Marlon Shipka:

Quando o mundo finalmente cessou sua rotação frenética, eu me encontrei em um lugar que parecia ao mesmo tempo familiar e distante, como se tivesse sido arrancado das páginas de um antigo sonho. Era um campo imenso e sereno, onde o silêncio profundo era interrompido apenas pelo sussurro suave da brisa. O aroma das flores silvestres preenchia o ar, uma fragrância doce e terrosa que parecia contar histórias de tempos passados.

O céu se vestia em tons dourados, o pôr do sol tingindo as nuvens com uma paleta vibrante de laranja e rosa, como se o horizonte estivesse pintado com a promessa de um novo começo. O campo se estendia até onde a vista alcançava, criando uma sensação de infinito, como se o próprio mundo estivesse se desdobrando diante de mim, sem limites definidos.

A tranquilidade deste lugar era quase surreal, um oásis de paz que se erguia em contraste agudo com a tensão e a tristeza que haviam marcado o encontro anterior. No entanto, uma sensação sutil de expectativa pairava no ar, como uma energia latente, sugerindo que algo importante estava prestes a se desenrolar, algo que poderia transformar o rumo da minha jornada de maneira irrevogável.

Caminhei lentamente, permitindo que a grama macia e fresca acariciasse meus pés, enquanto avançava em direção a um majestoso carvalho no centro do campo. Suas raízes profundas e seu tronco imponente se erguiam como um símbolo de estabilidade e permanência, algo que eu não experimentava há muito tempo. Ao me aproximar do carvalho, estendi a mão e toquei sua casca rugosa com um gesto quase instintivo. Senti uma conexão visceral com a terra sob meus pés, como se o próprio espírito do campo estivesse me acolhendo e sussurrando segredos antigos, prometendo um vislumbre de paz em meio ao caos que eu havia deixado para trás.

Quando senti minha magia dentro de mim pela primeira vez, percebi que algo extraordinário estava acontecendo. A sensação era intensa e avassaladora, como se uma força primordial estivesse despertando em cada célula do meu corpo. Embora o lugar onde me encontrava parecesse, à primeira vista, um simples parque, com suas árvores bem cuidadas e gramados verdejantes, havia algo de muito mais profundo e misterioso em sua essência.

O parque, com suas cores e sons tranquilos, era apenas uma fachada para o que realmente acontecia ali. À medida que me concentrava, podia sentir a magia do outro mundo transbordando com uma força palpável. Era como se o próprio ar ao meu redor estivesse carregado de energia mágica, pulsando e vibrando com uma intensidade que desafiava a compreensão. A magia parecia emanar da terra, das árvores e até mesmo do céu, conectando tudo em uma teia invisível e poderosa.

Cada respiração que eu tomava era um lembrete da força mágica que agora fluía através de mim, ligando-me a algo maior e mais grandioso do que eu poderia ter imaginado. O parque se transformava diante dos meus olhos, revelando uma dimensão onde a magia e a realidade se entrelaçavam, e eu estava no epicentro desse encontro mágico, imerso em uma sensação de maravilha e descoberta.

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Tive sorte de que o restaurante estava situado perto da cidade onde eu morava. Quando decidi não usar mais magia para me locomover, optei por caminhar pelas ruas que conhecia tão bem. À primeira vista, elas pareciam familiares, mas ao mesmo tempo, havia algo de estranhamente novo nelas.

Enquanto caminhava, a cidade se desdobrava diante dos meus olhos com uma sensação de familiaridade misturada com uma nova perspectiva. As ruas, que antes pareciam banais, agora carregavam um encanto sutil, quase como se eu estivesse vendo-as através de uma lente mágica. Os edifícios e as vitrines das lojas, os cheiros que flutuavam no ar e até mesmo o som das conversas das pessoas ao meu redor tinham um tom diferente, como se a magia que havia experimentado no parque tivesse deixado uma marca invisível em minha percepção.

Cada passo me fazia sentir uma conexão mais profunda com o lugar, revelando detalhes que antes passavam despercebidos. As ruas que eu conhecia tão bem agora pareciam revelar segredos ocultos e histórias não contadas, adicionando uma camada de mistério e beleza ao cotidiano que antes parecia comum. O passeio, embora simples, se transformava em uma jornada de redescoberta, onde a familiaridade e a estranheza se entrelaçavam, criando um sentimento de maravilha e introspecção.

Quando cheguei ao restaurante, passei pela porta e fui imediatamente recebido pelo som reconfortante de um ambiente familiar. O chefe estava ocupado limpando algumas panelas, seu rosto radiante com um sorriso tranquilo enquanto cantarolava baixinho. O ambiente estava preenchido com uma sensação de calor e aconchego, acentuada pelo som suave de um pequeno rádio que tocava uma animada música pop.

A melodia alegre emanava do rádio, misturando-se com os sons da cozinha e criando uma atmosfera vibrante e acolhedora. A energia positiva e a leveza da música pareciam refletir o próprio espírito do lugar, fazendo com que o restaurante se sentisse ainda mais convidativo. O chefe, imerso em seu trabalho, parecia desfrutar daquele momento de simplicidade, e eu não pude deixar de sorrir ao ver como a cena cotidiana, com sua música e seus sons, proporcionava um toque de normalidade e conforto ao final de um dia extraordinário.

— Olá — ele disse, levantando os olhos do trabalho quando finalmente me notou. — Como foi?

— Melhor do que eu imaginava que seria — respondi, enquanto me sentava no balcão com um suspiro de alívio.

— Então, posso te perguntar algo? — ele continuou, e eu assenti com um gesto encorajador. — Por que você quis voltar e ver seus pais deste mundo? Não seria doloroso demais para você?

A pergunta pairou no ar, carregada de uma curiosidade genuína. Havia uma nota de preocupação na voz dele, como se ele estivesse tentando entender algo profundo e pessoal. Eu olhei para ele, ponderando como responder de maneira a transmitir a complexidade dos meus sentimentos.

— É uma boa pergunta — comecei, buscando as palavras certas. — A verdade é que, apesar da dor, havia uma necessidade em mim de me reconectar com meu passado. Ver meus pais aqui, em um mundo onde eu sei que tudo poderia ter sido diferente, foi uma maneira de entender melhor minha própria jornada e encontrar um pouco de paz. Às vezes, enfrentar a dor é a única forma de superar o luto e seguir em frente.

A música pop do rádio parecia se tornar um pano de fundo para nossas palavras, oferecendo um toque de leveza a uma conversa que se tornava cada vez mais profunda. O chefe desligou o rádio, sua atenção totalmente voltada para a conversa.

— E como estão eles? — perguntou, com um olhar de preocupação.

— Estão suportando — respondi, tentando manter a voz firme.

— E quanto aos seus pais do outro mundo, como estão lidando com essa nova vida que você está tendo? — ele perguntou, visivelmente curioso.

— Na verdade, quando reencarnei neste mundo, após minha morte aqui, retornei à minha aparência original e à vida que tinha — expliquei. — De algum modo, voltei no tempo exato, antes que meus tios e primo, e até mesmo o meu ex-noivo, pusessem em prática um plano para me destruir e me matar. Mas isso aconteceu depois da morte dos meus pais naquele outro mundo.

Havia um peso nas minhas palavras, uma mistura de tristeza e alívio. O chefe me observava com uma expressão compreensiva, como se tentasse absorver a complexidade da minha situação. A sensação de ter voltado no tempo e enfrentado esses desafios em diferentes realidades parecia quase surreal, e a conversa com alguém que ouvia atentamente ajudava a processar tudo com um pouco mais de clareza.

O chefe pareceu refletir sobre o que eu havia dito, seu olhar se suavizando com empatia.

— Deve ser extremamente complicado viver entre dois mundos assim, com toda essa sobrecarga emocional — comentou, inclinando-se levemente para frente. — E como você tem lidado com isso?

— É uma montanha-russa — confessei, procurando as palavras certas. — Há momentos em que me sinto preso entre as duas realidades, tentando reconciliar o passado e o presente. Às vezes, é como se eu estivesse constantemente atravessando uma linha tênue entre o que foi e o que é agora. Mas eu tento focar nas coisas boas e nas novas oportunidades que surgem. É difícil, mas é um esforço contínuo para encontrar equilíbrio e significado.

O chefe acenou com a cabeça, compreendendo a complexidade da minha situação. Ele parecia genuinamente interessado e solidário, o que trouxe um sentimento reconfortante de conexão.

— Deve haver algo que te traga algum conforto, mesmo em meio a tudo isso, não? — ele perguntou, a voz cheia de uma curiosidade atenciosa.

— Sim, definitivamente — respondi, um sorriso tímido surgindo nos meus lábios. — Às vezes, são as pequenas coisas que me ajudam a me manter centrado: uma conversa sincera, um momento de paz, ou até mesmo coisas simples como a música que tocava no rádio antes. A vida continua, e eu tenho que encontrar alegria nas pequenas vitórias e nas coisas que ainda são belas, mesmo diante das adversidades.

O chefe sorriu, e o ambiente pareceu ficar ainda mais acolhedor. O restaurante, com seu calor humano e seu pequeno rádio tocando suavemente ao fundo, era um refúgio em meio à turbulência da minha jornada. A conversa foi um lembrete de que, apesar das complexidades e desafios, havia apoio e compreensão disponíveis, e que a força para seguir em frente muitas vezes vinha das conexões simples e sinceras que formamos ao longo do caminho.

O chefe assentiu, com um olhar de compreensão e um leve sorriso de encorajamento.

— Fico feliz em saber que você encontrou maneiras de lidar com isso e de encontrar conforto nas pequenas coisas — disse ele, com uma nota de calor em sua voz. — Às vezes, são esses momentos de simplicidade que nos ajudam a superar as maiores tempestades.

— Com certeza — concordei, sentindo-me mais leve ao compartilhar meus pensamentos. — É bom ter um lugar onde posso refletir e me sentir acolhido, mesmo que seja apenas por um momento.

O chefe voltou ao seu trabalho, mas antes de se afastar completamente, lançou-me um olhar encorajador.

— Se precisar de algo mais ou apenas quiser conversar, estarei por aqui — ofereceu, de maneira genuína.

Agradeci com um sorriso e um aceno, sentindo-me reconfortado pela oferta e pela conversa que tivemos. Enquanto observava o chefe se dedicar à sua tarefa, o ambiente do restaurante parecia envolvê-lo com uma sensação de paz e normalidade, contrastando com a intensidade dos desafios que eu enfrentava.

Levantei-me, pronto para seguir em frente com um renovado senso de esperança e uma perspectiva mais clara. O caminho ainda estava diante de mim, com seus altos e baixos, mas sabia que não precisava enfrentá-lo sozinho. A conversa e o apoio inesperado haviam sido uma âncora de tranquilidade em meio ao turbilhão de minha vida, e eu estava grato por isso. Com um último olhar para o ambiente acolhedor do restaurante, saí para enfrentar o que estava por vir, carregando comigo uma sensação de renovada determinação e serenidade.

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Gostaram?

Até a próxima 😘