Capitulo Doze

Marlon Shipka:

Acordei na manhã seguinte com os primeiros raios de sol atravessando as cortinas do meu quarto. Havia um silêncio confortável ao redor, e por um momento, eu apenas fiquei deitado, deixando a luz suave me despertar lentamente. Era uma sensação agradável, diferente da agitação constante dos últimos dias.

Finalmente, me levantei e me preparei para o dia. Vesti uma roupa simples, mais prática para as atividades que sabia que viriam. Hoje, seria outro dia de treinamento com os cavaleiros, e eu estava determinado a continuar o progresso que havíamos feito. Mas algo me dizia que o dia também traria novas surpresas, como parecia ser a norma ultimamente.

Desci para o salão principal do palácio, onde Jam já me esperava com um sorriso no rosto, embora parecesse ligeiramente abatido, provavelmente ainda se recuperando da noite anterior.

— Bom dia, Marlon — disse ele, sua voz um pouco mais baixa do que o normal, talvez por conta da ressaca.

— Bom dia, Jam. Parece que a noite passada foi um pouco intensa para você — comentei, tentando esconder o sorriso.

Jam riu, um pouco sem graça.

— Sim, admito que talvez tenha exagerado um pouco. Mas foi uma boa noite, não foi? — Ele perguntou, tentando parecer mais animado.

— Foi, de fato. Mas agora precisamos voltar ao trabalho — respondi, enquanto caminhávamos em direção ao campo de treinamento.

No caminho, encontrei Sofia, que estava supervisionando alguns soldados em um canto do pátio. Ela acenou para mim, seu rosto mostrando uma expressão séria, mas acolhedora.

— Pronto para mais um dia de desafios? — perguntou ela, enquanto me acompanhava até o campo de treinamento.

— Sempre — respondi, tentando manter o tom leve, embora soubesse que o dia seria tão exaustivo quanto o anterior.

Quando chegamos ao campo, os cavaleiros já estavam reunidos, parecendo mais despertos e prontos do que eu esperava, considerando os excessos da noite anterior. Parecia que, apesar de tudo, eles estavam tão determinados quanto eu a continuar melhorando.

Comecei a aula com uma revisão das técnicas de combate e defesa que havíamos praticado no dia anterior. Era importante consolidar o que aprenderam antes de avançarmos para novos feitiços e táticas. Os golens estavam prontos novamente, e os cavaleiros, embora um pouco hesitantes no início, logo mostraram que estavam prontos para o desafio.

Desta vez, porém, decidi adicionar uma nova camada de complexidade ao treino. Além de enfrentar os golens, os cavaleiros precisariam coordenar ataques em grupo, trabalhando juntos para derrotar o inimigo. Era uma simulação de combate real, onde a colaboração e a comunicação eram tão importantes quanto a força individual.

Enquanto os cavaleiros se organizavam em equipes, observei Guilherme, o jovem que havia mostrado habilidades surpreendentes no dia anterior. Ele parecia mais confiante agora, e eu estava curioso para ver como ele se sairia em um ambiente de combate em grupo.

— Vamos ver como se saem hoje — murmurei para mim mesmo, enquanto os cavaleiros assumiam suas posições.

O treino começou, e logo ficou claro que a adição da dinâmica de grupo trouxe novos desafios. Havia momentos de confusão, onde os cavaleiros não se comunicavam adequadamente, mas também havia momentos de brilhantismo, onde trabalhavam juntos de forma harmoniosa para superar o golem.

Guilherme, para minha satisfação, mostrou uma habilidade natural para liderar, coordenando sua equipe com calma e eficiência. Ele não era o mais forte, mas sua capacidade de pensar rápido e se adaptar às mudanças no combate era impressionante. Era evidente que, com o treinamento certo, ele poderia se tornar um líder entre os cavaleiros.

Enquanto o treino prosseguia, percebi que o campo de treinamento estava atraindo espectadores. Soldados de outras unidades, curiosos com o que estávamos fazendo, começaram a se reunir nas bordas do campo, observando os cavaleiros novatos em ação. Havia um murmúrio constante entre eles, mas não consegui distinguir se eram comentários de aprovação ou críticas.

Sofia se aproximou de mim, também observando os cavaleiros em treinamento.

— Eles estão progredindo bem — comentou ela, sua voz cheia de uma mistura de orgulho e análise.

— Sim, mas ainda há muito trabalho a ser feito — respondi. — Estamos apenas no começo.

— Guilherme se destaca — Sofia observou, e eu assenti.

— Ele tem potencial, definitivamente. Mas ainda precisa ganhar mais confiança em suas próprias habilidades — comentei.

Sofia concordou, seus olhos focados em Guilherme enquanto ele comandava sua equipe.

O treino continuou por mais algumas horas, e quando finalmente dei a ordem para encerrar, os cavaleiros estavam exaustos, mas visivelmente satisfeitos com o progresso que haviam feito. Aquele dia havia sido um grande passo à frente, não apenas para eles, mas também para mim como instrutor.

Enquanto todos começavam a se dispersar, senti uma presença familiar se aproximando. Virei-me e vi Otto caminhando em minha direção, um sorriso nos lábios e uma expressão que sugeria que ele tinha algo em mente.

— Vejo que o treinamento está indo bem — comentou ele, parando ao meu lado.

— Está, sim — respondi, tentando manter meu tom neutro, mas sabendo que com Otto isso nunca era simples.

— Tenho algo para discutir com você mais tarde — disse ele, sua voz carregada de intenção, o que fez meu coração bater um pouco mais rápido.

— Claro. Estarei disponível depois do almoço — respondi, sentindo uma mistura de antecipação e apreensão.

— Ótimo. Até mais tarde, então — Otto disse, antes de se afastar, deixando-me com meus pensamentos.

O dia ainda não havia terminado, mas eu sabia que o que quer que Otto quisesse discutir mudaria o curso dos próximos acontecimentos. E, com isso em mente, decidi que precisaria estar preparado para qualquer coisa que viesse a seguir.

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No meio do treinamento, finalmente avistei Arthur e Steven se aproximando de mim. Fiquei aliviado ao vê-los, já que não os tinha visto na noite anterior e estava curioso sobre o que haviam estado fazendo.

— Onde vocês estavam ontem? — perguntei, levantando uma sobrancelha.

Steven suspirou e pegou uma espada do rack mais próximo, examinando o material com cuidado.

— Drake nos fez cuidar dos estábulos por alguma razão o dia inteiro — respondeu, sua voz carregada de exaustão.

— Aquele lugar leva um dia inteiro para ser limpo — comentei, um tanto incrédulo.

Arthur deu uma risada curta, balançando a cabeça.

— Na verdade, levaria dois dias e meio — corrigiu ele. — Mas conseguimos diminuir para um dia usando magia e ficando sem fazer pausas.

Antes que eu pudesse responder, ouvi um rosnado familiar e, de repente, Marty apareceu correndo em nossa direção. O enorme urso parou ao meu lado, dando uma lambida carinhosa no meu rosto, antes de fazer o mesmo com Arthur. Quando ele olhou para Steven, porém, seu olhar se estreitou, e Marty recuou um pouco, observando-o com desconfiança.

Steven deu um passo para trás, levantando as mãos em sinal de rendição.

— Tudo bem, grande rapaz, eu não sou uma ameaça — disse ele, tentando tranquilizar o urso.

Marty, no entanto, parecia pouco convencido. Ele permaneceu em sua posição defensiva, ainda desconfiado de Steven, como se estivesse tentando decidir se ele era amigo ou inimigo.

— Marty, ele é inofensivo — disse, acariciando a cabeça do urso para acalmá-lo. — Steven só estava trabalhando duro ontem, não precisa se preocupar.

Marty soltou um grunhido baixo, mas eventualmente relaxou, parecendo aceitar a minha explicação. No entanto, ele ainda manteve um olho vigilante em Steven, como se estivesse pronto para intervir a qualquer momento.

Arthur riu baixinho, observando a interação.

— Parece que Marty é um bom juiz de caráter — brincou ele, dando um leve tapinha na cabeça do urso.

Steven revirou os olhos, mas sorriu de volta, ainda mantendo uma distância segura de Marty.

— Eu não sou tão ruim assim, ok? — murmurou ele, mais para si mesmo do que para os outros.

Com Marty finalmente calmo, voltei minha atenção para o treino que continuava ao nosso redor. Estava claro que, apesar dos pequenos contratempos, o dia estava progredindo bem, e com Arthur e Steven ao meu lado, senti uma sensação renovada de confiança de que, juntos, poderíamos superar qualquer desafio que viesse pela frente.

Após nossa breve conversa, Steven pareceu decidido a mostrar que não era apenas um rosto amigável, mas também um guerreiro formidável. Sem perder tempo, ele caminhou até o centro do campo de treinamento, atraindo a atenção dos alunos que estavam praticando. Com um sorriso determinado, ele levantou uma espada, a lâmina brilhando sob a luz do sol, e gesticulou para que alguns dos alunos se aproximassem.

— Certo, pessoal — disse Steven, sua voz firme e autoritária. — Vamos ver o que vocês aprenderam até agora. Quem estiver pronto para um desafio, venha até aqui.

Os alunos hesitaram por um momento, trocando olhares entre si, mas logo alguns mais corajosos avançaram, formando um círculo ao redor de Steven. Eles empunhavam suas espadas com diferentes níveis de confiança, mas todos pareciam ansiosos para provar suas habilidades.

Steven se posicionou no centro, seus movimentos fluidos e controlados, como se estivesse totalmente em sintonia com a espada em sua mão. Ele não esperou pelos alunos; em vez disso, foi o primeiro a atacar, movendo-se com uma velocidade surpreendente. Sua espada cortou o ar com precisão, forçando os alunos a reagirem rapidamente.

Os primeiros embates foram tensos, mas Steven mostrou um controle impressionante, desviando dos ataques e respondendo com golpes que testavam a defesa dos alunos. Ele mantinha um ritmo constante, sem deixar brechas para os alunos se recuperarem facilmente. Era claro que, apesar de seu comportamento descontraído, Steven levava o treinamento muito a sério.

Enquanto isso, Arthur observava a cena de um canto, seus olhos brilhando com uma ideia súbita. Ele deu um passo à frente, e com um sorriso que mostrava um misto de desafio e diversão, começou a se transformar. Em questão de segundos, Arthur deixou sua forma humana para trás, assumindo a de um enorme urso. A transformação foi rápida, e os alunos, que já estavam tensos com Steven, agora tinham que lidar com a presença intimidante de um urso gigante em campo.

— Vamos lá, pessoal, mostrem do que são capazes! — rugiu Arthur em sua forma animal, sua voz gutural e vibrante.

Os alunos, embora surpresos, rapidamente se adaptaram à nova situação. Um grupo de três alunos decidiu atacar Arthur ao mesmo tempo, na tentativa de sobrepujá-lo com números. No entanto, Arthur era ágil, desviando de seus golpes com uma destreza surpreendente para alguém de seu tamanho. Ele usava suas garras para desarmar os alunos, jogando-os no chão com cuidado para não machucá-los, mas deixando claro que, em uma luta real, teriam sido derrotados.

Steven, não querendo ficar para trás, intensificou seu próprio ritmo, lutando contra outros três alunos simultaneamente. Sua espada se movia em um arco elegante, bloqueando ataques e contra-atacando com força suficiente para empurrar os alunos para trás. Ele girava e atacava com precisão, forçando os alunos a trabalhar juntos para tentar derrotá-lo.

A luta continuou com intensidade, cada golpe e movimento carregando um peso de aprendizado e desafio. Os alunos se esforçavam para acompanhar, suando enquanto tentavam prever os movimentos de seus instrutores e encontrar brechas em suas defesas. Era uma dança de combate, onde cada participante estava totalmente concentrado, testando seus limites.

Arthur, em sua forma de urso, aproveitava sua força bruta para dominar os alunos, mas também ensinava-lhes a importância da estratégia e da coordenação. Steven, por outro lado, mostrava-lhes a arte da precisão e da adaptação, forçando-os a pensar rapidamente e a usar suas habilidades com eficácia.

Finalmente, depois de longos minutos de combate intenso, Steven e Arthur recuaram, sinalizando o fim do exercício. Os alunos estavam ofegantes, exaustos, mas havia uma luz em seus olhos que mostrava o quanto haviam aprendido.

Arthur voltou à sua forma humana, respirando profundamente enquanto olhava para os alunos.

— Vocês fizeram um bom trabalho hoje — disse ele, sua voz agora suave, mas ainda firme. — Lembrem-se, a força é importante, mas saber como usá-la é o que realmente faz a diferença.

Steven, limpando o suor da testa, completou:

— E nunca se esqueçam de trabalhar juntos. No campo de batalha, um cavaleiro não é nada sem seus companheiros.

Os alunos assentiram, ainda recuperando o fôlego, mas visivelmente motivados pelo que haviam experimentado. A luta não foi apenas um teste de suas habilidades, mas uma lição sobre o valor do trabalho em equipe e da estratégia.

Enquanto os alunos se dispersavam para descansar, Arthur e Steven se aproximaram de mim, ambos com sorrisos satisfeitos no rosto.

— Acho que demos a eles algo para pensar — comentou Steven, ainda respirando fundo.

— Sem dúvida — respondi, observando os alunos enquanto se afastavam. — Hoje, eles aprenderam mais do que técnicas de combate. Aprenderam o que significa realmente ser um cavaleiro.

E com isso, terminei parte do treinamento que foi verdadeiramente produtivo. O treinamento havia sido duro, mas necessário, e os alunos estavam cada vez mais próximos de se tornarem os guerreiros que o império precisava.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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