Capítulo Cinquenta e Um

Marlon Shipka:

O tempo parecia escoar como areia entre os dedos, cada dia trazendo o meu casamento com Otto para mais perto, uma realidade que poucos acreditavam de fato que se concretizaria. No entanto, mesmo com as dúvidas e os sussurros, todos sabiam que o inevitável estava por vir.

O casamento prometia ser grandioso e luxuoso, mas também único de uma maneira melancólica. Seria uma cerimônia sem a presença de familiares de sangue ao lado dos noivos, o que trazia um ar solene ao esplendor do evento.

No dia do casamento, os olhares curiosos e talvez críticos dos convidados estavam disfarçados por sorrisos e palavras doces. Independentemente do que sentissem ou pensassem, suas bocas estavam repletas de bênçãos e felicitações, pois a etiqueta do império exigia tais gestos.

Na entrada da majestosa cerimônia, Drake e Jam se destacavam em trajes elegantemente adornados com detalhes de rosas douradas. Recebiam os convidados com sorrisos cordiais, agradecendo um por um, como se fossem guardiões de um sonho que parecia quase impossível. Jam, em especial, estava visivelmente emocionado, seus olhos brilhando com uma mistura de alegria e nostalgia. A transformação na atitude das pessoas do império em relação a Marlon era tão evidente que parecia a diferença entre o céu e a terra.

Entre os convidados, os imperadores de Summer chegaram com toda a pompa, mas havia uma tensão palpável no ar. Max, com sua presença imponente, afastava qualquer tentativa de aproximação. Seu olhar firme e carregado de desconfiança mantinha os mais ousados à distância. Muitos que inicialmente planejavam usar o casamento como oportunidade para estreitar laços com a realeza de Summer hesitaram ao perceber a barreira invisível que Max erguia. Assim, resignados, acomodaram-se em seus lugares, contidos e obedientes.

Eu, observando tudo à distância através da magia que meus poderes divinos me concediam, sentia uma satisfação silenciosa. Era quase um jogo ver como as engrenagens sociais giravam, como as dinâmicas mudavam conforme as expectativas e os desejos se chocavam com a realidade. Enquanto as palavras de boas-vindas e as tentativas forçadas de socialização fluíam ao meu redor, um sorriso malicioso brotava em meus lábios. Afinal, este era o início de uma nova era, e eu estava bem no centro dela, ao lado de Otto, desafiando as previsões e reescrevendo nosso próprio destino.

*******************

No camarim, eu olhava meu reflexo no espelho, tentando me acostumar com a imagem que via. Costumava detestar o processo de me maquiar, a sensação das camadas de produtos sobre a pele sempre me incomodava. Mas hoje era diferente. Era o meu casamento com Otto, e, por isso, me rendi ao toque paciente do maquiador que, com cuidado e precisão, ajudou a criar o estilo perfeito para a ocasião.

Quando o trabalho finalmente foi concluído, respirei fundo e, com um leve sorriso, me levantei para sair. Ao atravessar o corredor, o murmúrio dos convidados se tornava mais audível, e cada passo parecia ressoar o peso do momento que se aproximava.

A maioria dos presentes era composta por comerciantes influentes e nobres renomados do Império das Rosas, muitos deles figuras com as quais eu já havia interagido em diferentes ocasiões. Alguns sussurravam entre si, reconhecendo o carinho evidente que Otto sempre demonstrou por mim, enquanto outros apenas observavam com curiosidade ou cálculo.

Assim que avistei Otto, o ambiente ao meu redor pareceu se silenciar por um instante. Caminhei até ele, e por alguns preciosos minutos, ficamos lado a lado, compartilhando sorrisos e olhares que falavam mais do que palavras jamais poderiam expressar.

Foi então que notei, ao longe, Max e Ian conversando animadamente com Steven e Arthur. O detalhe que mais me chamou a atenção, porém, foi a expressão de Arthur. Pela primeira vez, ele parecia verdadeiramente descontraído, como se tivesse deixado cair qualquer fachada séria. Ele brincava com a filha de Max, arrancando dela risinhos encantadores com suas piadas e gestos exagerados.

Ver Arthur tão jovial, tão diferente do seu habitual, foi um momento inesperado e até um pouco comovente. Aquela interação simples, cheia de sorrisos genuínos, trouxe uma leveza inesperada ao ambiente. E, de alguma forma, senti que esse casamento, apesar de todas as tensões e expectativas, estava começando a tocar as pessoas de maneiras sutis e significativas.

Assim, entre olhares, risadas e o brilho discreto das luzes, percebi que não era apenas a nossa união que estava sendo celebrada, mas também a possibilidade de pequenas transformações em cada um que ali estava. E, naquele instante, tudo pareceu se alinhar perfeitamente, como se, finalmente, o destino estivesse a nosso favor.

Às oito horas da noite, conforme o esperado, o casamento teve início. O salão estava iluminado por uma luz suave e dourada, que realçava o brilho dos cristais e o esplendor dos detalhes cuidadosamente planejados. O apresentador subiu ao palco, abrindo o evento com um discurso caloroso e empolgado, sua voz ecoando com uma energia contagiante.

Logo após a introdução, ele convidou Otto a se juntar a ele no palco, despertando a curiosidade de todos os presentes. Sabia-se que o anfitrião tinha um talento especial para criar momentos marcantes, e aquele seria um deles. Seguindo o roteiro, ele pediu para que o imperador contasse a história de como nos conhecemos e nos apaixonamos.

Os convidados, movidos por uma curiosidade genuína, voltaram seus olhares para Otto. Afinal, ouvir o próprio imperador falar sobre sentimentos e compartilhar algo tão pessoal era uma raridade. Os sussurros cessaram, e a atenção de todos se concentrou no que ele diria a seguir.

O anfitrião, com um sorriso afiado, aproveitou a deixa e fez uma pergunta que estava nos lábios de muitos: 
— Imperador Otto, antes de se casar com a noiva, gostaria de lhe fazer uma pergunta. Ouvi dizer que você organizou e supervisionou pessoalmente cada detalhe deste casamento. Poderia nos contar por que fez isso?

Assim que a pergunta foi feita, as luzes do salão convergiram para Otto, destacando sua figura imponente. Seu cabelo, meticulosamente arrumado, e a maquiagem discreta realçavam suas feições marcantes, evidenciando o perfil forte e decidido que sempre o acompanhou. Ele parecia ainda mais impressionante sob os holofotes, e era difícil para muitos, especialmente as jovens presentes, desviar o olhar.

Otto se posicionou no centro do palco, sua presença dominando o ambiente. Houve um breve silêncio, como se ele estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. Após alguns instantes que pareceram uma eternidade, ele finalmente falou, sua voz grave e carregada de significado:

— Eu farei qualquer coisa por ele. Darei a ele tudo o que desejar. Darei a alegria que ele tanto almeja.

Essas palavras, simples mas carregadas de uma devoção profunda, ecoaram pelo salão. Assim que ele terminou de falar, o ambiente foi tomado por um caloroso aplauso. Havia algo de intenso e verdadeiro na maneira como Otto expressou seus sentimentos. Não era apenas uma declaração; era uma promessa pública de entrega e compromisso.

A reação dos convidados foi imediata. Os aplausos ressoaram de todos os cantos, acompanhados por olhares emocionados e sorrisos genuínos. Naquele momento, ficou claro que o casamento não era apenas um evento luxuoso, mas a união de duas pessoas que, contra todas as expectativas, estavam dispostas a se dedicar inteiramente uma à outra.

Otto permaneceu no palco por mais alguns segundos, absorvendo a reação do público antes de sair, deixando para trás um sentimento de antecipação para o que viria a seguir.

— Por favor, deem as boas-vindas ao bruxo imperial! — anunciou o apresentador com uma voz firme, e o salão encheu-se novamente de aplausos, embora desta vez com uma energia diferente, quase solene.

As daminhas, Alice e Lídia, entraram sorrindo, jogando pétalas coloridas pelo caminho. Vestiam delicados vestidos floridos que harmonizavam perfeitamente com o terno de Otto, cada detalhe cuidadosamente pensado. Um broche em forma de rosa adornava a alça de cada vestido, um toque sutil mas significativo que fazia Otto sentir um orgulho caloroso ao vê-las tão radiantes e felizes naquele momento.

Enquanto as luzes suaves e mágicas banhavam o ambiente, lá estava eu, no final da passarela, com o coração batendo mais rápido a cada passo. Vestia um terno branco, imaculadamente ajustado, refletindo a pureza e a serenidade que aquele momento representava para mim. Ao meu lado, Denis, trajando um terno do mesmo tom, caminhava comigo, segurando minha mão com um gesto firme, quase protetor, enquanto atravessávamos o caminho adornado por uma mistura exuberante de tulipas, rosas vermelhas e cravos. A escolha das flores não era por acaso; cada uma representava um capítulo de nossa jornada até ali.

Denis, com sua postura nobre e olhar determinado, poderia facilmente ser confundido com um cavaleiro, tamanha a dignidade com que me conduzia. Ele não apenas guiava o caminho, mas também parecia carregar a essência de todo o simbolismo que aquele casamento representava. Cada passo que dávamos ressoava como o desabrochar de uma flor de lótus, gracioso e pleno, refletindo a beleza do amor que finalmente estava sendo celebrado.

Sob os brilhos das luzes encantadas, o terno branco que eu vestia cintilava, assemelhando-se à pureza de uma flor de lótus flutuando em águas tranquilas. O murmúrio silencioso entre os convidados crescia à medida que me aproximava. Todos sabiam da beleza arrebatadora do imperador regente, mas o que mais despertava curiosidade era como eu, Marlon, me apresentaria naquele momento tão esperado.

Quando cheguei ao final do corredor, Otto estava lá, me esperando com um sorriso que mal podia conter. Seus olhos brilhavam com uma mistura de ansiedade e alegria. Ele estendeu a mão para mim, e, naquele gesto, havia uma promessa, um desejo realizado, algo que ele havia esperado por tanto tempo. Era evidente o quanto esse momento significava para ele — não apenas por ser o dia do nosso casamento, mas por ser o dia em que ele finalmente estava unindo sua vida à da pessoa que verdadeiramente amava.

Segurei sua mão com firmeza, e o calor do seu toque me trouxe uma sensação de paz. Sob aquele sorriso ansioso e olhos brilhantes, estava o homem que havia lutado para tornar esse sonho realidade, superando obstáculos e expectativas. E agora, estávamos ali, diante de todos, prontos para selar uma união construída sobre amor, sacrifício e, acima de tudo, verdade.

Os aplausos voltaram a ecoar, mas desta vez, carregados de emoção e admiração genuína. Era impossível não perceber que, naquele instante, não era apenas um casamento que estava sendo celebrado, mas o triunfo de dois corações que finalmente encontraram seu caminho um para o outro.

— Imperador, se você está disposto a se casar com o senhor Marlon, por favor, coloque o anel no dedo dele — anunciou o anfitrião, tentando suavizar a atmosfera solene com um toque de leveza e expectativa.

As palavras ecoaram no grande salão, e, por um momento, todos prenderam a respiração. O silêncio era quase palpável, preenchido apenas pela emoção no ar. Otto respirou fundo, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade que parecia carregar toda a história que havíamos vivido até ali.

Assim que o anfitrião terminou de falar, Lila entrou graciosamente, segurando uma bandeja de prata delicadamente ornamentada, onde repousavam os anéis. Seus passos eram cuidadosos, refletindo a importância daquele gesto, como se estivesse carregando algo sagrado. A bandeja cintilava sob a luz suave, destacando os dois anéis que simbolizariam o compromisso que estávamos prestes a selar.

Otto pegou o anel com uma calma calculada, mas seus olhos traíam um brilho de ansiedade e emoção. A cada segundo que passava, a solenidade do momento se aprofundava. Ele segurou minha mão com um toque firme, mas gentil, como se estivesse prestes a entregar uma parte de si mesmo ao colocar o anel no meu dedo.

Enquanto seus dedos deslizavam o anel, o mundo ao nosso redor pareceu se desvanecer. Era como se, por um breve instante, só existíssemos nós dois naquele universo particular. Seus olhos, agora suaves e cheios de carinho, encontraram os meus, e pude ver neles não apenas o imperador que todos reverenciavam, mas o homem que escolheu compartilhar a vida comigo, contra todas as adversidades.

Ao terminar de colocar o anel, o salão foi tomado por uma onda de aplausos e sussurros emocionados. Aquela simples aliança, embora pequena, carregava o peso de uma promessa eterna, uma aliança entre amor, compromisso e, acima de tudo, o respeito mútuo que construímos ao longo de nossa jornada.

Otto não disse mais nada naquele momento, mas o sorriso que se formou em seus lábios falava por si. Ele estava, sem dúvida, mais feliz do que qualquer palavra poderia expressar, e o brilho em seus olhos era a prova disso. Naquele instante, entre aplausos e olhares emocionados, nossos corações selaram um pacto que transcenderia o tempo e os desafios que viriam.

Após colocar o anel em meu dedo, Otto não desviou o olhar nem por um segundo. Aquele momento parecia cristalizado no tempo, como se apenas nós dois existíssemos. Ele segurou minha mão com firmeza, sentindo o frio da aliança se aquecer pelo toque de nossas peles, e então, com uma voz suave e carregada de emoção, ele começou a falar.

— Marlon, ao longo do caminho até aqui, enfrentei batalhas, desafios e dúvidas, mas nada me abalou mais do que a incerteza de não te ter ao meu lado. Eu organizei cada detalhe desse dia porque queria que ele fosse perfeito para nós, para que refletisse o quanto você significa para mim. — Sua voz vacilou por um instante, e eu pude ver o brilho de lágrimas contidas em seus olhos. — Você é a razão pela qual eu sorrio nos dias mais difíceis, a paz que encontro no caos. Eu não prometo uma vida sem desafios, mas prometo estar ao seu lado em cada um deles.

Minhas mãos tremiam um pouco enquanto seguravam as dele. Senti o peso das palavras de Otto e, com um sorriso suave, deixei meu coração falar.

— Otto, há muito tempo eu vivia uma vida que parecia sem rumo, mas tudo mudou quando nossos caminhos se cruzaram. Você me mostrou que o amor pode ser a força mais poderosa, capaz de vencer qualquer obstáculo. Hoje, ao aceitar essa aliança, eu aceito não apenas o presente, mas também o futuro que vamos construir juntos, dia após dia. Sei que enfrentaremos altos e baixos, mas não tenho dúvidas de que, enquanto estivermos juntos, seremos capazes de enfrentar qualquer coisa. Eu te amo, e sei que nada poderá abalar o que construímos.

Otto respirou fundo, claramente lutando para conter a emoção. Sua mão tocou levemente meu rosto, os dedos acariciando minha pele com uma ternura que só ele tinha.

— Marlon, meu amor — ele sussurrou, quase em um tom de reverência —, você é minha maior conquista, meu lar. E hoje, diante de todos, eu quero que o mundo saiba que eu sou completamente seu. Não há nada que eu deseje mais do que passar cada momento ao seu lado.

A intensidade do momento aumentou quando ele se inclinou para mais perto. Senti o calor da respiração dele se misturar com a minha, nossos olhares se cruzando como se compartilhassem um segredo que só nós dois entendíamos. As vozes ao redor desapareceram, e o mundo ficou em silêncio, esperando aquele instante final.

Sem hesitar mais, Otto aproximou nossos lábios em um beijo profundo e cheio de significado. Foi como se o tempo tivesse parado — um encontro de almas, de promessas e de amor inabalável. Os aplausos e murmúrios extasiados dos convidados mal eram perceptíveis, pois naquele momento, tudo que existia era o toque dos lábios dele nos meus, a suavidade do beijo que selava nossa união.

Quando finalmente nos afastamos, nossos olhares ainda estavam conectados, cheios de emoção e gratidão. Não eram necessárias mais palavras; naquele beijo, estava a confirmação de tudo o que havíamos dito. Estávamos juntos, e nada mais importava. Com sorrisos ainda nos lábios, nos viramos para os convidados, prontos para começar nossa nova vida lado a lado.

Quando saímos do local onde o casamento simbólico foi realizado, minha atenção foi imediatamente atraída para o salão de baile, onde as mesas estavam dispostas para o banquete. As mãos de Otto ainda estavam entrelaçadas com as minhas, e não pude evitar sorrir enquanto olhava ao redor, completamente encantado com o que via. O salão de baile havia se transformado em um espetáculo brilhante, uma visão digna de contos de fadas.

— Você realmente trabalhou incansavelmente para planejar essa festa — comentei, admirado. Otto sorriu de lado e piscou um olho para mim, um brilho de satisfação nos olhos.

— Depois de tudo o que passamos, todos mereciam algo assim — respondeu com a simplicidade e a elegância que sempre o caracterizaram.

Ele não deixou um canto do salão de baile sem atenção. As velas tremeluzentes projetavam sombras suaves nas centenas de arandelas de bronze penduradas, e as faixas de seda branca nas janelas davam um toque etéreo ao ambiente. Tons claros se repetiam em detalhes como penduricalhos brilhantes e sinos reluzentes que desciam do teto em cascatas suaves. Guirlandas entrelaçadas contornavam maçãs e peras, aninhadas em ramos de sempre-verdes e sorveiras de frutos brancos. No centro do bufê, destacavam-se dois bolos imensos de vários andares, cobertos com glacê dourado e marfim, como verdadeiras obras de arte comestíveis.

O banquete era nada menos que impressionante: bandejas fumegantes de frango e cordeiro assado, costeletas de ovelha tenras, língua bovina suculenta e patê de fígado de ganso. Outra mesa longa estava coberta com salmão frio em molho de pepino, salada de lagosta com arroz, salada de batatas com picles e ovos flutuando elegantemente em gelatina. Torres de gelatinas em tons âmbar, fúcsia e verde estavam distribuídas entre as bandejas, brilhando sob a luz como pequenas joias.

Troquei um olhar maravilhado com Otto enquanto nossos amigos nos cercavam, compartilhando da mesma sensação de deslumbramento.

— Nossa, tudo está simplesmente magnífico — falei, ainda absorvendo cada detalhe ao nosso redor. — É uma pena que esse casamento seja apenas uma formalidade.

Otto riu baixinho e, com um sorriso malicioso, disse:

— Bem, de uma forma ou de outra, finalmente estamos casados. — Ele piscou novamente. — Mal posso esperar para ver o que você planejou para nossa lua de mel.

Ri junto com ele, mas antes que pudesse responder, Sofia e os outros se aproximaram para nos parabenizar e, ao que parecia, para nos proteger da enxurrada de convidados ansiosos que se aproximavam. As crianças, sempre perto, seguravam as barras de nossas roupas, relutantes em se afastar muito.

— Estou faminto — Otto sussurrou, enquanto Lila fazia o possível para direcionar os convidados às mesas, lembrando a todos que não poderíamos comer até que todos estivessem sentados.

Olhei para o outro lado do salão e vi o grupo de Max. Ian estava ajudando-o a se acomodar cuidadosamente em uma cadeira. Parte de mim queria me juntar a eles e colocar a conversa em dia, mas sabia que, dadas as circunstâncias e o caos que seguiria após os eventos inesperados da cerimônia, isso só causaria mais confusão.

— É cruel ter que olhar para um banquete como esse e não poder comer nem um biscoito — murmurei, tentando sufocar minha impaciência. As crianças, ouvindo meu comentário, trocaram olhares cúmplices, claramente compartilhando do mesmo pensamento.

— Só mais alguns minutos e poderemos nos deliciar — Otto respondeu, apertando minha mão um pouco mais forte, transmitindo uma tranquilidade reconfortante. — Pelo menos estamos juntos.

Seu toque e suas palavras me aqueceram por dentro. Não importava o quão complicada fosse a situação ao nosso redor; naquele momento, sentíamos que, enquanto estivéssemos juntos, poderíamos enfrentar qualquer coisa. Um banquete aguardava, mas a verdadeira celebração estava ali, no laço que fortalecemos, nas mãos unidas, e na certeza de que, apesar de tudo, não estávamos sozinhos.

************************

Desisti de tentar acompanhar todos os convidados. Eram tantos rostos que, a certa altura, era difícil até lembrar quem eu já conhecia e quem estava ali pela primeira vez. Otto, por outro lado, parecia ter uma memória impecável para essas ocasiões, talvez resultado de anos frequentando eventos sociais. Ele conhecia quase todos pelo menos de nome, movendo-se com uma naturalidade que me causava admiração. No entanto, senti um alívio genuíno quando reconheci rostos familiares se aproximando: Jam, Lopes, Guilherme, Badu, Sofia, Dimitri, Drake, Lancelot e Milena.

Dimitri, sempre reservado, apenas segurou minhas mãos com firmeza e me desejou felicidade com uma sinceridade tão franca que quase me fez chorar. Era raro ver alguém tão direto em seus sentimentos, e isso tocou algo profundo dentro de mim.

Com a ajuda de Drake e Jam, os convidados foram guiados para seus assentos, e finalmente pudemos nos acomodar também. Otto havia organizado tudo de forma que a maioria de nossos amigos ficasse junta em um grupo animado, o que trouxe uma sensação de conforto e familiaridade ao ambiente.

Os garçons começaram a encher o salão, carregando bandejas com pratos repletos de delícias. Peguei um figo e o coloquei na boca, sentindo a doçura explodir em minha língua. Ao meu lado, Lila me lançou um sorriso travesso.

— Bem-vinda à família — ela disse com um tom brincalhão. — Agora você é meio que responsável por mim e pelo Lopes. Afinal, somos parentes de consideração do imperador.

— E agora, por casamento, somos oficialmente uma família — Lopes acrescentou, entregando um figo às crianças que estavam por perto. — Nunca tive primos antes.

— Você não está perdendo muita coisa — Badu comentou com seu jeito calmo. — Os meus são praticamente demônios, iguais ao resto da minha família.

— Sempre sabe como escolher as palavras certas nos momentos especiais, não é? — resmungou Guilherme, o que claramente indicava o início de uma nova discussão entre eles.

Rindo, levantei minha taça em um brinde improvisado. — Obrigado por essas palavras sinceras. Que este seja um novo começo para todos nós.

— Mas nem pensem em levar minhas crianças para o mau caminho — Otto interveio, olhando diretamente para Lila. — Sei que não é muito confiável com suas armas.

— Isso não é verdade! Só fiz isso três vezes! — Lila protestou com um biquinho, cruzando os braços.

— Sério? Você quase me atingiu diversas vezes quando você e Lopes começaram o treinamento — Otto respondeu, um sorriso divertido brincando em seus lábios.

— Deve ter sido uma cena divertida de ver! — Lancelot soltou uma risada, imaginando as cenas.

— Você só exagera as coisas — Milena disse, revirando os olhos. — Um pouco mais de educação cairia bem.

A conversa logo se transformou em um animado bate-papo, cheio de protestos e tagarelices sobre qualquer assunto. Eu apenas observei, sentindo uma gratidão imensa por eles terem aceitado tudo, por não guardarem rancor por eu não ter compartilhado detalhes do plano. Parecia que entendiam as circunstâncias, pois, apesar das curiosidades, ninguém perguntou muito sobre os eventos após as prisões. Em vez disso, estavam mais interessados em falar sobre minha nova vida ao lado de Otto, e, pela primeira vez naquele dia, senti que finalmente havia encontrado um lugar cheio de amor e carinho genuínos.

Depois de algum tempo, todos começaram a se levantar e a se movimentar pelo salão, cumprimentando pessoas e recebendo parabéns por mim e por Otto. Sofia e Dimitri levaram um grupo de convidados a um ataque de risos enquanto a música começava a ressoar pelo ambiente. A melodia era suave e envolvente, cheia de uma magia tocante. Todos os olhares se voltaram para Guilherme, que tocava piano com uma maestria que impressionou até os mais críticos. Em minutos, vários casais começaram a dançar ao som daquela música encantadora.

A forma como Guilherme tocava mostrava a diferença entre aqueles que aprendem a música apenas por status e os que verdadeiramente se dedicam. A versão que ele executava do Grandsky Star era muito mais refinada e emocional do que qualquer coisa que eu já tinha ouvido antes. Enquanto alguns se esforçam para parecer competentes, ele tocava com a alma, e isso era evidente.

Foi nesse momento que Otto se aproximou de mim, estendendo a mão com um sorriso caloroso. — Me daria a honra de uma dança?

Sorri de volta, sentindo uma alegria borbulhar no peito. — Seria um prazer — respondi, aceitando sua mão.

Em um instante, estávamos rodopiando pela pista de dança. O salão girou ao nosso redor por um momento, mas tudo o que eu conseguia sentir era o calor do abraço de Otto, sua mão firme nas minhas costas. Coloquei minha outra mão em seu braço, e nossos corpos se moveram em perfeita sincronia, como se estivéssemos dançando juntos há anos.

Respondia a cada movimento sutil dele, deixando que ele guiasse com uma leveza impressionante. A conexão entre nós era palpável, e mesmo entre tantos olhares, parecia que estávamos sozinhos naquele salão.

— Há quanto tempo Guilherme toca piano? — perguntei, curiosidade em minha voz, enquanto Otto me girava suavemente.

Ele estufou o peito com orgulho e olhou para mim com um sorriso satisfeito. — Desde jovem. E, sem dúvida, é o melhor pianista que já conheci. — A risada de Otto era contagiante. — Aposto que as crianças estão adorando a melodia.

Olhei na direção para onde ele apontava e vi Alice, Lídia e Denis tentando imitar os movimentos dos dedos de Guilherme, seus olhinhos brilhando de admiração. Era uma cena adorável, e naquele momento, senti meu coração se aquecer ainda mais. Estava claro que essa não era apenas uma celebração, mas o início de uma família unida pelo amor, compreensão e pela certeza de que, juntos, poderíamos enfrentar qualquer coisa que o futuro nos reservasse.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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