dessas primeiras impressões, e eu estava determinado a explorar essas camadas, a começar por Guilherme e os outros que haviam sido subestimados. Este seria um desafio, mas eu estava pronto para enfrentá-lo.
___________________________________

Gostaram?

Até a próxima 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top