Capítulo Dezessete
Marlon Shipka:
Quando acordei na manhã seguinte, a ansiedade para partir era palpável, tanto que passei o dia inteiro com a mente agitada. Levantei-me e agradeci em silêncio por ninguém ter vindo me acordar no final de semana, nem muito menos insistido em me dar um banho que eu mesmo podia preparar.
Depois de um banho relaxante e tranquilo, finalizei minha higiene matinal e vesti um roupão de seda. De volta ao quarto, estalei os dedos, e a roupa que eu queria usar apareceu magicamente sobre a cama: uma camiseta simples, calças desbotadas, botas de couro e um casaco. Enquanto me vestia, olhei para o espelho e fui tomado por uma onda de nostalgia, lembrando-me das roupas que costumava usar quando ainda vivia no outro mundo.
Uma batida suave na porta me tirou desses pensamentos, e uma empregada entrou no quarto.
— Senhor Marlon, o imperador está pedindo para que o senhor compareça ao café da manhã — disse ela. Mesmo achando o convite estranho, decidi segui-la.
Quando cheguei em frente à sala de jantar, as portas foram abertas para mim, revelando Otto sentado à mesa, parecendo mais solitário do que nunca.
— Tudo bem — disse, tentando manter a leveza na voz. — Espero que possamos aproveitar o café da manhã e a companhia um do outro.
Ele, que tem se afastado de mim cada vez mais, hoje quis que tomássemos café da manhã juntos. É comum as pessoas se afastarem quando uma relação se complica. Talvez seja mais fácil seguir caminhos opostos, mas sei que não é tão recompensador.
Decidi que não faria o mesmo. Em vez disso, tomei uma decisão diferente.
— Pode se sentar — Otto disse, indicando a cadeira ao lado da sua.
Enquanto me sentava, observei o banquete na mesa, que não correspondia em nada à definição de um café da manhã simples. Ao sentar, percebi que algo estava estranho e direcionei meu olhar para Otto.
— O que aconteceu? — perguntei, notando um breve brilho de alegria em seus olhos, que logo desapareceu quando ele olhou para mim.
— Não é nada, só estava pensando em outra coisa — ele respondeu, a hesitação evidente em sua voz.
Decidi não insistir, então me concentrei no banquete luxuoso à minha frente, que era completamente diferente do café da manhã ao qual estava acostumado. Não pude evitar sorrir enquanto cortava uma salsicha com a faca; o aroma era divino, e ela parecia ter sido preparada por um chef extremamente habilidoso. Apenas sua aparência já me deixava com fome.
O café da manhã era tão luxuoso que meu estômago parecia estar no céu, e meu sorriso não desaparecia nem por um segundo. Após encher a barriga com carne, sopa e pão, decidi experimentar algo mais. Meus olhos se fixaram em uma salada de frutas que brilhava como se fosse encantada.
Enquanto estávamos no meio do café, a porta se abriu de repente, e Drake entrou apressadamente, lançando-me mais um de seus olhares de desgosto antes de se posicionar ao lado da cadeira de Otto.
— Hoje você está atrasado novamente — Otto falou, seu tom levemente repreensivo. — Espero que tenha terminado o que pedi para você fazer.
Olhei para Otto, notando como ele parecia decepcionado com Drake desde a noite anterior.
— Me desculpe, senhor — Drake respondeu, e tive que morder o lábio para não rir da expressão dele.
Voltei a comer, ignorando os olhares de desgosto que Drake continuava a me lançar. Momentos depois, fiz contato visual com Otto, que estava me observando de forma intensa.
— M... Marlon... — Otto chamou meu nome calmamente, mas com uma hesitação perceptível.
Franzi a testa e cobri a boca com a mão, sentindo a atmosfera embaraçosa crescer. Engoli a comida antes de responder.
— Sim, Vossa Majestade? — Falei, virando-me para encará-lo. Otto parecia um filhotinho assustado, como se estivesse indeciso sobre o que dizer ou se tinha permissão para perguntar algo.
— O que está te afligindo tanto? Pode perguntar — acrescentei, vendo o choque se espalhar pelo rosto de Drake, que parecia prestes a explodir de raiva. Ele claramente achava inapropriado eu usar palavras tão informais com o imperador.
— Onde você vai nessa sua viagem? Talvez eu possa providenciar uma porta mágica para que você chegue ao Império de Summers — Otto sugeriu, levantando a mão para silenciar qualquer objeção de Drake. — Acho que seria melhor do que viajar com Orion.
— Orion não vai me levar desta vez. Pode não saber, mas Orion é um ser livre e só me ajuda quando o chamo. Vou através de outra rota para a minha casa e resolver alguns assuntos pessoais — expliquei calmamente, limpando a boca com delicadeza. — Devo partir esta noite e retornarei no próximo fim de semana.
Levantei-me e fiz uma reverência, despedindo-me com calma antes de seguir em direção à cozinha para organizar os preparativos finais da minha viagem.
Passei pelas portas da cozinha, e o som familiar das panelas e o aroma acolhedor das especiarias me envolveram imediatamente. Dimitri, o chef da cozinha, estava cozinhando com sua habitual energia, e seu sorriso se alargou ao me ver.
Ele se virou na minha direção e, com a mão direita, fez um gesto de "bem-vindo", movendo a palma aberta para mim, com os dedos estendidos. Em seguida, fez um movimento circular com a mão, indicando a área ao redor, antes de levar a mão ao queixo, como se estivesse segurando algo imaginário, e depois afastá-la, imitando o ato de "cozinhar". Finalmente, ele apontou para mim com um movimento suave, levantando as sobrancelhas em um gesto curioso, como se perguntasse: "O que te traz aqui?"
Eu sorri, respondendo de forma não verbal. Toquei meu peito com a mão direita aberta, sinalizando "eu", e depois levei a mão à boca, fazendo um gesto circular como se estivesse misturando uma massa de bolo. Finalizei apontando para Dimitri antes de deslizar a mão aberta na direção dele, pedindo sua ajuda.
— Pode me ensinar a fazer uma receita de bolo do império? Quero preparar um doce para algumas pessoas que são importantes para mim — perguntei, gesticulando com entusiasmo, imitando o ato de amassar com as mãos e depois levando os dedos aos lábios para simular o sabor doce.
Dimitri assentiu vigorosamente, seu sorriso ainda maior. Com a mão direita, fez o gesto de "sim" ao balançar o punho fechado para cima e para baixo. Com suavidade, ele pegou minha mão, sinalizando claramente para que eu o seguisse. Ele então fez um gesto com a mão direita, movendo os dedos estendidos para baixo, como se estivesse limpando algo, e indicou às outras funcionárias que continuassem com o trabalho.
As outras funcionárias — Rosa, Emília, Valeria, todas com quem eu havia me enturmado rapidamente — riram, divertidas com a cena. Era bom estar ali, rodeado por pessoas tão compreensivas e bondosas. Muitas delas eram familiares de cavaleiros imperiais ou dos novatos que eu havia treinado recentemente.
Enquanto seguia Dimitri pela cozinha, percebi que, apesar da curiosidade que todos pareciam ter sobre os treinos dos cavaleiros, preferiam manter uma distância respeitosa. Eles entendiam a importância do trabalho que todos realizavam ali, o que criava um ambiente harmonioso, onde cada um valorizava o espaço e as responsabilidades dos outros.
E assim, com Dimitri me guiando, preparei-me para mergulhar na arte de fazer um dos famosos bolos do império. Sabia que esse gesto simples, mas cheio de significado, seria uma forma de expressar meu carinho e apreço por aqueles que eram importantes para mim, tanto no mundo atual quanto no outro. O processo de aprender e preparar o bolo me parecia uma forma simbólica de conexão entre esses dois mundos que, de alguma forma, eu chamava de lar.
***************
As receitas que Dimitri me ensinou foram muitas, e ele até me presenteou com um exemplar do seu precioso livro de receitas. Passamos a manhã inteira e grande parte da tarde preparando os doces, pois ele insistiu em fazer cada receita três vezes, garantindo que tudo estivesse perfeito. Quando terminamos, Dimitri colocou a quantidade que eu levaria em um pote, e usei um pouco de magia para manter o aroma e a temperatura ideais.
— Muito obrigado, Dimitri — agradeci com um sorriso, e ele apenas assentiu, satisfeito com nosso trabalho. Despedi-me dos outros na cozinha, que me desejaram boa sorte, e segui para o meu quarto.
Tomei um banho relaxante, limpando o cansaço do dia, e me vesti com roupas que me permitiriam me misturar facilmente no outro mundo. Escolhi algo prático e discreto, sabendo que a viagem exigiria uma certa discrição.
Com tudo pronto, peguei minha mala e pedi para prepararem uma carruagem. Logo deixei o Castelo das Rosas, sentindo um misto de ansiedade e excitação pela jornada que estava prestes a iniciar. Estava determinado a fazer essa viagem não apenas para resolver os assuntos pendentes, mas também para reconectar-me com um passado que ainda ressoava dentro de mim.
Quando cheguei à área das lojas, fui direto em direção ao restaurante. Assim que abri a porta, todos os presentes me deram boas-vindas com sorrisos calorosos. Passei algum tempo ajudando a atender os clientes, sentindo a camaradagem e a energia acolhedora do lugar. Conforme o tempo passava e o horário de fechamento se aproximava, senti a excitação crescer dentro de mim.
Finalmente, quando o restaurante fechou, me sentei no balcão, onde o chef estava organizando as últimas coisas na cozinha.
— Quando vai começar? — perguntei, minha voz carregando a expectativa do momento.
O chef, com um olhar tranquilo e experiente, sorriu levemente, limpando as mãos em um pano antes de responder.
— Em breve — disse ele, olhando para o relógio pendurado na parede. — Só precisamos esperar mais alguns minutos até que tudo esteja em ordem. Preparado para o que vem a seguir?
Havia algo enigmático em seu tom, como se estivesse prestes a compartilhar um segredo antigo. Eu apenas assenti, sentindo que estava à beira de algo grandioso, algo que poderia mudar tudo.
Ele então apontou para mim e depois para a porta, um gesto simples, mas cheio de significado. Quando me virei para olhar, vi a porta começar a brilhar intensamente, a luz se expandindo pelo lugar. A magia emanava dela, preenchendo o ambiente com uma energia vibrante e antiga, que parecia ecoar por todos os cantos do restaurante.
A sensação era de expectativa e mistério, como se aquela porta fosse a chave para um mundo totalmente diferente, carregado de possibilidades e desafios. O brilho era hipnotizante, e a magia pulsava suavemente, como se estivesse viva, chamando-me para cruzar seu limiar.
O chef se aproximou, sua expressão serena, mas carregando um toque de respeito pela força mística que estava se manifestando.
— É a sua hora — ele disse suavemente, como se não quisesse perturbar o momento. — Atravessar essa porta significa muito mais do que apenas viajar para outro lugar. Esteja preparado para o que encontrará do outro lado.
Assenti, sentindo o peso de suas palavras, mas também a excitação de finalmente poder revisitar um mundo que significava tanto para mim. Com um último olhar para o chef, que apenas sorriu encorajadoramente, dei um passo em direção à porta brilhante, sentindo a magia envolver-me completamente. Sabia que ao atravessá-la, não apenas veria o que havia deixado para trás, mas também enfrentaria partes de mim mesmo que ainda não tinha compreendido plenamente.
Com uma respiração profunda, dei o passo final e cruzei a porta, deixando o brilho e a magia me conduzirem ao desconhecido.
Abri a porta, e imediatamente fui recebido pelo som familiar de um ônibus passando, seguido pelo ronco de um carro. Meu coração deu um salto animado, um misto de nostalgia e excitação preenchendo meu peito. Todos os sinais indicavam que havíamos cruzado para o outro lado, para o mundo que um dia foi meu lar.
Olhei para o céu e percebi que já estava de noite. As estrelas brilhavam intensamente, como se me dessem as boas-vindas de volta. A sensação era surreal, como se o tempo tivesse parado e, ao mesmo tempo, continuado sem mim.
O chef, que havia me acompanhado até a porta, colocou uma mão firme em meu ombro.
— É melhor descansar esta noite — disse ele, sua voz tranquila e acolhedora. — Amanhã, você terá muito o que fazer. Deixe os afazeres para depois de uma boa noite de sono. O que quer que você precise resolver, vai precisar de toda a sua energia.
Assenti, reconhecendo a sabedoria em suas palavras. A excitação da viagem e a intensidade das emoções estavam começando a se instalar em meu corpo, e o cansaço logo se fez presente. Com um último olhar ao redor, respirei fundo e me preparei para a noite de descanso que antecederia o início de uma nova jornada, no lugar onde tantas memórias haviam sido construídas.
— Obrigado, chef — murmurei, antes de me afastar, procurando um lugar tranquilo para passar a noite. Amanhã traria seus próprios desafios e descobertas, mas por enquanto, o simples ato de estar de volta era o suficiente para me encher de uma paz inesperada.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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